Felipe Stefani.
sábado, 30 de agosto de 2008
Dica de Leitura: René Girard.
É fascinante a teoria do filosofo francês René Girard (1923 -) sobre o mimetismo humano. Segundo ele é esse mimetismo que gera as tenções políticas e, nas sociedades antigas, tinha no rito de sacrifico uma válvula de escape. Em suma, o sacrificado era o bode expiatório, por ser um objeto de desejo apropriável a toda convergência de desejos nessas sociedades. Girard teve como fonte de inspiração a obra do escritor Marcel Proust. Seu pensamento desafia manifestamente o de Sigmund Freud no campo do desejo, bem como o de Claude Lévi-Strauss no que se refere à interpretação dos mitos e o de Karl Marx quanto ao determinismo econômico. Não deixem de estuda-lo. Uma boa introdução pode ser feita nesse site: http://www.cottet.org/girard/index.en.htm
Felipe Stefani.
Felipe Stefani.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Composição.
O frêmito dos grãos, a palpitação da seiva,
amanhecem, em mim, as montanhas, o dorso
dos animais silenciosos, as tardes todas do meu
passado. Repentinamente, as árvores do verão,
verde além do tempo, além do espaço, germinam
o que eu fui, o que ficou apagado pela escritura
dos desertos, pela constante passagem das chuvas.
Nos escombros de mim, brinca um menino de pólen,
arco-íris a reluzir, no esquecimento, as cores todas
do mundo. Nas paisagens onde o silêncio se adensa,
feito rocha indevassável, somente o verde se faz
música, se multiplica em pão e alegria.
O frêmito da seiva, a palpitação dos grãos, inauguram,
em mim, uma palavra em constante manhã.
***
amanhecem, em mim, as montanhas, o dorso
dos animais silenciosos, as tardes todas do meu
passado. Repentinamente, as árvores do verão,
verde além do tempo, além do espaço, germinam
o que eu fui, o que ficou apagado pela escritura
dos desertos, pela constante passagem das chuvas.
Nos escombros de mim, brinca um menino de pólen,
arco-íris a reluzir, no esquecimento, as cores todas
do mundo. Nas paisagens onde o silêncio se adensa,
feito rocha indevassável, somente o verde se faz
música, se multiplica em pão e alegria.
O frêmito da seiva, a palpitação dos grãos, inauguram,
em mim, uma palavra em constante manhã.
***
Pintura: Árvore em Terreno Baldio; Marcelo Ariel.
Escultura: Sem Titulo; Megumi Yuasa, foto de Felipe Stefani.
Poema: Sem Titulo; Alexandre Bonafim.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Dica de Leitura: Xavier Zubiri
Com um saber enciclopédico Xavier Zubiri (1898-1983), foi um dos filósofos que mais me lançou luz sobre o significado da filosofia. Um saber enciclopédico que vai desde a física e a biologia moderna, até as formas mais tradicionais de saber. Com ele aprendi o mais profundo significado da história do pensamento humano. Recomendo a todos ler esse grande filosofo espanhol. Uma boa introdução pode ser feita nesse site: http://www.zubiri.org/
Felipe Stefani.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Colaborações: Um Conto de Lima Trindade.
