Os que mais amamos são também os que nos vêem mais vezes sem maquilhagem. :)
E nem sempre é fácil fazê-lo. Nem sempre o fazemos com carinho. Na maioria das vezes, não o duvido, a intenção é essa. Mas na prática, muitas coisas saem tortas.
Porquê? Não sei. Talvez conheçamos mesmo aquela pessoa melhor do que ela julga que conhecemos. Talvez a vejamos com olhos de passado, sem reconhecer o quão diferente está no presente. Talvez não tenhamos, pura e simplesmente, paciência. Qualquer uma das três é viável. As três juntas.... muito mais viável! :) E não há qualquer paradoxo nisto.
A verdade é que, por vezes, as pessoas saem magoadas. Uma questão de espelho? Absolutamente! Necessidade de nos pormos em causa? Completamente. Falta de aceitação? Também. Aceitar que o outro só irá até onde estiver disposto a ir? Independentemente do quão dispostos nós estejamos? E coragem e humildade para ir onde queremos, apesar do outro - na nossa opinião - dar menos passos? São desafios? Nem sempre ultrapassados. E daí a necessidade de mais e mais desafios. :) O Universo tem tempo.... :)
Quanto ao resto, respirar enquanto fazemos o que conseguimos do trabalhinho e deixamos as feridas sarar.
Ah, e o mais importante, a frase favorita da minha filha: "não importa o quanto eu me zangue contigo, o amor está sempre no coração".
Que frase maravilhosa!
Mostrar mensagens com a etiqueta pedacinhos de vida. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta pedacinhos de vida. Mostrar todas as mensagens
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
segunda-feira, fevereiro 08, 2010
Maria
Maria era a mais velha de uma família de 13 irmãos. Como - quase! - todas as famílias com muitos e muitos filhos, viviam com muitas dificuldades financeiras, pouca comida na mesa e trabalho de manhã até à noite.
A mãe de Maria acabou por pedir à cunhada, que não podia ter filhos, que educasse as três filhas mais velhas. E foi assim que Maria teve um crescimento mais abastado, num época em que ter comida na mesa era um luxo. Cresceu alegre, segura e bonita.
E um dia conheceu Raul. Maria descende de uma família com história de grandes paixões, e quem a conheceu na época conta que o amor dela e de Raul estava escrito nas estrelas. Não se largaram desde o primeiro momento. Entrelaçavam os dedos, trocavam olhares, aproveitavam o mínimo descuido da tia de Maria, severa com os namorados, para dar um apaixonado beijo.
E, como todos os amores perfeitos, casaram, numa festa onde ainda sobram muitas fotos, tiradas a preto e branco, e nas quais se pode ver o olhar da noiva e sonhar com um amor assim.
As dificuldades não começaram logo. Maria seguiu a profissão da sua mãe de criação, tornando-se costureira e Raul trabalhava como mecânico. Antes de darem conta, tiveram uma menina que lhes encheu os corações de mais alegria.
Um dia, um acidente fez com que Raul perdesse a sensibilidade na mão direita, terminando por aí, aquela que tinha sido desde sempre a sua profissão. Desempregado, viu-se sem meios de ajudar nas contas e acabaram por ter de deixar a modesta casinha onde viviam e regressar a casa da tia de Maria. Por esta altura, a jovem já esperava o segundo filho.
Viver numa casa que não era a deles, com as opiniões insidiosas da tia de Maria, que, sem se dar conta, se envolvia das discussões do casal, as dificuldades monetárias e as saídas nocturnas de Raul, que começara a beber mais do que era esperado, levou ao fim de um casamento que todos garantiam ser eterno.
Na noite em que Raul saiu de casa para não voltar, Maria fechou-se no quarto, de onde saiu somente três dias depois, e nunca mais falou do ex-marido.
Os anos passaram e ambos reconstruíram as suas vidas. Clara e Rodrigo começaram a visitar o pai numa altura em que este já tinha outro emprego, outra mulher e outro filho. Apesar de ausente, dava-lhes uma nota a cada um, à saída, e dizia, num tom baixo:
- Abraço à vossa mãe.
