terça-feira, 11 de novembro de 2008
S. MARTINHO E O OUTONO
Publicada por "ESPAÇO CULTURALMENTE" à(s) 07:22 0 comentários
Etiquetas: Dias especiais
DIA DE S. MARTINHO
Este dia foi assinalado com com história ilustrada de S. Martinho e toda a ligação com a época festiva:castanhas, a abertura do pipo e o porco. As adivinhas também estiveram presentes.
A prof. Teresa Belo e as Auxiliares fizeram o arranjo de uma vitrine. As profs Alice e Mabilia recolheram as quadras do concurso alusivo às castanhas, ao Outono e ao S. Martinho.
A prof. Teresa Belo e as Auxiliares fizeram o arranjo de uma vitrine. As profs Alice e Mabilia recolheram as quadras do concurso alusivo às castanhas, ao Outono e ao S. Martinho.
Publicada por "ESPAÇO CULTURALMENTE" à(s) 06:29 0 comentários
Etiquetas: Dias especiais
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
JERÓNIMO SALTARICO
Publicada por "ESPAÇO CULTURALMENTE" à(s) 17:16 0 comentários
Etiquetas: ITINERANCIA
A CERCA
A Cerca
A Sr.ª Vitória vivia nos arrabaldes da cidade.
A Sr.ª Vitória vivia nos arrabaldes da cidade.
À volta da sua casinha havia um jardim com árvores de fruto e canteiros de flores e legumes. Não morava sozinha. Tinha um cão, um Schnauzer preto e cinzento que, quando ladrava, mais parecia um barril de metal cheio de pedras a rolar por uma encosta. Chamava-se Tasso, e era com ele que a Sr.ª Vitória falava quando estava só, o que, aliás, acontecia muitas vezes. Não tinha filhos nem demais família, e já era tão idosa que dificilmente poderia fazer novos amigos. Só tinha o seu Tasso, a quem adorava. Ai de quem dissesse mal do Tasso! A fúria trazia-lhe à boca palavras feias e a ira subia-lhe aos olhos.
A Sr.ª Maria morava também nos arrabaldes da cidade. À volta de casa havia igualmente um lindo jardim bem arranjado, com relva e abetos brancos, bétulas e salgueiros. A Sr.ª Maria tinha filhos, filhas e netos, mas estes não se preocupavam com ela porque era idosa e infeliz, e não tinha grande fortuna. E, tal como a Sr.ª Vitória, tinha também um cão, um baixote a que dera o nome de Niki. Quando Niki ladrava, parecia que cem garotos traquinas estavam a brincar com apitos… todos ao mesmo tempo! Mas, para a Sr.ª Maria, o ladrar do seu cãozinho era maravilhoso e os olhos brilhavam-lhe quando ele, com o focinho cheio de terra, parava a ladrar em frente de algum buraco de ratos.
A Sr.ª Vitória e a Sr.ª Maria eram vizinhas. Os jardins estavam separados por uma cerca de ripas de madeira, mas nem a Sr.ª Vitória nem a Sr.ª Maria se aproximavam dela se a outra estivesse no fundo do jardim. Não gostavam uma da outra. Nunca tinham tentado trocar uma palavra, e os culpados disso eram Tasso e Niki.
Todas as manhãs, mal as portas das duas casas se abriam, Tasso e Niki precipitavam-se para o jardim, corriam para a cerca e, de dentes arreganhados, corriam de um lado para o outro, para cima e para baixo ao longo da cerca, latindo furiosamente: o barril de metal rouco e o apito estridente. Com o pêlo eriçado e os beiços a espumar, prontos a saltar ao pescoço um do outro a qualquer momento. E, todas as manhãs, a Sr.ª Vitória e a Sr.ª Maria apareciam à porta com má cara e de mãos trémulas, a chamar os seus queridos.
— Tasso! Tasso! Querido! Já aqui! Deixa esse cão mau — chamava a Sr.ª Vitória indignada.
