Matérias e Artigos II

SOBRE O LIVRO ENTRE RINHAS DE CACHORROS E PORCOS ABATIDOS, DE ANA PAULA MAIA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PERÍODO 2009

Livros da década.

Na edição do dia 26 de dezembro do Caderno Prosa & Verso do dia 26/12/09, do jornal O Globo, 10 jurados foram convidados para elegerem os livros da década. 10 foram escolhidos e ganharam a capa da edição.
Oito autores da chamada Geração 00 foram votados e lá está o "Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos" Bacana, né?

Dessa safra, é o único livro lançado em 2009.

Clique no artigo para ler.



*That´s all folks*

Site UOL - agosto 2009

17/08/2009 - 12h33
Jovem escritora aborda violência com estilo e preocupação social
DANIEL BENEVIDES
Colaboração para o UOL

http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2009/08/17/ult5668u115.jhtm

A violência assume várias formas, muitas delas moldadas pelo mesmo motivo: a desigualdade. Partindo desse princípio simples e universal, a carioca Ana Paula Maia compôs duas novelas complementares, com muito sangue, escatologia e estilo.

Lançadas em capítulos pela internet, nos moldes dos antigos folhetins, "Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos" e "O Trabalho Sujo dos Outros" são habitadas por personagens sujos, feios e, na falta de melhores opções, malvados. São, como revela a escritora numa breve apresentação, "homens-bestas", que fazem "toda a imundície de trabalho que nenhum de nós quer fazer".

Na primeira história, "pulp" ao extremo, no sentido de polpa mesmo, de massa de carne misturada com sangue, tripas, excremento, Edgard Wilson e Gerson vivem de matar e destrinchar porcos (não à toa, símbolos da sujeira, que se alimentam de lixo). É um serviço que fazem sem emoção, inertes, indiferentes. A morte e o sofrimento parecem tão corriqueiros quanto o calor sufocante do subúrbio onde vivem, a rala comida no prato, o colchão esquelético onde dormem. Para completar o quadro, a maior diversão dos dois amigos - talvez a única -, é apostar em duelos mortais entre cachorros.

Diante disso, um assassinato com extrema crueldade é apenas mais um fato do cotidiano, um mero problema a resolver - o próprio termo "crueldade", por mais que a violência tenha chegado ao limite do impensável, nem faz sentido, pois na aridez estéril do cenário em que se movem os personagens, totalmente à margem da sociedade (que sociedade, cara-pálida?), os valores sequer existem.

O(a) leitor(a), à essa altura, já percebeu que a escrita de Ana Paula Maia é impiedosa, que não faz nenhuma concessão. Suas palavras surgem como elementos secos, pedaços de osso que vão montando o esqueleto de um monstro bastante familiar, que nada mais é do que a realidade da qual a gente se acostumou a desviar o rosto. "A minha principal inspiração é o mundo real e suas deformidades. Nas artes, a literatura de Campos de Carvalho, a música de Johnny Cash e os filmes de Sergio Leone", ela declarou numa entrevista recente. A Leone poderíamos acrescentar Tarantino e Takeshi Kitano, como lembra a crítica Beatriz Resende.

Na segunda história, é mais evidente o lado político da autora, que se manifesta na investigação crua da condição humana, da imposição do trabalho, da resignação sem saída: "A minha intenção com a literatura é fazer minha política e estabelecer através da ficção uma série de códigos de ética, de conduta e investigação. Acho que a literatura tem algumas funções importantes como o autoconhecimento e a especulação do espírito humano".

"O Trabalho Sujo dos Outros" acompanha o dia a dia de Erasmo Wagner (há alguma ironia na escolha dos nomes), lixeiro, morador da região contínua de miasmas azedos, verdadeiro soldado desconhecido. Seus amigos são Alandelon e Edivardes (não falei?), que trabalham com britadeira no asfalto, tremendo os miolos sob o sol cáustico, e na limpeza da gordura acumulada nas pias e esgotos de bares e restaurantes.

A simbologia é explícita, o que não torna a novela menos impactante. Nas entrelinhas brutais do relato surge um bode com poderes místicos, cujo cheiro contamina cada parágrafo. É, talvez, o "bode" da literatura bem comportada, feita de beletrismos e frases harmônicas, de falta de compromisso com a realidade, de sujeição à acomodação. Daí a marca forte de Ana Paula Maia, que veio para ficar.

