Prazer cibernéticoMundo moderno, sexo liberal, prazer quase coletivo. É nas salas de bate-papo que muitas pessoas encontram prazer através do sexo virtual
Foto: Getty ImagesA revolução do sexo alterou certos parâmetros sociais e levou os relacionamentos íntimos a um processo de modernização, surgindo um novo tipo de relação sexual, o cybersexo. Para vivenciá-lo, basta apenas conexão com internet e cerca de frações de segundos para acessar as famosas salas de bate-papo. São nelas que o internauta adentra em meio a um universo paralelo, onde a realidade dá vazão ao surreal. Toda a verdade agora é alterável e toda crença contestável. Apelidos diversos, perfis a parte, a abordagem em uma sala virtual, apesar de dinâmica é sempre lugar comum. Agora o contato cibernético tem apoio da tecnologia das webcams, câmeras acopladas ao computador. Gato_gostoso entra na salaGarota ligada entra na salaGato_gostoso diz: Alguma gata quer tc? Garota ligada diz: Você tc de onde? Tem webcam? Me passa seu MSN gato. O sexo virtual é uma maneira de masturbação, comum em salas de bate-papo, comunidades na Internet e sites que proporcionam videoconferências com webcams. Prática que atrai cada vez mais adeptos, o cybersexo permite a liberação das fantasias e a realização dos desejos mais íntimos do indivíduo. É preciso interação e muita imaginação para sentir prazer on-line. O espaço cibernético tem cenário criativo, onde o protagonista se reinventa a cada criação, podendo ser loiro, alto e sarado. Não necessariamente isto irá corresponder à realidade.
Foto: Getty ImagesO temor das pessoas em se envolver emocionalmente com outra influi na vida solitária. O contato físico pode ser o início de um laço e a opção pelo ´gozo´ virtual, qualificada como a maneira mais satisfatória da elevação do ego e dos instintos. A tela do computador assume o papel de proteção contra os perigos imbuídos no mundo virtual. A satisfação proporcionada resolve naquele momento, mas se pensarmos que quem não se envolve não se desenvolve, aí não resolve nada. Apenas é uma realização momentânea. Muitas mulheres alegam que os homens hoje em dia, só querem sexo e nada mais. Por isso, essas mesmas mulheres acreditam então, que é melhor o sexo virtual do que o físico, pelo menos não se expõe tanto e simplifica tudo , afirma o sexólogo Marcos Ribeiro. Geralmente, os praticantes têm em média entre 18 e 43 anos, podendo ser solteiros ou casados. As partes envolvidas trocam palavras insinuantes e provocativas de forte apelo sexual, para a excitação. A finalidade varia entre diversão, busca do prazer e ponto de fuga da rotina. Para Ribeiro, o primeiro aprendizado sexual de uma pessoa se dá quando ela tem contato com o próprio prazer. Nesse sentido, a masturbação é o canal que cada ser tem para se conhecer e ir de encontro com as próprias fantasias, inclusive aquelas não compartilhadas com o parceiro por pudorismo. A masturbação pode ser entendida como o prazer da individualidade sexual.
Foto: Getty ImagesSou casado há 11 anos e minha mulher é devagar quase parando na cama, só faz o básico. Entro nestas salas para poder gozar, coisa que raramente acontece quando estou com ela. Já a trai fisicamente com outra pessoa e só o fiz porque ela é fraca no sexo. Pode ser que estar em uma sala de bate-papo e estender esta conversa ao MSN, onde fico pelado diante da webcam seja traição, mas não me sinto culpado por isto, afinal a culpa é dela que não faz nada direito e também não é sempre que freqüento estas salas! , dispara *Marcos, 32 anos. A situação pode figurar traição dependo daquilo que as pessoas entendem como ato traidor. Se o parceiro tem alguém no pensamento ou na fantasia e o torna objeto de desejo superior ao da pessoa que tem ao lado, se pode considerar traição, tanto quanto o contato físico imediato. Minha mulher não é ciumenta. Se eu achar alguém ´gostosa´ e que mande melhor do que ela na hora do vamos ver pode ser que eu troque. Minha mulher é bonita, inteligente, dedicada, carinhosa e excelente mãe, mas no sexo ela deixa a desejar e hesito sair da relação, porque tenho uma filha , diz *Pedro, 38 anos. Nenhuma relação pode ser pautada em controle dos pensamentos do outro, caso contrário está condenada ao fracasso. A relevância da questão está na intensidade da importância empregada ao terceiro sujeito da relação. Quando a satisfação é maior com quem está nos pensamentos do que ao seu lado, é o momento de rever o relacionamento. São ressaltáveis também, as conseqüências negativas da prática sexual cibernética. Quando ela se torna rotina pode influenciar de maneira avassaladora na vida do adepto, incitando à destruição de relacionamentos afetivos e sexuais, além de gerar tendência ao desvio da sexualidade pela reclusão ao mundo virtual. Neste caso, a pessoa passa a sentir prazer apenas através da masturbação exercida pela criação de personagens de uma história que nem ele próprio vivencia.
Foto: Getty ImagesMinha ex-namorada contou que entrava nas salas de bate-papo para transar virtualmente com todo mundo que ela encontrasse, acredito que também tenha feito o sexo real, inclusive se masturbava pensando em alguém da internet. Sempre disse que isso era um problema dela e não meu. Comigo na cama, ela era fria, parecia mais uma boneca inflável. Da parte dela era completamente por obrigação e acabava achando que a culpa era minha, mas na internet ela desenvolvia bem o potencial sexual dela e todos sabem disso , declara *Carlos, 23 anos. Pessoas casadas que se propõe a transar virtualmente, podem ter a relação reciclada pela descarga de energia reprimida, ao realizar seus desejos inconscientes, que não são realizados com o parceiro. O sexo virtual pode ser estigmatizado, mas é apenas o conceito pessoal, histórico e cultural que vai determinar sua normalidade e aceitação. O que devemos entender é que a relação se completa, principalmente, quando há um envolvimento intenso entre um e outro. Deve haver uma atenção mútua, onde cada um deve estar atento ao desejo do parceiro, às fantasias e o que se gosta e também desagrada , finaliza Ribeiro. *O nome foi alterado a pedido dos entrevistados Colaboraram:• Marcos Ribeir Autor do livro Sexo não é bicho papãoSite: