quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Colaborações: Maiara Gouveia
Maiara não é uma promessa, mas uma realidade poética. Seu blog (http://maiaragouveia.blogspot.com/) está entre os nossos favoritos, e recomendo deveras para uma visão mais ampla de sua obra.
André Setti
Besta Faminta
Corpo masculino: besta faminta.
Devora o milagre.
O néctar que derrama não sacia
a pele ávida.
Um anjo sente náusea.
Enquanto sugo o membro rijo: coluna sagrada.
A nudez agressiva esfola e esfola
e apanho na cara.
Gozo muito. No desespero de salvar a carne.
Sei que ressuscito. E sinto mágoa.
Maiara Gouveia
Virá o Dilúvio
Homens impotentes compram preservativos para o PC.
Mulheres de resina exibem os seios na propaganda.
Casas hialóides abrigam celebridades instantâneas.
Estabilizantes com açúcar alimentam a população.
Poetas são cães de lata. Não cantam. Mas sabem rosnar.
O campus fornece a ração de óleo contra ferrugem.
Sofrer é coisa (que se trata no divã).
A via de acesso ao mito está repleta de entulho.
Por isso os antigos seres vão desabar sem anúncio
nesse campo miserável do império do capital.
Maiara Gouveia
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
O filme Brokeback Mountain, pelo escritor Flávio Viegas Amoreira.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Poemas de Felipe Stefani no Cronópios.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Colaborações: Escultura e Texto de Megumi Yuasa.
Felipe Stefani.
Fotos: Felipe Stefani.
IMPROVÁVEL CONSTELAÇÃO
Eles estavam lá.
miríades, agressivos, irresistíveis,
impertinentes, obsessivos, espaçosos,
gigantescos, ensandecidos
mas sem desespero,
exibindo impudentes
sua ansiedade indefinida.
Indo ou vindo,
subindo e descendo pela árvore,
tronco, galhos, folhagens,
habituados com o ritmo, alucinante
nos labirintos do desejo.
Querem habitar alturas como pássaros?
se é isso logo se arrependem.
Ascendem, descendem
nada os satisfaz.
Não há pássaros que queiram pousar
na árvore com ferozes guardiões,
invasores do território conquistado.
Assim como
noite, desígnio, presságio, jogo,
edifícios, alvo, olhos, viagem,
incertezas, desvario, pedra, cidades,
memória, boca, nuvens, sono,
altura, ondas, mensagem, corda,
imagens, osso, cores, cabeça,
sede, criança, troco, mistérios,
rios, sonhos, loja, poesia,
cortinas, orvalho, ternura, paisagem,
luas, saudade, fogo, serpentes,
beira, trabalho, janelas, fim,
trilha, dor, cheiros, espelho,
água, abutres, cama, dedos,
vozes, sandália, letra, enigma,
metal, rua, sentido, ponte,
lenços, esquina, réstia, traça,
joelhos, sorte, angustia, portas,
luz, queda, mesas, vontade,
mito, ar, ritmo, montanhas,
bruma, tempo, estrelas, flor,
areia, máscara, palavra, chuva,
eles comungam com a árvore
na seara de inesperadas relações.
Num átimo reconhecem o contorno-limite
horizonte de seu novo habitat,
não toleram invasões.
Constelação passageira
que emerge e desaparece
sem nexo, ao acaso
em desequilíbrio e estranheza
como duvidas da memória,
gostaria de estar simples observador
em tempos imprevistos
ou mero participante do cenário
cabalmente aceito pelos deserdados.
Os ratos ignoram a perturbação
e apelam para o invisível
em busca de mudança e reequilíbrio
porque o que vêm não conforta,
confunde,
é uma desilusão.
Referências:
a) texto “Revelação”
b) escultura “Árvore de Ratos”
Megumi Yuasa, 2005 – 2006 e fevereiro de 2007
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Poemas e Desenhos de Felipe Stefani.
Eu vi o escasso tempo de malabarismos juvenis
A estalar a seiva acidentada da tarde,
A aurora pura entrelaçada ao meu próprio sono
Nos instantes precários de um segredo vago.
Na obliqua solidez dos corpos
Abre-se a rosa inicial sem nome, turva e casta,
Impura como a brisa imaculada dos sonhos, da voz,
Em uma espécie de chamado.
Eu vi o estrondo de uma gloriosa infância,
A alegria que em mim eram crianças cintilantes,
Na tarde volúvel, onde o mar, em silencio maior,
Faz dos corpos uma presença errante.
Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude,
Seus beijos ao mar e sua oferenda de mistérios,
Na rosa oblíqua de um chamado puro,
Na vastidão precária dos instantes.
Eu vi tudo isso e amei, sendo eu mesmo uma oferenda eclusa
Aos mistérios juvenis, que desafiam os segredos do mar.
Não te deites com a volúpia presa aos dentes,
se pretendes despertar os lobos.
Madrugada,
o uivo sonda seus ossos.
Alquimia não consiste em acalentar o orgulho.
Os lobos sabem farejar as sombras,
violetas e asteróides,
não envolvem seus mundos.
Sutileza,
presa acidentada dos cálculos,
a cidade tem uma cegueira acelerada,
os lobos avançam,
teu quarto tem extremidades impossíveis.
A volúpia brota de ossos cegos,
onde a vida, com seus lábios violetas,
não penetra.
Tu, cadáver de si mesma,
volúpia acidentada,
não penetre a alquimia com asteróides cegos.
Os lobos te envolvem, no lado mais sutil do orgulho.
Madrugada
tem acordes turvos.
Deitas-te a cama,
o edifício encravado na cidade
não supõe seus lobos extremos.
Com volúpia, não calcule a cegueira,
sem supor seus uivos.
Brotam nas sombras,
brotam nas ruas,
em espaços turvos,
no sorriso das cifras.
Avançam a madrugada em que te deitas
cadavérica,
farejam e ao farejar te despertam,
tão inesperada como um asteróide.
***
Mais poemas do autor nesses links: http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=2443
http://www.revistazunai.com.br/poemas/felipe_stefani.htm
http://revistamalagueta.com/edanteriores/06/poemas/fs.html
http://www.meiotom.art.br/stefanipo.htm
Mais desenhos do autor nesse link: http://www.pbase.com/sodesenho/felipe_stefani
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
O PINTOR E AS MUSAS
Iniciamos os trabalhos de 2oo8 com um poema finalizado agora, há poucos minutos.
O PINTOR E AS MUSAS
Onde está o marinheiro?
Onde está Van Gogh?
Virgens declamam versos
E reclamam
Aos Deuses perversos
Do mundo.
O quadro onde Van Gogh
Enganou a loucura
Desperta as amantes,
Com harpas iluminadas.
Flechas sonoras atravessam as fêmeas,
Cantarolando.
É uma travessia brusca,
Espartana,
E o corpo lembra gestos antigos.
Há o poder dos ritos,
No quadro onde o mestre
Declamou a loucura,
Harpas iluminadas atravessam as fêmeas,
Cantarolando mundanas doçuras.
No entanto, rainhas devoram Van Gogh.
Onde está o marinheiro?
O quadro faz regressar o mistério.
Nele, o artista
Enganou o pudor e a loucura.
As musas vestem-se de luxuria,
Nada as fará regressar
Ao lento abismo
Dos corpos varados pelo mistério,
Retocam Van Gogh
Com pincéis alucinados,
As ninfas, donas dos homens,
Declamam perversas estrofes
Aos pintores do mundo.
Onde está o marinheiro, Van Gogh?
Mulheres atravessam o quadro e a loucura,
E o marinheiro não sonha decifrar.
André Setti