Com o crescimento industrial e tecnológico que já está ocorrendo, há
necessidade de mão de obra adequada para o mercado de trabalho e
pesquisas científicas. Claro que houve mudanças. Hoje, por exemplo, é
muito mais fácil conseguir se formar do que há uma década, porém, qual a qualidade desse ensino?
Para começar, analisaremos o ensino apresentado para as nossas crianças
e adolescentes. Em 2009, segundo o IBGE ( Institudo Brasileiro de
Geografia e Estatística), cerca de 86,9% dos estudantes com 4 anos ou
mais cursam o ensino básico na rede pública, isso representa cerca de
quase 31 milhões de pessoas, logo, mais de 3/4 dos estudantes
brasileiros dependem diretamente do ensino público.
Sabe-se que a rede pública de ensino enfrenta diversos problemas, entre
eles, má infra-estrutura, desvalorização salarial, dificuldade
burocrática em conseguir recursos financeiros para investimento nos
colégios e, até mesmo, desrespeito e insegurança nas escolas. Cada
dificuldade dessa afeta de forma negativa a qualidade do ensino desses
estudantes.
Particularmente, sempre estudei e estudo na rede pública, embora ainda
nova, sempre percebi que o ensino cobrado e apresentado em sala de aula
era pouco quando comparado a minha capacidade de aprender. Tive aulas
com professores ótimos que muito me ajudaram a passar no vestibular,
porém, tive aula também com professores desmotivados que não viam
necessidade de se atualizar em relação a própria matéria e cobrar dos
alunos que aprendessem. Como estudante de uma rede pública da periferia
do Distrito Federal, ouvi de colegas de classe, durante o meu ensino
médio, que não havia necessidade nenhuma de estudar, pois, quando se
formassem, iriam trabalhar, e pouco importava se eles sabiam resolver
uma equação do segundo grau, ou não. Infelizmente, não são todos os
estudantes que correm atrás do ensino de qualidade por conta própria, a
maioria se acomoda e até demonstram satisfação quando não há obrigação
de estudar para conseguir o diploma vendo supletivos como vantajosos,
formas de conseguir um diploma em pouco tempo, sem necessidade de muito
esforço.
Quando analisamos os dados do ensino superior brasileiro, percebemos
uma mudança drástica. A grande maioria, cerca de 76,3% dos estudantes do
ensino superior, segundo IBGE-2009, está cursando em faculdades
particulares. Embora o número de formandos no ensino superior tenha
aumentado muito, a qualidade, em média, de ensino ainda está baixa. A
poucas faculdades que priorizam a qualidade, e a maioria dessas,
possuem preços altos. Para a maioria dos estudantes que não conseguem
entrar na universidade pública e não possuem renda suficiente para pagar
uma boa faculdade particular, acabam optando por cursar o ensino
superior em uma faculdade mais barata, porém, com ensino mais fraco. O
meu irmão que também foi de colégios públicos, não teve o mesmo empenho
em estudar no colegial. Como a maioria dos meus colegas, sempre pensou
que não haveria consequências sérias em não estudar quando criança, e ao
chegar ao ensino médio, constatou uma grande dificuldade em acompanhar
ensino apresentado devido a falta de conhecimentos básicos do ensino
fundamental. Por fim, com atraso, ele concluiu o ensino médio e entrou
em uma faculdade particular que cabia no bolso dele. Nesse semestre ele
irá formar, porém, já declarou que não irá trabalhar na área porque não
se sente preparado. Disse-me, em uma conversa informal, que pouco
aprendeu na faculdade e não domina o suficiente para buscar emprego na
área dele, de tecnologia. A faculdade em questão, embora apresente
mensalidades baixas, foi obrigada pelo MEC à não abrir mais vagas por
ter apresentado média inferior a 2 pontos no exame ICG ( Índice Geral de
Curso), por três anos consecutivos. O complicado é que faculdades com
baixa qualidade e baixos preços são comuns, e casos semelhantes ao dele
também, o que faz aumentar a quantidade de formados no país, porém,
diminuir a qualidade deles.
O impacto negativo desse ensino no país afeta diversas áreas. É
evidente que há inúmeras pessoas que fazem da oportunidade de estudar em
uma faculdade, mesmo que esta não seja muito qualificada, uma ótima
qualificação para o mercado de trabalho, mas infelizmente, esses
estudantes são a minoria.
Com todos esses fatos, o que me preocupa é a ausência cada vez maior de
mão de obra qualificada para empregos ligados especialmente nas áreas
tecnológicas. Um país com potencial para crescer que já está se
desenvolvendo, precisa contratar estrangeiros para trabalhar no país,
mesmo com tantos brasileiros precisando de empregos. Um país é formado
pela massa pensante, pelos trabalhadores, pelos grandes grupos sociais.
Esta é a base do Brasil. Não há como sustentar um grande país sem
investimentos na sua base. O que me entristece é que essa situação está
na frente de todos, não precisa procurar muito para perceber isso,
porém, ainda não vejo a preocupação do país como um todo, governo e
população, resultando em atitudes efetivas. Particularmente, torço muito
por esse país que possui a maioria da sua população composta por
pessoas humildes, alegres e trabalhadoras e confio no potencial do
mesmo, mas acredito que não é suficiente esperar que o Brasil seja um país do futuro, é preciso fazer o Brasil ser um país do futuro.
- Thai Braga
fontes: Dados do IBGE