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segunda-feira, agosto 12, 2013

Até mesmo um mentecapto como o Nicolau Santos, director-adjunto do semanário Expresso e co-apresentador de Expresso da Meia-Noite na SIC Notícias, já percebeu que os políticos são uma máfia a soldo de uma Banca assassina




O caso BPN continua a queimar as mãos de muita gente. Tanto que, quando alguém que esteve ligado ao banco vai para um lugar público e tem de divulgar o seu curriculum, elimina cuidadosamente essa atividade do seu passado.

Foi isto que fez Rui Machete, foi isto que fez Franquelim Alves, passando aos jornalistas um atestado de incompetência e aos cidadãos um atestado de estupidez.

Não está em causa a compra ou venda de ações de uma instituição bancária. Mas está em causa saber 1) se toda a gente podia comprar ações do BPN; 2) se toda a gente que comprou as viu recompradas pelo dobro ou pelo triplo do seu valor original; 3) se esses ganhos assentavam na atividade normal do banco.

Ora para quem não se lembra, o BPN não estava cotado em bolsa. Por isso, só comprava ações do banco quem a administração convidava para tal. Foi assim com Cavaco Silva, que comprou e vendeu ações do BPN tratando diretamente do assunto com o presidente da instituição, Oliveira Costa.

Depois, a compra de ações de ações pelo banco por valores muito superiores aos que as tinha vendido não resultava do livre funcionamento do mercado - mas de uma decisão da administração e, em particular, de Oliveira Costa.

Quer isto dizer que o presidente do BPN beneficiou quem quis - e beneficiou seguramente os seus amigos. Não por acaso, todos (ou a esmagadora maioria) os beneficiados com a venda de ações altamente valorizadas ou com vultuosos empréstimos não reembolsados são membros ou simpatizantes do PSD. E suponho que não é preciso dizer os nomes.

Por isso, se tudo fosse tão normal e transparente, Rui Machete não teria eliminado do seu curriculum as funções que ocupou no BPN. Por isso, também não devia ter dito que isto revelava a podridão da sociedade portuguesa.

É que se este caso revela alguma coisa é a podridão com que altas figuras do PSD ligadas ao Estado ganharam muito dinheiro com um banco fantasma que era liderado por uma grupo de malfeitores.

E é esse dinheiro fácil que está agora a ser pago, com língua de palmo, por todos os contribuintes. Mais de 4 mil milhões de euros dos nossos impostos servem para pagar as mais-valias e os empréstimos não reembolsados que o BPN concedeu.

Por isso, seria de muito bom tom que todos os que lucraram com o BPN se calassem e que não nos tentassem convencer que tudo foi limpo e transparente no dinheiro que ganharam. É que, como de costume, os senhores privatizaram os lucros. E deixaram para os contribuintes a socialização dos imensos prejuízos. Haja vergonha!

segunda-feira, julho 29, 2013

Expresso: Há reclusos que preferem continuar a cumprir pena do que sair em liberdade condicional. Motivo? Não têm emprego cá fora.





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Ouve-se muitas vezes dizer que "a violência gera violência", que "a violência nunca consegue nada" ou que "se se usar a violência para nos defendermos daqueles que nos agridem, ficamos ao nível deles". Todas estas afirmações baseiam-se na noção errada de que toda a violência é igual. Nada mais falso:

A violência pode funcionar tanto para subjugar como para libertar


MailOnline: Crianças estão a ser abandonadas nas ruas gregas
pelas famílias cuja pobreza já não lhes permite tomar conta delas.


Portugal, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda e um sem número de outros países por esse globo fora estão, sob a forma de uma nebulosa «Crise Financeira» surgida não se percebe bem de onde, a ser alvo de um genocídio financeiro, económico e humanitário a uma escala inaudita.

Ouvimos, diariamente, falar «da dívida», dos sacrifícios «para pagar a dívida», da austeridade «para pagar a dívida», do empobrecimento, do corte de direitos sociais, da precariedade laboral, da privatização de empresas estratégicas, da asfixia do investimento público - tudo «para pagar a dívida». Contudo, sabemos o que é isto da dívida? Quanto dinheiro devemos? A quem é que devemos? Porque pedimos tanto dinheiro emprestado? Em que é que ele foi gasto? É realmente legítimo que os cidadãos sejam compelidos ao pagamento de uma dívida sobre a qual nada sabem? É possível que esta dívida não seja nossa? Será uma dívida apenas para salvar um «sistema financeiro», "too big to fail", cujos lucros parecem terem-se evaporado misteriosamente de um dia para o outro? Ou não será a «dívida soberana» simplesmente uma gigantesca fraude levada a cabo por uma todo-poderosa Máfia Financeira para rapinar Estados, Empresas e Famílias, como aconteceu em 1929?

Esta «Crise Financeira» tem "forçado" os governos, através dos contribuintes, a dar, literalmente de mão beijada, biliões a uma Banca que, não obstante os lucros obscenos que tem vindo a apresentar ano após ano, se viu súbita e incompreensivelmente "descapitalizada". Este roubo descomunal constitui um assombroso acto de violência perpetrado por uma Máfia Financeira contra as populações:

- Obrigar uma enorme percentagem de jovens a viver eternamente na precariedade, impossibilitando-os de ter uma vida própria, de formar uma família e levando alguns ao suicídio, é um crime de extrema violência.

- Provocar o despedimento de indivíduos em massa quando o desemprego é maciço e a maior parte já não tem hipótese de ser novamente reabsorvido, é um crime de extrema violência.

- Despejar famílias inteiras de casas cujas prestações já não podem pagar e atirá-las para a rua, é um crime de extrema violência.

- Retirar dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde, conduzindo ao sofrimento e à morte de doentes e idosos sem dinheiro, é um crime de extrema violência.

- Subtrair o apoio aos desempregados e aos pensionistas sujeitando-os consumadamente à miséria e à fome, é um crime de extrema violência.


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Opiniões


Fernando Madrinha - Jornal Expresso de 1/9/2007:

[...] "Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais." [...]



Paulo Morais, professor universitário - Correio da Manhã – 19/6/2012

[...] "Estas situações de favorecimento ao sector financeiro só são possíveis porque os banqueiros dominam a vida política em Portugal. É da banca privada que saem muitos dos destacados políticos, ministros e deputados. E é também nos bancos que se asilam muitos ex--políticos." [...]

[...] "Com estas artimanhas, os banqueiros dominam a vida política, garantem cumplicidade de governos, neutralizam a regulação. Têm o caminho livre para sugar os parcos recursos que restam. Já não são banqueiros, parecem gangsters, ou seja, banksters."



Sheldon Emry – Escritor e sacerdote norte-americano:

"Quando se começa a estudar o nosso sistema monetário, apercebemo-nos rapidamente que estes políticos não são agentes do povo mas sim agentes dos banqueiros, para quem fazem planos para colocar as pessoas ainda mais endividadas."

"Os nossos dois principais partidos tornaram-se servos dos banqueiros, os vários departamentos do governo tornaram-se as suas agências de despesas, e o Serviço da Receita Federal (IRS) é a sua agência de recolha de dinheiro."



