quinta-feira, 31 de julho de 2014

elevadores


Para evitar a fadiga, o ser humano eventualmente desenvolveu um mecanismo destinado a substituir as arcaicas “escadas”1 nos edifícios de mais de dois pavimentos. Trata-se de uma micro ecossistema suspenso no ar por cordas de aço, em sistema de contrapeso, para elevação vertical mediante operação de botões e interação social indesejada. Dito assim, soa complicado, mas o procedimento é simples: apertar o botão, esperar o elevador, aguardar a porta se abrir e as pessoas saírem, entrar, descobrir o andar no painel, apertar-se no recinto com um punhado de desconhecidos, evitar puxar assunto, suar frio, observar o itinerário indicado no visor, torcer para o elevador não quebrar, pedir licença para passar quando chegar a sua vez, desviar dos passageiros no sentido contrário e desembarcar são e salvo alguns metros acima ou abaixo do ponto de partida, de preferência no andar certo.

1. Devidamente decifradas pelo teórico J. Cortázar, no tratado "Instruções para subir uma escada" (1964)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

auto-arqueologia sonoro-biográfica


Por muitos anos gravei obsessivamente horas e horas de música, idéias, ensaios, conversas de bar e ruídos em geral, em fitas k7 raramente rotuladas e posteriormente esquecidas no fundo de uma gaveta. O surrado AIWA TP-VS470 resistiu bravamente até o fim de 2013, quando foi aposentado por invalidez. Nesse meio tempo, arquitetei diversas tentativas de formar bandas (algumas, de um dia só), que criaram repertório, em maior ou menor grau, e fizeram parte da minha formação e aprendizado na arte de tocar com outras pessoas - contraponto ao apreço pela solidão e isolamento. Uma dessas tentativas eventualmente se tornaria o Chapa Mamba, outras transmutaram-se em projetos paralelos, e a maioria ficou apenas na lembrança e nesses pobres registros resgatados de HDs antigos - por vezes apenas fragmentos e cortes arbitrários, de baixíssima fidelidade.

Contexto é tudo. São gravações precárias de performances por vezes inseguras, obviamente de alto valor sentimental, mas que também demonstram a vontade e urgência juvenis depositadas em milhares de ensaios, encontros, tentativa e erro de se criar algo único. Essa seleção traz algumas composições que em algum momento foram importantes para mim, e que de alguma forma atingem memórias nostálgicas de uma cena imaginária da qual fizemos parte. Talvez não interessem a mais ninguém, mas propus a mim mesmo reavaliar esses arquivos com ouvido crítico, apenas para constatar que sim, havia algo latente ali, de alto potencial, algo que espero continuar desenvolvendo enquanto puder.

Obrigado Paulo Mello, André Borges, Guilherme Souto, Yuri Mello, Daniel Guedes, Endrigo Bastos, André "Pâncreas" Campos, Iano Fazio, André Costa e Bruno Lima por terem tocado comigo nessas faixas, desculpem expô-los dessa forma. (Éramos jovens e inocentes, é a desculpa perfeita.) Obrigado aos outros amigos que infelizmente não apareceram nessa tosca seleção.




ONE-BAND-MAN (2005 - 2012)

A
de ontem em diante o amanhã é hoje
dança do intestino
passarinho
flauta doce *
quem não chora não mama
aquela do três-três
a vida é bélica *

B
pássaro de fogo
a propaganda da televisão *
metal
quem não chora não mama
orangotango-marimbondo
dança do destino
o fantasma da máquina
quem não chora não mama

Gravado em cassete, exceto quando indicado (*)




quarta-feira, 9 de julho de 2014

parada gráfica 2014

Estarei em Porto Alegre no fim do mês, para participar da Parada Gráfica, que acontece no Museu do Trabalho nos dias 26 e 27 de julho. O frio deve estar de lascar, mas faz tempo que quero conhecer a cidade, habitada por monstros como Fabio Zimbres e Rafael Sica, só para citar dois.






Além do material da Beleléu, dividiremos a mesa com o Selo Rabanete, da Clara, e daremos uma oficina de quadrinhos no domingo. As inscrições estão abertas e a oficina, assim como o evento, é gratuita.



Pra completar, toco com o Chapa Mamba na festa de abertura, no sábado! Barba, cabelo e bigode.
Mais informações sobre isso em breve.


PARADA GRÁFICA 2014
@ Museu do Trabalho
26 e 27 de julho

+infos
paradagrafica.tumblr.com
fb.com/aparadagrafica