segunda-feira, 29 de setembro de 2008

o doente imaginário, informe à imprensa



Editora Crisálida lança segunda edição (bilíngüe) do clássico teatral O doente imaginário, de Molière
Chega às livrarias a 2ª edição da comédia O doente imaginário de Molière, com revisão e posfácio do tradutor Leonardo Gonçalves. A peça, que teve sua primeira edição em 2002, é relançada no momento em que está indicada para o vestibular da UFU (Universidade Federal de Uberlândia).

O doente imaginário é a última comédia escrita e encenada por Molière, no ano de 1673. Segundo relatos da época, na quarta noite da peça, enquanto o autor representava o papel principal, começou a ter crises por causa de uma tuberculose avançada e veio a falecer algumas horas depois em sua casa. Este fato, que tornou-se um marco na história do teatro, é lembrado sempre que se fala em O doente imaginário, a exemplo da encenação feita desde 1996 pelo grupo Galpão desta mesma comédia, que em sua tradução recebeu o título de Um Molière imaginário.

Mestre na arte do riso, Molière é considerado um dos maiores autores teatrais de todos os tempos, ao lado de William Shakespeare e Aristófanes. Escreveu suas peças na época do rei Louis XIV, o grande rei absolutista da França, autor da célebre frase: “O Estado sou eu”. Entretanto, seus personagens e cenas anunciam uma nova forma de ver o mundo: um mundo onde o homem comum é compreendido e onde a aristocracia não é a única agente das decisões políticas de um povo. A mesma visão de mundo que chegaria ao poder com a revolução francesa no final do século XVIII.

Mas O doente imaginário não é um mero registro de uma época histórica. Como toda grande obra de arte, a peça trata de temas que estão sempre na ordem do dia para o ser humano. Em princípios do século XXI, quando se fala na impostura do capitalismo, vendas de placebos, remédios miraculosos para as doenças incuráveis do homem, hipocondria vendida em vitrines e propagandas de televisão, o tema central da peça O doente imaginário (um homem que se orgulha de suas doenças imaginárias resolve dar a mão da filha em casamento para um médico a fim de ter um médico em sua própria casa) é de uma atualidade impressionante.

A segunda edição do livro, revista e com seu posfácio reescrito já era um projeto do tradutor. “Tenho um orgulho especial deste livro, por ter sido minha primeira tradução a se tornar de fato um livro”, afirma Leonardo Gonçalves, “mas esperava uma oportunidade para revisar certas passagens que me pareciam ainda inconsistentes na primeira edição”. Ao longo dos anos, Leonardo vem adquirindo desenvoltura na arte de traduzir, ao mesmo tempo em que aprofunda seus conhecimentos de língua francesa na sala de aula (hoje ele é professor de francês) e na faculdade de letras da UFMG. Além de Molière, Gonçalves vem traduzindo diversos autores (não apenas da língua francesa), tais como o poeta inglês William Blake, o argentino Juan Gelman, o novaiorquino Allen Ginsberg, Gérard de Nerval, Paul Verlaine, Pedro Almodóvar, Léopold Sédar Senghor e Aimé Césaire.

O livro tem obtido boa distinção no cenário cultural brasileiro. Foi adotado algumas vezes na pós-graduação da faculdade de letras UFMG, indicado em 2006 para a prova do T. U. (Teatro Univesitário) e adotado duas vezes no vestibular da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e no supletivo daquela mesma cidade. A tradução de Leonardo Gonçalves também foi montada em Belém do Pará com título adaptado para “O hipocondríaco” pelo grupo “Palhaços trovadores”.

Além das revisões na tradução, o livro traz também um estudo sobre a época e o teatro de Molière. Trata-se de um posfácio rico em documentos literários do século XVII. No texto, assinado pelo tradutor, compreende-se por que um autor que é considerado um clássico por excelência foi em sua época e ainda é, hoje em dia, criador de um conjunto de situações que subvertem as relações de poder dentro da sociedade.

Artista dos costumes e vícios mais delicados do homem, Molière dedicou toda a sua vida ao teatro, renunciando aos privilégios da família e tornando-se um dos maiores símbolos da arte do palco ao longo dos séculos. Foi autor, administrador da sua trupe, encenador, diretor, ator não só em suas peças, mas em dezenas de outras.

Esta comédia fecha com chave de ouro a sua produção e vem somar-se à longa série de obras que satirizam a medicina. O tema é de grande atualidade: faz pensar nos limites da nossa ciência e na arrogância dos detentores de conhecimentos especializados.

