30 de março de 2009

SeR(-mE)




Pouso-me perante a ponta de um lápis e de uma folha em branco. Salto logo lá para dentro e escrevo e escrevo e escrevo. Mal sei do suor que de tanto grito e paixão me corre pela ponta dos dedos e mergulha dos olhos até tudo querer pintar e apagar e pintar de novo e apagar e pintar. Queria o mundo num toque apenas e a vida num minuto. Para depois repetir e repetir e repetir... como as músicas da minha aparelhagem. Obsessivamente. Vivo como se a vida fosse acabar já. Às vezes sufoco(-me). Outras esqueço(-me) e deixo(-me) ir. No som de uma voz. No cheiro de um corpo. No abraço de um olhar. No sonho de uma mão. Deixo-me ir em mim e em ti e em todos que a meu lado querem a vida. Saltemos, então, nas praias que inventamos para nos cobrir. Assim sou feliz e assim sou infeliz. Completamente nos outros e unicamente sozinho.

25 de março de 2009

cIcLoS


Qualquer força perto do peitoEm tons de hinoChagas de peregrinoBrincadeira de meninoHorizonte de luz e sombra refeitoFalésia embriagada na palma da mãoEm tons de aguarelaPassos de princesa seingelaGrito dado no encalço de uma janelaPlanície que em nós bate fundo no coraçãoViagens entre o rodopio da caminhadaCoisas da nossa salivaBeijos em carne vivaTernura penetrante e cativaCom que voltamos sempre à porta da entrada

24 de março de 2009

c0RrEnTe

Regresso-me a cada instante

De fúria e mel refeito

Para te ver, sempre adiante

Sabendo que tudo me dói demais no peito

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Rasgo os pedaços da memória

No encalço de mais um passo seguro

Para te ver, onda maior que a própria História

Que da água te salpicas em segredo puro

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Fico por entre os ruídos do teu grito

Na lágrima que se eleva por entre nós

É assim, sempre o meu poema aflito

Quando somos rio, mar e foz!

22 de março de 2009

oUt0n0



Se a saudade me rompesse a almaSe queimasse de longo meu peito abertoSaberia ter-te de novo, em maré calmaPerdida entre mim, que sempre me quedei pertoSe o silêncio quebrasse o teu olharSe cantasse um minuto que fosse a nossa estradaPoderia adormecer aconchegado sem nunca acordarPor entre a minha mão embriagadaQue na fuga do tempo somos pobresNo calor do coração amadoresNa vertigem, saltimbancosNo horizonte, cegos...

18 de março de 2009

cAnSaÇo

Sabes que um dia o meu caminho será para lá dos montes. No encalço de uma solidão que me reconforte. Longe dos Homens e das suas mentiras. Longe deste sofrimento que é a espera. Levarei comigo a história e a viola. Talvez ecoem os gritos e os cânticos da minha passagem. Lembrarei teu nome? Talvez. Os nomes sempre me trouxeram a dor... Mesmo à chegada, eu sempre soube que partiriam. Por isso, nunca sosseguei verdadeiramente. Por isso me enchi de mim e em erupção desejei partir para não mais existir. Para além dos montes, hoje, sangro um pouco do meu peso em direcção ao teu colo...

17 de março de 2009

LaMbIdElA



As palavras soltas perdidas talvez





Nas emoções adormecidas. Nos tempos também





Quedo-me silêncio no mar que se fez





A minha única maré. Que vai e vem





Por isso, não sei se regresse.





Porque em mim nada é. Tudo parece.

16 de março de 2009

eU



Dentro de mim, um jardim e um leito. Perto deles, um rio sempre corrente e transparente. Numa margem, a voz rouca e quente de poema; na outra um sorriso reflexo do que sou. Os passos, o tempo. As mãos, a casa. E assim vou caminhando em direcção ao infinito...

13 de março de 2009

aSoLiDã0qUeMeDeIxAsTe



A solidão que me deixaste cobriu-me o peitoDe todos os segredos que tinha guardadosRasgam-se-me os passos no peso das entranhasVolta e meia sorri-me com manhas e artimanhasPorque nunca mais de mim saíste. Ficaste.Com a solidão que me deixaste.Os tempos revolvem-se na noite e não adormecemNo tormento do vazio ser tão cheioE nunca mais páro de mim; nunca mais a viagem acaba ou começa...E mais um muro se constrói e sem guindaste!Por causa da solidão que me deixaste...Sou um rio em tempestade e sem rumoUm labirinto no precipício que me assalta os dedosUm longo e escuro silêncioQue me deixa surdo de tamanha dor...E assim ficaste. Com a solidão que deixaste...