"ENTRE RINHAS DE CACHORROS E PORCOS ABATIDOS"
Autora: Ana Paula Maia
Editora: Record
Número de páginas: 160
Preço sugerido: R$ 29

Revista Rolling Stones - agosto de 2009




http://www.rollingstone.com.br/guia/livros/3823/

Site Verbo 21


Tem uma entrevista comigo no site Verbo 21.
Foi feita por Diogo Costa e Gustavo Rios.
Eu acho que foi a melhor entrevista que dei até hoje.
Se vocês se interessarem, eu recomendo a leitura.

Leia a entrevista AQUI

Jornal Zero Hora - 5 de agosto de 2009





http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2605833.xml&template=3898.dwt&edition=12853&section=999

Entrevista Revista Trip

Para ler a entrevista na revista Trip clique AQUI.



Entrevista Verbo 21

Leia AQUI a entrevista no site Verbo 21.

Julho de 2009

Ana Paula Maia: Muito além da alegoria



Depois de um domingo modorrento, à noite, você percebe que as balas de Charles Bronson são intermináveis. E parece que ele gosta do eco que dá, pois não atira com tanta pressa. Espera o “close” alinhar o cano da arma e só depois, com muita serenidade, atira. Como se não bastasse o contrato vitalício na programação de “Domingo Maior”, poderá assistir “Cobra” com a impagável atuação de Stalone. De tão estúpidos dá vontade de rir. As caricaturas são divertidas e ao mesmo tempo trágicas. Filmes “B”? Tudo bem. Ela tem coragem de dizer que gosta deles, com a mesma tranqüilidade que gosta de Edgar Allan Poe ou um clássico de Tarantino, e que cultua Johnny Cash. O universo dela é muito maior que isso. Homens comuns em tramas aparentemente simples, mas, com realismo estranho. Um caos perfeito que vale o ingresso. Mas, só ela poderá dizer por qual razão esses extremos são sagrados em sua literatura.

Continua

Resenha no site Rascunho - julho de 2009


MUITO ESTÁ FORA DA ORDEM
Ana Paula Maia apresenta infernos possíveis na Terra em duas novelas reunidas em Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos

Marcio Renato dos Santos • Curitiba – PR


Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos
Ana Paula Maia
Record
160 págs.

Sem lixeiros, sem limpadores de fossa, sem balconistas, sem trocadores e motoristas de ônibus, sem porteiros, sem faxineiros, sem uma série de seres invisíveis, a roda do mundo não fluiria. Esses sujeitos, mas tidos como objetos sociais, passam despercebidos, anônimos, no máximo entram para estatísticas, apesar de, ora direis, ouvir estrelas, serem humanos. Possivelmente nenhum desses seres que não aparecem, os lixeiros, limpadores de fossa, balconista, trocadores e motoristas de ônibus, porteiros e faxineiros vão ler, por exemplo, esta resenha. Nem mesmo um livro, recém-publicado, que diz respeito, e muito, ao que eles representam e/ou podem representar.

Ana Paula Maia reuniu duas novelas, textos longos, mas nem tanto, porém, intensos, em uma única edição. O título é Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos, com o texto homônimo e também com O trabalho sujo dos outros. As duas experiências ficcionais se completam, podem ser lidas na seqüência, uma é continuidade da outra. O texto é um tanto cru. Não apresenta (intencionalmente) firulas nem exibicionismo de estética. A opção da autora é pela simplicidade. Em ambas as novelas, há personagens em cena, e muitos diálogos. São situações que acontecem em territórios periféricos, que é o que cabe aos seres invisíveis nesse latifúndio.

Amor, por exemplo, não tem espaço nesses enredos de Ana Paula Maia. A luta pela sobrevivência sim tem vez. No primeiro enredo, o que empresta o título ao livro, os personagens desossam porcos, apostam em cães que lutam entre si até a morte, e no pouco tempo livre disponível, os personagens trocam poucas palavras, e um mínimo de afeto. Consomem muito pouco. Comida, principalmente. As rações são mínimas. Eles também, os personagens, matam. Simplesmente, quando é necessário, matam. E jogam os cadáveres para os porcos. Não fica nenhum rastro. Outra maneira de dar fim, total, a um corpo humano é oferecê-lo como comida aos cães.

