PARA MEMÓRIA FUTURA®
MEIMOA – PENAMACOR
PRÓLOGO
Iniciamos este trabalho, no âmbito
da disciplina de “História Local e Regional do concelho de Penamacor” que faz
parte do currículo da Academia Sénior do mesmo concelho, no ano lectivo de
2015/2016, para que os vindouros possam vir a conhecer a vida real, nas suas
diferentes variáveis, vivida e sentida por aqueles que nos precederam.
Para não irmos mais longe e,
também, porque nos faltam fontes de investigação, mais ainda, porque o que está
escrito nem sempre referiu muitos dos que fizeram e fazem a história desta
freguesia de Meimoa e concelho de Penamacor, iremos, como auxílio dos anciãos,
fazer referências a pessoas, individualidades, instituições e gente anónima que
contribuiu, na medida das suas possibilidades e com as suas potencialidades
específicas, para a identidade sociológica do Povo que fomos e no que nos
tornámos.
Não podemos deixar de referir
personalidades que, pelas funções institucionais que desempenharam, merecem o
devido destaque o que não invalida que, também façamos alusão, aos que,
porventura, no seu anonimato, contribuíram igualmente, para a História deste
povo. Assim, referiremos famílias, nomes que englobem todos e ninguém se sinta
excluído deste despretensioso relato.
Se, porventura, não se mencionar
alguém, penitenciámo-nos desde já, dizendo que não será propositadamente, mas
sim desconhecimento e falta de informação.
1º Capítulo
Uma aldeia pobre, rural, que contém
no seu território um latifúndio ocupando as suas melhores terras e a maior
quantidade de recursos naturais implica, necessariamente, um conjunto
significativo de pobres, sem terra e completamente dependente de quem lhe dê
trabalho para suprir ao seu sustento e da sua família.
O maior empregador era, há seis
décadas atrás, o latifundiário que necessitava de uma enorme quantidade de
mão-de-obra para trabalhar todas as terras e plantas que possuía. Depois havia,
uns poucos, pequenos agricultores, que também iam necessitando de um jornal ou
outro, para tarefas específicas e isso era um complemento na economia da
aldeia.
Em meados do século passado ainda
havia, nesta localidade, um índice de analfabetismo que rondava os 75% nos
homens e cerca de 95% nas mulheres, o que condicionava a vida da generalidade
da população à sua fixação à terra de nascimento. Aqui se nascia, crescia,
procriava e morria, sem nunca se ver o mar ou outras maravilhas históricas de património
edificado que hoje, os mais novos, é com incredulidade que ouvem relatos destes
modos de viver.
Sociologicamente este isolamento
trazia consigo uma necessidade tão natural que era inquestionável. Casar,
muitas vezes, com parentes ainda chegados para juntar os bocados de terreno e,
também, porque o contacto com outros povoados e outras gentes era difícil e
limitativo ao conhecimento de novas gentes.
Desta forma a freguesia tem pouco
mais do que uma dezena de famílias distintas cujo facto é verificável pelos
apelidos existentes. Até se costuma dizer que toda a gente é mais ou menos
primo de toda a gente.
Na circunstância quem tinha algum
objectivo de se livrar do trabalho manual no campo procurava que um filho que
fizesse a quarta classe fosse encaminhado para o Seminário para ser Padre.
Facto que requeria alguma capacidade intelectual por parte do adolescente mas
também algumas arregaças do que havia em casa para obsequiar quem intercedesse
pelo seu ingresso.
Às raparigas, que na época, obtiam
a escolaridade mínima com, apenas, o exame da 3ª classe enquanto tal, para os
rapazes, só se atingia com a 4ª classe. Desta forma a elas estava reservado o
lugar de criada nalguma casa com posses, principalmente nas cidades maiores e,
particularmente em Lisboa. Livrando-se do trabalho duro do campo, não se livravam
do trabalho, igualmente penoso de uma casa, geralmente com uma prole alargada,
a quem era preciso dar comida, lavar a roupa e passá-la, para além dos
restantes trabalhos domésticos que iam desde a compra de produtos no mercado, diariamente,
até à sua confecção.
