quarta-feira, 8 de junho de 2016
da liberdade
Constelação, Sónia Balacó
por vezes o corpo pede à cabeça, essa máquina dominadora da razão, para abrandar, para quebrar
a sofreguidão desenfreada com que respiro a vida.
mas o corpo, por vezes exausto, ainda assim não consegue sucumbir por completo ao ócio e fazer dele um reino absoluto.
terei tempo para parar, quando um dia for prisioneira no meu próprio corpo e sucumbir à deterioração dos sentidos.
a liberdade não assoma à janela e se senta no sofá da sala, de braços cruzados.
a liberdade confunde-se no sangue que circula nas veias e insurge-se contra o delírio da resignação e do conformismo e eu tenho em mim essa liberdade autêntica, que se renova ciclicamente.
já fiz muito, mas ainda farei mais, porque já se sabe,como a luta não se faz da espera, terei sempre de ir eu.
sábado, 16 de abril de 2016
não é a forma, é o conteúdo
ainda sobre casas.
há dias fui ver uma outra casa estupidamente bonita, daquelas onde se entra, cai o queixo e andamos os dias que se seguem à procura dele.
mas depois eu penso: então e se tirarmos à casa, a decoração estupidamente fantástica que me embriaga as medidas do regalo à vista, e a puséssemos a nu, ou então com uma indumentária fria, feia, daquelas que repelem...? continuaria ainda assim a ser fantástica, essa mesma casa ?
a resposta pode ser sim e não.
porque há espaços que rogam a clemência do trato e do reparo e é uma pena não lhes ser dado o merecido valor, porque a arquitectura só por si é bela; ou porque há espaços que ninguém daria nada por eles, mas basta vesti-los bem, e toda a história muda de figura.
eu já fui protagonista nestes dois reversos da mesma história e aquilo que eu concluo, é basicamente isto: o conteúdo, senhores. É tudo uma questão de conteúdo. E isto aplica-se basicamente a tudo, universalmente e transversalmente falando.
a capacidade de atribuir uma personalidade ou alma, a um espaço é, a meu ver, uma arte, mais sensível do que aquilo que se possa pensar.
já o fiz algumas vezes na vida e posso dizer que é das coisas que me dá mais prazer, apesar de toda a envergadura chata que uma mudança de casa implica. Faz-me francamente feliz abrir a porta da minha casa a alguém que me conheça minimamente, ao ponto de me dizer que a minha casa é a minha cara .
é revelador de que de facto os conteúdos que me revelam, andam em concordância.
e eu, em concordância com eles.
*seguem-se pequenos detalhes da minha casa, detalhes esses que farão sempre parte do conteúdo do espaço que habito - seja este, ou sejam outros.
quarta-feira, 6 de abril de 2016
estado puro
podia ter saído de um daqueles blogues fantásticos de decoração, mas não.
e felizmente para mim e para o regalo dos meus olhos, digo que esta fotografia, tal como as outras que se seguem, fui eu que as tirei, testemunhando assim, na primeira pessoa, o deleite que o universo da arquitectura e da decoração, me dá.
como se isso não fosse suficiente, trata-se da nova morada de uma grande amiga, e como amiga que sou, testemunhei-lhe com imenso prazer, a felicidade que lhe vestia o rosto.
gosto de ver pessoas felizes.
gosto de ver as pessoas de quem gosto, felizes.
gosto de ver pessoas que merecem, felizes.
e as pessoas têm é que batalhar pela felicidade que querem ter, com todo o trabalho, cansaço, chatices e coisas que tais que isso possa implicar.
mais do que uma tarde entre amigas, foi o testemunho real e sincero, da felicidade em estado puro.
quanto à casa, é absurdamente bonita e nada mais há a dizer.
e por último, o tecto da cozinha...
quarta-feira, 9 de março de 2016
a virtude
ainda a propósito do dia de ontem, que foi aquele em que se celebrou o dia da mulher, tenho a dizer que não há celebrações pontuais que possam fazer justiça à condição feminina.