Irmão não respeita, e trapaceia, irmão em Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos. Um personagem empresta um rim, ou fígado, para a irmã. Depois percebe que precisa do órgão novamente. Não hesitará em rasgar o corpo da irmã em busca do que precisa. Pega um outro órgão por engano. Mas isso acontece. Um poodle ou outro cãozinho irá tirar o corpo da irmã de cena. Para sempre.

Edgar Wilson, Gerson, Pedro e Marinéia são alguns dos seres que se relacionam e chocam nessa novela. Eles assistem a filmes do Braddock. Escutam CD do Sérgio Reis. Bebem cervejas baratas. E elaboram algumas reflexões, a partir da própria experiência: "O problema dos porcos é que eles acham que são gente, como eu e você. Eles te olham e acham que você é um deles ou vice-versa".

Os personagens, da primeira novela desse livro de Ana Paula Maia, são comparados, dentro da problematização literária, a porcos e cães. A voz da autora é firme, alta e muita certeira. Eis o que ela elabora, pela voz da narradora (que no fundo é ela mesma):

Cão de rinha é um cão que não teve escolha. Ele aprendeu desde pequeno o que o seu dono ensinou. Podem ser reconhecidos pelas orelhas curtas ou amputadas e pelas cicatrizes, pontos e lacerações. Não tiveram escolhas. Exatamente como Edgar Wilson, que foi adestrado desde muito pequeno, matando coelhos e rãs. Que carrega algumas cicatrizes pelos braços, pescoço e peito. São tantos riscos e suturas na pele que não se lembra onde conseguiu a metade. Porém a marca da violência e resistência à morte de outros animais nunca tiraram o brilho de seus olhos quando contempla um céu limpo. Dia ou noite, ele passa boa parte do seu tempo olhando para cima. Quem sabe espera que alguma coisa aconteça no céu ou com o céu... talvez queira retalhar algumas nuvens com seu facão.

Apesar de ter sido criado feito cão de rinha, aprendeu que isso é melhor do que ser um porco.

A animalização dos humanos também ganha espaço na segunda novela, O trabalho sujo dos outros. Erasmo Wagner é um lixeiro. "Sua vida não é um lixo. Sua vida é muito lixo. Seu olfato está impregnado com o aroma do podre. Seu cheiro é azedo, suas unhas imundas e sua barba crespa e falhada é suja. Ninguém gosta muito de Erasmo Wagner." Ele trabalha, com ou sem chuva, atrás da caçamba de um caminhão, que pára, o personagem desce, pega o lixo, joga no triturador de lixo, o caminhão volta a seguir e assim é a trajetória dele. Até que acontece uma greve, cuja finalidade é reivindicar melhores condições de vida durante o trabalho, um salário mais digno e essas benfeitorias que todos sabem necessárias, mas que nunca se tornam realidade porque os donos do mundo jamais permitem que a turma do andar de baixo venha a ter uma vida menos ordinária. Texto panfletário? Que nada. A autora apenas joga as cenas, não toma partido. Se houve algum tom de revolta (se é que isso houve?), trata-se de algum efeito que o texto teve, e ainda tem, no resenhista. Nada mais que isso.

Tem lixo demais no mundo, todos sabemos. Em algum momento da narrativa, fala-se, pela voz de um dos personagens, que uma sociedade pode ser analisada pelo lixo que produz. Cada humano, isso também se sugere, é medido pelo lixo que produz diariamente. E as condições de trabalho a que muitos humanos são submetidos é um lixo. Mire o caso do personagem Alandelon, da novela O trabalho sujo dos outros: "Alandelon quebra asfaltos há seis anos. Seu corpo está talhado e rígido, assim como seu cérebro sempre foi: embrutecido. Ele é irmão caçula de Erasmo Wagner". Dentes podres, corpos sujos. Há mais. O personagem Edivardes desentope latrinas, pias, ralos, tanques, esgotos, canos de prédios e conduítes. "Chafurda mais na imundice que porcos. E na imundice produzida pelos outros é que consegue sobreviver dignamente de seu trabalho."