Carroll Quigley - professor na Universidade de Georgetown e mentor do Presidente Clinton - no seu livro de 1966 «Tragédia e Esperança» (Tragedy and Hope) escreveu:

[...] "Os poderes do capitalismo financeiro têm um plano de longo alcance, nada menos do que criar um sistema de controlo financeiro mundial em mãos privadas capazes de dominar os sistemas políticos de cada país e a economia mundial como um todo."

[...] "«Cada banco central... procura dominar o seu governo pela sua capacidade em controlar títulos do tesouro, manipular o câmbio externo, influenciar o nível de actividade económica no país, e influenciar políticos cooperantes por intermédio de recompensas económicas no mundo dos negócios.»"


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A violência justa versus a violência criminosa

Em Dezembro de 2010, cerca de 200 manifestantes gregos perseguiram o antigo ministro dos transportes, Kostis Hatzidakis, quando este saía do Parlamento, gritando: «Ladrões! Tenham vergonha!» Atiraram-lhe pedras e bateram-lhe com paus.



Ouve-se muitas vezes dizer que "a violência gera violência", que "a violência nunca consegue nada", ou que "se se usar a violência para nos defendermos daqueles que nos agridem, ficamos ao nível deles". Todas estas afirmações baseiam-se na noção errada de que toda a violência é igual. A violência pode funcionar tanto para subjugar como para libertar.

A violência pode por exemplo causar escravatura e submissão, como quando um senhor espanca um escravo. Alguns escravos podem eventualmente ripostar, caso em que a violência pode de facto gerar mais violência, mas muitos escravos submeter-se-ão a vida toda. Alguns criarão mesmo uma religião ou uma espiritualidade que procurará transformar a sua submissão numa virtude. Outros escreverão e outros repetirão que a sua liberdade não deve ser alcançada à custa da violência contra outros. Haverá até aqueles que afirmarão a necessidade de amar os seus opressores.

Não é difícil reconhecer que as populações estão hoje a ser conduzidas, graças à violência de uma Máfia Financeira, ao empobrecimento, à precariedade, ao desemprego, ao desespero, às pensões de miséria, à doença, à fome, ao suicídio e à morte.

E é forçoso perceber que os poderes que nos deveriam defender – o Executivo, o Legislativo e (até) o Mediático – estão de corpo e alma nas mãos de uma Máfia Financeira. (com a Justiça e a Polícia de mãos atadas graças a uma legislação confeccionada à medida dos interesses dessa Máfia).

Manifestações, palavras de ordem, cartazes, discursos, bandeirinhas e canções de protesto nunca tiveram qualquer resultado. E se há confrontos com a polícia (esta tão vítima como a população que se manifesta), não passam felizmente de simulacros de violência que, geralmente, se ficam por algumas escoriações ou umas horas numa cela. Até quando vão as pessoas continuar a apostar nestes actos completamente inúteis? Não será este pacifismo induzido e alimentado pela corja que mexe os cordelinhos?

O Artigo 32º do Código Penal considera justificada a legítima defesa (a violência justa) para repelir a agressão actual e ilícita por parte de terceiros, e o Artigo 35º do mesmo Código considera legítima a violência para afastar um perigo actual, e não removível de outro modo, que ameace a vida, a integridade física, a honra ou a liberdade da pessoa.



Uso da violência em legítima defesa

Assim sendo, que mais nos resta contra a Máfia Financeira e os seus esbirros (na Política e nos Media) senão a violência em legítima defesa e cirurgicamente dirigida? A violência não é intrinsecamente má. Quando a única forma de travar a violência criminosa é utilizando violência, então esta é perfeitamente justificada.

Um pai que pegue num taco para dispersar à paulada um grupo de rufias que está a espancar o seu filho, está a utilizar a violência de uma forma justa. Uma mulher que crave uma lima de unhas na barriga de um energúmeno que a está a tentar violar, está a utilizar a violência de uma forma justa. Um homem que abate a tiro um assassino que lhe entrou em casa e lhe degolou a mulher, está a utilizar a violência de uma forma justa. Um polícia que dispara contra um homicida prestes a abater um pacato cidadão, está a utilizar a violência de uma forma justa. Os habitantes de um bairro nova-iorquino que se juntam para aniquilar um bando mafioso (que nunca é apanhado porque tem no bolso os políticos, os juízes e os polícias locais), estão a utilizar a violência de uma forma justa.

Permitir, de braços cruzados, que crimes que destroem países sejam perpetrados por máfias financeiras coadjuvadas por políticos corruptos, legisladores venais e comentadores mediáticos a soldo, contra as populações, em nome de um pacifismo «politicamente correcto» mas que se tem revelado sempre ineficaz, isso sim, é outro crime.



Um rebanho manifesta-se pacifica e inutilmente contra o desemprego,
a precariedade, os baixos salários, a pobreza, a fome e a morte.

quarta-feira, junho 29, 2011

A censura, a meia-verdade, a mentira, a omissão e a propaganda, explicitamente inscritas no estatuto editorial do Jornal Expresso

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Jornal Expresso - Estatuto Editorial



Lendo-se o que está escrito no novo estatuto editorial do Expresso, chama a atenção o ponto 7:

7 - O Expresso sabe, também, que em casos muito excepcionais, há notícias que mereciam ser publicadas em lugar de destaque, mas que não devem ser referidas, não por auto-censura ou censura interna, mas porque a sua divulgação seria eventualmente nociva ao interesse nacional. O jornal reserva-se, como é óbvio, o direito de definir, caso a caso, a aplicação deste critério.


Manuel António Pina - Jornal de Notícias [28.06.2011]

«Chegou, pois, a altura de um jornal declarar, sem rebuço, que não publicará notícias "que mereciam ser publicadas em lugar de destaque" se entender que a sua divulgação pode "eventualmente" ser "nociva ao interesse nacional". O jornal ponderará, caso a caso, o "interesse nacional" das notícias, mas algo fica, desde já, claro: para esse jornal, a verdade factual deixou de ter por si só, mesmo dentro da lei, "interesse nacional"; e mais: o jornal passará a substituir-se ao poder político e a definir o que é, ou não, de "interesse nacional", podendo decidir não dar a conhecer verdades se as achar inconvenientes ou inoportunas. A bem da Nação.»

«Se ainda havia algum pudor, deixou de haver: um jornal assume às claras que se rege por critérios de oportunidade (políticos por excelência) e não exclusivamente por critérios jornalísticos.»


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Mário Soares acerca dos Media no Programa "Prós e Contras" [27.04.2009]:

Mário Soares: [...] «Pois bem, agora um jornal, não há! Uma pessoa não pode formar um jornal, precisa de milhares de contos para formar hoje um jornal e, então, para uma rádio ou uma televisão, muito mais. Quer dizer, toda a concentração da comunicação social foi feita e está na mão de meia dúzia de pessoas, não mais do que meia dúzia de pessoas

Fátima Campos Ferreira: «Grupos económicos, é

Mário Soares: «Grupos económicos, claro, grupos económicos. Bem, e isso é complicado, porque os jornalistas têm medo. Os jornalistas fazem o que lhes mandam, duma maneira geral. Não quer dizer que não haja muitas excepções e honrosas mas, a verdade é que fazem o que lhes mandam, porque sabem que se não fizerem aquilo que lhe mandam, por uma razão ou por outra, são despedidos, e não têm depois para onde ir.» [...]