Trechos da orelha do livro:
“A tradução de Leonardo Gonçalves evidencia dois dos motivos pelos quais aquela aristocracia foi incapaz de perceber que sofria ataques tão fortes quanto os que, às vésperas da Revolução Francesa, seriam mais tarde desferidos pelo mais autêntico herdeiro de Molière, Beaumarchais (As Bodas de Fígaro). A elegância do estilo, dos jogos de palavras, da musicalidade, obedeciam ao que o público da velha ordem esperava do teatro, mesmo se faziam isso sem perder de vista a compreensão do público plebeu. Ao mesmo tempo, suas peças eram obras-primas do ilusionismo teatral, brincando com permanente entra-e-sai de personagens que fazia com que o público muitas vezes tivesse informações de que nem todas as personagens dispunham. Da soma destes dois jogos, podemos concluir que, deste seu nascimento, O doente imaginário foi autêntica peça “de classes”, apta para ser compreendida de maneira diferente por grupos sociais diferentes, numa antecipação da força estética e política que, no século XX, teriam comediantes do cinema como Carlitos”.
Marcelo Castilho Avellar

“De todas as peças de Molière, O doente imaginário é sem dúvida a que eu prefiro; é ela que me parece a mais nova, a mais ousada. (…) Eu não conheço prosa mais bela. Ela não obedece a nenhuma lei precisa; mas cada frase é tal que não poderíamos mudar nenhuma sem estragá-la. Ela atinge sem cessar uma plenitude admirável; musculosa como os atletas de Pugget ou os escravos de Michelângelo e como que inflada, sem inchaço, de uma espécie de lirismo de vida, de bom humor e de saúde. Não me canso de relê-la”.
André Gide

Livro: O doente imaginário
Autor: Molière (Jean-Baptiste Pocquelin)
Editora: Crisálida
ISBN: 978-85-87961-35-8
Preço: R$ 28,

Contatos:
Editora Crisálida / Oséias Silas Ferraz:
www.crisalidaeditora.blogspot.com

Leonardo Gonçalves:
www.salamalandro.redezero.org

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Primavera dos Livros - de 25 a 28 de setembro




A partir de amanhã, dia 25 de setembro, a Crisálida participa da Primavera dos livros, evento anual que acontecerá no Centro Cultural São Paulo, de 10 às 22 horas, na Estação Vergueiro do Metrô. O evento é uma realização da LIBRE - Liga Brasileira de Editores.

Saiba mais no: www.libre.org.br

domingo, 21 de setembro de 2008

Matéria publicada no jornal O Tempo, 21/09/2008

Foi publicada no Jornal O Tempo, hoje, a seguinte matéria sobre o livro Machado de Assis Tradutor de Jean-Michel Massa.


Duas vezes machado de assis

"Pela documentação e pelo espírito, os estudos de Jean-Michel Massa e John Gledson fazem parte, destacada, da crítica brasileira, embora um seja francês e outro inglês". As palavras do crítico Roberto Schwarz dão bem a dimensão da importância dos dois estudiosos ouvidos pelo Magazine nesta edição que lembra o centenário de morte do escritor. Massa, com seus dois estudos, lançou luz num período pouco conhecido do escritor: os anos de sua formação. Já Gledson, com seu trabalho de recuperação das crônicas escritas por machado, derrubou de vez o mito de um escritor desinteressado com as questões de seu tempo.

João Pombo Barile

O francês Jean-Michel Massa esteve na semana passada em Belo Horizonte e conversou com exclusividade com o Magazine. Depois de ter participado, em São Paulo, do Simpósio Internacional Caminhos Cruzados: machado de assis pela Crítica Mundial, o professor veio até a capital mineira para lançar "Machado de Assis Tradutor" (Editora Crisálida R$ 24). Segunda parte de seu livro "A Juventude de Machado de Assis", publicado no início dos anos 70, no título que agora chega às livrarias Massa analisa o papel fundamental que a tradução teve na formação do escritor brasileiro. "Meu livro sobre a juventude de Machado ainda hoje me parece interessante", começa analisando o professor. "Apesar de eu ter escrito muita coisa sobre ‘Memórias Póstumas’ e ‘O Alienista’, por exemplo, acho que o período da juventude, que eu descobri, agora está se manifestando ainda mais importante" avalia o professor.

Publicado em 1971, "A Juventude" apresentava um Machado totalmente diferente do que até então a crítica brasileira havia consagrado. Retratado sempre como uma espécie de milagre pelos analistas tupiniquins, Massa batia de frente com a visão romântica, que apresentava o escritor de "Dom Casmurro" como um homem pobre, epilético e gago. "Muitos críticos brasileiros esquecem, ainda hoje, que Machado foi criado pelos proprietários da fazenda do Livramento, no Rio. E que ele foi uma espécie de neto adotivo", conta o professor. "Como naquela época as pessoas cultas falavam quase só francês - em todas as cortes aliás só se falava francês -, Machado aprendeu francês muito jovem. E não com uma senhora francesa, dona de uma padaria chamada Gallot, como escreveu erradamente certa vez um crítico. Esta padaria nunca existiu! Aliás, não é numa padaria, com o padeiro, que se pode aprender o francês da maneira como ele já sabia aos 20 anos", constata.