Quando esse trabalho era respeitado
e pago mensalmente, já era um salto na hierarquia social que permitia, mais
tarde, um casamento com um artífice ou agente das forças de segurança. Mas,
muitas vezes, essas mesmas moças eram violadas pelos patrões ou seus filhos
rapazes, que assim iniciavam a sua vida sexual e, depois, como a culpa era
sempre atribuída à mulher, dizendo-se que ela é que provocava e outras coisas
do género, o que muitas vezes, atirava com essas pobres raparigas para uma vida
ainda mais desgraçada, que era a prostituição.
O estudo oficial para além da 4ª
classe era raro para os rapazes e mais escasso ainda para as raparigas. Era
necessário que as famílias tivessem algumas propriedades rústicas e delas
tirassem rendimento que pudesse arcar com as despesas, que eram muitas, só com
o alojamento e a alimentação e o material escolar, já que a propina era
relativamente barata.
Mesmo com estas condicionantes a
Meimoa pode orgulhar-se de ter na sua sociedade gente com funções relevantes a
nível nacional. Juízes, Generais, Oficiais Superiores, das Forças Armadas,
Sacerdotes, Professores, Mestres, Investigadores, Quadros Superiores da Função
Pública e/ou de Empresas relevantes, Políticos, Médicos, Enfermeiros enfim, todas
as profissões que são o esteio de uma sociedade evoluída.
Se atentarmos ao que atrás se disse
das condições económicas e geográficas facilmente se entenderá que foi com
imenso esforço dos que estudaram e de muitos irmãos desses que não tiveram a possibilidade
de estudar, que alcançaram tais patamares de relevo na sociedade portuguesa.
2º Capítulo – Mobilidade Social
Então comecemos pelos Sacerdotes. Uma aldeia tão pequena deu
ao Serviço de Deus uma plêiade de sacerdotes dos quais já só estão dois vivos,
na altura em que fazemos este relato para memória futura. São eles o
Missionário da Consolata Reverendo Padre José Torres Neves que, apesar da sua
provecta idade, ainda continua a sua caminhada de Missão por terras do Norte de
Moçambique. Homem que fez da sua vida uma total entrega aos mais necessitados
nos diferentes continentes, Europa em Portugal e Itália onde se pós gradou nos
estudos teológicos que lhes permite ser formador dos novos padres africanos,
mas também da América Latina onde passou grande parte da sua vida. É também o
Reverendo Padre Manuel Alves que em terras alentejanas fez a sua carreira como
Pároco e também Professor no Seminário de Beja. Um estudioso das Línguas Latim
e Grego e da História e Teologia contidas nas Sagradas Escrituras.
Dos falecidos é justo falar dos
Reverendos Padres: - Joaquim Moiteiro que, depois de exercer as funções de
Capelão Militar se radicou no Meimão onde paroquiou até ao seu falecimento;
Os quatro irmãos Fatelas – Padre
Manuel Fatela que paroquiou o Pedrógão de São Pedro e Caria, onde veio a
falecer; Padre Frederico que paroquiou em Seia e também no Canadá; Padre
Joaquim que foi Professor na Universidade Católica e responsável da Obra do
Gaiato, no Alentejo e lá faleceu; Padre Augusto, Missionário da Consolata que
efectuou a sua Missão em África, nomeadamente no Norte de Moçambique onde
construiu uma Igreja em honra de Nossa Senhora da Conceição, como lembrança da
Padroeira da Terra que o viu nascer.
