Indígenas, ribeirinh@s, quilombolas, movimentos sociais, jovens ativistas pelo clima, cientistas se reuniram na cidade de Altamira, no Pará, em novembro de 2019, para firmar um compromisso em defesa da Amazônia e do planeta. O evento “Amazônia Centro do Mundo” promoveu debates, ações culturais e rodas de conversa sobre a crise climática, grandes obras de infraestrutura, queimadas ilegais e avanço do desmatamento.
Aqui você vai encontrar vídeos-cartas dos povos da floresta para os povos do Brasil e outros informativos que podem ajudar a esclarecer a emergência climática e por que a Amazônia, neste momento, é o Centro do Mundo.
Encontro com os povos da floresta (vídeo realizado em 4 de novembro de 2021, para o lançamento do livro “Banzeiro òkòtó - Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo”, da jornalista Eliane Brum):
Artigos da jornalista
Eliane Brum, El País:
O AI-5 já se instala na Amazônia (e nas periferias urbanas)
Amazônia Centro do Mundo
Amazonia, centro del mundo
Artigo de
Clarinha Glock, jornal Extra Classe:
Sem a Amazônia não há controle do superaquecimento global
Leitura de trecho do Manifesto Amazônia Centro do Mundo:
Mensagem de Maria do Socorro, quilombola:
Mensagem de integrantes do grupo de rap Conexão Periferia, que cantam sobre a realidade da Amazônia, especialmente da região do Xingu:
Mensagem de Ana, do Engajamundo:
Mensagem de Matsipaya Waura Txucarramãe, neto de Raoni, líder indígena reconhecido mundialmente pela defesa dos direitos e terras dos índios. ‘Matsi’, como é conhecido, vive na reserva Kayapó, no Parque do Xingu:
Mensagem de Juma e Lorena para quem vive no Sul do Brasil:
Mensagem de Ney Xipaya, integrante da Rede de Cantinas, projeto que une ribeirinhos, indígenas, extrativistas para a venda de produtos com o selo Vem do Xingu, certificado de que são originários de áreas não desmatadas. (Assista também ao vídeo do Instituto Socioambiental reproduzido mais abaixo neste mesmo post):
Mensagem das mulheres que integram a Rede de Cantinas (e que integram o primeiro Conselho Fiscal formado só por mulheres):
Mensagem da cantineira Raimunda Rodrigues, da Reserva Extrativista do Rio Iriri:
Vídeo do programa Córtex: Bruno Torturra entrevista Eliane Brum
Vídeo do Instituto Socioambiental - Amazônia, a floresta que pulsa em nós | #AmazôniaCentroDoMundo
Vídeo do The Guardian:
Vídeos gravados durante o evento por Clarissa Morgenroth:
Juma Xipaya, liderança indígena, na mesa de abertura. O vídeo mostra um dos momentos em que ruralistas e grileiros, que desde antes do evento ameaçaram os organizadores, tentaram tumultuar o encontro:
Mirim Ju Yan Guarany fala aos Jovens do Mundo Velho. Durante o encontro, integrantes da ONG Engajamundo promoveram uma roda de conversa entre jovens dos movimentos Extinction Rebellion e Fridays for the Future, que vieram da Inglaterra, Bélgica e Colômbia especialmente para o evento, e jovens indígenas, quilombolas, universitários brasileiros. Neste vídeo, Mirim Ju Yan Guarany manda uma mensagem para quem veio de outros países:
A mensagem da liderança Gamela na mesa de abertura do evento em Altamira:
VEJA TAMBÉM, sobre este tema!
Mini-documentário "Xingu, histórias dos produtos da floresta", do Instituto Socioambiental: apresenta algumas das histórias de cadeias produtivas florestais beneficiadas pelo Fundo Amazônia, por meio do projeto “Sociobiodiversidade Produtiva no Xingu”, desenvolvido pelo ISA e 12 parceiros na Bacia do Xingu, no Mato Grosso e no Pará, entre 2014 e 2016. Conheça a Rede de Sementes do Xingu, o óleo de pequi do povo Kisêdjê, a fábrica de polpas Araguaia e as castanhas, óleos e borracha da Terra do Meio, produtos da floresta que levam consigo as histórias dos povos que nela e dela vivem de forma integrada e sustentável, e que fortalecem um duplo território: o da Amazônia e o da identidade de cada um de seus moradores.
Manifesto da Amazônia Centro do Mundo
"Na época da emergência climática, a Amazônia é o centro do mundo. Sem manter a maior floresta tropical do planeta viva, não há como controlar o superaquecimento global. Ao transpirar, a floresta lança 20 trilhões de litros de água na atmosfera a cada 24 horas. A floresta cria rios voadores sobre as nossas cabeças maiores do que o Amazonas. O suor da floresta salva o planeta todos os dias. Mas esta floresta está sendo destruída aceleradamente pelo desenvolvimento predatório e corre o risco de alcançar o ponto de não retorno em alguns anos. Diante da catástrofe em curso, nós, movimentos sociais e sociedade organizada, povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, cientistas e ativistas climáticos do Brasil e do Mundo vencemos muros e barreiras para unirmos nossas vozes em torno de um objetivo comum: salvar a floresta e lutar contra a extinção das vidas no planeta.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Diante da emergência climática, estamos todos no mesmo barco?