O BALÃO AMARELO
A feira cobria toda a extensão da praça. Homens, mulheres e crianças comendo, comprando, vestindo, experimentando. Os carros no estacionamento subiam uns nos outros, gritavam. Casais se encostavam em árvores, encolhiam-se em bancos. A lua acolhia e iluminava. Meu bem vinha caminhando ao meu lado quando parou e anunciou que precisava fazer uma ligação. Assenti, feliz que estava com o novo anel no dedo, imitação de aliança quase igual à dele. Da cadeira esquecida numa barraca, eu o olhava na fila, aguardando gente apaixonada falando distante. E acompanhava a movimentação colorida e alegre que se entrelaçava à minha frente. Próximo, pais afoitos continham meninos diante de um homem que enchia de gás balões coloridos. Era um rapaz e não se inquietava com os pedidos e protestos tenazes das crianças, apenas baixava a alavanca quando a boca do balão estava encaixada no pistom. Provavelmente tinha filhos e vendia balões para sustentá-los. Meu bem, paciente, após a espera na fila, finalmente conseguiu chegar ao orelhão. Mordi os lábios. O rapaz enchia os balões um a um. No final, dava-lhes um nó, entortava, torcia, até que adquirissem uma forma engraçada qualquer. Quando começava a esculpir um balão amarelo longo como uma cobra, este teimou e desafiadoramente se desprendeu de suas mãos. Meu bem sorria longe, o fone entre o rosto e o ombro e uma das mãos no bolso do jeans. O balão amarelo dançava lento no vácuo. Estalei os dedos. Meu bem agora falava animado. Eu não o ouvia. De repente parou, deteve os olhos em mim e se virou de costas. Procurei o balão no céu. Ele já avançava sobre os postes de luz improvisados. E recordei da estranha manhã em que eu era muito pequeno e mal tinha aprendido a andar. Estava só, na frente da nossa casa, no meio da rua, numa ladeira. No final, o Lago. A cidade era uma armação desdentada e nós ainda morávamos em casas coletivas de madeira, próximo ao Paranoá. Tive medo de tropeçar, cair, rolar e parar dentro das águas do lago. Estava só e ainda hoje não sei como havia chegado ali nem como fiz para sair de lá. Eu não sabia falar e o medo paralisara meu choro. Sentia que uma fatalidade me levaria a cair, rolar e parar dentro das águas para morrer afogado. Não sei como saí. O balão amarelo ganhava altura e diminuía de tamanho. Meu bem virou novamente. Ele falava e eu reparava no quanto ele era forte, no quanto me inspirava segurança e proteção. Fez um aceno para que eu mantivesse a calma. O balão estava agora quase no meio do céu. De alongado, tornou-se redondo. Redondo como a bola que meu pai me jogava para que eu chutasse desajeitado. Estávamos na areia e alguns colegas e vizinhos brincavam conosco. Eu não sabia chutar direito, dava com os pés nos montes e reentrâncias da areia e via os outros rir. Mas meu pai não ria, insistia e jogava a bola para mim. Eu errava e não me sentia ridículo por errar. O balão não era mais amarelo. Virara um ponto branco igual às estrelas. E como estrela se apagou no mistério da noite. Eternizou-se. Meu bem desligou o telefone e veio em minha direção. O tempo era não mais que uma mentira, a vida tão simples quanto passear na feira e pedir um doce, alcançando com o coração o que anos de esforço e tentativas não me deram, sendo eu um pequeno balão amarelo a fugir de hábeis mãos, ilustrar o escuro do céu e saber que nada era tão importante quanto estar ali, ao lado do meu bem, considerando como um tesouro o anel de brilho falso apertado no dedo.
Lima Trindade é autor de Supermercado da Solidão (romance, LGE, 2005) e Todo Sol mais o Espírito Santo (contos, Ateliê, 2005). Além disso, edita a revista eletrônica Verbo21. Este conto integra o livro Corações Blues e Serpentinas, publicado em outubro de 2007.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Revista Pausa.
Acabam de sair alguns poemas meus na Revista Pausa e aproveito para divulgar esse site. A Revista Pausa é editada pelos escritores Flávio Viegas Amoreira e Marcelo Ariel, e pelos jornalistas Alessandro Atanes e Márcia Costa.
Fálvio Viegas e Marcelo Ariel são escritores que admiro pela seriedade e profundidade que se dedicam à arte. Por isso vale a pena conferir, não percam. Esse é o link: http://www.revistapausa.blogspot.com/
Felipe Stefani.
Fálvio Viegas e Marcelo Ariel são escritores que admiro pela seriedade e profundidade que se dedicam à arte. Por isso vale a pena conferir, não percam. Esse é o link: http://www.revistapausa.blogspot.com/
Felipe Stefani.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Desenho e Poema de Felipe Stefani
DANÇA PRIMORDIAL
Quantas vezes vi a loucura me percorrer cegamente as entranhas?
Lavrando do fundo de um corpo sua flor brutal,
libertando
a dança desregrada que atravessa a voz,
recompondo
na noite o ouro intenso onde a Lua faz ressaca.
Estou completo em minhas paisagens.
De uma vida inteira absorvo a marcha,
canto as estações abertamente,
tocando com o esquecimento as margens,
que se distanciam
e evocam
toda pureza de uma arte.