O Sobrinho dos referidos Padres
acima, Cónego Manuel Soares de Oliveira, Professor dos Seminários Menor do
Fundão e Maior da Guarda, tendo sido membro da Cúria Diocesana e seu Vigário
Geral;
Padre César Fatela, primo afastado
dos acima referidos que foi pároco em várias paróquias do Arciprestado de
Penamacor e de outros Arciprestados, Professor no Externato Nossa Senhora do
Incesso de Penamacor e Examinador externo nos Liceus Públicos da Guarda e de
Castelo Branco tendo terminado a sua carreira de sacerdote nesta nossa
Freguesia onde veio a falecer. Para além das suas actividades pastorais e
docentes era também o Pregador de Serviço nas Festas e Romarias da Diocese para
onde era solicitado pelos seus colegas devido ao seu dom oratório e ao seu
empolgamento no momento da Pregação;
Padre Tarrinha que além de Pároco
de Manteigas também foi professor e proprietário do Colégio Local que
proporcionava aos alunos formação liceal do início ao fim;
Padre Bento, prior do Fundão e seu
Arcipreste onde trabalhou toda a sua vida e veio a falecer. Muito respeitado
naquela localidade e muito influenciador de que vários rapazes iniciassem a sua
formação académica naquele Seminário Menor.
Na vida militar, se recuarmos ao século XIX temos de referir o
Capitão Martins que fez parte da Guarnição militar de Angola e nela perdeu a
vida ao serviço da Pátria. Também houve alguns soldados que foram para a 1ª
Grande Guerra Mundial mas que, felizmente, nenhum deles perdeu a vida, ainda
que pela Flandres tenham ficado e abandonado totalmente o torrão natal e
respectivas famílias. Mais tarde, na guerra colonial, em Moçambique, perdeu a
vida o Alferes Miliciano João Nabais.
Também na vida militar em manobras
próprias, da iniciação designada recruta, faleceu o Joaquim Tarrinha ao
manobrar uma granada de mão defensiva, que o atingiu em pleno e o destruiu
completamente.
É de referir também, pelo seu
significado, o Tenente Soares que, na reserva, desempenhou as funções de
Presidente da Junta de Freguesia tendo construído a primeira Escola (escola
masculina) em terreno cedido por familiares seus e alargado as ruas para
poderem circular carros de bois carregados. Tal implicou a demolição de alguns
balcões, outras tantas cortelhas de porcos e, num gesto que faria corar de
vergonha os políticos de hoje, começou por demolir os pertences da sua própria
e directa família, dando exemplo ao povo de que para o bem público deve
sacrificar-se o bem privado. Teve uma morte macabra devido a desavenças com a
esposa e a enteada – casou com uma viúva que tinha uma filha – que lhe
transformaram a vida num inferno que ele quis acabar matando as duas e
suicidando-se de seguida.
Na marinha destacaram-se o
Almirante Fonseca, filho do Professor João José Fonseca (carchola) e o
Comandante Lopes que não sendo natural desta freguesia aqui casou e cá se
radicou, todos estes na primeira metade do século XX.
Não deixa de ser curioso referir
também o Soldado Manuel Neves que fez parte da guarda de honra ao Presidente da
República Sidónio Pais, no dia em que este foi assassinado, na estação
ferroviária do Rossio em Lisboa em 1919.
Não pertencendo a esta freguesia
por força do nascimento mas fazendo parte dela pelo matrimónio houve dois
segundos sargentos que foram aposentados compulsivamente, em finais da 1ª
República, por comportamento pouco abonatório e radicaram-se nesta terra onde
continuaram a fazer muitas das tropelias que fizeram enquanto militares de
carreira, oprimindo e explorando os pobres trabalhadores desta terra, ofendendo
as crenças religiosas do povo e afrontando a hierarquia da Igreja Católica.
Foram, na circunstância, o Sr. Ferreira e o Sr. Leitão. Pessoas a quem se
obedecia por medo de represálias mas, comportando-se como senhores feudais, não
cultivaram qualquer tipo de amizade.
