Panorama de Artes Visuais em Joinville
Mostra do Sesc valoriza artistas catarinenses do Projeto Pretexto
Doze artistas catarinenses participam do “Panorama Sesc de Artes Visuais”, exposição coletiva inédita de artes visuais que abre na próxima quinta-feira (17/12), na Galeria do Sesc, em Joinville. Sob o tema “Rota imaginária”, os artistas foram convidados para representar suas cidades na mostra, que tem como finalidade reunir alguns dos melhores que já participaram do projeto Pretexto, iniciativa do Sesc que ocorre em Santa Catarina desde 2004.
O Pretexto é uma iniciativa que valoriza o contato entre artistas e curadores, bem como a experimentação em arte contemporânea. Desde sua criação, era intenção da instituição organizar um Panorama com artistas de diferentes edições e cidades do Pretexto. O Panorama de Joinville é a segunda iniciativa nesse sentido. A outra foi em Jaraguá do Sul, no mês de outubro, com outros artistas e obras.
Participam da mostra em Joinville os artistas Alena Marmo (Joinville), Beto Werner (Lages), Chan (Jaraguá do Sul), Cláudia Regina Telles (Itajaí), Clóvis Truppel (Blumenau), Daniele Zacarão (Criciúma), Flávia Duzzo (Florianópolis), Janor Vasconcelos (Criciúma), Ricardo Ledoux (Joinville), Ricardo Kolb (Joinville), Rudi Scaranto Dazzi (Concórdia) e Sid Geremia (Chapecó).
Para organizar a mostra, o Sesc convidou Charles Narloch, um dos assessores do Pretexto, para assumir a curadoria do Panorama. Narloch visitou algumas das unidades do Sesc e, com o conhecimento da produção dos artistas, fez a seleção. “Quando iniciamos o processo, não tínhamos idéia do que seria a mostra. Só definimos uma linha curatorial após visitar algumas cidades-pólo e conhecer um pouco mais da produção dos artistas”. O curador explica que toda curadoria é apenas um recorte, mas que outras boas seleções são possíveis.
A escolha do conceito da exposição, “Rota imaginária”, foi motivada pelo fato de que muitos artistas fazem uso do desenho em seus trabalhos, reproduzindo o real ou o imaginário, de modo convencional ou não, ou seja, independentemente do lápis e do papel. Narloch explica que o que define um desenho é a linha e não a forma como se faz uso dela. Assim, há trabalhos que discutem o desenho em vídeo, som, palavra e até como volume, em composições tridimensionais.
Outro estímulo à abordagem do desenho no Panorama foi o fato de que três exposições coletivas em Joinville, ao mesmo tempo, abordarão questões semelhantes, porém com artistas diferentes: a 39ª Coletiva de Artistas de Joinville (com curadoria de Edith Derdyk) na Cidadela Cultural Antarctica, a mostra “Risco”, com acervo do Museu de Arte (curadoria tripla de Alena Marmo, Charles Narloch e Tirotti, que abre no dia 18/12) e o Panorama, na Galeria do Sesc. Segundo Charles, não se trata de uma coincidência, mas de algo programado para permitir a realização de um grande ciclo de exposições na cidade, que permita pensar o papel do desenho na contemporaneidade e suas interações híbridas com outras poéticas das artes visuais.
No texto de apresentação do Panorama, o curador faz uso de um poema de Paulo Leminski, em que o poeta faz uma relação entre a linha e a vida. Para o curador, tudo e nada cabem numa linha. “A linha que tradicionalmente risca o papel, também desenha quando ganha volume, faz a mimese da pintura, invade a parede ou transmuta-se em sinal de vídeo. O som que se reproduz é a leitura do desenho da partitura. A palavra escrita, o mais exímio dos desenhos criados”, conclui.
Todos os artistas estarão presentes na abertura e vão participar de um bate-papo com o público presente, às 19h. Em seguida, às 20h, haverá o coquetel de abertura.
Serviço: O quê: Panorama Sesc de Artes Visuais - “Rota imaginária”. Quando: Bate-papo com artistas e curador: 17/12 (quinta-feira), 19h. Abertura: 17/12, 20h. Visitação: Até 22/02/2010, de terça a domingo, das 9 às 20h; em janeiro e fevereiro, das 9 às 18h. Onde: Galeria de Arte do Sesc de Joinville, Rua Itaiópolis, 470, bairro América, Joinville (SC), fone: (47) 3441-3319. Quanto: Gratuito.
Fontes:
Charles Narloch, curador - (47) 8402-6294
Alena Marmo, artista - (47) 9912-9606
Flávia Duzzo, artista - (48) 9921-9100
Ricardo Kolb, artista - (47) 8859-5330
Sid Geremia, artista - (49) 9992-3355
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Texto de apresentação do curador
“Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.”
Paulo Leminski
Esta mostra propõe um panorama sobre o desenho contemporâneo e suas interações com outras poéticas das artes visuais. A linha que tradicionalmente risca o papel, também desenha quando ganha volume, faz a mimese da pintura, invade a parede ou transmuta-se em sinal de vídeo. O som que se reproduz é a leitura do desenho da partitura. A palavra escrita, o mais exímio dos desenhos criados.
O fio é a matéria, o poema que se permite ser sorvido, ponto por ponto, na rota que se desenha da boca ao estômago, dos olhos ao imaginário. Tudo e nada se contemplam numa única linha. No risco, a síntese. Na curva, um átimo transposto. Numa linha, organizo meu pensar. Noutra, junto os cacos de meus devaneios.
O desenho é a reverberação das ondas, o ritmo do coração. O horizonte, os trópicos, o rastro do avião. O risco do dedo sobre o pó. O caminho viscoso da lesma. O rio e o raio. O movimento e a rota. O tempo e o termômetro. No feixe de luz, a relatividade. Na repetição, a monotonia ideal. Na morte, o fim da linha. No absurdo, o fim da picada.
Todo desenho produz ou reproduz, não importa se é real ou imaginário. O desenho que se desdenha traduz: é o caminho, a rota e o risco. Passagem de corredor. Breve utopia planejada? Depende apenas de quem planeja ou contempla...
Charles Narloch, curador.