Quantas vezes essa loucura corrompeu o último enlace
do medo que se abre ao fim de cada feixe de encanto
no alimento obscuro,
colhido do apuro
das visões imensas?
Toda obra é terrível e sangra
na memória a sua imagem.
No auge insondável desse estrondo,
canto
em volta de uma dor,
o dorso se contorce,
no centro,
multiplicando o gesto,
um eco indefinido devora em travessia
centenas de mundos construídos
e sonhados.
Pois a música se apossa da ébria lentidão do meu engano.
***
Mais poemas do autor aqui: http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=3414
Mais desenhos seus aqui: www.pbase.com/sodesenho/felipe_stefani
domingo, 17 de agosto de 2008
Dica de Leitura: Tristan Corbière
Tristan Corbière, foi um poeta simbolista francês (1845-1875). Mestre no estilo coloquial irônico, foi um desajustado à sociedade, costumava vestir-se com roupas de marinheiro, fumar cachimbo e pregar peças na vizinhança. Amante do mar, viveu boa parte de sua vida na costa britânica. Além de poeta era também pintor. Não foi reconhecido em vida; publicou um único livro, "Os Amores Amarelos" (1873). Após sua morte aos 29 anos por tuberculose, seu trabalho foi resgatado na coletânea “Os Poetas Malditos”, organizada por Paul Verlaine em 1884. Mais tarde foi reconhecido por críticos e poetas importantes como Edmund Wilson e Ezra Pound. Seguem, abaixo, um texto de Paul Verlaine sobre o poeta, publicado em sua antologia, e três poemas de Corbière com suas devidas traduções:
Tristan Corbière:“Seu verso vive, ri, chora um pouco, zomba do mundo e se torna gracioso. Ademais, é amargo e salgado como seu amado oceano. Não é acalentador, como as vezes ocorre a esse truculento amigo, mas, como ele, reflete os raios do sol, a lua, e as estrelas na florescência de ondas enfurecidas. Fez-se parisiense, mas sem o sujo espírito mesquinho. Ataques de tosse, vomito, ironia feroz e feliz, bílis e febre exasperadas em gênio, e em gracioso jubilo.
(Paul Varleine)
BONNE FORTUNE ET FORTUNE
Moi, je fais mon trottoir, quand la nature est belle,
Pour la passante qui, d'un petit air vainqueur,
Voudra bien crocheter, du bout de son ombrelle,
Un clin de la prunelle ou la peau de mon coeur...
Et je crois content-pas trop!-mais il faut vivre:
Pour promener un peu sa faim, le gueux s'enivre...
Un beau jour-quel métier!-je faisais, comme ça,
Ma croisière.-Métier!...-Enfin,Elle passa
-Elle qui?-La Passante!Elle, avec son ombrelle!
Vrai valet de bourreau, je la frôlai...-mais Elle
Me regarda tout bas, souriant en dessous,
Et...me tendit sa main, et...m'a donné deux sous.
AVENTURA GALANTE E FORTUNA
Eu faço o ponto, quando belo vai o dia,
Para a passante que, com satisfação,
À ponta da sombrinha me fisgaria
O piscar da pupila, a pele do coração.
E acho que estou feliz- um pouco- é a vida:
O mendigo distrai a fome na bebida...
Um belo dia- triste ofício! -eu assim,-
Ofício!...- velejava. Ela passou por mim.
-Ela quem? -A Passante! E a sombrinha também!
Lacaio de carrasco,toquei-a...-porém,
Contendo um sorriso, Ela espiou meus botões
E...estendeu a mão,
e...me deu uns tostões.
(Trad.: Antônio Siscar)
PETIT COUCHER
(risette)
Le plaisir te fut dur, mais le mal est facile
Laisse-le venir à son jour.
A la Muse camarde on ne fait plus d'idylle;
On s'en va sans l'Ange — à son tour —
Ton drap connaît ta plaie, et ton mouchoir ta bile;
Chante, mais ne fais pas le four
D'aller sur le trottoir quêter dans ta sébile,
Un sou de dégoût ou d'amour.
Tu vas dormir : voici le somme qui délie;
La Mort patiente joue avec ton agonie,
Comme un chat maigre et la souris;
Sa patte de velours te pelotte et te lance.
Le paroxysme encor est une jouissance:
Tords ta bouche, écume... et souris.