Maria nunca enviou qualquer recado a Raul. Quando o seu nome era balbuciado, mudava de cor e afastava-se para que não a vissem. Conheceu Jorge, com quem acabou por se casar, e teve duas filhas. A mais nova tinha dois meses, quando lhe diagnosticaram leucemia.
Clara tinha vinte anos, Rodrigo catorze, Sara tinha cinco e Bárbara era um bebé. E foi, acima de tudo, pelas filhas mais novas, que Maria lutou. Com todas as suas forças. Tentou todos os tratamentos que conhecia e que as suas escassas posses lho permitiam. Nada resultou. Bárbara acabara de fazer um ano, quando Maria soube que partiria em breve. Tentou assegurar-se de que as meninas ficavam bem e pediu para ver as duas irmãs com quem tinha sido criada.
Quando Raul entrou na igreja, o silêncio foi total. Há mais de doze anos que a família da defunta não o via e, graças aos comentários da tia de Maria, que nunca lhe perdoara a partida, as pessoas conheciam-no como um homem egoísta, que nunca ligara à mulher e que mal via os filhos. Raul reconhecia veracidade em algumas dessas frases. Não todas.
Sem olhar para os presentes, aproximou-se do caixão, sentou-se ao seu lado e fez um suave festa no rosto da ex-mulher. Sorriu. Pegou-lhe na mão e levou-a aos lábios, castamente. E, deixando cair o rosto, lançou-se num choro soluçante e compulsivo, que demorou a controlar.
- Era a mulher da minha vida. - ouviram-lhe sussurrar. - Aquela que eu mais amei, a que ocupará o meu coração para todo o sempre.
Abraçou os filhos e voltou a partir. Clara e Rodrigo deram as mãos. Não trocaram uma palavra, mas de alguma forma confortaram-se um ao outro. A mãe de ambos não estivera só, no sentimento que dedicara ao pai. Eram frutos de amor, muito amor. Nem sempre o amor e uma cabana funciona, mas a verdade é que, mesmo quando se desiste, nem sempre o amor vai embora.
A mãe de Maria acabou por pedir à cunhada, que não podia ter filhos, que educasse as três filhas mais velhas. E foi assim que Maria teve um crescimento mais abastado, num época em que ter comida na mesa era um luxo. Cresceu alegre, segura e bonita.
E um dia conheceu Raul. Maria descende de uma família com história de grandes paixões, e quem a conheceu na época conta que o amor dela e de Raul estava escrito nas estrelas. Não se largaram desde o primeiro momento. Entrelaçavam os dedos, trocavam olhares, aproveitavam o mínimo descuido da tia de Maria, severa com os namorados, para dar um apaixonado beijo.
E, como todos os amores perfeitos, casaram, numa festa onde ainda sobram muitas fotos, tiradas a preto e branco, e nas quais se pode ver o olhar da noiva e sonhar com um amor assim.
As dificuldades não começaram logo. Maria seguiu a profissão da sua mãe de criação, tornando-se costureira e Raul trabalhava como mecânico. Antes de darem conta, tiveram uma menina que lhes encheu os corações de mais alegria.
Um dia, um acidente fez com que Raul perdesse a sensibilidade na mão direita, terminando por aí, aquela que tinha sido desde sempre a sua profissão. Desempregado, viu-se sem meios de ajudar nas contas e acabaram por ter de deixar a modesta casinha onde viviam e regressar a casa da tia de Maria. Por esta altura, a jovem já esperava o segundo filho.
Viver numa casa que não era a deles, com as opiniões insidiosas da tia de Maria, que, sem se dar conta, se envolvia das discussões do casal, as dificuldades monetárias e as saídas nocturnas de Raul, que começara a beber mais do que era esperado, levou ao fim de um casamento que todos garantiam ser eterno.
Na noite em que Raul saiu de casa para não voltar, Maria fechou-se no quarto, de onde saiu somente três dias depois, e nunca mais falou do ex-marido.
Os anos passaram e ambos reconstruíram as suas vidas. Clara e Rodrigo começaram a visitar o pai numa altura em que este já tinha outro emprego, outra mulher e outro filho. Apesar de ausente, dava-lhes uma nota a cada um, à saída, e dizia, num tom baixo:
- Abraço à vossa mãe.
