As reformas … e a
realidade das contas
Imagem retirada da internet. |
Quando o Miguel
Sousa Tavares disse na televisão, perante milhões de espectadores, que a idade da
reforma devia passar para os 67 anos, esqueceu-se certamente de fazer as
contas.
Premissas: (1) a
esperança média de vida actual em Portugal é de cerca de 79 anos (Fonte – https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2102rank.html).
(2) Uma pessoa que entre no mercado de trabalho aos 22 anos, vai ter que
trabalhar 45 anos (até ver!). (3) Um funcionário público, como eu, desconta 11%
do seu vencimento para a caixa geral de aposentações (CGA).
Com estas
premissas, as contas são muito simples:
11% de CGA significa que temos que trabalhar cerca de 9 meses para 1
ordenado de reforma. 45 anos de trabalho equivalem a 540 meses, mas como
precisamos de 9 de trabalho para cada ordenado de reforma temos 540/9 = 60
meses de ordenado. Ora 60/12 = 5 anos de reforma. Ou seja pagamos a nossa
reforma até aos 72 anos (67 + 5). Mas nós actualmente vivemos em média até aos
79, o que nos leva à questão fundamental: quem paga os restantes 7 anos de
reforma (79-72)?
Estas contas são muito piores do que parecem, porque não contei com: (1) a
inflacção; (2) a ineficiência do governo na gestão dos dinheiros públicos; e
(3) o facto do ordenado de início de carreira ser, em regra, muito inferior ao
do fim de carreira (mas as pessoas pretendem reformar-se com este!).
Quais as soluções possíveis? A menos que os nossos governantes prevejam que
o nosso futuro se assemelhe ao de um país africano como o Chad (esperança média
de vida de cerca de 48 anos), as soluções possíveis são: (1) subir a idade da
reforma (muito acima dos 67!); (2) subir a idade da reforma (menos) e diminuir
o ordenado da reforma; (3) subir a idade da reforma (menos), diminuir o
ordenado da reforma, e aumentar a CGA; (4) as pessoas fazerem planos de reforma
complementares; e (5) tudo junto.
O problema actual das reformas é muito mais grave do que isto, porque os
sucessivos governos (as cigarras que não têm qualquer respeito pelo produto do
trabalho das formigas) não acautelaram o futuro (crescimento da esperança média
de vida) e delapidaram o pouco que foi sendo acumulado na CGA.
Conclusão: quem
vai pagar as reformas reais actuais? O governo vai fabricar dinheiro? Não
amigos, mais uma vez as formigas vão pagar a irresponsabilidade e incompetência
das cigarras (os governantes).