Muitos outros militares houve que
fizeram a sua vida militar, no tempo do serviço militar obrigatório, até metade
do século vinte e que de uma forma ou de outra serviram com brio a Pátria quer
servindo nas guarnições dos diferentes quartéis e armas espalhados pelo País,
do Porto a Lisboa, Tavira, ou Caldas da Rainha, Tomar, Castelo Branco, Covilhã
e Penamacor. Até houve casos de, no princípio da década de quarenta do século
passado, praças que depois de terem passado à disponibilidade, foram novamente
convocados para prestarem serviço em manobras na OTA com vista à sua integração
na força de defesa dos Açores, particularmente da base das Lages que, no auge
da 2ª Guerra Mundial e sendo Portugal um país neutro, eram pontos geográficos e
estratégicos para todos os contendores e, como tal, apetecíveis a todos. O
Estado Novo que se quis manter neutro neste conflito viu-se obrigado a defender
aquele espaço nacional já que era frequente a sua violação quer por ar ou por
mar. As manobras de preparação do contingente cessaram quando em 1943 o Estado
Português estabeleceu um pacto com os Estados Unidos da América e este deu
contrapartidas monetárias, em armamento e até na empregabilidade do povo, sendo
assim, desconvocados os militares destinados ao referido contingente.
Quando teve início a designada
Guerra Colonial, que não fora mais que uma disputa entre as grandes potências
mundiais para explorarem os recursos económicos das regiões ultramarinas sob
jurisdição portuguesa, apesar do País fazer parte de direito e de jure das Nações Unidas, da Nato e até da EFTA e da
OCDE, foram mobilizados para defender as populações civis de diferentes cores e
raças, muitos militares de todas as patentes, do simples soldado ao oficial
general, Major General, João Afonso Bento Soares, passando pelos furriéis e
alferes milicianos, sargentos do quadro, até às patentes de oficiais superiores
como o coronel João Sena, por exemplo.
Houve ainda oficiais do quadro que
iniciaram a carreira como soldados e chegaram à patente de Capitão e Tenente
como foram os casos do Capitão Caldeira e do Tenente António Romão. Primeiros-Sargentos
e Sargentos-Chefes também houve alguns, pertencentes ao Exército e à Força
Aérea.
Muitos destes militares começaram
as suas comissões na Índia Portuguesa onde tivemos um soldado corneteiro,
função muito importante no exército, e muitos outros militares de diferentes
patentes passando depois pela Guiné, Moçambique, Angola, Timor, numa época em
que a maioria da população entendia a sua Pátria com início no Minho e indo até
ao longínquo Timor.
Sendo um período difícil para a
maior parte dos rapazes de 20 anos não deixou de lhes marcar o carácter, quer
pelo sacrifício e horrores vividos mas também pelos novos horizontes que
descobriram. Florestas e Chuvas tropicais marcantes, savanas, pântanos da Guiné
e desertos como os do Namibe em Angola, mas tudo muito amplo, muito grande, se
comparado com este pequeno rectângulo à beira-mar plantado. Tudo isto foi
relevante para a descoberta e o conhecimento de novas formas de vida que deu
azo a mudanças na estratificação social e também no desempenho de diferentes
funções, até aí, consideradas inacessíveis.
Nas cúpulas do poder Judicial tivemos o Juiz Conselheiro Messias
Bento que fez parte do Tribunal Constitucional durante mais de uma década, e no
Tribunais criminais o Juiz Desembargador Celestino Cabanas Bento, o Procurador
da República Dr. Manuel Caldeira Bento, Juíza Carla Caldeira Bento Carecho e
muitos, muitos advogados, com relevância para o Dr. Mário Bento Soares que foi
Governador Civil da Guarda, Deputado da Assembleia Nacional no Estado Novo e mais
tarde Director de Serviços no Ministério da Justiça.
Mas também como funcionários
judiciais muitos foram os meimoenses que, nesta área, fizeram e ainda alguns
fazem, a sua carreira. Nesta categoria não nos podemos esquecer dos inpectores
da Judiciária com funções de relevo no combate ao crime.
Na Medicina uma palavra de reconhecimento pela competência e
capacidade e inovação do Neurocirurgião, Dr. Francisco José Bento Soares, o
mais antigo, que teve um papel relevantíssimo como primeiro neurocirurgião no
Hospital Pediátrico de Coimbra, onde foi Director de Serviços e Mestre de
muitos outros Neurocirurgiões que eram a nata desta especialidade na Europa a
fazer intervenções ao nível do cérebro de crianças e de adultos. Durante a sua
carreira efectuou mais de 1400 cirurgias ao cérebro. Hoje já deixou assegurada
a sucessão no seu filho Dr. Gustavo que segue as pisadas do pai na mesma
especialidade médica.
