Um autor é apenas aquele sujeito que desconfia demais. Ele desconfia profundamente de que as palavras correspondam à realidade - desconfia que a própria "realidade" não seja, de fato, o real. Passa então a re-presentar a realidade e descobrir muitos outros mundos possíveis, a começar por ele mesmo, num movimento que faz nascer o autor como algo novo, diferente da pessoa física que escreve (obviamente, é preciso saber escrever). Um sujeito assim é tão desconfiado que até das suas re-presentações de mundo, ele desconfia - daí o seu apego a gavetas e lixeiras, que é onde guarda a maior parte do que escreve.