INFANTE EM SEU LENÇOL
(risinho)
O prazer te foi duro, mais fácil é o mal
Deixa-o vir à luz do dia.
À musa funesta já não se faz madrigal;
Vais e o anjo fica — à revelia —
Teu lenço conhece o pus, e teu lençol o fel;
Canta, mas deixa essa mania
De sair à rua estendendo teu chapéu,
Por vinténs de amor ou ironia.
Agora dorme: eis o sono que liberta;
Com tua agonia a Morte brinca esperta,
Como o gato magro e o rato;
Sorrateira, a pata te lança ou te deita.
E o velho paroxismo ainda te deleita:
Torce a boca, escuma... e seja grato.
(Trad.: Antônio Siscar)
PARADE
(oubliée)
Place S.V.P. Provinciaux
de Paris & Parisiens de
Carcassone!
Et toi, va mon livre_
Qu' une femme te corne,
Qu' un fesse-cahier te
fesse, qu' un malade
te sourie!
Reste pire _
tes moyens te le permettent.
Dis à ceux
du métier que tu es un
monstre d' artiste...
Pour les autres, 7 f 50.
Va mon livre & ne
me reviens plus.
PARADA
(esquecida)
Praça S.V.P. Provincianos
de Paris & parisienses
de Carcassone!
Vá, meu livro, vá _
Que uma mulher te chifre,
Que um medalhão te esnobe,
Que uma doença te sorria!
Você tá numa fria
com fome e sem tostão.
Diz a eles
da academia, que você é um
monstro de artista...
Para os outros, 7 f 50.
Vá, meu livro, vá
E não me volte aqui.
(Trad.: Claudio Daniel)
A editora Iluminuras publicou uma boa edição bilíngüe de Amores Amarelos, com tradução de Antônio Siscar. Faça um favor a você mesmo e comprem esse livro: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=314627&sid=20715920810818661568242939&k5=349EE7FA&uid=
Felipe Stefani.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
O Triunfo da Metafísica na Pintura de Felipe Stefani. Texto de Marcelo Ariel.
Coração: Felipe Stefani
Marcelo Ariel
O que vemos na tela acima é uma figura que se move dentro de um mundo 'in abstracto' e essa figura que se assemelha a um coração ou melhor é a imersão da luz que se funde com o símbolo do coração, um coração pulsando dentro de uma energia verde, de um lugar onde uma energia verde se apresenta como a evocação metafísica de um corpo que talvez seja a 'anima mundis'. No trabalho pictórico de Felipe Stefani há uma recorrente evocação dos símbolos metafísicos que aqui estão de algum modo 'renomeados através do silencioso sussurro da cor'.
Há uma delicadeza nessa evocação de um triunfo da metafísica, dessa fusão do olhar com o símbolo que parece ser o centro do trabalho de Felipe e é para esse centro que a energia luminosa que aqui se apresenta como algo verde totalizante caminha.
Há uma delicadeza nessa evocação de um triunfo da metafísica, dessa fusão do olhar com o símbolo que parece ser o centro do trabalho de Felipe e é para esse centro que a energia luminosa que aqui se apresenta como algo verde totalizante caminha.
Marcelo Ariel
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
G. K. Chesterton.
"Tradição significa conceder votos à mais obscura de todas as classes: nossos ancestrais. É a democracia dos mortos. A tradição recusa submeter-se a essa arrogante oligarquia que meramente ocorre estar andando por aí."
G. K. Chesterton, (Londres, 1874 — Beaconsfield, 1936) escritor, poeta, narrador,ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, filósofo , desenhista e conferencista britânico.
Conheça muito mais sobre ele neste link: http://chesterton.org/
.
Felipe Stefani.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Paralelos.
Arrangement in Grey and Black: The Artist's Mother; James McNeill Whistler, 1871
Untitled; Mark Rothko, 1969
Untitled; Mark Rothko, 1969
Para romper com os excessos da arte vitoriana, Whistler fez esta pintura preta e cinza, simplificando a técnica e a temática. Rothko fez algo parecido em suas pinturas abstratas, simplificando ao máximo a composição. Apesar de achar maravilhosas estas duas pinturas, acho que devemos lembrar que a simplificação é um dos caminhos, e não o único.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Encontros Literários no Sesc Pinheiros.
