Eis alguns 11 de Setembro (que cada setembrista adoptará como Setembros amigos e Setembros inimigos):
· 11 de Setembro de 2001 – Ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque, reivindicado pela organização de Bin Laden, ex-agente dos USA. O crime saldou-se em 3.000 mortos.
· 11 de Setembro de 1973 – Golpe militar encabeçado por Pinochet no Chile contra o Governo Democraticamente Eleito. O crime saldou-se em 10.000 mortos e desaparecidos , milhares de prisioneiros, milhares de expulsos dos empregos e das escolas e milhares de exilados. Pinochet foi acidentalmente preso em Londres e, meses depois, libertado pelas maquinações do Eixo do Bem. Ao contrário do intocável Pinochet, Milosevic, que desobedeceu às directivas imperiais, ficou sujeito ao Tribunal da NATO, também conhecido por TPI/Tribunal Penal Internacional, em Haia.
· 11 de Setembro de 1973 – Governo israelense toma a liberdade de expulsar Arafat da Palestina, medida suspensa por pressão internacional.
· 11 de Setembro de 1973 – Primeira reunião clandestina dos militares do MFA/Movimento das Forças Armadas, no Alentejo, preparando o derrube da ditadura terrorista portuguesa, apoiada ou tolerada pelas democracias ocidentais , com os USA à cabeça, pela NATO e por outras instituições definidoras e reguladoras do Eixo do Bem e do Eixo do Mal.
· 11 de Setembro de 1965 – Chegada ao Vietname da 1.ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos, prenunciando a escalada de um conflito com mais de dois milhões de mortos vietnamitas e 58.000 filhos dos USA, a estes últimos se adicionando 2.800 desaparecidos .
· 11 de Setembro de 1917 –Data de nascimento de Ferdinando Marcos, ditador das Filipinas (governava por decreto), sanguinário e intocável, besta sagrada da Grande Corrupção e fantoche do Eixo do Bem. Após se tornar insustentável a manutenção do friend Ferdinando, os USA hospedaram-no no Hawai, em 1986, onde gozou da fortuna até que o Além decidiu abatê-lo ao efectivo terrestre no ano de 1989 da Era Cristã.
· 11 de Setembro de 1902 – Data de nascimento de Bento Gonçalves, operário e revolucionário, secretário-geral do Partido Comunista Português, assassinado, em 1942, no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.
· 11 de Setembro de 1840 – Bombardeamento de Beirute pela Grã-Bretanha, já na altura apostada na guerra preventiva contra o poder árabe e islâmico. Não dispomos do balanço letal das canhoeiras de Sua Majestade. De resto, em meados do séc. XIX, a vida de um libanês não merecia tratamento estatístico: ainda valia menos do que hoje a vida de um libanês, de um palestiniano, de um afegão, de um iraquiano ou de qualquer opositor, resistente, terrorista nouvelle vague ou terrorista amigo descartável.
· 11 de Setembro de 1217 - Arremetida cristã contra a praça de Alcácer do Sal, a Porta do Algarve . Os bispos de Lisboa e Évora, coadjuvados pelo abade de Alcobaça e pelas Ordens dos Templários e dos Hospitalários e negociada uma coligação (já há oito séculos se promoviam coligações) com os expedicionários do Norte da Europa que se dirigiam para a Terra Santa , lançaram uma ofensiva da cruz e da espada. A empresa foi, mais uma vez, contra os mouros e, desta vez, contra a vontade do rei D. Afonso II, ausente no Norte (e de resto, excomungado pelo Sumo Pontífice Romano, devido a disputas de poder e de propriedades). Não há registos fiáveis de baixas, embora os cristãos houvessem asseverado que mandaram para os anjinhos milhares de infiéis, graças a uma arma de destruição maciça então proliferante: uma cruz que irrompeu nos céus.
Pelo exposto, não teremos de aceitar o 11 de Setembro de 2001 como novo marcador/divisor da História, o Antes e o Depois de Cristo de Nova Iorque. É certo que foi um acto de terrorismo contra um sistema terrorista, sendo o seu maior delito haver alvejado seres humanos apenas teoricamente responsáveis por sufragarem com o seu voto e a sua passividade o sistema em vigor. É certo que se tratou de um acto hediondo, de contornos ainda por descodificar em toda a extensão da trama. É certo que tem sido um providencial pretexto para a militarização e a policiação do mundo pelo Reich anglo-saxónico. É certo que o Império organizou exéquias universais, obrigando os governos-satélites, a comunicação social dominada e dominante e os escribas dos faraós do Far-West a demonstrar luto, repetidas condolências, lágrimas convulsas. Mas o pesar pelas vítimas de Bin Laden não deverá fazer olvidar as vítimas dos Estados Unidos e demais potências imperiais, coloniais, invasoras e espezinhadoras de todos os tempos e lugares. Temos muitos 11 de Setembro para reflectir.
Excerto de um texto de César Princípe