Um grito? Um protesto? Uma careta? Uma expressão "banana pra vocês"? Antes, Ana Paula Maia recria nuances do que pode ser péssimo na realidade e, artista que é, não oferece soluções, apenas aponta com o dedo, artisticamente, para o que todos sabem, conhecem, mas parecem não querer ver.

Ela não faz denúncia, não é dessas bossas.

Ela faz é obra de arte.


TRECHO • O trabalho sujo dos outros

- Lá no trabalho, a gente tinha um chefe que não comia carne de porco.

- Era judeu? - questiona Edivardes.

- Era preto. Tem judeu preto?

- Eu nunca vi.

- Também não.

Erasmo Wagner abre a janela até o final, dando algumas estocadas para o vidro arriar totalmente.

- Era uma coisa espiritual. Ele era bem religioso - diz Erasmo Wagner. - E a carne de porco é uma coisa imunda em algumas religiões.

- É. Isso eu sei.

- Ele sempre dizia: não como carne de porco nem que me paguem. Esse bicho é sujo. Essa carne é suja. Não gosto de porcos.

Erasmo Wagner, com olhar distante, puxa pela sua boa memória.

- Ele sempre repetia um trecho da Bíblia: "Se alguém, na ingestão de carnes imundas, se torna impuro, Deus nele não pode morar".

- Então ele era a morada de Deus, né?

- Ele achava que sim. Mas esse cara sofria do coração. Até que um dia faltou o trabalho, e ele nunca faltava. Aí a gente soube que ele foi internado. Teve um troço no coração e ia fazer uma operação de emergência.

Edivardes freia bruscamente ao passar por um buraco. Sua cabeça bate no teto da Kombi. O bode desequilibra-se e tomba para o lado. Erasmo Wagner estica a mão para trás e alisa a cabeça de Tonhão.

- Ele ficou sendo operado por muitas horas. Aí acordou bem. Se recuperou rápido e depois descobriu que tinham trocado a válvula do coração dele.

Éramos Wagner traga o cigarro até a ponta antes de atirá-lo pela janela.

- E aí? - diz Edivardes.

- Os médicos colocaram uma válvula de porco no coração dele.

Para ler no site:
http://rascunho.rpc.com.br/index.php?ras=secao.php&modelo=2&secao=25&lista=0&subsecao=0&ordem=3077

O Diário - do Norte do Paraná - julho de 2009



Entre porcos abatidos

“Entre rinhas de cachoros e porcos abatidos”, reunião de duas novelas de Ana Paula Maia, narra com crueza o cotidiano daqueles que ‘esperam o mínimo da vida’

Wilame Prado
Especial para O Diário


Quem ler “Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos” (Record, 2009), livro que reúne duas novelas curtas da escritora carioca Ana Paula Maia, 31, provavelmente se perguntará como uma jovem mulher arrumou tanta criatividade para escrever sobre homens cruéis e sujos; sobre sangue e violência; sobre a baixeza humana que ultrapassa atitudes irracionais de bichos; sobre cachorros, porcos, lixo e esgoto.

A primeira das novelas do volume, com título homônimo ao do livro, trata o cotidiano do abatedor de porcos Edgar Wilson e seu amigo Gerson, que sofre de cálculo renal.

A segunda novela, “O trabalho sujo dos outros”, leva ao leitor um pouco da rotina de Erasmo Wagner, lixeiro, Alandelon, operador de britadeira, e Edivardes, desentupidor de latrinas, pias, ralos, tanques, esgotos, canos, colunas de prédios e conduítes.

Algo em comum transita pela vida de quase todos os personagens das novelas. São homens-bestas, como a própria autora os denomina na apresentação do livro, “que trabalham duro, sobrevivem com muito pouco, esperam o mínimo da vida e, em silêncio, carregam seus fardos e o dos outros”.

Mas, será mesmo que “Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos” se resume ao relato de histórias de homens infelizes? Pessoas que realizam algumas das tarefas mais sujas e fedidas que há na sociedade, assim como é matar animais (ou homens), catar lixo e fezes dos outros ou então destruir os próprios tímpanos com o som brutal provocado por uma britadeira ligada o dia todo? Fosse “apenas” isso, a escritora Ana Paula Maia já mereceria aplausos por conseguir descrever tão bem cotidianos, comportamentos e atitudes que não fazem parte de sua rotina diária.

