Mário Soares não teve meias palavras na abertura do encontro que promoveu na Aula Magna, em Lisboa, descrevendo a situação do país como "de grande risco" e mesmo "a caminho da ditadura". O ex-chefe de Estado pediu a demissão do governo e do actual Presidente e afirmou que "
Mário Soares considerou a acção de Cavaco Silva "inaceitável", porque "jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição e não o está a fazer". "Só protege um único partido, que é o seu próprio", disse Soares convidando o Presidente e o governo a demitirem-se "
". Se isto não acontecer, de acordo com a tese do ex-presidente, "
Para Mário Soares, Cavaco Silva "é o principal responsável da situação inaceitável a que se chegou. Porque é o protetor do seu partido e também
", remata o histórico socialista, depois de chamar a atenção para a "situação de desespero em que as pessoas estão, que pode conduzir à violência". Soares defende ainda que só um novo Governo e um novo Presidente poderão criar condições para "dialogar com as pessoas, lutar contra o desemprego e evitar os suicídios, o desespero, a criminalidade, a emigração e a miséria".
Àqueles (cada vez menos) que consideram um apelo à violência as palavras de Mário Soares e que dizem: "o Governo foi eleito democraticamente", "as instituições parecem funcionar normalmente", "estamos a respeitar os nossos compromissos (porque somos um Estado de bem)", é necessário fazê-los compreender que o Estado está sequestrado por uma Máfia Financeira, cujos tentáculos dominam:
1 - O Governo: um bando de "funcionários bancários" que passam por políticos e que tem por único propósito enriquecer a Banca à custa do Estado, das Empresas e da População;
2 - A Assembleia da República (que não passa de um centro de corrupção e de uma grande central de negócios);
3 - Os Grandes Escritórios de Advogados que redigem legislação perfeitamente impercetível, com muitas regras para ninguém perceber nada, muitas excepções para beneficiar os amigos e um ilimitado poder discricionário a quem aplica a lei;
4 - A Procuradoria-Geral da república que, não só não investiga, como trava as investigações;
5 - Os Media: os jornais e as televisões com os seus exércitos de propagandistas mentirosos a entrarem-nos diariamente em casa.
E, sabendo disto, não terá a população motivos mais que suficientes para se revoltar violentamente? As condições não estarão reunidas para que cidadãos civis, polícias e militares iniciem a caça à escumalha que nos está atirar a todos para a miséria, a fome, o desemprego, a criminalidade, o suicídio e a morte?
A política deste governo tem sido de uma violência inaudita contra milhões de portugueses. E numa situação em que um povo inteiro está sonegado de todas as entidades que o deveriam defender contra a Máfia do Dinheiro, acolitada por políticos corruptos, legisladores venais e comentadores a soldo, só existe uma solução para resolver a «Crise»... Somos 10 milhões contra algumas centenas de sanguessugas... e não há buracos suficientes para elas se esconderem...
Dirigentes do Bloco estudaram
o percurso de 115 ex-governantes: 84 foram para a Banca
ou tiveram uma ligação ao sector bancário, passando por órgãos sociais dos mais diversos bancos. Mais interessante ainda: desses 84 ex-governantes com ligação à banca, na grande maioria dos casos (56, ou seja, dois terços,) essa ligação não tinha antecedentes, e só surgiu depois da passagem pelo Governo.
Os dados apurados permitem aos autores sustentar a tese da
integração sistémica assegurada por estes dirigentes... A generalidade dos bancos reconhece a importância deste "ativo estratégico" e vai buscar ex-ministros e secretários de Estado (sobretudo os que passaram pelas finanças e economia, mas não só...
A banca é o máximo denominador comum neste universo, mas os ex-governantes ganharam destaque nas mais variadas empresas e grupos económicos. Destaque-se o Grupo Mello, as empresas públicas ou aquelas onde o Estado tem participação relevante também se tornam autênticos albergues de ex-governantes — veja-se a CGD, a PT ou a EDP...
Por outro lado, esta contaminação entre política e negócios permite "a promoção de uma meteórica mobilidade social ascendente", pois a passagem pelo Governo é "
um condão que transforma dezenas de quadros técnicos, docentes universitários ou responsáveis partidários em administradores de empresas privadas ou participadas, com acesso a rendimentos absolutamente incomparáveis com os auferidos anteriormente”.