Para Massa, a imagem do jovem Machado pobre e doente de epilepsia é absolutamente falsa. "Como um jovem que ia praticamente todos os dias ao teatro, recitava poemas em público, namorava todas as atrizes e tinha uma vida de farras podia ser epilético e gago?" , pergunta o professor. "Uma coisa absolutamente sem cabimento". Em "Machado de Assis Tradutor", ao analisar de maneira sistemática o importante trabalho de tradução do escritor brasileiro, o crítico francês derruba um outro mito criado pela crítica brasileira: o verdadeiro conhecimento de línguas de Machado. "No livro mostro, por exemplo, que quando em 1871 Machado traduziu ‘Oliver Twist’, de Charles Dickens, todos sabiam que ele havia feito sua versão a partir de uma edição francesa. Na época, existiam quatro traduções e Machado fez toda a tradução baseado em uma delas", afirma o professor.

Obras completas. Massa, que participa desde a sua criação, na década de 60, da Comissão Machado de Assis para a edição das obras de referências do autor, se mostra indignado quando o assunto é a obra completa do escritor. "Se o presidente Lula estivesse aqui, eu revelaria a ele um problema muito sério: um terço das obras de Machado foram publicadas em livro apenas uma vez e estão fora de circulação há dezenas de anos", denuncia. "Vários ministros da Cultura do Brasil já prometeram que as obras completas seriam publicadas. Mas até agora, nada", finaliza.

Um retrato extraordinário do grande escritor

Silviano Santiago
Crítico e escritor

A obra de Massa fez época, em particular porque tratou de período pouco, ou em nada, conhecido da vida de Machado: a infância e juventude. Seu maior valor reside no aspecto biográfico e, não, no analítico. As biografias que tínhamos até então negligenciavam ou escamoteavam os dados iniciais da vida e, principalmente, a ascendência africana de Machado. Massa conseguiu descobrir uns retratos extraordinários de Machado jovem (com evidentes traços e cabelos negróides) em bibliotecas e coleções particulares de Portugal. Naquela época, era comum o contato epistolar entre escritores brasileiros e portugueses. Na maioria das vezes, havia troca de retratos (mania francesa, se não me engano). Os retratos puseram por terra os outros, posteriores à ABL, onde Machado se apresentava praticamente branco.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008


LANÇAMENTO:

Machado de Assis Tradutor

de Jean-Michel Massa

Local: Faculdade de Letras da UFMG

Data: 08 de setembro, segunda-feira, 19 horas

(Auditório Sonia Viegas)

Av. Antônio Carlos, 6777 - Campus da Pampulha


O pesquisador francês Jean-Michel Massa vem a Belo Horizonte para o lançamento da tradução de seu ensaio Machado de Assis Tradutor. Ele fará uma palestra sobre a obra do autor brasileiro, em evento promovido pelo Pos-Lit - Programa de Pós-Graduação em Literatura, da Faculdade de Letras da UFMG.

Pioneiro do estudo da formação de Machado de Assis e ainda hoje quem melhor conhece seu trabalho de tradutor, Jean-Michel Massa é responsável pela divulgação, em 1965, dos Dispersos de Machado de Assis, em que reuniu boa parte da produção machadiana antes não identificada e/ou confinada em periódicos de difícil acesso e do inventário dos 718 livros que ainda restavam da biblioteca do escritor.

Em Machado de Assis tradutor, J.-M. Massa divulga o resultado de sua minuciosa pesquisa. Identifica e analisa 46 traduções de nosso autor, sendo 3 delas inéditas.

Ao lado de traduções conhecidas, como o romance Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo, e o poema "O corvo", de Edgar Allan Poe, estão listadas e analisadas as demais obras traduzidas, algumas por encomenda, outras por escolha do tradutor. A maior parte é de peças teatrais e poemas de autores variados, mas em que prevalecem textos franceses.

Machado de Assis traduziu com regularidade desde o início de sua carreira até a maturidade. Acompanhar seu percurso como tradutor ajuda a compreender sua formação como poeta, crítico, contista, dramaturgo, cronista e romancista.

Fato marcante é que seu primeiro livro publicado seja uma tradução – Queda que as mulheres têm para os tolos (Typografia Paula Brito, 1861; reedição: Crisálida, 2003) – e que seus trabalhos seguintes sejam adaptações de textos franceses para o teatro, seguido de um livro de poemas, Chrysalidas (Garnier, 1864; reedição: Crisálida, 2000), em que mescla poemas próprios com traduções de A. Dumas Filho, M. de Staël, H. Heine, A. Mickiewicz, Dante Alighieri, La Fontaine, entre outros. É uma verdadeira antologia das literaturas européias.

Em seguida à publicação do ensaio, Jean-Michel Massa publicará, em outubro, o livro organizado e anotado por ele, Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis. Trata-se de traduções (inéditas) de Machado de Assis.

Machado de Assis Tradutor

de Jean-Michel Massa

Crisálida Editora, 2008.

Tradução: Oséias Silas Ferraz

128 páginas preço: R$ 24,00