Fazem-se as horas organizadas em decisões
Recolhe-se o lixo e lava-se a loiça na hora certa
E nem reparamos que já andávamos aos trambolhões
Sempre que o cansaço nos dói e aperta
Temos a casa bem limpa e organizada
Pronta a brilhar sei lá o quê
Até somos capazes de dormir de mão dada
Mas raramente vemos para além do que se vê
Compramos detergentes como tem de ser
Limpamos a saudade garantida
E de repente quando o vazio nos veio encher
Já nem contamos as lágrimas que temos em vida
Será a razão semente fértil da existência?
Será o futuro o acaso da distração?
Há dias em que me lamento na essência
De caminhar coladinho ao coração...
Será a morte assim tão distante?
Será o tempo um cavalo solto e só?
Há dias em que nem queria ser amante:
Ser pedra, poste, ferro ou pó!