Recomendo a todos participarem destes encontros literários promovidos pelo Sesc Pinheiros. Já participei de um e me agradou muito poder discutir literatura de forma aberta e democratica. Quem se interessar, não deixe de ir. Segue abaixo a programação deste mês:
06/08 - Encontro Com a Literatura: Bate-papo com a escritora Marina Colassanti.
Mediação prof. Susanna Ventura
13/08 - Leitura de textos importantes da autora Marina Calassanti
Mediação prof. Susanna Ventura
Sesc Pinheiros
Rua Paes Leme, 195 tel: 3095-9400
06/08 - Encontro Com a Literatura: Bate-papo com a escritora Marina Colassanti.
Mediação prof. Susanna Ventura
13/08 - Leitura de textos importantes da autora Marina Calassanti
Mediação prof. Susanna Ventura
Sesc Pinheiros
Rua Paes Leme, 195 tel: 3095-9400
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Poeta de Veleiros e Florações
Encontrei semana passada com Alexandre Bonafim e, por absoluta falta de tempo, ainda não falei dele neste espaço.
Bonafim mantem o blog Arquipélago do Silêncio http://arquipelagodosilencio.blogspot.com/ , há algum tempo em nossos favoritos.
Bonafim é um poeta de belas imagens, esmero no trato com a palavra, alguns temas recorrentes (a infância, a natureza, o tempo) e uma delicadeza poética ímpar. Bonafim não tem medo do lirismo!
Por enquanto, deixo vocês com três poemas de seu novo livro: "A Outra Margem do Tempo".
Semeio o futuro nas sílabas do meu desassossego
e aguardo, com paciência, o momento de sonhos
maduros. Um dia, um rio vincará, em meu peito,
as cores de novembro, a febre intensa do verão.
Nesse porvir a gestar sementes e chuvas, pousarei
meu cansaço, meu desterro, aplacarei desertos
e tempestades. Tudo em mim será o gosto dos frutos
e das raízes, o cheiro da terra molhada. Um destino
de searas e manhãs, estertor da febre, desenhará,
em minha voz, a hora repleta de enchetes e surpresas.
Há dias em que os pássaros tardam a regressar,
manhãs em que o inverso pousa, em nossas nudez,
as horas da esquecida infância. Nesses momentos,
o crepúsculo nunca se despede de nossos olhos,
as folhas não afagam o vento: somos, inteiros,
uma doce melancolia a gestar as primaveras. Há dias
em que os pássaros são a promessa de um milagre.
Busco a grafia do esquecimento,
para escrever, em meu rosto,
os dias jamais vividos.
Poemas: Alexandre Bonafim
Postagem: André Setti
Bonafim mantem o blog Arquipélago do Silêncio http://arquipelagodosilencio.blogspot.com/ , há algum tempo em nossos favoritos.
Bonafim é um poeta de belas imagens, esmero no trato com a palavra, alguns temas recorrentes (a infância, a natureza, o tempo) e uma delicadeza poética ímpar. Bonafim não tem medo do lirismo!
Por enquanto, deixo vocês com três poemas de seu novo livro: "A Outra Margem do Tempo".
Semeio o futuro nas sílabas do meu desassossego
e aguardo, com paciência, o momento de sonhos
maduros. Um dia, um rio vincará, em meu peito,
as cores de novembro, a febre intensa do verão.
Nesse porvir a gestar sementes e chuvas, pousarei
meu cansaço, meu desterro, aplacarei desertos
e tempestades. Tudo em mim será o gosto dos frutos
e das raízes, o cheiro da terra molhada. Um destino
de searas e manhãs, estertor da febre, desenhará,
em minha voz, a hora repleta de enchetes e surpresas.
Há dias em que os pássaros tardam a regressar,
manhãs em que o inverso pousa, em nossas nudez,
as horas da esquecida infância. Nesses momentos,
o crepúsculo nunca se despede de nossos olhos,
as folhas não afagam o vento: somos, inteiros,
uma doce melancolia a gestar as primaveras. Há dias
em que os pássaros são a promessa de um milagre.
Busco a grafia do esquecimento,
para escrever, em meu rosto,
os dias jamais vividos.
Poemas: Alexandre Bonafim
Postagem: André Setti
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