Foto: O Globo
Amanheci o dia animada até que recebi a notícia. Millôr
partiu.
Parodiando esse amigo nunca visto e sempre admirado, repeti
as palavras dele sobre a morte,essa indesejada que fuça,fuça até encontrar o
escolhido.
-Mas,já? E porque eu?
Pois é,também não entendo.Baixar num certo canto de
Brasília ela não baixa.Mas, Millôr? Pra sempre?
Ele mesmo responde:-A morte mata;é sua função e ela a
exerce.
Millôr dizia que a morte o apavorava.
E a vida onde os bons humoristas mudaram-se para as
estrelas me apavora ,também.
Com Millôr morrem os textos deliciosos,os poemeus,as
tiradas fantásticas,a indignação adulçorada pelo riso.
Que ele esteja contando ao Todo – Poderoso a verdadeira
estória do paraíso, ou lendo a “Bíblia do Caos” para os anjinhos,tudo bem.Mas,
e nós,aqui? Aonde vamos?
Sua irreverência e ceticismo,sua cultura invejável que lhe
rendeu mais de 100 peças teatrais,5000
frases magistrais,dezenas de livros publicados, fundador do PifPaf, colaborador
do Pasquin, o cara que fez roteiros de filmes,letras de música,ele não era um homem só
,era muitos...Também cartunista,artista gráfico,caricaturista,pintor
e,sobretudo, observador.Nada lhe passava despercebido.
Num dos seus textos recebi uma grande lição que sempre
relembro.Ele aconselhava aos companheiros de profissão que se
mantivessem longe do Poder: -Uma coisa é ser o rei dos palhaços,outra coisa é
ser o palhaço dos reis.
Sábias palavras!
E uma despedida magistral:
-“Um humorista não solta o último suspiro – solta a última
ironia.”
Millôr Fernandes
1923/2012
A ARTE ARTEIRA DE MILLÔR
MILLÔR POR ELE MESMO
"Como fui criado sem pais,educado sem escolas,o governo nunca me deu um lápis,os padres jamais me ensinaram uma lição e os pais da pátria não me indicaram nenhum caminho,posso afirmar - aliás sem qualquer orgulho - que sou cem por cento eu mesmo."
HOMENAGEM Á MULHER
UM ARTIGO DA ROGÉRIA GOMES
Mulheres: Sexo Frágil?
Este é o mês que
dedicamos às mulheres, muito justo por sinal, já que vivemos em um país com
pouca valorização ao gênero. Constatam
os fatos.
A luta histórica em favor da comemoração, cujo o ponta pé inicial
acontece no dia 08 de março de 18 57 em Nova
York, por conta de um grupo de operárias têxteis reivindicando redução da carga horária de 16 horas por dia
para 10 horas.
Isso mesmo diárias!!!!
Saldo da iniciativa: 130 mulheres morrem queimadas.
Na verdade a data foi instituída oficialmente tempos depois, em 1910 na conferência internacional de
mulheres realizada na Dinamarca, momento que se decidiu homenagear estas mulheres
mortas por ocasião do manifesto. Mais
adiante em 1977 as Nações Unidas oficializa a data em âmbito internacional.
O que ganhamos com isso? Talvez seja a pergunta que não quer
calar, apesar do tempo transcorrido.
Em pleno
século XXI o quadro desenhado a nossa frente não parece ter mudado tanto, em
vários aspectos. Chegamos aqui pela persistência em infindáveis reivindicações além de gigantescas lutas, que
nos dão a impressão que não caminhamos o merecido. Nossos salários ainda são inferiores aos dos
homens, questão já reivindicada no Congresso Nacional; no entanto, retirada de
pauta; menor acesso aos mais elevados cargos das empresas; minoria no Congresso
de todo país; na vida doméstica sobrecarga imensa; conclusão: a velha dupla,
tripla sei lá quantas jornadas que bravamente
temos que dar conta ta aí na ordem do dia. Não há como negar. A lista ainda é
imensa com tantos pontos obscuros desta questão.
No entanto, o fato é: não podemos negar que somos o sexo que não
foge à luta, e a muito custo, estamos abrindo espaço. Retiro por minha conta a
palavra frágil, da bela canção de Rita Lee, pois sabemos bem que de frágil às
mulheres não tem nada. Menstruamos, geramos filhos, criamo-os, não raramente
sozinhas, estudamos, nos especializamos, trabalhamos em múltiplas funções, estamos aí.
Na conquista do
espaço que nos é devido, descobrimos e descortinamos universos inimagináveis a
tempos atrás. Somos protagonistas da nossa própria história, construímos o
roteiro que desejamos, mesmo tendo que conviver diversas vezes com constrangimentos
e situações desfavoráveis, mas não fugimos à luta.
Chegamos ao posto
mais alto do país, o Brasil é presidido por uma mulher, sem aqui qualquer juízo
de valor, apenas uma constatação, ocupamos postos outrora exclusivamente
masculinos, e o melhor, sem perder o charme, a delicadeza e a elegância tão
característica das mulheres.
Ainda há muito
pela frente, mas esperamos sincera e arduamente por um tempo onde não seja mais
necessário o dia da mulher, do afro-descendente, do portador de necessidades
especiais, ficando somente a lembrança de um tempo que ajudou a consolidar
valores. Um tempo em que realmente
gozaremos de direitos e deveres iguais, cidadãos livres em suas idéias,
pensamentos, realizações e comportamentos, não importando o sexo. Sem
aqui, desmerecer de forma alguma os homens, pois há os que conhecem seu papel e
tanto nos estimulam , sabem ser parceiros. Estes sempre bem-vindos.
Mas ate lá, o
parabéns é merecido pelas conquistas que alcançamos, lembrando que o celeiro de mulheres
brilhantes é imenso, cujo nome enobrece a história brasileira e mundial, impossível nominá-las todas.
Afinal, ‘ mulher é bicho esquisito, todo mês sangra,
tem sexto sentido maior que a razão e dondoca é espécie em extinção’ , diz
a canção, e ainda por cima ‘ tem a estranha mania de ter fé na vida
‘, resume em grande estilo o poeta
Milton Nascimento.
Enfim, viva a mulher,
este ser que tem provado definitivamente ao que veio, não foge à luta, e quando
sabia é capaz de revolucionar o mundo. A
História prova.
Rogéria Gomes é
jornalista e escritora
grandesdamas@hotmail.com