— Niki, Niki! Já para aqui! Vem comer a tua carninha. Deixa esse selvagem! — gritava a Sr.ª Maria fora de si.
Quando os cães se separavam e voltavam para as donas, eram recebidos com muita efusão, acariciados e conduzidos às tigelas da comida. As portas fechavam-se com estrondo, e a Sr.ª Maria e a Sr.ª Vitória voltavam a ficar a sós com os seus cães.
— És um cão muito bonito — dizia a Sr.ª Vitória ao seu Tasso, enquanto lhe passava a mão pelo pêlo. — Isso! Ralha àquele cão mau! Tem um ladrar tão feio! Tu não! Tu és um bom cão, um cão muito bonito.
Do outro lado da cerca, a conversa era a mesma:
— Anda, Nikinho, aqui tens a tua carninha. É assim mesmo! Mostra àquele feio que aqui não há-de fazer o que quer. Um selvagem daqueles! — dizia a Sr.ª Maria ao seu cão.
A Sr.ª Maria ia em seguida ao quarto de banho, fingia que sacudia as cortinas e espreitava para o jardim. A Sr.ª Vitória ia igualmente ao quarto de banho, subia a um banquinho e, com cautela, deitava uma olhadela por cima da cerca. Depois, as duas senhoras abandonavam os seus postos de observação e ficavam satisfeitas quando não viam ninguém no jardim.
Certa noite, uma tempestade passou por aquela zona, lançou rajadas de vento sobre o jardim, sacudiu as árvores e os arbustos, abanou a velha cerca e partiu-lhe um pedaço.
O dia seguinte amanheceu calmo e sereno. Só a chilreada dos pássaros era a do costume, e assim esteve, até as portas das duas casas se abrirem e Tasso e Niki se precipitarem para fora.
Atiçaram-se um ao outro, lançaram-se contra a cerca, ladraram, espumaram, arreganharam os dentes, correram ofegantes ao longo da cerca tentando apanhar-se, voltaram para trás e tornaram a correr até à outra ponta. Até ao local onde a tempestade a tinha derrubado.
Os cães pararam. O ladrar morreu. De um momento para o outro, encontravam-se frente a frente, sem a cerca a separá-los, assustados, surpreendidos, quietos. Durante uns segundos, olharam-se, desconfiados, sem se mexerem, até que, aos poucos, as orelhas caídas se foram levantando, o pêlo eriçado se acalmou, as caudas começaram a mexer-se e a abanar. Depois, tocaram-se levemente nos focinhos, farejaram-se e começaram a andar em círculo, cada vez mais depressa, até que Tasso entrou a correr pelo jardim de Niki, com este atrás. Desataram a correr à volta da casa, de início sem fazerem barulho, tentando apanhar-se um ao outro, e passaram para o jardim de Tasso. Empurravam-se, davam cambalhotas, rolavam na relva, latiam baixinho de prazer e alegria para depois continuarem naquela perseguição desenfreada.
Quando chegou à porta, a Sr.ª Vitória estranhou o silêncio. A Sr.ª Maria também abriu a boca de admiração quando se preparava para chamar o seu queridinho, não pelo silêncio em que o jardim se encontrava, mas por ver dois cães com a língua de fora, a correr em círculo à volta das bétulas e dos salgueiros.
— Niki! — gritou indignada a Sr.ª Maria.
Os dois cães correram até junto dela, deitaram-se aos seus pés, rodearam-na, roçaram-se-lhe nas pernas, lamberam-lhe as mãos. Dispersaram em seguida, tornaram a sair para correr à volta da casa e passaram para o outro jardim, subindo os degraus da porta das traseiras, de onde a Sr.ª Vitória, decepcionada, assistia àquela correria desenfreada. Confusa, desceu ao jardim, e foi imediatamente cercada pelos cães, que corriam à sua volta, saltando e latindo, rebolando-se e batendo com o focinho nas mãos dela. Depois afastaram-se. Tasso procurou a maior macieira, no tronco da qual levantou a pata, e correu para o seu jardim, seguido por Niki, que escolheu o salgueiro do jardim da Sr.ª Maria para deixar a sua marca.