Comentário

Ficamos deste modo a saber que os grupos económicos (dos quais, os mais poderosos são incomparavelmente os Bancos), não apenas trazem o cidadão deste país dependente pelo capital, mas, afronta derradeira, pelas voz dos seus jornais e televisões - que censuram, expressam meias-verdades, omitem, mentem e propagandeiam - ordenam ao português o que há-de pensar, o que há-de fazer, como se há-de governar e os montantes de dívidas e juros que vai ter de pagar!
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sexta-feira, outubro 24, 2008

Boaventura de Sousa Santos - a mentira mediática

Boaventura de Sousa Santos é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

A Cultura do Ludíbrio

Publicado na Visão em 5 de Junho de 2008

O ex-secretário de imprensa do Presidente Bush, Scott McClellan, acaba de publicar um livro intitulado "O que Aconteceu: Dentro da Casa Branca de Bush e a Cultura do Ludíbrio em Washington". O furor político e mediático que causou decorre de duas revelações: quando ordenou a invasão do Iraque, a Administração Bush sabia que o Iraque não tinha armas de destruição maciça (ADM) e montou uma poderosa "campanha de propaganda" para levar a opinião pública norte-americana e mundial a aceitar uma "guerra desnecessária"; os grandes meios de comunicação foram "cúmplices activos" dessa campanha, não só porque não questionaram as fontes governamentais como porque incendiaram o fervor patriótico e censuraram as posições cépticas contrárias à guerra.

Estas revelações e as reacções que causaram têm implicações que as transcendem. Antes de tudo, é surpreendente todo este escândalo, pois as revelações não trazem nada de novo. As informações em que assentam eram conhecidas na altura da invasão a partir de fontes independentes. Nelas me baseei para justificar nesta coluna a minha total oposição à guerra que, além de "desnecessária", era injusta e ilegal. Isto significa que as vozes independentes foram estigmatizadas como sendo ideológicas e anti-patrióticas, tal como hoje criticar Israel equivale a ser considerado anti-semita. Em 2001, no Egipto, e antes da máquina de propaganda ter começado a devorar a verdade, o próprio Secretário de Estado Colin Powell dissera que não havia nenhuma informação sólida de que o Iraque tivesse ADM.

Isto me conduz à segunda implicação destas revelações: o futuro do jornalismo. A máquina de propaganda do Departamento de Defesa assentou em três tácticas: impor a presença de generais na reserva em todos os noticiários televisivos com o objectivo de demonstrar a existência das ADMs; ter todos os média sob observação e telefonar aos seus directores ou proprietários ao mínimo sinal de cepticismo ou oposição à guerra; convidar jornalistas de confiança de todo o mundo (também de Portugal) para serem convencidos da existência das ADMs e regressarem aos seus países possuídos da mesma convicção belicista. Vimos isso trágica e grotescamente no nosso país. A verdade é que em Washington e em todo o país circulavam nos média independentes informações que contradiziam o "brainwashing", muitas delas provindas de generais e de antigos altos funcionários da Casa Branca. Porque não ocorreu a esses jornalistas amigos fazer uma verificação cruzada das fontes como lhes exigia o código deontológico?

Para o bem do jornalismo, alguns deles procuraram resistir à pressão e sofreram as consequências. Jessica Yellin, hoje na CNN, e na altura no canal ABC, confessou publicamente que os directores e donos do canal a pressionaram para escrever histórias a favor da guerra e censuraram todas as que eram mais críticas. Um produtor foi despedido por propor um programa com metade de posições a favor da guerra e metade de posições contra. Quem resistiu foi considerado anti-patriótico e amigo dos terroristas. Isto mesmo aconteceu no nosso país. Quantos jornalistas não foram sujeitos à mesma intimidação? Quantos artigos de opinião contrários à guerra foram rejeitados? E os que escreveram propaganda e intimidaram subordinados alguma vez se retrataram, pediram desculpa, foram demitidos? É que eles colaboraram para que um milhão de iraquianos fossem mortos, dezenas de milhares de soldados norte-americanos fossem feridos e mortos e um país fosse totalmente destruído. Tudo isto terá sido preço, não da democracia – ridículo conceber como democrático este estado colonial e mais fracturado que a Somália – mas sim do controle das reservas do petróleo do Golfo e da promoção dos interesses do petróleo, da indústria militar e de reconstrução em que os donos dos média têm fortes investimentos.

Para disfarçar o problema moral dos cúmplices da guerra e da destruição, um comentador de direita do nosso país socorreu-se recentemente da mais desconcertante e desesperada justificação da guerra: se não havia ADMs, havia pelo menos a convicção de que elas existiam. Ora o livro de McClellan acaba de lhe retirar este argumento. De qual se socorrerá agora? O trágico é que a "máquina" de propaganda continua montada e está agora dirigida ao Irão. O seu funcionamento será mais difícil e sê-lo-á tanto mais quanto melhores condições tiverem os jornalistas para cumprir o seu código deontológico.

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Ora, o visado comentador de direita, José Manuel Fernandes, há muito que esclareceu o assunto:

No Público - 2 de Fevereiro de 2004

Enganos não são mentiras

«(...) O que estava em causa era grave. Tratava-se de saber se Blair tinha ou não mentido aos ingleses e ao Mundo sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque. Se [Blair] tinha ou não manipulado relatórios dos serviços secretos. Se tinha agido de acordo com as suas convicções e com os documentos que conhecia ou se tinha, pelo contrário, enganado deliberadamente o povo britânico.»

«(...) Na intervenção que ontem fez perante a Câmara dos Comuns Tony Blair tocou, do meu ponto de vista, na questão central: "é absolutamente correcto que se conteste a correcção das informações dos serviços de espionagem e que nos interroguemos porque é que ainda não encontrámos armas de destruição maciça. É também absolutamente legítimo discutir os motivos que nos levaram a desencadear este conflito. Eu continuo a acreditar hoje, tal como acreditava em Março, que remover Saddam do poder torna o mundo um lugar melhor e mais seguro - mas sei que outros têm todo o direito de discordar. Contudo isto é completamente diferente de uma acusação de manipulação, ou de duplicidade, de uma acusação de que alguém falsificou deliberadamente as informações dos serviços secretos".»

«(...) Estavam todos enganados. Enganados - não manipulados. Todos - e não apenas as administrações americana e britânica. Todos - e não apenas o Presidente Bush (...)»

«(...) Como hoje recordamos, a convicção de que o Iraque possuía armas de destruição maciça não era objecto de discussão há um ano, nos meses e semanas que antecederam a guerra: o que se discutia era se a forma mais eficaz de lidar com o problema era prolongar o mandato e as missões dos inspectores das Nações Unidas ou se se devia intervir (...)»

«(...) Daí que, tal como Tony Blair, continue a considerar que a questão é saber se o Mundo é hoje um lugar pior ou melhor sem Saddam Hussein. Acredito que é melhor (...)»



Comentário:

Não obstante, as centenas de Zés Manéis que colaboraram para que um milhão de iraquianos fossem mortos e um país fosse totalmente destruído, continuam directores de jornais, colunistas de opinião e analistas omnipresentes de todos os programas de debate dos canais televisisvos.