Os bloquistas apontam um terceiro aspeto deste fenómeno: a "forte promiscuidade", com “
governantes que transitam diretamente da tutela para a gestão de topo de empresas cujo quadro de atuação condicionaram imediatamente antes”. Há bons exemplos nas obras públicas (Ferreira do Amaral, Jorge Coelho, Luís Parreirão) e na energia (Pina Moura, Fernando Pacheco). A grande maioria dos ex-governantes portugueses que se dedicaram aos negócios privados têm ou tiveram uma ligação ao sector bancário...
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A ilusão da livre escolha entre Direita e Esquerda
The Establishment's Two-Party Scam
Chris Gupta: Esta fraude consiste na fundação e financiamento pela elite do poder de dois partidos políticos que surgem aos olhos do eleitorado como antagónicos, mas que, de facto, constituem um partido único. O objectivo é fornecer aos eleitores a ilusão de liberdade de escolha política e serenar possíveis sentimentos de revolta contra a elite dominante.
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Dr. Stan Monteith: "De há muito, o principal problema da vida política americana tem sido tornar os dois partidos congressionais (o partido Republicano e o partido Democrata) mais nacionais. O argumento de que os dois partidos deviam representar políticas e ideias opostas, uma, talvez, de Direita e a outra de Esquerda, é uma ideia ridícula aceite apenas por teóricos e pensadores académicos. Pelo contrário, os dois partidos devem ser quase idênticos, de forma a convencer o povo americano de que nas eleições pode "correr com os canalhas", sem na realidade conduzir a qualquer mudança profunda ou abrangente na política."
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George Wallace (foi candidato à Presidência norte-americana. Este afirmou: "... não existe diferença nenhuma entre Republicanos e Democratas."
"... A verdade é que a população raramente é envolvida na selecção dos candidatos presidenciais; normalmente os candidatos são escolhidos por aqueles que secretamente mandam na nossa nação. Assim, de quatro em quatro anos o povo vai às urnas e vota num dos candidatos presidenciais seleccionados pelos nossos 'governantes não eleitos.' Este conceito é estranho àqueles que acreditam no sistema americano de dois-partidos, mas é exactamente assim que o nosso sistema político realmente funciona."
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O Professor Arthur Selwyn Miller foi um académico da Fundação Rockefeller. No seu livro «The Secret Constitution and the Need for Constitutional Change» [A Constituição Secreta e a Necessidade de uma Mudança Constitucional], que foi escrito para aqueles que partilhavam os segredos da nossa ordem social, escreveu:
"... aqueles que de facto governam, recebem as suas indicações e ordens, não do eleitorado como um organismo, mas de um pequeno grupo de homens. Este grupo é chamado «Establishment». Este grupo existe, embora a sua existência seja firmemente negada; este é um dos segredos da ordem social americana. Um segundo segredo é o facto da existência do Establishment – a elite dominante – não dever ser motivo de debate. Um terceiro segredo está implícito no que já foi dito – que só existe um único partido político nos Estados Unidos, a que foi chamado o "Partido da Propriedade." Os Republicanos e os Democratas são de facto dois ramos do mesmo partido."
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O Professor Carroll Quigley, foi o mentor de Bill Clinton quando este era um estudante na Universidade de Georgetown. O Professor Quigley deu aulas tanto na Universidade de Harvard como na de Princeton antes de se fixar na Universidade de Georgetown.
No seu livro «Tragedy and Hope: A History Of The World In Our Time» - [Tragédia e Esperança: uma história do Mundo dos nossos dias], Quigley documenta as origens da sociedade secreta que controla os nossos partidos políticos hoje e que se manifesta nas posições chave ocupadas pelo Council on Foreign Relations [Conselho das Relações Exteriores].
"... De forma optimista, podem sobreviver para o indivíduo comum os elementos da escolha e liberdade no sentido em que ele será livre de escolher entre dois grupos políticos antagónicos (mesmo que estes grupos tenham pouca latitude de escolha política dentro dos parâmetros da política estabelecida pelos especialistas), e o indivíduo tenha a oportunidade de escolher mudar o seu apoio de um grupo para outro. Mas, em geral, a sua liberdade e poder de escolha serão controlados entre alternativas muito apertadas"...
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Discurso integral de Pacheco Pereira:
Como é que vos (nos) devo (devemos) tratar?