como disse Simone de Beauvoir, não se nasce mulher - a menina, a rapariga, a mulher, torna-se mulher. Aqui está implícito o sentido lato e imensamente abrangente do estatuto daquela capaz de trazer a vida ao mundo e, enaltecendo de forma íntegra o seu potencial e qualidades, basicamente só não consegue aquilo por que não luta.
desculpem-me homens, mas é mesmo assim.
nasci no feminino e torno-me cada vez mais mulher, como se sorvesse avidamente desse orgulho pouco dissimulado, a cada dia que passa.
abandono em parcelas infinitesimais o toque pueril da miúda que fui, tendo por pilar jamais perdê-la de vista.
ser mulher não se resume a passar um dia inteiro nas compras, cabeleireiros e manicures, porque a virtude não está nos apetrechos que adornam, mas na maturidade que faz crescer e fazer das adversidades, não mais que meras questões a serem resolvidas.
é com orgulho, neste ponto em que me encontro: na fase em que nada se vislumbra muito facilitado.
posto isto e acrescentando a dose razoável de necessária resiliência, resta-me dizer o seguinte:
tenham dias em grande, mulheres.
E caso não os tenham, lutem por eles.
como disse Simone de Beauvoir, não se nasce mulher - a menina, a rapariga, a mulher, torna-se mulher. Aqui está implícito o sentido lato e imensamente abrangente do estatuto daquela capaz de trazer a vida ao mundo e, enaltecendo de forma íntegra o seu potencial e qualidades, basicamente só não consegue aquilo por que não luta.
desculpem-me homens, mas é mesmo assim.
nasci no feminino e torno-me cada vez mais mulher, como se sorvesse avidamente desse orgulho pouco dissimulado, a cada dia que passa.
abandono em parcelas infinitesimais o toque pueril da miúda que fui, tendo por pilar jamais perdê-la de vista.
ser mulher não se resume a passar um dia inteiro nas compras, cabeleireiros e manicures, porque a virtude não está nos apetrechos que adornam, mas na maturidade que faz crescer e fazer das adversidades, não mais que meras questões a serem resolvidas.
é com orgulho, neste ponto em que me encontro: na fase em que nada se vislumbra muito facilitado.
posto isto e acrescentando a dose razoável de necessária resiliência, resta-me dizer o seguinte:
tenham dias em grande, mulheres.
E caso não os tenham, lutem por eles.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
genial no mínimo
é apaixonante e muitíssimo bem escrito.
foi assim que eu respondi ao rapaz na caixa da loja, enquanto ele registava a minha compra e simultaneamente me perguntava o porquê deste livro, desta autora.
são quatro livros, na realidade.
são duas amigas, cujo enredo as acompanha ao longo da vida.
e que vidas. e que enredo.
daí quatro livros não ser de todo exagerado.
é uma saga daquelas à grande e à italiana e o efeito que surte em mim, é exactamente o efeito que um amante de leitura pretende: pensar no livro, mesmo quando não o está a ler.
estou a acabar o segundo e já estou a pensar no terceiro e se o tempo mo permitisse, com toda a certeza já teria lido todos.
portanto, nos próximos tempos a minha mais certeira recomendação no que a leitura diz respeito, será sem dúvida Elena Ferrante e a saga engenhosamente escrita da "Amiga Genial".
e que genialidade.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
ideologias
"foi tudo um equívoco:
acreditava que queria ser poeta, quando no fundo o que eu queria era ser poema."
Jaime Gil de Biedma
Etiquetas:
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o mais belo,
poesia
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
se se funde na pele, é porque vale a pena
não sou apologista de coisas irreversíveis se não valerem de facto a pena, se bem que hoje em dia, das coisas irreversíveis já são poucas as que rezam história.
sou apaixonadamente firme nas decisões que tomo na vida, mesma naquelas que por vezes me dão conta da sua vulnerabilidade.
sou de palavras, das escritas em particular.
sou de fé, sou de alento.
sou de sonhos e de desejo.
um dia saio à rua e faço uma tatuagem: ontem foi o dia.
doeu, mas valeu a pena.
mas vendo bem as coisas, tudo o que vale a pena tem a sua quota parte de dor.
dum spiro, spero = >> as long as I breathe, I hope.
e se me fica impregnado na pele, é porque já valeu a pena.
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