A título de exemplo, alguns dos mais afamados Zés Manéis que escrevinham no Expresso:

quarta-feira, outubro 01, 2008

Na sequência do conflito na Geórgia, Portugal deixa um claro aviso a Moscovo



Miguel Sousa Tavares

Expresso 20/09/2008

Consta que vamos mandar três polícias para a Geórgia. Não vão para dirigir o trânsito nem caçar multas por excesso de velocidade: vão, por mais ridículo que isto seja, para mostrar o nosso compromisso para com o objectivo da NATO de conter o “expansionismo russo” no Cáucaso. Ora, recapitulemos:

- a Geórgia é um dos países que se separaram da órbita da ex-URSS e que, em decorrência da perigosa estratégia de cerco à Rússia, logo recebeu a ajuda do imbecil do Bush para se tornar um satélite dos Estados Unidos, sob uma das três modalidades habitualmente propostas: receber mísseis americanos, aderir à NATO ou ser declarada protegida desta;

- entretanto, o novo país instalou-se sobre um poder formado por seitas mafiosas, totalmente corruptas e criminosas, autêntico paradigma do que é suposto não serem os “valores morais” do Ocidente;

- do novo país fazem parte as regiões autónomas da Abkhazia e Ossétia do Sul, de maioria russa, e que ficaram como enclaves da Geórgia, da mesma forma que o Kosovo, de maioria albanesa, ficou como enclave da Sérvia;

- quando, há meses, os Estados Unidos, a NATO e a UE promoveram a irresponsável declaração de independência unilateral do Kosovo, contra a ONU e com o único fundamento de que a maioria da sua população não era sérvia, Moscovo avisou que estavam a abrir uma caixa de Pandora e todos perceberam que sim e, todavia, foram em frente;

- escorada na protecção dos Estados Unidos e da NATO, a Geórgia resolveu romper o «statu quo» e forçar a anexação pela força das suas zonas russófonas: invadiu a Ossétia, matou indiscriminadamente, bombardeou, destruiu, provocou centenas de milhares ou milhões de refugiados: uma forma muito estranha de tratar o ‘seu povo’. Mas os EUA, a NATO, a UE, mantiveram-se calados. E só reagiram quando Moscovo enviou o Exército em defesa das populações russas e, obviamente, a seguir passou a promover a declaração de independência de ambas as regiões - tal qual como o Kosovo fez. Então, sim, as boas e idiotas almas que nos governam desataram a gritar: ‘Socorro, que o urso está de volta!’.


Comentário:

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado, defendeu, em Bruxelas, que a NATO deve definir uma posição «firme», sem «agressividade», sobre a crise entre a Rússia e a Geórgia.

Para já, o ministro Luís Amado, parece, ele próprio, mais apostado numa atitude inerte, desengonçada e, aparentemente, desarticulada. Dir-se-ia preso por arames...

sexta-feira, setembro 26, 2008

João Pereira Coutinho no Expresso - Um dedo espetado e os dizeres «This is for you, Osama»

Expresso - 20/09/2008

Texto de João Pereira Coutinho

A melhor forma de homenagear os mortos do 11 de Setembro não passa por novos edifícios mas pela edificação das velhas Torres Gémeas, exactamente como Churchill sugeria durante a Segunda Guerra, depois de os alemães terem bombardeado o Parlamento

VISITAR O «ground zero» no dia 11 de Setembro não é um espectáculo bonito. Não falo do local - um gigantesco buraco, só acessível às famílias e aos políticos. Falo do circo em volta, que aproveitou os sete anos dos atentados para montar espectáculo: fotos gigantescas dos mortos; guitarras com cânticos religiosos; «hippies» e seus batuques pacifistas; e, o pior de tudo, grupos políticos que se insultam a dois passos do local onde 2751 pessoas perderam a vida. Dizem-me que este excesso «kitsch» faz parte da liberdade da América. Dizem bem e o problema é inteiramente meu: sempre preferi o silêncio da memória do que o ruído da celebração. E sempre disse que a melhor forma de homenagear os mortos não passava por novos edifícios; mas pela edificação das velhas Torres Gémeas, exactamente como Churchill sugeria durante a Segunda Guerra, depois de os alemães terem bombardeado o Parlamento. Se os selvagens destroem, nós reconstruímos. De preferência, acrescentando uma terceira torre às outras duas, devidamente encimada por um dedo espetado (em betão) e os dizeres «This is for you, Osama».

Felizmente, os sete anos do 11 de Setembro não se resumiram a folclore. E bastou subir ao topo do Empire State Building para lembrar a data como ela merece. O edifício proporciona a visão mais gloriosa da cidade e Scott Fitzgerald, em texto solene, resumiu a epifania. Mas Fitzgerald esqueceu-se que o mais impressionante não é propriamente a vista; é o silêncio dos visitantes perante ela: um silêncio religioso, no sentido preciso do termo, porque ali se vê, nem que seja por desafio, a essencial ligação dos homens ao divino. Uma ligação reforçada, este ano, por duas colunas de luz que, ao longe, no local das torres, subiam em direcção ao céu.


Comentário:

«ali se vê a essencial ligação dos homens ao divino. Uma ligação reforçada, este ano, por duas colunas de luz que, ao longe, no local das torres, subiam em direcção ao céu»


As duas colunas de luz do «ground zero» iluminam, mais distintamente a cada dia que passa, os verdadeiros «Osamas», os reais responsáveis pela demolição das Torres e pelo assassínio de três mil pessoas.

A terceira torre, devidamente encimada por um dedo espetado, como João Pereira Coutinho sugere, deveria, antes, dizer «This is for you, Coutinho». «For you and for all the mass media manipulation and deception, to which you belong».

This is for you, Coutinho

quarta-feira, setembro 10, 2008

O valor da (des)informação no Expresso

O valor da informação

A informação deve estar associada a um valor social, ou simplesmente valer por si mesma? A questão, que parece académica, tem, nestes dias, especial pertinência


A revista francesa ‘Paris Match’ chocou parte da opinião pública do seu país com uma reportagem que quase todos os jornalistas considerariam, «a priori», um grande «scoop»: entrevistou os guerrilheiros talibãs que há cerca de três semanas mataram, numa emboscada, 10 soldados franceses, além de ferir 21. Os guerrilheiros, que se deixaram fotografar com os rostos encobertos por lenços, nas fotos das páginas da revista vestem fardas dos soldados mortos e ostentam objectos pessoais dos militares assassinados.

Naturalmente, as famílias dos soldados mortos reagiram emotivamente. E o ministro francês da Defesa, Hervé Morin, disse qualquer coisa como ‘é na retaguarda que a guerra corre pior, pois é aí que órgãos de comunicação promovem os nossos inimigos’.

A questão é pertinente. Até à guerra do Vietname, onde havia batalhas, existia censura militar. Hoje, embora ela continue infelizmente a existir sob certas condições, é praticamente impossível fazê-la. E isso, sendo óptimo, deve obrigar a uma responsabilidade acrescida para a informação.

A guerra deixou de ser um clássico embate de exércitos. Agora, as batalhas ganham-se e perdem-se na opinião pública, na frente da comunicação.

Assim sendo, não pode a comunicação social continuar a agir como se não fosse ela própria arma de guerra. Os mesmos motivos éticos que levaram - com bons resultados - a que não fossem relatados raptos em certos países da América Latina, justamente para não os incentivar, deverão levar os editores dos órgãos de comunicação a pensar maduramente no modo de enfrentar as realidades modernas da guerra.