Mas também, outros médicos
especialistas de Medicina Familiar como a Dra. Ana Maria Cerdeira Caldeira que
exerce as suas funções em Viseu e vários enfermeiros que, de Lisboa, passando
por Coimbra, Covilhã e mesmo localmente, exercem com profissionalismo a sua
missão insubstituível no campo dos cuidados clínicos tão necessários ao doente.
Não nos podemos esquecer de uma significativa quantidade de enfermeiros de
diferentes especialidades, uns falecidos, outros aposentados e outros ainda em
funções, que com os demais profissionais são o esteio do Serviço Nacional de
Saúde.
Na função Pública continuam a
destacar-se Quadros Superiores em lugares de muita responsabilidade das funções
do Estado, em todos os Ministérios. Das Finanças à Defesa, da Segurança Social
à Assembleia da República. Estes funcionários não pertencem às cúpulas porque
não estão filiados em Partidos Políticos e é o seu mérito que lhes dá relevo
nas funções que desempenham.
De referir, também, uma figura
singular, o Dr. Mário Pires Bento que na Arqueologia, por simples e apaixonado hobby fez caminho relevante e, para os
vindouros ficam um museu do qual é patrono na nossa freguesia e, também, foi o
primeiro a dar os passos indispensáveis para a criação do Museu de Penamacor.
Por força do Poder Político saído
do 25 de Abril de 1974, um regime designado democrático – mas pouco, dizemos
nós – apareceram algumas figuras que, como marionetas do Poder Político e
também com o seu respaldo, atingiram lugares importantes. Temos nesta
circunstância um Vereador voluntário da Comissão Administrativa presidida pelo
Sr. José Pinto, que era o Sr. José Cameira. Temos, já elegido democraticamente,
como Presidente da Câmara de Penamacor, o Dr. Francisco Martins Ribeiro e
Vereador da mesma Câmara, Dr. António Conceição Cabanas. Sem lhes retirar mérito não podemos colocar estas personalidades ao
nível das já mencionadas, já que foi por escolha do Poder Político Partidário
que alcançaram a ribalta. Em abono da verdade deve-se dizer que o Dr. António
Cabanas tem uma profissão na ICNF, é sociólogo, e logo que saiu da Câmara
regressou ao seu lugar de origem. O Dr. Francisco Ribeiro foi coproprietário do
Colégio de Penamacor dada a conjuntura criada com o 25 de Abril de 74 com os
designados contratos de associação em que o Ministério da Educação enriqueceu
muitos destes proprietários, pelo país fora e, ainda hoje acontece em alguns
casos.
Já que referimos estas
personalidades do Poder Municipal não podemos esquecer os restantes autarcas,
Presidentes, Secretários e Tesoureiros das Juntas de Freguesia que, como órgãos
executivos pugnaram pelo bem deste Povo. Mas, porque é de Justiça, temos de
diferenciar aqueles Presidentes que desempenharam as suas funções em regime de
voluntariado e aqueles que recebem algum pecúlio monetário para fazerem o mesmo
serviço. Antes do 25 de Abril eram nomeados pelo Governo e, como tal, quase
obrigados a desempenhar as funções. Depois do 25 de Abril foram todos eleitos
mas só a partir de 1982 é que passaram a ser remunerados. Há aqui diferenças
que são fruto de políticas e não da responsabilidade de cada um mas que têm,
necessariamente, de ser relevadas de forma diferenciada.
Mas, para existir esta gente tão
altamente conhecedora e tão altamente colocada, importa referir uma classe que,
sem ela, ninguém chegaria a tais patamares. Os professores primários e de outros graus de ensino que, não só
ensinaram as primeiras letras a esta gente ilustre, como os incentivou a
prosseguir e lhes deu as bases para continuarem a caminhada de irem mais além.
Daí a termos tantas e tão prestigiadas figuras que levaram o nome da Meimoa e
do Concelho de Penamacor a muitas partes do Mundo.