Contudo, o mais louvável na obra talvez esteja um tanto quanto obscurecido pelo sangue dos porcos e de pessoas abatidas por Edgar Wilson, ou então pelo cheiro do lixo que Erasmo Wagner não recolheu das ruas em função da greve dos lixeiros.

O modo como a escritora contou uma bonita história de amizade entre homens toscos é o que realmente comove nas duas novelas. Faz o leitor lembrar que pessoas marginalizadas e embrutecidas pela vida também precisam conviver socialmente com os demais, e juntos tomar um café da manhã na padaria ou – por que não? – abrir porcos, torcer por cachorros em rinhas e desentupir uma caixa de gordura, cheia de filhotes de baratas.

Ademais, quando narra cenas fortes de violência e morte, Ana Paula beira um realismo cruel e trágico. A exemplo do dia em que Edgar Wilson ajuda Gerson a tirar o rim que doara à irmã prostituta no passado.

E isso sem anestesia, apenas com um canivete, já que o abridor de latas e a colher que encontraram no apartamento dela não seriam suficientes para o abate humano.

Esses e outros relatos de violência extrema, o leitor encontrará rotineiramente pelas 160 páginas do livro. E para descrever cenas fortes como essas, Ana Paula utilizou bastante diálogo, parágrafos e orações curtas, tornando o texto aprazível.

Não é preciso consultar dicionário para entender aonde quer chegar a escritora e seus personagens tristes e sujos. Para entender a desgraça humana, poucas palavras bastam.

Quem gosta, por exemplo, dos filmes “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino, “Old Boy”, de Park Chan-wook, ou “Amores brutos”, de Alejandro González Iñárritu, gostará também de ler o não menos valoroso, violento e instigante “Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos”. Um soco bem dado na boca do estômago.


Para Ler no site:
http://www.odiariomaringa.com.br/noticia/222176

Jornal da Paraíba - Julho 2009


Jornal da Paraíba, quarta-feira, 8 de julho de 2009
NOVELAS - Escritora Ana Paula Maia conduz narrativa com mão segura

Submundo do pop

Que a violência tem encharcado as páginas da ficção brasileira não é nenhuma
novidade. Porém,com seu segundo livro, Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos
(Record,2009, 158 págs, R$29), a escritora carioca Ana Paula Maia dá um passo adiante. O livro reúne duas novelas: “Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos”, com cinco capítulos; e “o trabalho sujo dos outros”, em sete capítulos. Os personagens apresentam aquela ética de faroeste. Edgar Wilson e o seu fiel escudeiro Gerson bem que figurariam em qualquer cidade do Velho Oeste. A realidade brutalizada, quase cópia do cotidiano, bem à moda do escritor Rubem Fonseca, ganha, na literatura de Ana Paula Maia, ares de paródia da mesma forma como cineasta Quentin Tarantino reprocessa a violência dos filmes de ação e dá um ar irônico e intertextual à sua filmografia. Tanto para o cineasta como para a escritora há uma raiz de inspiração comum: o cinemão americano, o caldeirão pop. “- Ok, então – diz o policial. - Edgar Wilson e Gerson, obrigado pela atenção de vocês e peça ajuda. Não vou tomar mais o
tempo de vocês, rapazes. Percebo que são gente de bem, que trabalha pesado”. Sentiu um tom meio que de roteiro de cinema? É intencional.
Ana Paula, mestre em ironias, revela o quanto da cultura americana está entrada no cotidiano. Quando precisam chamar a emergência para socorrer uma vítima ninguém sabe para qual número ligar, mas todos lembram-se do “911” americano. Mas não pensem que os diálogos com cinema comprometem a trama. Ao contrário. Ana Paula Maia é mão segura na narrativa, sabe dosar bem tempo, ambiente, enredo, sobretudo na segunda história, a do lixeiro Erasmo Wagner. A escritora sabe desenvolver suas metáforas e, seu ponto alto, criar universos e fazer com que o leitor partilhe de seus estranhos e envolventes submundos.

Entrevista Rádio Eldorado - Junho

Entrevista concedida a Vanessa di Sevo.

Para ouvir, clique AQUI.