Maria nunca enviou qualquer recado a Raul. Quando o seu nome era balbuciado, mudava de cor e afastava-se para que não a vissem. Conheceu Jorge, com quem acabou por se casar, e teve duas filhas. A mais nova tinha dois meses, quando lhe diagnosticaram leucemia.
Clara tinha vinte anos, Rodrigo catorze, Sara tinha cinco e Bárbara era um bebé. E foi, acima de tudo, pelas filhas mais novas, que Maria lutou. Com todas as suas forças. Tentou todos os tratamentos que conhecia e que as suas escassas posses lho permitiam. Nada resultou. Bárbara acabara de fazer um ano, quando Maria soube que partiria em breve. Tentou assegurar-se de que as meninas ficavam bem e pediu para ver as duas irmãs com quem tinha sido criada.
Quando Raul entrou na igreja, o silêncio foi total. Há mais de doze anos que a família da defunta não o via e, graças aos comentários da tia de Maria, que nunca lhe perdoara a partida, as pessoas conheciam-no como um homem egoísta, que nunca ligara à mulher e que mal via os filhos. Raul reconhecia veracidade em algumas dessas frases. Não todas.
Sem olhar para os presentes, aproximou-se do caixão, sentou-se ao seu lado e fez um suave festa no rosto da ex-mulher. Sorriu. Pegou-lhe na mão e levou-a aos lábios, castamente. E, deixando cair o rosto, lançou-se num choro soluçante e compulsivo, que demorou a controlar.
- Era a mulher da minha vida. - ouviram-lhe sussurrar. - Aquela que eu mais amei, a que ocupará o meu coração para todo o sempre.
Abraçou os filhos e voltou a partir. Clara e Rodrigo deram as mãos. Não trocaram uma palavra, mas de alguma forma confortaram-se um ao outro. A mãe de ambos não estivera só, no sentimento que dedicara ao pai. Eram frutos de amor, muito amor. Nem sempre o amor e uma cabana funciona, mas a verdade é que, mesmo quando se desiste, nem sempre o amor vai embora.
Etiquetas:
as minhas pessoas,
inspirações de outros,
pedacinhos de vida
sábado, fevereiro 06, 2010
Rui
O Rui tinha 9 anos quando apanhou uma bactéria rara que lhe afectou a vista. A princípio, ninguém notou. Só quando a professora mandou chamar os pais da criança, alegando que o seu melhor aluno mal conseguia distinguir aquilo que se escrevia no quadro, é que lhe foi diagnosticada uma falha na visão, com tendência a aumentar, e sem tratamento conhecido.
O segundo de 4 irmãos, num casal divorciado, a mãe com pouquíssimas posses e o pai praticamente ausente, o acompanhamento que teve foi aquele que se poderia obter pelo estado. Consultas no hospital com meses de espera, médicos de família no Centro de saúde e uma visão que diminuía a uma velocidade alucinante.
A largura das lentes aumentava, mas de pouco servia para Rui. Ainda assim, manteve, o mais possível, a sua vida normal. Para amigos e família, continuava a ser o Rui de sempre e, não raramente, era fácil passar por cima do seu "problema" e esquecer que ele não lia a legendas dos filmes, no cinema, não via realmente os belos olhos da vizinha da frente, nem lia os livros da escola.
Como era bom aluno, os professores deram-lhe todo o apoio e o Rui conseguiu um feito digno de orgulho. Acabou o décimo segundo ano, pois memorizava tudo o que ouvia e escrevia com letras gigantes, que os seus mentores corrigiam com paciência.
A determinada altura o Rui sentiu-se diferente e revoltou-se. Mudou-se para o sótão, onde passava noites acordado. Como resultado, aprendeu, sozinho, a tocar guitarra, e a filosofar sobre a vida.
A família do Rui tinha amigos nos Estados Unidos. A comunidade portuguesa que lá habitava uniu-se e juntou dinheiro para o levar lá, onde foi visto por especialistas. De pouco adiantou, pois o estado da doença era demasiado avançado. Soube-se, porém, que o Rui estava estável. Via muito pouco, mas provavelmente ficaria assim.