A Sr.ª Vitória aproximou-se devagar da cerca do jardim, para ver os estragos provocados pela tempestade.
A Sr.ª Maria apareceu à esquina da casa e parou, mas lá se foi aproximando da cerca, hesitante.
— A trovoada desta noite… — disse a Sr.ª Vitória.
A Sr.ª Maria acenou.
— A tempestade — acrescentou.
— Foi uma sorte não ter havido mais estragos — disse a Sr.ª Vitória.
— E não terem caído árvores, graças a Deus — disse a Sr.ª Maria.
— E não se terem estragado telhados — acrescentou a Sr.ª Vitória.
Depois olharam à sua volta.
— Mas onde é que estão os cães? — perguntou a Sr.ª Vitória.
— Talvez em minha casa. Deixei a porta aberta — disse a Sr.ª Maria, dirigindo-se rapidamente para casa.
A Sr.ª Vitória também queria segui-la para ir buscar o seu Tasso, mas não se atrevia a passar a cerca. Ficou a olhar para a vizinha, que se afastava. A Sr.ª Maria virou-se de repente.
— Venha — disse. — Vamos procurar os cães!
A Sr.ª Vitória passou a cerca estragada. Estava com uma sensação esquisita. Era como se estivesse a penetrar num mundo totalmente estranho e desconhecido.
Os cães estavam de facto em casa, em frente de um prato com carne, onde comiam ambos, um ao lado do outro. As duas senhoras pararam atrás e observavam, caladas.
— Bem, mas agora já chega! — disse a Sr.ª Vitória a Tasso, algum tempo depois. — Não vais comer tudo ao Niki! Além disso, tens de o convidar para vir a nossa casa!
Agarrou-lhe na coleira e levou-o. A Sr.ª Maria acompanhou-a até ao buraco na vedação.
— Já que sou eu a responsável pela vedação — disse — vou mandar arranjá-la.
— Isso vai custar muito dinheiro — disse a Sr.ª Maria.
— O que tem de ser, tem de ser — respondeu a Sr.ª Vitória.
Niki saiu de casa a correr em direcção ao jardim da Sr.ª Vitória.
— Estes cães não respeitam fronteiras nenhumas — disse a Sr.ª Maria, sorrindo, embaraçada. — Por mim, não precisa de mandar já compor a cerca.
— Está bem, mas o que é que eu faço com ela?
— Está tão podre. Deixe-a lá!
— Os cães iam gostar… — disse a Sr.ª Vitória.
— Hum… já deixaram de ladrar. E as fronteiras não tornam maus só os animais — disse a Sr.ª Maria.
Por uns instantes, a Sr.ª Vitória olhou em volta, e depois perguntou:
— Já tomou o pequeno-almoço?
— Eu não, só o cão — respondeu a Sr.ª Maria.
— Então venha! O meu café ainda está quente.
Wilhelm Meissel
Jutta Modler (org.)
Brücken Bauen
Wien, Herder, 1987
A Sr.ª Maria morava também nos arrabaldes da cidade. À volta de casa havia igualmente um lindo jardim bem arranjado, com relva e abetos brancos, bétulas e salgueiros. A Sr.ª Maria tinha filhos, filhas e netos, mas estes não se preocupavam com ela porque era idosa e infeliz, e não tinha grande fortuna. E, tal como a Sr.ª Vitória, tinha também um cão, um baixote a que dera o nome de Niki. Quando Niki ladrava, parecia que cem garotos traquinas estavam a brincar com apitos… todos ao mesmo tempo! Mas, para a Sr.ª Maria, o ladrar do seu cãozinho era maravilhoso e os olhos brilhavam-lhe quando ele, com o focinho cheio de terra, parava a ladrar em frente de algum buraco de ratos.