E declaramos:
Não.
A maioria tem um barco de papel, uma minoria um transatlântico. Aqueles que provocaram a crise climática serão os menos afetados por ela. Aqueles e aquelas que não a provocaram já estão sofrendo e são os que mais sofrerão os impactos e também os que sofrerão primeiro. Já sofrem. Deslocaremos o que é centro e o que é periferia, unindo as comunidades urbanas às comunidades da floresta, para que assumam o lugar ao qual pertencem: o centro. Combateremos o apartheid climático e o racismo ambiental que tenta cercar o planeta com muros para os mais afetados não poderem entrar. Não permitiremos que este planeta se torne um condomínio. Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Que soberania é esta em que uma empresa, a Norte Energia S.A., controla a água do rio Xingu para mover a Usina Hidrelétrica de Belo Monte? E, assim, tem poder de vida e morte sobres povos e ecossistemas inteiros? E declaramos: Isso não é soberania, isso é ecocídio. E é também genocídio. Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Que nacionalismo é este que pretende entregar a Volta Grande do Xingu para uma mineradora canadense, a Belo Sun, explorar ouro e depois deixar como legado um cemitério tóxico para o Brasil?
E declaramos:
Isso não é nacionalismo, é submissão. E é crime. Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Que governo é este que suspendeu as demarcações das terras indígenas, públicas, e pretende abrir as terras já demarcadas para exploração e lucros privados?
E declaramos:
Este não é um governo para todos os brasileiros, mas uma ação entre amigos. Exigimos que o governo demarque as terras indígenas, quilombolas e ribeirinhas de acordo com a constituição. Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Que desenvolvimento para a Amazônia é este, que reduz milhões de espécies a soja, boi, minério, especulação de terras e obras de destruição?
E declaramos:
Isso não é desenvolvimento. É predação. Lucro de poucos à custa da morte de muitos. Em vez de desenvolvimento, queremos envolvimento. Queremos Consulta Livre prévia e Informada. Queremos salvaguardas para os povos nas negociações climáticas. É a floresta e a economia da floresta que precisam crescer. Agricultores familiares e produtores rurais que respeitam os limites legais e estão buscando modelos de múltiplas espécies para um envolvimento ajustado a tempos de crise climática, devem ser valorizados. Reflorestemos as áreas destruídas. Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Como a supremacia branca e patriarcal determinou a violência contra a Amazônia e contra as mulheres?
E declaramos:
Parte das elites políticas e econômicas do Brasil enxergam a floresta da mesma forma que enxergam as mulheres: como um corpo para violação e exploração. As mulheres lideram as lutas na Amazônia e, como a floresta, são também, junto com a juventude negra e pobre, as que mais sofrem violência. Precisamos barrar a violação dos corpos. Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Quem são vocês, os que cortam as árvores e as vidas, os que envenenam os rios e as matas com agrotóxicos, mercúrio e cianeto, os que secam as águas, osque arrancam as crianças da florestas e as jogam nas periferias urbanas destituídas de tudo e também de memória?
E declaramos:
Vocês veem a floresta e os rios como mercadoria, como recursos a serem explorados. Vocês veem os humanos e os não humanos como descartáveis. Vocês são os que tiveram a alma asfixiada por concreto. Vocês são os que não amam nem mesmo os próprios filhos porque não se importam se eles não tiverem futuro. Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Quem somos nós?
Nós somos aqueles e aquelas que não possuem a floresta. Nós somos floresta. Nós somos aqueles e aquelas que não destruímos a natureza. Nós somos natureza. Nós somos aqueles e aquelas que temos várias cores e formas e línguas e sexualidades e cosmologias e culturas. Somos também aqueles e aquelas que fazemos das diferenças a nossa força. Os que respeitam todas as gentes, as humanas e as não humanas. Aqueles e aquelas que querem viver e fazer viver. Somos também aqueles e aquelas que sabem que não há os de dentro e os de fora. Somos todos e todas de dentro na única casa que temos. Nós somos aqueles e aquelas que queremos garantir um futuro até mesmo para os filhos daquele que tentam nos destruir.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– Qual é a nossa aliança?
E declaramos:
Nossa aliança é pela descolonização de almas e mentes. Unidos no centro do mundo, somaremos o conhecimento dos intelectuais da floresta ao dos intelectuais da universidade; articularemos a experiência dos mais velhos à potência dos mais jovens; faremos o diálogo das identidades; respeitaremos todos os corpos. Sonhamos uma educação com a comunidade e não para a comunidade. Sabemos que só existirá floresta enquanto existirem os povos da floresta. Estaremos juntos, como múltiplos de um, nas lutas de todas as Amazônias. Onde a floresta sangrar, nós estaremos. Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
– O que queremos?
E declaramos:
Queremos amazonizar o mundo e amazonizar a nós mesmos. Liderados pelos povos da floresta, queremos refundar o que chamamos de humano e voltar a imaginar um futuro onde possamos viver."