O valor da comunicação livre é inestimável, mas não pode ser infinito. Como para tudo, há que criar regras.



O Editor do Expresso não poderia estar mais de acordo com o Professor canadiano Michel Chossudovsky: «a comunicação social é ela própria uma arma de guerra».

Texto de Michel Chossudovsky, professor de Economia na Universidade de Ottawa:

Os arquitectos militares do Pentágono estão perfeitamente conscientes do papel central da propaganda de guerra. Engendrada pelo Pentágono, pelo Departamento de Estado e pela CIA, já foi lançada uma Campanha de medo e desinformação [fear and disinformation campaign (FDC)] . A distorção grosseira da verdade e a manipulação sistemática de todas as fontes de informação constituem uma parte integral da estratégia de guerra. Em consequência do 11 de Setembro, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld criou o Gabinete de Influência Estratégia [Office of Strategic Influence (OSI)] , ou Gabinete de Desinformação" ["Office of Desinformation"] como foi rotulado pelos seus críticos:

"O Departamento da Defesa afirmou ter necessidade de fazer isso, e estavam realmente a caminho de espalhar histórias falsas em países estrangeiros — num esforço para influenciar a opinião pública por todo o mundo. (Entrevista com Steve Adubato, Fox News, 26 Dezembro de 2002.)

Para sustentar a agenda de guerra, estas "realidades fabricadas", canalizadas numa base diária para o interior das cadeias noticiosas devem tornar-se verdades indeléveis, tornando-se parte de um vasto consenso político e dos meios de comunicação. Desta forma, os media corporativos - embora actuando independentemente do aparelho militar de informações - são um instrumento desta evolução totalitária do regime.

Trabalhando em ligação com o Pentágono, Charlotte Beers, uma figura poderosa na indústria da publicidade, foi nomeado para chefe da unidade de propaganda do Departamento de Estado logo após o 11 de Setembro. O seu mandato é "para actuar contra o anti-americanismo no exterior" (Sunday Times, Londres 5 de Janeiro de 2003). O seu gabinete no Departamento de Estado destina-se a:

"assegurar que a diplomacia pública (cativar, informar e influenciar audiências públicas internacionais) seja praticada em harmonia com os negócios públicos (estendendo-se a americanos) e com a diplomacia tradicional para promover os interesses e a segurança dos EUA e proporcionar a base moral para a liderança americana no mundo".

A componente mais poderosa da Campanha de Medo e Desinformação (FDI) pertence à CIA, a qual secretamente subsidia autores, jornalistas e críticos por intermédio de uma rede de fundações privadas e organizações patrocinadas pela CIA.

A desinformação é rotineiramente "espalhada" pelos operacionais da CIA nas redacções do principais diários, revistas e canais de TV. Firmas de relações públicas externas são frequentemente utilizadas para criar "falsas histórias". Isso foi cuidadosamente documentado por Chaim Kupferbert em relação aos acontecimentos do 11 de Setembro.

Iniciativas de desinformação encoberta, sob os auspícios da CIA, também são canalizadas através de vários "procuradores" de informação noutros países. Desde o 11 de Setembro essas iniciativas resultaram numa disseminação diária de informação falsa referente a alegados "ataques terroristas".


Comentário:

Basta passar os olhos pelos artigos semanais do Monjardino, do Cutileiro, do Espada, do Coutinho, do Monteiro e de outros para concordarmos imediatamente com o editor de Expresso e com Chossudovsky: «a comunicação social, Jornal Expresso incluído, é ela própria uma arma de guerra». E é esta perspectiva que os leitores do jornal nunca devem perder de vista. Estas armas de guerra vomitam interminavelmente propaganda, desinformação, mentira, manipulação, medo e ódio.

O Paris Match ao entrevistar e mostrar as fotos dos talibãs que mataram, numa emboscada, 10 soldados franceses e os fotografaram com as fardas e com os objectos pessoais dos soldados mortos, pretende unicamente incitar o cólera da população francesa para a tornar mais maleável a uma maior intervenção militar da França e a uma cooperação mais estreita com o governo americano no envio de mais tropas para o Afeganistão (Obama Quer Mais Tropas no Afeganistão).

A manipulação mediática começa a ser tão transparente…
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terça-feira, julho 08, 2008

Lóbi das obras públicas, o grande financiador dos partidos do ‘centrão'

Miguel Sousa Tavares

Expresso 05/07/2008

«Manuela Ferreira Leite tem toda a razão, quando denuncia a inutilidade de obras públicas que não são essenciais, que não obedecem a uma estratégia conhecida de desenvolvimento, que são lançadas quando se enfrenta uma crise e se tenta a todo o custo conter o défice, e quando a factura é remetida para os nossos filhos. E tem toda a coragem, quando ousa enfrentar o lóbi das obras públicas, que é o grande financiador dos partidos do ‘centrão’. Caiu-lhe em cima a CIP e a AICCOP, uma das associações do sector, justamente alarmadas.

Diz o presidente desta última que "compete à iniciativa privada assumir-se como motor de desenvolvimento e o que nós pedimos é que o Estado crie as condições para se iniciar um novo ciclo de investimento". Eu traduzo, para o caso de ainda haver alguém que não perceba: eles são iniciativa privada para os devidos fins de respeitabilidade e estatuto; mas só são iniciativa se o Estado lhes garantir as empreitadas e os negócios e só são privados para colherem os lucros, ficando os riscos para o Estado. É assim como se o merceeiro da esquina dissesse: ‘Se o Estado me garantir que compra todo o «stock» que eu não conseguir vender, eu garanto a minha iniciativa privada de comerciante’.»


Comentário:

Como se a Manuela tivesse vontade de enfrentar o lóbi das obras públicas! Como se a Manuela, tal como o Sócrates, não fizesse parte do tal centrão que é financiado pelo dito lóbi.

O Sócrates e a Manuela estão para o lóbi das obras públicas, como o Bush e a Hillary estão para o lóbi militar-industrial americano. Meros "public relations representing business".
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quarta-feira, junho 25, 2008

A boçalidade internauta versus a propaganda dos «media de referência»

Expresso - 21/06/2008

Texto de João Pereira Coutinho

A melhor forma de enfrentar o «culto do amador» está em procurar o profissional em nós. Porque somos nós o verdadeiro «filtro»

"Conhecem o «teorema do macaco infinito»? A ideia pertence a T.H. Huxley, que no século XIX afirmava que o macaco seria capaz de escrever uma peça de Shakespeare. Bastava, para tal, que dispuséssemos de macacos infinitos aos quais pudéssemos confiar máquinas de escrever infinitas. Um dia eles acabariam por medrar qualquer coisa de sublime."

"Andrew Keen regressa ao teorema de Huxley em livro que deu polémica nos EUA e foi agora editado entre nós pela Guerra & Paz. Intitula-se «O Culto do Amadorismo». O título, como se costuma dizer, é todo um programa: entregue à multidão ignara - à geração YouTube, à geração Blogspot, à geração Wikipédia; no fundo, aos «macacos infinitos» -, a Internet está a arrasar com o mérito intelectual e artístico; a promover a ignorância e a boçalidade em larga escala; e a cultivar um narcisismo repulsivo em que milhões de alienados usam a rede para exporem os seus delírios."