A Sr.ª Vitória e a Sr.ª Maria eram vizinhas. Os jardins estavam separados por uma cerca de ripas de madeira, mas nem a Sr.ª Vitória nem a Sr.ª Maria se aproximavam dela se a outra estivesse no fundo do jardim. Não gostavam uma da outra. Nunca tinham tentado trocar uma palavra, e os culpados disso eram Tasso e Niki.
Todas as manhãs, mal as portas das duas casas se abriam, Tasso e Niki precipitavam-se para o jardim, corriam para a cerca e, de dentes arreganhados, corriam de um lado para o outro, para cima e para baixo ao longo da cerca, latindo furiosamente: o barril de metal rouco e o apito estridente. Com o pêlo eriçado e os beiços a espumar, prontos a saltar ao pescoço um do outro a qualquer momento. E, todas as manhãs, a Sr.ª Vitória e a Sr.ª Maria apareciam à porta com má cara e de mãos trémulas, a chamar os seus queridos.
— Tasso! Tasso! Querido! Já aqui! Deixa esse cão mau — chamava a Sr.ª Vitória indignada.
— Niki, Niki! Já para aqui! Vem comer a tua carninha. Deixa esse selvagem! — gritava a Sr.ª Maria fora de si.
Quando os cães se separavam e voltavam para as donas, eram recebidos com muita efusão, acariciados e conduzidos às tigelas da comida. As portas fechavam-se com estrondo, e a Sr.ª Maria e a Sr.ª Vitória voltavam a ficar a sós com os seus cães.
— És um cão muito bonito — dizia a Sr.ª Vitória ao seu Tasso, enquanto lhe passava a mão pelo pêlo. — Isso! Ralha àquele cão mau! Tem um ladrar tão feio! Tu não! Tu és um bom cão, um cão muito bonito.
Do outro lado da cerca, a conversa era a mesma:
— Anda, Nikinho, aqui tens a tua carninha. É assim mesmo! Mostra àquele feio que aqui não há-de fazer o que quer. Um selvagem daqueles! — dizia a Sr.ª Maria ao seu cão.
A Sr.ª Maria ia em seguida ao quarto de banho, fingia que sacudia as cortinas e espreitava para o jardim. A Sr.ª Vitória ia igualmente ao quarto de banho, subia a um banquinho e, com cautela, deitava uma olhadela por cima da cerca. Depois, as duas senhoras abandonavam os seus postos de observação e ficavam satisfeitas quando não viam ninguém no jardim.
Certa noite, uma tempestade passou por aquela zona, lançou rajadas de vento sobre o jardim, sacudiu as árvores e os arbustos, abanou a velha cerca e partiu-lhe um pedaço.
O dia seguinte amanheceu calmo e sereno. Só a chilreada dos pássaros era a do costume, e assim esteve, até as portas das duas casas se abrirem e Tasso e Niki se precipitarem para fora.
Atiçaram-se um ao outro, lançaram-se contra a cerca, ladraram, espumaram, arreganharam os dentes, correram ofegantes ao longo da cerca tentando apanhar-se, voltaram para trás e tornaram a correr até à outra ponta. Até ao local onde a tempestade a tinha derrubado.
Os cães pararam. O ladrar morreu. De um momento para o outro, encontravam-se frente a frente, sem a cerca a separá-los, assustados, surpreendidos, quietos. Durante uns segundos, olharam-se, desconfiados, sem se mexerem, até que, aos poucos, as orelhas caídas se foram levantando, o pêlo eriçado se acalmou, as caudas começaram a mexer-se e a abanar. Depois, tocaram-se levemente nos focinhos, farejaram-se e começaram a andar em círculo, cada vez mais depressa, até que Tasso entrou a correr pelo jardim de Niki, com este atrás. Desataram a correr à volta da casa, de início sem fazerem barulho, tentando apanhar-se um ao outro, e passaram para o jardim de Tasso. Empurravam-se, davam cambalhotas, rolavam na relva, latiam baixinho de prazer e alegria para depois continuarem naquela perseguição desenfreada.
