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Fareed Zakaria: Os trabalhadores têm de enfrentar a força da tecnologia, ou seja, as máquinas podem fazer o que antes era feito por pessoas.
Já lá vão uns anos, postei uma entrevista de Jon Stewart a Fareed Zakaria, editor da revista "Time". O neoliberalismo da blogosfera exultou, sobretudo a rapaziada do blogue Blasfémias. Contudo, Fareed Zakaria tem vindo, pé ante pé, a mudar de opinião...
VÍDEO legendado em português:
Jon Stewart tem por convidado Fareed Zakaria, apresentador de "GPS", na CNN e editor da revista "Time" que vem apresentar o seu ultimo trabalho e best-seller, o livro "The Post - American World".
Jon Stewart: Quero falar da nossa Economia em relação ao exterior. Perdemos o comboio? Continuamos a ser a superpotência económica que já fomos?
Fareed Zakaria: Ainda somos, de longe, a maior economia mundial, mas, neste momento, há uma grande diferença na Economia. As empresas americanas estão a sair-se lindamente. Têm acesso a capital barato, conseguem mão-de-obra barata em várias partes do mundo e têm tecnologia de ponta. O índice S&P 500 está óptimo, o mercado bolsista subiu 85%. Porém, o futuro do trabalhador médio Americano é muito diferente. Essas pessoas estão limitadas aos EUA, não têm poder de alcance, há dez anos que não há aumentos.
Jon Stewart: O capital é móvel, mas as pessoas…
Fareed Zakaria: Exactamente. Por isso, os trabalhadores têm de enfrentar a força da tecnologia, ou seja, as máquinas podem fazer o que antes era feito por pessoas. Já há programas informáticos que podem fazer coisas que só os advogados podiam.
Jon Stewart: O que podem os advogados fazer que os computadores não possam?
Fareed Zakaria: Mas o outro aspecto é que é possível produzir coisas em qualquer parte do mundo. Juntamos a tecnologia e a globalização, e temos uma situação muto difícil para o trabalhador americano. Se olharmos para o mercado de trabalho americano, neste momento, temos oficialmente sete milhões de desempregados, mas, se juntarmos todas as pessoas que deixaram de procurar trabalho e as que têm empregos a tempo parcial, que pagam metade do salário médio, temos 24 milhões de pessoas nos EUA com empregos precários ou que estão desempregadas. E esses números estão a piorar. Se olharmos para o orçamento, prevê a criação de 20 milhões de empregos nos próximos dez anos.
Jon Stewart: Ouvimos falar de emprego para aqui e para ali, da Economia… Mas não consigo apontar nada que alguém tenha feito para melhorar esta situação e, neste momento, só oiço falar do plano republicano de que temos de melhorar as condições para as empresas. Porém, acho um disparate achar que podemos criar para as empresas condições de competitividade como na Índia ou na China. Os americanos não vão viver, nem devem, como esses trabalhadores. Conquistámos o estatuto de classe média, e não sei… De que forma conseguimos isso favorecendo mais as empresas? Não podemos competir com esse sistema.
Fareed Zakaria: A curto prazo, não, sem dúvida. A curto prazo, se cortarmos despesa, o que vai fazer-se é despedir professores, despedir bombeiros, despedir polícias. Por mais que se pense nos efeitos a longo prazo desses cortes, ou seja, que se conseguirá um Estado menos despesista, a curto prazo, iremos ter mais pessoas desempregadas, menos pessoas com poder de compra, menos pessoas a ir comer fora e a contribuir para a Economia. O ideal - e é uma das coisas de que falo no meu livro...
Se pensarmos em Silicon Valley. Esta resulta de de um excelente sistema educativo público, com os excelentes campus de universidades da Califórnia, um excelente sistema educativo público. Foi criado devido à procura de engenheiros pelo departamento de Defesa, a Lockeed. Todas essas empresas. O Governo americano costumava comprar todos os chips que eram lá fabricados.
Jon Stewart: Estás a dizer que o segredo é a Educação e a Guerra. Se pudermos continuar a desencadear guerras mundiais e duplicar os gastos em formação, podemos resolver este problema.
Fareed Zakaria: As guerras mundiais são muito úteis. As pequenas guerras não ajudam o suficiente. Depois é preciso destruir a concorrência. Foi a grande vantagem da II Guerra Mundial. Arrasou-se com a concorrência, nós ficámos por cima... é o plano Stewart-Zakaria.
Jon Stewart: Não sei porque é que ninguém se apresenta com essa ideia – América, vamos arrasar com vocês…
Fareed Zakaria: E depois vendemos-vos coisas.
Jon Stewart: E depois, vendemos-vos o que precisam para a reconstrução...
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