"O problema, no fundo, está na ausência de filtro, capaz de separar a qualidade da mediocridade. Num jornal clássico, existe um editor; na televisão, existe um programador; nos meios de comunicação, existem profissionais que julgam e seleccionam. A Internet é uma selva epistemológica e moral que, acredita Keen, só será espaço frequentável quando os mecanismos de julgamento e selecção tradicionais forem exercidos por profissionais cibernéticos."

"Entendo o argumento de Keen. Mas é difícil concordar com o tom alarmista do autor. A Internet é um caos? Sem dúvida. Mas por cada vídeo idiota no YouTube, existem preciosidades musicais, históricas ou até filosóficas que seriam impensáveis há uma década. A melhor forma de enfrentar o «culto do amador» está em procurar, nas famílias ou nos amigos, nos livros ou nas escolas, o profissional em nós. Porque somos nós o verdadeiro «filtro» cibernético; os editores pessoais da informação que procuramos e recusamos; os programadores privados das imagens que nos inspiram ou repugnam."

"A Internet mata a cultura tradicional? Pelo contrário: a Internet exige-a como nunca."

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Numa edição anterior do Expresso, João Pereira Coutinho empunhava armas contra o que considerava:

"A guerra contra o cliché"

"Eu não sei se é possível escrever poesia depois de Auschwitz. Mas sei que transformar Auschwitz em poesia transporta um risco fatal: converter o horror em sentimentalismo e o sentimentalismo em cliché. Foi o que aconteceu com o 11 de Setembro de 2001. Ou, melhor, com o 11 de Setembro de 2006, que acompanhei na imprensa e nas televisões. Com um saco de enjoo ao lado. Foram artigos emocionais. Fotografias pretensamente épicas, acompanhadas por frases pretensamente profundas. As últimas palavras dos mortos para amigos ou familiares, expostas em público como se fossem propriedade colectiva. Sem falar dos repulsivos "documentários ficcionais" que transformam o drama em caricatura. Não sei se a roupa interior das vítimas teve direito a espiolhagem mediática, mas tudo é possível e, pior, tudo é provável. Esta orgia macabra de dor não é apenas a consagração «pop» de um acto imperdoável - uma verdadeira vitória para os fanáticos, subitamente promovidos a vilões de matiné. Transformar o 11 de Setembro em «videoclip» é também uma forma de lhe retirar dignidade trágica. A dignidade que só a memória e o silêncio são capazes de preservar".


Comentário:

João Pereira Coutinho, no primeiro artigo, tece loas à Internet e contesta o «pessimismo» de Andrew Keen, para quem a Internet «promove a ignorância e a boçalidade em larga escala». Coutinho considera que cada um de nós deve procurar em si mesmo, nos amigos, nos livros e nas escolas, o verdadeiro «filtro» cibernético, o editor que existe em cada um de nós, graças ao qual todos nós poderemos atravessar incólumes a selva epistemológica e moral de que fala Andrew Keen.

Mas como chama a atenção Michael Parenti, os «editores profissionais», os das televisões, os dos jornais, os dos livros, inclinam-se consistentemente em direcção a determinados interesses. Uma das tácticas preferidas deste «jornalismo» dá pelo nome de «Supressão pela Omissão»:

"Meios de comunicação que parecem à primeira vista sensacionalistas e intrusivos, são, na realidade, silenciosos e evasivos. Mais insidioso que o furo sensacionalista é a evasiva astuciosa. Histórias verdadeiramente sensacionais (que não sensacionalistas) são desvalorizadas e evitadas completamente. Às vezes, a supressão inclui não apenas detalhes vitais mas toda a história, mesmo aquelas mais importantes."

É será por isso que perante as controvérsias que na Internet têm envolvido os atentados do 11 de Setembro e o Holocausto Judeu, João Pereira Coutinho apela à nossa sensatez editorial, ao nosso filtro da «qualidade de informação», por forma a que a «boçalidade em larga escala» não se espraie irresponsavelmente, e que os delírios repulsivos de milhões de alienados não conspurquem «versões históricas» há muito adquiridas e cuja "dignidade só a memória e o silêncio serão capazes de preservar".

Conhecem o «teorema do macaco infinito»? Ou a proposição do João Pereira Coutinho?
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domingo, março 09, 2008

O riso boçal do cronista do Expresso, João Pereira Coutinho

Expresso - 8/3/2008

Texto de João Pereira Coutinho

"É impossível não verter uma lágrima por Misha Defonseca. Aqui há uns anos, mergulhado na literatura do Holocausto, o livro da senhora veio parar-me às mãos. E então li, entre gargalhadas mil, a história de como uma criança judia, órfã de pai e mãe (exterminados pelos nazis), se vê subitamente sozinha no mundo e condenada a errar pelas florestas da Europa."

"Mas o melhor do livro veio a seguir: perdida entre o arvoredo, a pequena Misha é finalmente resgatada por lobos (sic), que a alimentam e criam com muito amor e carinho. Não sei se, lá pelo meio, aparecia o Tio Patinhas."

"A minha memória já não é o que era. Uma coisa, porém, recordo sem esforço: o livro apresentava-se como «história verídica» da sra. Defonseca, o que não deixa de ser uma audácia."

"Na verdade, não viria mal ao mundo se Misha assumisse a ficção do exercício (de John Hersey e William Styron, exemplos não faltam). Mas Misha, a menina criada por lobos, comparava-se a Elie Wiesel e a Primo Levi, uma megalomania que ninguém se deu ao trabalho de desmascarar e, mais, foi levada à letra por aí: segundo leio, fez-se uma ópera da vida de Misha (em Itália); e, no passado mês, estreou filme respectivo (em França, claro). Sem falar nas múltiplas traduções que apresentaram ao mundo a incrível história de uma sobrevivente salva por animais."

"Escusado será dizer que, depois da aldrabice, incongruências recorrentes exigiram de Misha uma explicação."

"Ou, melhor, várias. Para começar, Misha não é Misha; é Monique De Wael. Depois, não é judia; é católica."

"E, finalmente, não foi criada por lobos (a sério?), mas pelos avós. O único pedaço de verdade está na morte dos pais, membros da resistência belga que os nazis deportaram e mataram. Explicações para a loucura? Eu não sou psiquiatra. Mas sempre digo que, entre um neonazi assumido e uma «sobrevivente» que factura com a inominável tragédia judaica, talvez um neonazi seja mais honesto. Na sua boçalidade explícita, um neonazi não engana."



Comentário:

João Pereira Coutinho tece injustificadamente uma crítica feroz a Misha Defonseca, por esta ter tido a ousadia de "se comparar a Elie Wiesel e a Primo Levi (considerados os expoentes da literatura sobre o Holocausto), uma megalomania que ninguém se deu ao trabalho de desmascarar" (excepto, evidentemente, o próprio Coutinho, "entre gargalhadas mil").

Mas se o talentoso Coutinho atentasse melhor nas obras de Primo Levi e de Elie Wiesel, constataria que a veracidade das histórias destes sacerdotes do Holocausto em nada desmerecem as narrativas da senhora Micha.