Quando chegou à porta, a Sr.ª Vitória estranhou o silêncio. A Sr.ª Maria também abriu a boca de admiração quando se preparava para chamar o seu queridinho, não pelo silêncio em que o jardim se encontrava, mas por ver dois cães com a língua de fora, a correr em círculo à volta das bétulas e dos salgueiros.
— Niki! — gritou indignada a Sr.ª Maria.
Os dois cães correram até junto dela, deitaram-se aos seus pés, rodearam-na, roçaram-se-lhe nas pernas, lamberam-lhe as mãos. Dispersaram em seguida, tornaram a sair para correr à volta da casa e passaram para o outro jardim, subindo os degraus da porta das traseiras, de onde a Sr.ª Vitória, decepcionada, assistia àquela correria desenfreada. Confusa, desceu ao jardim, e foi imediatamente cercada pelos cães, que corriam à sua volta, saltando e latindo, rebolando-se e batendo com o focinho nas mãos dela. Depois afastaram-se. Tasso procurou a maior macieira, no tronco da qual levantou a pata, e correu para o seu jardim, seguido por Niki, que escolheu o salgueiro do jardim da Sr.ª Maria para deixar a sua marca.
A Sr.ª Vitória aproximou-se devagar da cerca do jardim, para ver os estragos provocados pela tempestade.
A Sr.ª Maria apareceu à esquina da casa e parou, mas lá se foi aproximando da cerca, hesitante.
— A trovoada desta noite… — disse a Sr.ª Vitória.
A Sr.ª Maria acenou.
— A tempestade — acrescentou.
— Foi uma sorte não ter havido mais estragos — disse a Sr.ª Vitória.
— E não terem caído árvores, graças a Deus — disse a Sr.ª Maria.
— E não se terem estragado telhados — acrescentou a Sr.ª Vitória.
Depois olharam à sua volta.
— Mas onde é que estão os cães? — perguntou a Sr.ª Vitória.
— Talvez em minha casa. Deixei a porta aberta — disse a Sr.ª Maria, dirigindo-se rapidamente para casa.
A Sr.ª Vitória também queria segui-la para ir buscar o seu Tasso, mas não se atrevia a passar a cerca. Ficou a olhar para a vizinha, que se afastava. A Sr.ª Maria virou-se de repente.
— Venha — disse. — Vamos procurar os cães!
A Sr.ª Vitória passou a cerca estragada. Estava com uma sensação esquisita. Era como se estivesse a penetrar num mundo totalmente estranho e desconhecido.
Os cães estavam de facto em casa, em frente de um prato com carne, onde comiam ambos, um ao lado do outro. As duas senhoras pararam atrás e observavam, caladas.
— Bem, mas agora já chega! — disse a Sr.ª Vitória a Tasso, algum tempo depois. — Não vais comer tudo ao Niki! Além disso, tens de o convidar para vir a nossa casa!
Agarrou-lhe na coleira e levou-o. A Sr.ª Maria acompanhou-a até ao buraco na vedação.
— Já que sou eu a responsável pela vedação — disse — vou mandar arranjá-la.
— Isso vai custar muito dinheiro — disse a Sr.ª Maria.
— O que tem de ser, tem de ser — respondeu a Sr.ª Vitória.
Niki saiu de casa a correr em direcção ao jardim da Sr.ª Vitória.
— Estes cães não respeitam fronteiras nenhumas — disse a Sr.ª Maria, sorrindo, embaraçada. — Por mim, não precisa de mandar já compor a cerca.
— Está bem, mas o que é que eu faço com ela?
— Está tão podre. Deixe-a lá!
— Os cães iam gostar… — disse a Sr.ª Vitória.
— Hum… já deixaram de ladrar. E as fronteiras não tornam maus só os animais — disse a Sr.ª Maria.
Por uns instantes, a Sr.ª Vitória olhou em volta, e depois perguntou:
— Já tomou o pequeno-almoço?
— Eu não, só o cão — respondeu a Sr.ª Maria.
— Então venha! O meu café ainda está quente.
