"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Sábio.
"Oh... se eu soubesse...", respondeu ele, que nunca tivera tempo para amar.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Coveiro.
"Oh... se eu soubesse... A vida fez-me esquecer tudo. Só lido com a morte...", respondeu ele, que deixou de saber o que era o tempo.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Músico.
"Canto, porque o amor apetece...", respondeu ele, cantando, a tempo, no meio do seu rendilhar de notas de amor que pintavam a sua solidão.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Menino.
"Guardando!", respondeu ele, já que tinha tempo para tudo e tudo era simples e possível.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante à Mãe.
"No colo.", respondeu ela, cheia de tempo e abraços.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Poeta.
"No silêncio de ti. Dentro de ti. Nos gritos de ti. Fora de ti.", respondeu ele, tão cansado que se sentia do tempo.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Vento.
"Na minha pele.", respondeu ele, acariciando de novo a sua saudade.
E foi aí que ela percebeu outra vez a sua história... e do tempo se ressuscitou num sorriso eterno.
O Sábio,
O Coveiro,
O Músico,
O Menino
e
a Mãe fizeram-se à estrada.
.
.
.
E o Poeta?
"Quem?"
"O Poeta!"
"Não conheço..."
"Não conheces?!! Acabaste de lhe perguntar como se guarda um beijo para sempre!"
"Eu?!!!! Que disparate de pergunta..."