Queria evitar o frémito que Mário Soares provocou na última destas reuniões ao me chamar "camarada", coisa que gerou alguma excitação nas hostes. Devo por isso dirigir-me ao nosso anfitrião como "companheiro", a fórmula de conveniência, que se usa, ou melhor, usava no PSD? Ou, na tradição republicana, "correlegionário"? Ou devo lembrar que "camarada" é, entre outras coisas, uma fórmula de tratamento que os nossos militares aqui presentes reconheceriam nos seus "camaradas de armas"? Ou, se ainda houvesse tipógrafos, lembrar que esta era uma forma de tratamento comum entre profissionais de vários ofícios, para além dos ideais políticos de cada um? Ou, para fugir à carga das palavras, sinal também ela da crise que atravessamos, usar uma fórmula de tratamento esquecida, usada pelos velhos operários esperantistas, "samideano", no seu significado de "com as mesmas ideias", ou numa tradução de um dicionário esperantista, "co-idealista"? Não devo, porque há muitos materialistas na sala e não há palavra, nem em esperanto, para co-materialista.
Vou usar outra fórmula, aquela que o Manuel Alegre conhece bem, que vinha da Rue Auger, Alger, Algerie e que iniciava as emissões da Rádio Voz da Liberdade, com um tonitruante "Amigos, companheiros e camaradas".
Como membro de uma minoria em extinção, pelo menos no topo do meu partido, o PSD, a dos social-democratas, não se espere de mim nem uma palavra de justificação por aqui estar. Bem pelo contrário, farei a muitos a pergunta de por que razão não estão aqui de corpo, já que de espírito muitos estarão. Não os represento, não represento ninguém a não ser a mim próprio e mesmo assim de forma bastante imperfeita, mas os tempos não estão para inércias nem para confortos, nem para encontrar pretextos do passado, ou diferenças no futuro, para não se lutar, não pelas mesmas coisas, mas contra as mesmas coisas. Em momentos de profunda crise, tem que ser assim, sempre foi assim, e esse é o sentido mais profundo deste tipo de iniciativas de Mário Soares. O incómodo que geram, no poder e na oposição, vem disso mesmo.
Nós somos de facto muito diferentes entre nós, somos aquilo que no mundo anglo-saxónico se chamaria "strange bedfellows", estranhos companheiros de cama. Não se assustem as almas pudibundas, porque a expressão vem de Shakespeare e refere-se ao manto em comum que protege os marinheiros da tempestade, "misery / acquaints a man with strange bedfellows".
Na verdade, estranha assembleia esta que junta quem quer rasgar o memorando e colocar delicadamente a troika na rua, quem a quer colocar na rua menos delicadamente, com quem aprovou o chamado Pacto Orçamental, com quem pensa que o memorando, filho da necessidade extrema, podia ser aplicado de modo muito diferente, sem o rastro de incompetências e mistelas ideológicas deixado nestes dois anos.
É ambígua essa "unidade"? É sem dúvida, mas seria muito mais perigoso não ter qualquer forma de entendimento quando o mal que se está a fazer ao país, a Portugal, a tempestade que nos assola, é tão grave que considerações de conveniência só servem o Deus dos trovões e da chuva que nos quer afundar o navio. Sim, até porque muitos marinheiros já estão na água, como aqueles a quem se chama eufemisticamente "desempregados de longa duração", ou seja, aqueles portugueses cuja vida está estragada até ao fim dos seus dias.
E nem sequer estou certo que o que nos une seja o lema deste encontro: "Em defesa da Constituição, da democracia e do estado social". Não me entusiasma como lema, ninguém se mobiliza por uma lei, mas por aquilo para que essa lei serve, ou aquilo que essa lei defende: democracia, confiança, soberania, contrato social. Ninguém se mobiliza pelo “estado social” que é muitas vezes uma abstracção ideológica. Mobiliza-se por que todos possam ter uma vida decente, saúde, educação, segurança, – muita gente esquece-se que existe também um direito à segurança, – e para que ninguém possa ser excluído desses bens básicos porque não tem dinheiro. E se alguns podem, devem apoiar os que não podem, não como caridade ou assistência, mas como forma natural de viver em sociedade. Tão simples como isso. Vem no Programa do PSD escrito por Sá Carneiro, vem na doutrina social da igreja.