Quando regressou, o Rui estava diferente. Mais calmo, mais maduro. Ficara impressionado com o altruísmo das pessoas que o haviam recebido, que tanto lhe tinham dado. E queria fazer o mesmo. Nesse mesmo ano, ingressou numa Associação para Invisuais e começou lá a trabalhar. E conheceu aqueles que seriam os seus melhores amigos. Aprendeu braille. E percebeu que, para aqueles que não vêem o mundo como nós, os sentimentos são mais intensos, mais fortes, as palavras mais verdadeiras, as inflexões de voz mais perturbadoras.
O Rui tinha dois amigos. O Paulo e o Francisco, ambos cegos. Andava com eles para todo o lado, faziam férias juntos, brincavam uns com os outros. As pessoas de quem se sentia mais próximo. E havia a Patrícia. Conhecera-a na Associação, uma rapariga que lhe tocara o coração desde o primeiro dia, com a sua voz doce, a gargalhada cristalina, as confidências que lhe fizera. Conhecia-lhe o rosto, porque o vira bem próximo, sabia bem como era bonita. Mas não precisava de o ter feito. A alma da Patrícia era a coisa mais bela que habitava o seu ser. Estava completamente apaixonado.
Sonhava com o dia em que se iria declarar, com o primeiro beijo, com o entrelaçar de mãos. Sonhava com ela desde que acordava até fechar os olhos. E nunca o contara a ninguém.
Naquele tarde, sozinho no parque com o Paulo,estava prestes a contar-lhe o seu segredo. Mas viu o amigo triste e preferiu saber quais as suas angustias.
- Estou apaixonado pela Patrícia. - contou o Paulo, gelando a alma do amigo, sem ter como o saber. - Não sei o que faça, preciso de um conselho.
E o Rui aconselhou-o a falar com ela, dizer-lhe o que sentia. Quem sabe não fosse correspondido. E no seu coração, decidiu esconder os seus sentimentos até essa história se resolver.
Quando o Rui me contou esta história, numa noite tardia, entre os acordes da sua viola e o som da minha voz, a Patrícia e o Paulo viviam os primeiros dias de namoro, numa felicidade insaciável, e tinham-no acompanhado até minha casa.
- Como estás, como te sentes? - perguntei.
- Sabes, prima, as duas pessoas que eu mais amo no mundo estão felizes, apaixonadas e tenho ambas junto de mim. Jamais seria capaz de estragar isso. Nunca seria capaz de lhes ensombrar a a felicidade. Acredites ou não, estou tão feliz por eles como se fosse eu no seu lugar.
E eu soube que o meu primo, cuja história de coragem continua até hoje, cumprira o seu desejo de fazer o que pudesse pelos outros.
O segundo de 4 irmãos, num casal divorciado, a mãe com pouquíssimas posses e o pai praticamente ausente, o acompanhamento que teve foi aquele que se poderia obter pelo estado. Consultas no hospital com meses de espera, médicos de família no Centro de saúde e uma visão que diminuía a uma velocidade alucinante.
A largura das lentes aumentava, mas de pouco servia para Rui. Ainda assim, manteve, o mais possível, a sua vida normal. Para amigos e família, continuava a ser o Rui de sempre e, não raramente, era fácil passar por cima do seu "problema" e esquecer que ele não lia a legendas dos filmes, no cinema, não via realmente os belos olhos da vizinha da frente, nem lia os livros da escola.
Como era bom aluno, os professores deram-lhe todo o apoio e o Rui conseguiu um feito digno de orgulho. Acabou o décimo segundo ano, pois memorizava tudo o que ouvia e escrevia com letras gigantes, que os seus mentores corrigiam com paciência.
A determinada altura o Rui sentiu-se diferente e revoltou-se. Mudou-se para o sótão, onde passava noites acordado. Como resultado, aprendeu, sozinho, a tocar guitarra, e a filosofar sobre a vida.
A família do Rui tinha amigos nos Estados Unidos. A comunidade portuguesa que lá habitava uniu-se e juntou dinheiro para o levar lá, onde foi visto por especialistas. De pouco adiantou, pois o estado da doença era demasiado avançado. Soube-se, porém, que o Rui estava estável. Via muito pouco, mas provavelmente ficaria assim.