Primo Levi é o autor do livro «Se isto é um homem» (Se questo è un uomo), livro autobiográfico da sua experiência de dez meses como prisioneiro em Auschwitz, publicado em 1947 (dois anos após o final da guerra).

Nesse livro, Levi afirma, na página 19, que foi só depois da guerra acabar é que soube do gaseamento de judeus em Auschwitz-Birkenau.



Quanto a Elie Wiesel, no livro autobiográfico «Noite», em que descreve a sua experiência de dez meses como prisioneiro em Auschwitz, o autor não menciona em parte alguma as câmaras de gás. Wiesel diz, realmente, que os Alemães executaram Judeus, mas... com fogo; atirando-os vivos para as chamas incandescentes, perante muitos olhos de deportados!


Donde, João Pereira Coutinho não pode, em absloluto, desdenhar a literatura de Misha Defonseca. Pois se, tanto Primo Levi como Elie Wiesel, considerados as duas mais famosas testemunhas do Holocausto, afirmam nas suas obras autobiográficas que nunca ouviram falar de câmaras de gás e gaseamentos nos dez meses em que foram prisioneiros em Auschwitz, então, a menina Misha, tem todo o direito de afirmar que foi "resgatada por lobos" quando "errava órfã pelas florestas da Europa".

Misha Defonseca, Primo Levi e Elie Wiesel partilham o mesmo grau de autenticidade nos seus escritos. Ou o Pereira Coutinho dá "gargalhadas mil" com os três autores ou não dá "gargalhadas mil" com nenhum. Marialvismos boçais é que não!

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Descubra as Diferenças

O duo de rap «The Coup» publicou uma imagem promocional do seu álbum "Party Music", meses antes do 11 de Setembro de 2001, no web site da sua companhia de publicidade, que representava explosões nas Torres Gémeas do World Trade Center, quase exactamente nos mesmos pontos que os aviões pirateados atingiram.

No seguinte mosaico de três fotografias, descubra o leitor qual delas lhe parece ser a capa do álbum "Party Music", publicada meses antes dos atentados de 11 de Setembro de 2001:




Solução:

Jornal Expresso – 15 de Setembro de 2001 (quatro dias após o 11 de Setembro de 2001):

«A coincidência é chocante: a capa de um disco do grupo musical The Coup, criado muito antes dos atentados do dia 11, antecipou a realidade. Nessa capa as torres do World Trade Center explodem, proporcionando imagens muito semelhantes às que a tragédia real viria a registar.»

segunda-feira, janeiro 28, 2008

No Expresso - Henrique Monteiro reconhece que a política securitária é a única forma de fazer face ao terrorismo islâmico



Henrique Monteiro - Expresso 26/01/2008

«A guerra que andamos a perder»


Tête-à-tête desassombrado entre a crónica semanal de Henrique Monteiro do Expresso e Osama Bin Laden da Al-Qaeda


Monteiro: «A notícia de que alguns terroristas suicidas islâmicos poderiam estar, ou ter passado, por Portugal chamou a atenção sobre estes episódios. Em si, eles revelam algo de positivo - a preocupação e seriedade com que estes assuntos são tratados por quem tem autoridade para fazê-lo, ainda que as suspeitas sejam vagas

«No entanto, estas reacções mostram outra coisa, mais escondida, mas muito mais grave: o medo latente que todos temos de que um dia um qualquer suicida, com o qual nada temos a ver, chegue a uma estação de metro ou a um restaurante movimentado e mate, indiscriminadamente, amigos, familiares, vizinhos, conhecidos, quem sabe se nós mesmos.»


Osama: Lamentavelmente, o prezado colega Monteiro, na divulgação que faz da ameaça terrorista islâmica, está ainda longe da sofisticação da - CNN Fear Factor - vídeo legendado em português e apresentado no Daily Show por Jon Stewart:


Monteiro: «Este sentimento (o medo do terrorismo), que começou na década de 90 - ainda antes do ataque às Torres Gémeas em 2001, antes de Bush ser presidente (há quem se esqueça deste facto comezinho) - tem vindo a agravar-se à medida que não sabemos como responder a esta escalada, a esta autêntica guerra que os radicais islâmicos nos movem. A invasão do Iraque revelou-se desastrosa; uma invasão do Irão seria, seguramente, mais desastrosa ainda. Não fazer nada será, também, totalmente desastroso.»

«Acresce que o Ocidente (ou a sua intelectualidade bem pensante) ainda gosta de se culpabilizar pela situação que o mundo vive. Tudo junto, isto resulta nesta espécie de esquizofrenia em que vivemos: temos medo deles, mas não sabemos exactamente como prevenir esse medo, senão reforçando a nossa segurança e a nossa desconfiança


Osama: A intelectualidade bem pensante ocidental não tem tem nada de que se culpabilizar, caríssimo Monteiro. Basta estar atento às declarações dos seus dirigentes: o ex-Presidente Italiano, o homem que revelou a existência da Operação Gládio, Francesco Cossiga, veio a público falar sobre os atentados do 11 de Setembro, afirmando, no Corriere della Sera, que os ataques foram executados pela CIA e pela Mossad e que esse facto era do conhecimento geral entre os serviços de informações a nível global.

A tendência de Cossiga para ser honesto preocupou a elite governante italiana e foi forçado a demitir-se após ter revelado a existência, e a sua participação na criação, da Operação Gládio, uma rede de operações secretas sob os auspícios da NATO que executou atentados bombistas por toda a Europa nos anos 60, 70 e 80. A especialidade da Gládio era executar o que se chama "false flag operations," ataques terroristas que eram imputados à oposição doméstica e geopolítica. As revelações de Cossiga contribuíram para uma investigação do parlamento italiano em 2000 sobre a Gládio, durante a qual foram reveladas provas de que os ataques foram administrados pelo aparelho de inteligência americano.



Monteiro: «Aos poucos tornamo-nos mais securitários, mais adeptos do fecho das fronteiras, mais adeptos da vigilância electrónica, mais adeptos de uma série de medidas que contradizem a enorme marcha da nossa civilização para uma sociedade mais livre.»

«Essa é a guerra que estamos a perder. Em nome da nossa segurança e por via da nossa incapacidade derrotamo-nos a nós próprios. E eles, para quem a morte é a glória, sabem-no muito bem.»


Osama: Essa é a guerra que estamos a perder ou a ganhar, Monteirito? Não é, afinal, esse furacão de medidas liberticidas adoptadas pelos Estados Unidos que todos nós, terroristas, desejamos?

Logo após os atentados do 11 de Setembro, foi criada uma justiça de excepção. O ministro da Justiça, John Ashcroft, impôs a adopção de uma lei antiterrorista – a chamada "Lei Patriótica" (Patriot Act) – que permite às autoridades prender suspeitos por um período quase indefinido, deportá-los, encarcerá-los em celas incomunicáveis, censurar a sua correspondência, as suas conversas telefónicas, as suas mensagens pela Internet, e revistar as suas casas sem autorização judicial... George W. Bush decidiu também criar tribunais militares, de instâncias especiais, para julgar estrangeiros acusados de terrorismo. Esses julgamentos secretos poderão realizar-se em navios de guerra ou em bases militares; a sentença será pronunciada por uma comissão composta por oficiais militares; não será necessária a unanimidade para condenar um acusado à morte; a pena não terá apelo; as conversas entre o acusado e seu advogado poderão ser gravadas clandestinamente; o procedimento judicial será mantido sigiloso e os detalhes do processo somente serão tornados públicos várias décadas depois...