11 de março de 2009

mÃe


Rompes-me o corpo com o teu olhar

De cada vez que sou horizonte

Entrego-me, mãe, ao teu acordar

Como um rio que regressa à fonte

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Nas mãos, o teu silêncio de ninar

No sorriso, um abraço em ponte

Entrego-me, mãe, de novo ao teu olhar

De cada vez que sou horizonte

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Saliva de palavras por fechar

Seiva de dentro, em verso e monte

Rompes-me, mãe, o corpo no teu acordar

Como um rio que regressa da fonte

9 de março de 2009

pEqUeNoPaSs0

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Se um pequeno passo apenas me trouxesse a tua voz saberia o valor das viagens. Quem sabe ainda perto do terminal ou na berma da estrada conseguisse ouvir o canto dos imortais. Rompo em ruinas e cascatas de cobrir as janelas. Mal sei das palavras. Só os olhos que se atiram e as mãos trémulas em inquietos desassossegos. Que dos silêncios se faz a noite. O mar que me cobre o rosto cansado. O sorriso de tudo querer alcançar. Eu sei que sempre será pouco para tanto. Um minuto apenas bastaria para recomeçar e de novo sentir um nó na barriga. Como num livro que se abre ao acaso e nos serve de espelho. Em rio corrente forte dos segredos. E aqui fico eu. Prostrado perante o infinito...




8 de março de 2009

c0rReNtEqUeDeMiM

Fecundo o suco da saudade escorre-me na pele. Naufrago na corrente medonha da memória. Lentamente, o vento percorre-me o sono. E canso-me de novo no silêncio. Voltas e partes de mim sem saber que sou árvore... que os meus ramos se elevam ao amor... que o meu verde é sangue e desejo... que as crostas são olhos de mel e vigia. Não sei do poiso ou da próxima paragem. Talvez um campo de fugir de vista onde me perca de vez. Quem sabe um caniçal que me cubra o peso. Ou então uma cantiga rouca e terna. Adormecida em mais uma lágrima inquieta e só. À espera da direcção! Volto sempre a mim depois de mim sair. É a maré eterna da minha existência. Que se consolida a cada novo poema. No cume sábio da montanha mais densa do meu corpo...

7 de março de 2009

cAnSaDoDeMiM



Sei que um dia irei descansar sobre as águas do rio ou nas suas margens... Cansado, deixar-me-ei sorrir a esse destino finalmente anunciado. Levarei os braços aos céus. Erguerei a minha voz ao vento e assim se dará a partida... No encalço do sossego por entre as memórias. Para onde vão as histórias quando acabam? Não quero ir para lá.

6 de março de 2009

FaTaLiDaDe

Saberei eu correr por entre os escombros? Cavalgar de cabelos soltos e olhar brilhante em direcção ao infinito? Perpetuar as histórias de amantes no meio da papelada e da mobília? Quem sabe um pequeno tapete nos salve... Só para podermos chegar perto de uma nuvem e desaguar finalmente na morte.

3 de março de 2009

nAdA

Não espero mais. Os caminhos perdem a sua música e os meus olhos já não atingem os sonhos. Talvez um dia... Quem sabe consiga acordar do cinzento e voltar a pintar os jardins ou os leitos. Que dos rios sei da correnteza. Que da cama sei o frio. Que da noite a firmeza com que abraço o vazio. Não espero mais. Debruço-me mudo sobre o meu peso. Que das palavras não sei o tempo. Que da luz não sei a cegueira. Que dos versos mal sei o cheiro... Em solitária viagem dentro do meu peito embriago-me de lágrimas e tonturas. Onde a inquietação se desforma e dilui. Em direcção ao nada. Hoje nada é um poema inteiro!

2 de março de 2009

n0mEuLeIt0



O meu leito é um berço de mimOnde mergulho e me escondoÉ um perfume, uma cor, um jardimUm vulcão, sangue e estrondoUma corrente no tempo abraçadoUma manta quente que arrepiaO meu leito presente, futuro, passadoOnde navega a minha alma e a poesiaGritos e canções de embriaguês e amorTelas de palavras sempre ao meu jeitoPerco-me e encontro-me; no prazer e na dorDe tanto ser eu assim, no meu leito...

1 de março de 2009

s0lIdÃo



Inquieto-me em corrente de rioSempre no reflexo das águas e do caminhoPor vezes em grito,outras de mansinhoOnde a minha voz se refaz. Como um arrepio...
Explosões de mim sobre a memóriaNas margens das imprecisões e de tudoQue nunca um parto será seco e mudoNas entrelinhas com que pinta a sua história...
Falho-me vezes sem conta e outra vezEm poesia à solta e marés em liberdadeQue na distância da inquietação à saudadeHá uma tela de cores que ainda não se fez...
Carrego-me. No asfalto da vertigem deste peitoVolto-me e regresso-me nas melodias da revoluçãoQue o meu sangue tem a cor do coraçãoPor onde acordo, sonho e talvez me deito!



oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...