Quando regressou, o Rui estava diferente. Mais calmo, mais maduro. Ficara impressionado com o altruísmo das pessoas que o haviam recebido, que tanto lhe tinham dado. E queria fazer o mesmo. Nesse mesmo ano, ingressou numa Associação para Invisuais e começou lá a trabalhar. E conheceu aqueles que seriam os seus melhores amigos. Aprendeu braille. E percebeu que, para aqueles que não vêem o mundo como nós, os sentimentos são mais intensos, mais fortes, as palavras mais verdadeiras, as inflexões de voz mais perturbadoras.
O Rui tinha dois amigos. O Paulo e o Francisco, ambos cegos. Andava com eles para todo o lado, faziam férias juntos, brincavam uns com os outros. As pessoas de quem se sentia mais próximo. E havia a Patrícia. Conhecera-a na Associação, uma rapariga que lhe tocara o coração desde o primeiro dia, com a sua voz doce, a gargalhada cristalina, as confidências que lhe fizera. Conhecia-lhe o rosto, porque o vira bem próximo, sabia bem como era bonita. Mas não precisava de o ter feito. A alma da Patrícia era a coisa mais bela que habitava o seu ser. Estava completamente apaixonado.
Sonhava com o dia em que se iria declarar, com o primeiro beijo, com o entrelaçar de mãos. Sonhava com ela desde que acordava até fechar os olhos. E nunca o contara a ninguém.
Naquele tarde, sozinho no parque com o Paulo,estava prestes a contar-lhe o seu segredo. Mas viu o amigo triste e preferiu saber quais as suas angustias.
- Estou apaixonado pela Patrícia. - contou o Paulo, gelando a alma do amigo, sem ter como o saber. - Não sei o que faça, preciso de um conselho.
E o Rui aconselhou-o a falar com ela, dizer-lhe o que sentia. Quem sabe não fosse correspondido. E no seu coração, decidiu esconder os seus sentimentos até essa história se resolver.
Quando o Rui me contou esta história, numa noite tardia, entre os acordes da sua viola e o som da minha voz, a Patrícia e o Paulo viviam os primeiros dias de namoro, numa felicidade insaciável, e tinham-no acompanhado até minha casa.
- Como estás, como te sentes? - perguntei.
- Sabes, prima, as duas pessoas que eu mais amo no mundo estão felizes, apaixonadas e tenho ambas junto de mim. Jamais seria capaz de estragar isso. Nunca seria capaz de lhes ensombrar a a felicidade. Acredites ou não, estou tão feliz por eles como se fosse eu no seu lugar.
E eu soube que o meu primo, cuja história de coragem continua até hoje, cumprira o seu desejo de fazer o que pudesse pelos outros.
Etiquetas:
as minhas pessoas,
pedacinhos de vida
quarta-feira, janeiro 07, 2009
No meio de nenhures II
Mais um dia naquele local deserto...
- Que idade tem? -perguntei distraidamente, enquanto revia os dados que escrevera no papel.
- Tenho 29. - respondeu, e eu não consegui - mesmo - evitar o segundo olhar. Aquela mulher, na minha frente, tinha 29 anos... eu estou prestes a fazer 34 e quando ela entrou na sala, tive quase a certeza de que teria uma idade próxima da minha mãe... mas estava de acordo com a data do BI, que vi mais tarde. Ela tinha mesmo 29 anos.
Claro que reparou no meu olhar.
- Estou muito velha, não é? - perguntou.
Sorri-lhe, sem saber muito bem como agir.
- Há vidas que cansam mais do que outras... - acabei por dizer.
Ela sorriu-me.
- A minha cansa-me desde os 16. - respondeu.
Ficara sem os pais com essa idade e criou, sozinha, os quatro irmãos mais novos. Deixou a escola, evidente. Casou cedo, talvez demasiado cedo... Da união sobraram-lhe três filhos e um coração destroçado.
Trabalhos? Duros, mal-pagos, efémeros. Agora estava desempregada. Ficou-lhe um na memória, enquanto trabalhou como auxiliar numa escola.
- Adoro crianças. - disse, com o olhar iluminado. - Adorava estar ali. Mas pagavam-me a recibos e não tenho a escolaridade obrigatória para poder concorrer. Acha que já sou muito velha?