Mas, acima de tudo, custa-me a ideia de que o papel dos que aqui estão seja apenas "defender" como se estivessem condenados a travar uma luta de trincheiras. Não, os que aqui estão não estão a defender coisa nenhuma, mas a atacar a iniquidade, a injustiça, o desprezo, o cinismo dos poderosos para quem a vida decente de milhões de pessoas é irrelevante, não conta, é um "custo" que se deve "poupar". A transformação da palavra "austeridade" numa injunção moral serve para um Primeiro-ministro, apanhado pelo sucesso dos celtas, sorrir cinicamente para nos dizer que a "lição" da Irlanda é a ainda precisamos de mais austeridade, ainda precisamos de mais desemprego, ainda precisamos de mais pobreza. E sorri muito contente consigo mesmo.
O discurso de contínua mentira e falsidade que nos diz como se fosse uma evidência, que “as empresas ajustaram, as famílias ajustaram, só o estado não o fez”, como se as três entidades fossem a mesma coisa e o verbo "ajustarem" significasse o retorno a um estado natural das coisas de que só o vício de quererem viver melhor afastou os portugueses. Na verdade, pode-se dizer que "as empresas ajustaram". Sim algumas "ajustaram", mas a maioria "ajustou" falindo e destruindo o emprego, - que para quem não tem outra "propriedade" é o seu modo de vida. As famílias não "ajustaram", empobreceram e estão a empobrecer muito, para ter que ouvir como insulto os méritos de perderem a casa ou o carro, ou a educação superior para os seus filhos, e o valor moral de deixar de comer bife e passarem a comer frango.
No entanto, há uma coisa em que estou de acordo, de facto o estado não "ajustou", continua religiosamente pagar os desmandos dos contratos leoninos das PPPs, a negociar com vantagem para o sistema financeiro, os contratos swap, em vez de receber a lição do sucesso judicial de empresários que recorreram aos tribunais, a baixar uns impostos para algumas empresas ao mesmo tempo que continua a permitir que um contínuo entre um establishment no poder ligado ao sector financeiro capture as decisões políticas, tornando intangíveis os seus interesses na razão directa em que viola todos os contratos com os homens e mulheres comuns, destruindo toda a confiança que numa sociedade democrática é a garantia do contrato social.
Nos comícios da oposição antes do 25 de Abril cantava-se muito o hino nacional. No grande comício de Norton de Matos no Porto, em 1949, deve-se ter cantado pelo menos meia dúzia de vezes, nem que seja pelo prazer de gritar o "às armas", que mais do que um grito "às armas", - estejam sossegados não é isso que quero dizer, - era um grito pela resistência da nação face aos seus inimigos. Não sei se os organizadores desta sessão previram esse acto, mas deviam ter pensado nisso porque é de Portugal que se trata e o hino não é só para usar no futebol.
Quem sente Portugal como uma comunidade, dos pescadores do Algarve, da Nazaré, das Caxinas, dos pequenos empresários de Leiria ou de Viseu, dos operários têxteis do Ave, dos professores de todo o país, dos agricultores dos Açores, do Minho ou do Ribatejo, dos comerciantes do Porto e de Lisboa, dos universitários de Aveiro ou de Braga, dos funcionários públicos que permitem o funcionamento de escolas, tribunais, municípios e hospitais, dos trabalhadores da indústria metalomecânica, da cortiça, dos moldes, dos transportes, dos agentes das forças de segurança e militares, dos reformados e pensionistas, percebe a enorme destruição desta crise, que atinge avós, pais e netos, todas as gerações, que atinge quem tem muito pouco e quem ainda tem alguma coisa, mas que não atinge quem tem muita coisa. Esta é que é a nossa comunidade, um Portugal cuja mera enunciação viola a afrontosa redução de tudo e todos à ambígua designação de "empreendedores" de um lado e "piegas" gastadores do outro. Ou que torna inaceitável o obsceno uso da palavra soberania ou do protectorado para desresponsabilizar o governo e os seus apoiantes de políticas que abraçaram com todos os braços, e que agora, quando correm mal, fazem de conta que não é com eles.
O que nos une aqui é um outro dilema, a "questão que temos connosco mesmos" do poema de Alexandre O’Neil:
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
perdigueiro marrado e sem narizes,
meu remorso de todos nós . . .
É para não termos esse remorso que estamos aqui, não à defesa, mas ao ataque. Ao ataque por todos os meios constitucionais.
Por aquilo a que chamávamos no passado "a nossa pátria amada".