Wilhelm Meissel
Jutta Modler (org.)
Brücken Bauen
Wien, Herder, 1987
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Etiquetas: Histórias
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
A CIDADE ERGUIA AS SUAS PAREDES
A cidade erguia as suas paredes
Era uma tarde do fim de Novembro, já sem nenhum Outono.
A cidade erguia as suas paredes de pedras escuras. O céu estava alto, desolado, cor de frio. Os homens caminhavam empurrando-se uns aos outros nos passeios.
Os carros passavam depressa.
Deviam ser quatro horas da tarde de um dia sem sol nem chuva.
Havia muita gente na rua naquele dia.
Eu caminhava no passeio, depressa. A certa altura encontrei-me atrás de um homem muito pobremente vestido que levava ao colo uma criança loira, uma daquelas crianças cuja beleza quase não se pode descrever. É a beleza de uma madrugada de Verão, a beleza de uma rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza de uma inocência humana. Instintivamente o meu olhar ficou um momento preso na cara da criança.
Mas o homem caminhava muito devagar e eu, levada pelo movimento da cidade, passei à sua frente.
Mas ao passar voltei a cabeça para trás para ver mais uma vez a criança.
Foi então que vi o homem. Imediatamente parei.
Era um homem extraordinariamente belo, que devia ter trinta anos e em cujo rosto estavam inscritos a miséria, o abandono, a solidão. O seu fato, que tendo perdido a cor tinha ficado verde, deixava adivinhar um corpo comido pela fome. O cabelo era castanho-claro, apartado ao meio, ligeiramente comprido. A barba por cortar há muitos dias crescia em ponta. Estreitamente esculpida pela pobreza, a cara mostrava o belo desenho dos ossos.
Mas mais belos do que tudo eram os olhos, os olhos claros, luminosos de solidão e de doçura. No próprio instante em que eu o vi, o homem levantou a cabeça para o céu.
Como contar o seu gesto?
Era um céu alto, sem resposta, cor de frio. O homem levantou a cabeça no gesto de alguém que, tendo ultrapassado um limite, já nada tem para dar e se volta para fora procurando uma resposta. A sua cara escorria sofrimento. A sua expressão era simultaneamente resignação, espanto e pergunta.
Caminhava lentamente, muito lentamente, do lado de dentro do passeio, rente ao muro. Caminhava muito direito, como se todo o corpo estivesse erguido na pergunta. Com a cabeça levantada, olhava o céu.
Mas o céu eram planícies e planícies de silêncio.Tudo isto se passou num momento e, por isso, eu, que me lembro nitidamente do fato do homem, da sua cara, do seu olhar e dos seus gestos, não consigo rever com clareza o que se passou dentro de mim. Foi como se tivesse ficado vazia olhando o homem.
A multidão não parava de passar. Era o centro do centro da cidade. O homem estava sozinho, sozinho. Rios de gente passavam sem o ver.Só eu tinha parado, mas inutilmente. O homem não me olhava. Quis fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Era como se a sua solidão estivesse para além de todos os meus gestos, como se ela o envolvesse e o separasse de mim e fosse tarde de mais para qualquer palavra e já nada tivesse remédio. Era como se eu tivesse as mãos atadas.
Assim às vezes nos sonhos queremos agir e não podemos.O homem caminhava muito devagar. Eu estava parada no meio do passeio, contra o sentido da multidão.(…)
Corri, empurrando quase as pessoas. Estava já a dois passos dele. Mas nesse momento, exactamente, o homem caiu no chão. Da sua boca corria um rio de sangue e nos seus olhos havia ainda a mesma expressão de infinita paciência.A criança caíra com ele e chorava no meio do passeio, escondendo a cara na saia do seu vestido manchado de sangue.Então a multidão parou e formou um círculo à volta do homem. Ombros mais fortes do que os meus empurraram-me para trás.