Também em apoio à "guerra mundial contra o terrorismo", outros países – Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Espanha, França... – reforçaram as suas legislações repressivas. Os defensores dos direitos públicos têm razão para estar preocupados. O movimento geral de nossas sociedades, que tendia para um respeito cada vez maior pelo indivíduo, acaba de ser brutalmente interrompido. E, actualmente, tudo indica que se caminha para um Estado cada vez mais policial... incluindo aqui, em Portugal.


Comentário:

Nunca será demais enaltecer o papel fundamental que os media internacionais têm tido na «Guerra ao Terrorismo»:

A componente mais poderosa da Campanha de Medo e Desinformação está a cargo da CIA, a qual secretamente subsidia autores, jornalistas e críticos mediáticos por meio de uma teia de fundações privadas e organizações patrocinadas pela CIA.

Iniciativas de desinformação encoberta, sob os auspícios da CIA, são também canalizadas através de vários "procuradores" (proxies) de inteligência noutros países. Desde o 11 de Setembro elas resultaram numa disseminação diária de informação falsa referente a alegados "ataques terroristas". Em virtualmente todos os casos relatados (na Grã Bretanha, França, Indonésia, Índia, Filipinas, etc), afirmam que os "supostos grupos terroristas" têm "ligações à Al-Qaeda de Osama bin Laden", sem naturalmente admitir o facto (amplamente documentado por relatórios de inteligência e documentos oficiais) que a Al-Qaeda é uma criação da CIA.
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sábado, janeiro 19, 2008

Reformas e engordas

Fernando Madrinha - Jornal Expresso - 19/1/2008

Reformas e... reformas

«Não sei se Paulo Teixeira Pinto foi ou não um bom administrador do BCP. Admito que sim. Conheci-o quando secretário de Estado de Cavaco Silva e tive de várias fontes a opinião de que se tratava de alguém muito empenhado e competente no seu trabalho. Não me admiro de que, à luz das regras em vigor no banco de Jardim Gonçalves, seja inteiramente merecedor dos 10 milhões de euros que, segundo o ‘Público’, recebeu à cabeça para sair do BCP. E dos 500 mil euros anuais que assegurou de reforma (para o casal, explicita o jornal), traduzindo-se isto em 35 mil euros mensais. Mais ou menos o equivalente a cem pensões de reforma das mais baixas. Não é de bom tom falar em público do dinheiro que cada um ganha ou deixa de ganhar e, muito provavelmente, haverá no BCP e noutras empresas casos similares, ou até bem mais chocantes. Mas, ainda que se trate de um banco - e de um banco privado - a um país que quase só trabalha para engordar os bancos sobra, pelo menos, aquele direito de que em tempos falava o ex-Presidente Mário Soares: o direito à indignação


Comentário:

Que culpa tem Paulo Teixeira Pinto, que o banco Millennium BCP, num país que, segundo Madrinha, quase só trabalha para engordar os bancos, lhe pague 10 milhões de euros para sair, acrescidos de uma reforma de 35 mil euros mensais (o equivalente a cem pensões de reforma das mais baixas)?

Porque, afinal, o Millennium BCP (e os outros bancos) têm vindo a dar muito boa conta de si:

2005 - Os quatros maiores bancos privados portugueses viram os seus lucros crescerem 42,6% no primeiro trimestre de 2005, numa comparação homóloga com o ano anterior (...) O 'campeão' dos lucros continua a ser o Millennium BCP, com 137,5 milhões de euros...

2006 - O lucro do Millennium BCP, maior banco privado de Portugal, aumentou 44% no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado, anunciou hoje o banco. Entre Janeiro e Março, o lucro do BCP foi de 198,5 milhões de euros (...) Ainda assim, o lucro ficou abaixo das estimativas…

2007 - O lucro do Millennium BCP atingiu 191 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, anunciou hoje o maior banco privado português. O banco liderado por Paulo Teixeira Pinto adiantou que os resultados em base recorrente cresceram 16 por cento nos primeiros três meses do ano.


Diz Madrinha que, face a tudo isto, «nos sobra, pelo menos, aquele direito de que em tempos falava o ex-Presidente Mário Soares: o direito à indignação».

Devemos perguntarmo-nos se para além da indignação, esse sentimento de cólera que se sente por algo repulsivo, haverá ainda mais alguma coisa que possamos fazer?
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sábado, dezembro 22, 2007

As fracturas dialécticas de Menezes

Expresso - 22/12/2007

Luís Filipe Menezes tem em Nicolas Sarkozy um modelo inspirador e propõe-se, como ele, avançar propostas fracturantes que não deixem ninguém indiferente. "Faço a aposta radical de, em meia dúzia de meses, liberalizar a legislação laboral (...) e desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem e que oprime as pessoas", afirma o líder do PSD em entrevista ao Expresso, onde esclarece que continua defensor do Estado Social, mas na versão "Estado possível".

Consigo, as funções do Estado seriam encurtadas. "O Estado deve sair do ambiente, das comunicações, dos transportes, dos portos e, na prestação do Estado Social, deve contratualizar com os privados e acabar com o monopólio na saúde, educação e segurança social", afirma o líder social-democrata. Acusando o PSD de andar, há 12 anos, sem conseguir demarcar-se verdadeiramente do PS nestes sectores, Menezes propõe-se fazer rupturas...

(...) Luís Filipe Menezes não esconde que gerir a imagem com profissionalismo é uma prioridade. Esta semana fechou com a agência de comunicação de António Cunha Vaz um acordo que custará ao partido "25 a 30 mil euros por mês".


Jornal Sol - 23/11/2007:

«As dívidas são legais» , afirmou o líder social-democrata e presidente da Câmara Municipal de Gaia, Luís Filipe Menezes, numa reacção aos dados do Tribunal de Contas revelados quinta-feira que apontam a sua autarquia como aquela que mais se endividou na banca ao longo dos últimos dois anos.

O município liderado por Luís Filipe Menezes (PSD) contraiu 18 empréstimos no período em análise, no valor global de 74,5 milhões de euros.

(...) Luís Filipe Menezes disse, contudo, compreender que o queiram «atacar» e que alguns «agentes políticos» tentem «exacerbar» os números apurados pelo Tribunal de Contas.

«É a dialéctica normal do confronto político» , sustentou.


Miguel Sousa Tavares (Expresso 11/11/2007) - «... o pacto de dez anos proposto por Luís Filipe Menezes a José Sócrates, quanto às grandes obras públicas, é uma proposta indecorosa. Traduzida por miúdos, quer dizer o seguinte: "Independentemente de saber quem vai ganhar as eleições nos próximos dez anos, vamos pôr-nos de acordo em satisfazer os nossos comuns clientes e financiadores, para que eles tenham a segurança de saber que, seja quem for, os seus negócios estão seguros com qualquer um de nós"


Comentário:

Tal como Menezes se inspira em Sarkozy, também os portugueses, para lidar com os políticos honestos cá do burgo, deviam igualmente inspirar-se na França, em termos de propostas fracturantes:

From Wikipedia, the free encyclopedia: A fracture is the separation of a body into two, or more, pieces under the action...