Não podemos esquecer tanta gente
anónima que desta terra levou nome, educação e valores. Foram aventureiros,
empreendedores e vencedores na vida altamente competitiva de países mais
avançados. Lembramo-nos dos nossos
emigrantes. Primeiro para o Brasil, depois para a África, Angola,
Moçambique, que sendo consideradas terras portuguesas, não deixavam de ser
locais para onde a emigração era, porventura, mais difícl. Para a França, para
o Luxemburgo, Suíça, Alemanha e outros países da Europa Ocidental. Também estes
mostraram a têmpera de que são feitos os Homens e Mulheres da Meimoa e merecem
todo o nosso respeito. Muitos deles analfabetos, conhecendo mal a Língua Pátria
e desconhecendo, em absoluto, as Línguas Estrangeiras aí singraram na vida e
deram aos seus filhos ferramentas que lhes possibilitaram fazer vida e melhorar
significativamente as suas condições sociais e económicas.
3º Capítulo – Vida Quotidiana
Vida social: - O dia-a-dia foi sempre de trabalho duro do campo.
As famílias eram, em regra, muito numerosas.
Não havia nem água, nem Luz
eléctrica nem saneamento básico até à década de cinquenta do século passado,
data da inauguração da energia eléctrica. Passados mais vinte anos a freguesia
foi dotada de água ao domicílio e na década de oitenta foi construído o
saneamento básico.
Enquanto não havia nada destas
condições a iluminação era à base da candeia de azeite e os serões eram
passados à lareira onde se reuniam avós, pais e filhos, sentados em “tropeços”
de cortiça e aí eram contadas as histórias e as lendas de moiras encantadas,
lobisomens e outras personagens que levavam as crianças ao imaginário das
coisas boas e felizes da vida.
De salientar uma peripécia
importante nesta freguesia.
De todos é sabido que durante o
Estado Novo as eleições eram levadas a cabo em Lista única da União Nacional,
única entidade com permissão para apresentar lista para eleições que, como
simulacro que eram, queriam aparentar alguma democracia. No entanto, sem que
fosse do conhecimento da generalidade do povo, sempre que houve eleições para
órgãos nacionais ou locais apareceram mais do que uma lista, sendo, como é
óbvio, uma representativa da oposição. Esta oposição difusa, desconhecida, mas
sempre presente e, muitas vezes ganhava esta. Na circunstância era necessário
recorrer ao Governo Civil e à GNR para de forma abusiva, adulterarem os
cadernos eleitorais e assim ganhar a lista da situação e tudo ficar na paz e no
bem. Mas, para se chegar a este ponto, muitas vezes havia bordoada de criar
bicho, com fogueiros e arrochos, paus de marmeleiro e outros tipos de materiais
contundentes que, por vezes, deixavam muitas cabeças partidas ou muitas
costelas rachadas.
Não podemos também esquecer que,
quando da implantação da República em 5 de Outubro de 1910 a população viveu
muitos anos dividida politicamente entre republicanos e monárquicos, que
faziam, à vez, as suas manifestações prós e contras, com vinho a granel e muita
arrochada pelo meio. Porém, a maior parte das pessoas dava-se bem fora desses
períodos conturbados.
Até porque, se nos aprimorarmos,
podemos descortinar e descobrir que, até à primeira metade do século XX havia
cerca de uma dezena de famílias nesta freguesia, aqui e ali salpicada por algum
forasteiro, homem ou mulher, que pelo matrimónio, vinham fazer parte desta
população.
Assim, grosso modo, pode-se dizer
que na época, pontuavam as famílias Bento, Cabanas, Fatela, Andrade, Caldeira,
Pires, Pina, Fonseca, Martins e Soares.
Era entre estas famílias que se
consorciavam as novas gerações o que dava origem a uma constatação até aos dias
de hoje. Todos os oriundos desta freguesia têm entre si algum grau de
parentesco mais ou menos longínquo. Por issso, é comum dizer-se, que na nossa
freguesia toda a gente é prima de toda a gente.