Frequentemente há uma certa confusão entre organismos transgénicos e Organismos Geneticamente Modificados (OGM), e os dois conceitos são tomados, de forma equivocada, como sinónimos. Ocorre que OGMs e transgénicos não são sinónimos. Todo transgénico é um organismo geneticamente modificado, mas nem todo OGM é um transgénico. OGM é um organismo que teve o seu genoma modificado em laboratório, sem todavia receber material genético (ARN/ADN) de outro organismo. Transgénico é um organismo que foi submetido a técnica específica de inserção de material genético (parte de ARN - ácido ribonucleico/ADN - ácido desoxirribonucleico) de outro organismo (que pode até ser de espécie diferente).
Um estudo realizado durante dois anos acerca do potencial efeito de transgénicos na saúde pública foi o de Gilles-Eric Séralini, Dominique Cellier e Joël Spiroux de Vendomois (2007). Estes investigadores reavaliaram estatisticamente dados publicados anteriormente pela multinacional Monsanto, e declararam que a alimentação de ratos com milho transgénico MON863 provocou toxicidade hepática e renal, desenvolviam diversos tumores bem como alterações no crescimento. A European Food Safety Authority (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) aprovou o MON863 para consumo humano na União Europeia, baseando-se nas conclusões dos estudos entregues pela Monsanto.
A Autoridade concluiu que as diferenças encontradas no estudo de Séralini et al. não eram biologicamente relevantes e que os métodos estatísticos utilizados neste estudo eram incorrectos, pelo que não procedeu à reavaliação da aprovação. No entanto, até à data, nenhum outro estudo científico publicado colocou em questão as conclusões do estudo da equipa de Séralini.
Esta discussão acentuou a polémica sobre quem deve ser responsável pela avaliação do impacto deste tipo de produtos. O facto de algumas avaliações serem feitas pelas próprias empresas que os produzem tem levantado grande indignação por parte de organizações ambientalistas. O Painel OGM responsável pela avaliação dos transgénicos da European Food Safety Authority foi também criticado por vários estados-membros, casos da Itália e a Áustria, que acusam este painel de cientistas de parcialidade.
Segundo o Professor Jean Remy Guimarães os resultados do estudo realizado pela equipe do francês Gilles-Éric
Séralini, professor de biologia molecular na Universidade de Caen (França), que coloca em
xeque a segurança dos alimentos transgénicos e que foi publicado pela revista norte americana Food and Chemical Toxicology, foi retirado pela própria revista, pouco mais de um ano após sua
publicação.
"(...) segundo as normas dessa revista (e da esmagadora maioria delas), os únicos
critérios que podem levar à decisão de retirar um trabalho publicado na mesma
são: falha ética, plágio, publicação anterior em outro veículo ou ainda
conclusões não confiáveis, seja por fraude ou erro de boa-fé (erro de cálculo,
erro experimental).
No entanto, o editor-chefe da revista, Wallace
Hayes, em carta de 19/11/2013 ao
primeiro autor, informa a intenção de retirar o estudo da revista,
esclarecendo que o fato não se deve a fraude ou sinais de deformação intencional
dos dados.
O motivo alegado seriam as “legítimas preocupações relativas ao reduzido
número de animais em cada grupo (dez ratos), assim como à escolha da linhagem de
ratos utilizada nos testes”. O estudo teria sido ainda retirado devido a seu
caráter “não conclusivo”.
"Note que nenhum dos motivos apresentados se enquadra nos critérios de exclusão
explicitados nas normas da revista, o que motivou ríspidos protestos do
professor Séralini e equipe, além de promessas de medidas legais. Lembre também
que os testes toxicológicos realizados pelas próprias indústrias para licenciar
seus produtos, transgênicos ou não, duram apenas três meses (contra os 24 do
estudo do professor Séralini), e seus grupos experimentais contêm tipicamente…
dez ratos." (...)
Inimigo infiltrado
(...) Diante disso, a maior surpresa talvez não seja a retirada do artigo do
professor Séralini dessa revista, mas sim a sua publicação inicial. Afinal,
esses setores de atividade não se caracterizam por um histórico de relações
harmoniosas com a ciência em geral e a toxicologia em particular.
Mas sabe como é: se você não pode vencer o inimigo, junte-se a ele. Ou
infiltre-se. E é precisamente o que as corporações vêm se esmerando em fazer:
nuclear todas as instâncias decisórias relevantes para seus interesses, sejam
elas nacionais ou multilaterais, incluindo as próprias instituições científicas,
como as revistas. Blogues, colunas ou matérias publicadas em qualquer meio de
difusão que mencionem as palavras-chave sensíveis ao setor são também
imediatamente detectadas, deflagrando uma blitzkrieg impiedosa visando
à desmoralização e, portanto, eliminação da ameaça.(...)" (Guimarães, Jean Remy - Instituto ciencia hoje 27/12/2013).
Quando se trata de resultados científicos não favoráveis aos grandes lobbies industriais e financeiros, quando os interesses dos capitalistas sem escrúpulos é questionado, o resultado é calar e denegrir a imagem dos investigadores, sem olhar a meios, para atingir os fins.
Referências
- Séralini, G.E., Cellier, D., de Vendomois, J.,S., 2007. New analysis of a rat feeding study with a genetically modified maize reveals signs of hepatorenal toxicity. Archives of environmental contamination and toxicology, 52, 596-602.
- Opinion of the Scientific Panel on Genetically Modified Organisms on a request from the Commission related to the Notification (Reference C/DE/02/9) for the placing on the market of insect-protected genetically modified maize MON 863 and MON 863 x MON 810, for import and processing, under Part C of Directive 2001/18/EC from Monsanto, The EFSA Journal (2004) 49, 1-25 [4]
- Rat study, European Food Safety Authority.
- Após 12 anos, Europa aprova batata e milho transgênicos - O Estado de S.Paulo, 3 de março de 2010 (visitado em 3-3-2010)
- 7]. Rita Batista, Baltazar Nunes, Manuela Carmo, Carlos Cardoso, Helena São José, António Bugalho de Almeida, Alda Manique, Leonor Bento, Cândido Pinto Ricardo and Maria Margarida Oliveira. 2005. Lack of detectable allergenicity of transgenic maize and soya samples. Journal of Allergy and Clinical Immunology 116(2):403-410
- http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/terra-em-transe/sobre-ratos-transgenicos-e-queimas-de-arquivo (pág. consultada em 03/01/2014)
- www.midiaindependente.org/pt/ (pág. consultada em 03/01/2014)
- wikipedia.org (pág. consultada em 03/01/2014)