Eu estava do lado de fora do círculo. Tentei atravessá-lo, mas não consegui. As pessoas apertadas umas contra as outras eram como um único corpo fechado. À minha frente estavam homens mais altos do que eu que me impediam de ver. Quis espreitar, pedi licença, tentei empurrar, mas ninguém me deixou passar. Ouvi lamentações, ordens, apitos. Depois veio uma ambulância.
Quando o círculo se abriu, o homem e a criança tinham desaparecido.
A multidão dispersou-se e eu fiquei no meio do passeio, caminhando para a frente, levada pelo movimento da cidade.
Muitos anos passaram. O homem certamente morreu. Mas continua ao nosso lado. Pelas ruas.
Adaptação: Sophia de Mello Breyner Andresen
Excertos do conto: “O Homem”in Contos Exemplares" Porto, Figueirinhas, 1984
Publicada por "ESPAÇO CULTURALMENTE" à(s) 15:50 0 comentários
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Dia das Bruxas em Nogueira
O Halloween na nossa escola
E.B.1 de Nogueira
31 de Outubro de 2008
Depois de pesquisarmos sobre o Halloween e as diversas formas de o festejar,
E de executarmos um painel colectivo com gravuras alusivas ao “Dia das bruxas”,
elaboramos um texto com os temas:
“Se eu fosse uma bruxa durante um dia”(Meninas)
“Se eu fosse um fantasma durante um dia”(Rapazes)
Dos vários textos criados, retiramos uma frase de cada. que resultou o seguinte:
Se eu fosse uma bruxa gostava de:
- ter um chapéu muito alto, unhas bicudas, um nariz com sinais feios e uma vassoura mágica que me levasse até ao céu. Inês
- ter unhas pintadas de vermelho e uma bola de cristal para ver tudo o que se passa na aldeia. – Telma
- fazer traquinices, voar na vassoura e deixar os meninos a rir sem parar ate ficarem com dores na barriga. Cristiana
- fazer magia negra e de assustar todas as pessoas até crianças e velhinhos só por um dia!- Jéssica
-
Se eu fosse um fantasma gostava de:
- ensinar truques de magia como desaparecer e voltar a aparecer – Cristiano
-ser um fantasma bom e ia bater à porta dos meus amigos – Luís
- jogar à apanhada porque ficava invisível e nem necessitava de sair do sítio! Emanuel
- voar bem alto para conhecer o espaço, ver o sol e as estrelas. Rodrigo
Ser divertido e para isso pedia à minha avó que me ensinasse porque ela percebe de bruxarias - Micael
E.B.1 de Nogueira
31 de Outubro de 2008
Depois de pesquisarmos sobre o Halloween e as diversas formas de o festejar,
E de executarmos um painel colectivo com gravuras alusivas ao “Dia das bruxas”,
elaboramos um texto com os temas:
“Se eu fosse uma bruxa durante um dia”(Meninas)
“Se eu fosse um fantasma durante um dia”(Rapazes)
Dos vários textos criados, retiramos uma frase de cada. que resultou o seguinte:
Se eu fosse uma bruxa gostava de:
- ter um chapéu muito alto, unhas bicudas, um nariz com sinais feios e uma vassoura mágica que me levasse até ao céu. Inês
- ter unhas pintadas de vermelho e uma bola de cristal para ver tudo o que se passa na aldeia. – Telma
- fazer traquinices, voar na vassoura e deixar os meninos a rir sem parar ate ficarem com dores na barriga. Cristiana
- fazer magia negra e de assustar todas as pessoas até crianças e velhinhos só por um dia!- Jéssica
-
Se eu fosse um fantasma gostava de:
- ensinar truques de magia como desaparecer e voltar a aparecer – Cristiano
-ser um fantasma bom e ia bater à porta dos meus amigos – Luís
- jogar à apanhada porque ficava invisível e nem necessitava de sair do sítio! Emanuel
- voar bem alto para conhecer o espaço, ver o sol e as estrelas. Rodrigo
Ser divertido e para isso pedia à minha avó que me ensinasse porque ela percebe de bruxarias - Micael
Prof: Maria do Céu Cruz
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