Espero não lhe ter passado a perplexidade que senti. Quis dizer-lhe que com a idade dela estava a ter a minha primeira filha, que depois disso mudei de emprego três vezes - porque acredito mesmo que nascemos para realizar os nossos sonhos - que alimento algumas loucuras da adolescência, porque me fazem vibrar... e que, às vezes, uma certa loucura, no dia-a-dia, pode ajudar muitíssimo. Que ela tinha toda a vida pela frente, e essa vida era imensa...
Não lho disse. Não desta maneira. Neste caso, realizar-lhe um sonho era tão simples... recordei o post da Sayuri, sobre o poder que nos passa pelas mãos, quando se trata de pessoas, e da responsabilidade que isso trás.
Ela saiu de lá com a sua entrada para a formação que queria, juntamente com a escolaridade que precisava.
E eu saí de lá sentindo-me muito pequena, neste imenso mundo, e muito grata pela vidinha que tenho, e que às vezes me parece tão estupidamente complicada...
- Que idade tem? -perguntei distraidamente, enquanto revia os dados que escrevera no papel.
- Tenho 29. - respondeu, e eu não consegui - mesmo - evitar o segundo olhar. Aquela mulher, na minha frente, tinha 29 anos... eu estou prestes a fazer 34 e quando ela entrou na sala, tive quase a certeza de que teria uma idade próxima da minha mãe... mas estava de acordo com a data do BI, que vi mais tarde. Ela tinha mesmo 29 anos.
Claro que reparou no meu olhar.
- Estou muito velha, não é? - perguntou.
Sorri-lhe, sem saber muito bem como agir.
- Há vidas que cansam mais do que outras... - acabei por dizer.
Ela sorriu-me.
- A minha cansa-me desde os 16. - respondeu.
Ficara sem os pais com essa idade e criou, sozinha, os quatro irmãos mais novos. Deixou a escola, evidente. Casou cedo, talvez demasiado cedo... Da união sobraram-lhe três filhos e um coração destroçado.
Trabalhos? Duros, mal-pagos, efémeros. Agora estava desempregada. Ficou-lhe um na memória, enquanto trabalhou como auxiliar numa escola.
- Adoro crianças. - disse, com o olhar iluminado. - Adorava estar ali. Mas pagavam-me a recibos e não tenho a escolaridade obrigatória para poder concorrer. Acha que já sou muito velha?
Espero não lhe ter passado a perplexidade que senti. Quis dizer-lhe que com a idade dela estava a ter a minha primeira filha, que depois disso mudei de emprego três vezes - porque acredito mesmo que nascemos para realizar os nossos sonhos - que alimento algumas loucuras da adolescência, porque me fazem vibrar... e que, às vezes, uma certa loucura, no dia-a-dia, pode ajudar muitíssimo. Que ela tinha toda a vida pela frente, e essa vida era imensa...
Não lho disse. Não desta maneira. Neste caso, realizar-lhe um sonho era tão simples... recordei o post da Sayuri, sobre o poder que nos passa pelas mãos, quando se trata de pessoas, e da responsabilidade que isso trás.
Ela saiu de lá com a sua entrada para a formação que queria, juntamente com a escolaridade que precisava.
E eu saí de lá sentindo-me muito pequena, neste imenso mundo, e muito grata pela vidinha que tenho, e que às vezes me parece tão estupidamente complicada...
Etiquetas:
desemprego,
oportunidades,
pedacinhos de vida
quinta-feira, janeiro 01, 2009
Dia 1
Lento e meio ensonado, como eu...
Apesar da chuva e do cinzento, acordámos de mansinho para viver o primeiro dia do novo ano... nada de complicado.
Um passeio até à praia, um restaurante à beira-mar... comidinha boa e um bom vinho...
Diálogos, risos...
Regressar a casa para ligar o aquecedor. Viver.
Respirar!
E viva 2009!!!!
Apesar da chuva e do cinzento, acordámos de mansinho para viver o primeiro dia do novo ano... nada de complicado.
Um passeio até à praia, um restaurante à beira-mar... comidinha boa e um bom vinho...
Diálogos, risos...
Regressar a casa para ligar o aquecedor. Viver.
Respirar!
E viva 2009!!!!
Subscrever:
Mensagens (Atom)