[Tradução minha]
A seguir à Segunda Guerra Mundial, B.H. Liddell Hart, um dos principais historiadores militares do século XX, e autor de trabalhos sobre estratégia militar e sobre as duas Guerras Mundiais, aproveitou a oportunidade de visitar e interrogar muitas das figuras-chave do esforço de guerra alemão. Em 1948, publicou um livro que teve por base estas conversas, intitulado "The Other Side of the Hill" (O Outro Lado da Colina), também publicado noutros lugares com o título "The German Generals Talk". Este livro cobre uma vasta gama de tópicos, desde campanhas militares, até à conspiração anti-Hitler que culminou na tentativa de assassinato de 20 de Julho de 1944, discórdias entre Hitler e o comando geral militar, opiniões de oficiais célebres como Erwin Rommel, e opiniões dos principais adversários da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.
A seguir à Segunda Guerra Mundial, B.H. Liddell Hart, um dos principais historiadores militares do século XX, e autor de trabalhos sobre estratégia militar e sobre as duas Guerras Mundiais, aproveitou a oportunidade de visitar e interrogar muitas das figuras-chave do esforço de guerra alemão. Em 1948, publicou um livro que teve por base estas conversas, intitulado "The Other Side of the Hill" (O Outro Lado da Colina), também publicado noutros lugares com o título "The German Generals Talk". Este livro cobre uma vasta gama de tópicos, desde campanhas militares, até à conspiração anti-Hitler que culminou na tentativa de assassinato de 20 de Julho de 1944, discórdias entre Hitler e o comando geral militar, opiniões de oficiais célebres como Erwin Rommel, e opiniões dos principais adversários da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.
O livro no qual Sir Liddell Hart interrogou
muitas das figuras-chave das forças armadas da Alemanha nazi
muitas das figuras-chave das forças armadas da Alemanha nazi
Dunquerque também foi discutido neste trabalho histórico fundamental. Este é o pano de fundo:
Na sequência da vitória sobre a Polónia em 1939, Hitler defendeu um ataque imediato à França pelo oeste, desconhecendo que os franceses, que estiveram relutantes em entrar na Guerra, não tinham intenções de efectuar nenhuma ofensiva contra a Alemanha, tendo, pelo contrário, planeado uma campanha defensiva, provavelmente com o objectivo final de ganhar outra guerra de atrito.
Os planos iniciais de Hitler e do Comando Geral Militar encaixavam nesta estratégia, e, na realidade, não incluíam outros objectivos que a captura de certos pontos de valores estratégicos, o que lhes permitiria prosseguir o combate aéreo e naval contra a Grã-Bretanha. Inicialmente, Hitler não antevia nenhuma vitória integral, como a que tinha sido obtida na Polónia. Mas depois de numerosos adiamentos da ofensiva, devido a uma combinação de circunstâncias, Hitler acabou por adoptar o plano ambicioso do brilhante oficial Erich von Manstein. A "Operation Sickle-cut" (Operação Corte de Foice) foi a obra-prima que neutralizou a França numa questão de semanas.
Poderosas forças blindadas alemãs iriam avançar através da supostamente intransponível Floresta das Ardenas da Bélgica e da França e, então, dirigir-se rapidamente até à costa, seccionando uma grande parte do exército francês e todo o BEF (Forças Expedicionárias Britânicas - British Expeditionary Forces). O sucesso deste plano é bem conhecido. Liderado por um dos maiores génios da guerra de carros blindados, Heinz Guderian, os alemães passaram pelas defesas francesas, repeliram alguns contra-ataques, e alcançaram o mar, isolando milhares de tropas francesas que tinham sido enviadas para a Bélgica assim como todas as Forças Expedicionárias Britânicas. Os aliados, batidos e desmoralizados, retiraram ao longo da costa, e, em pouco tempo, o único porto que possibilitava a fuga era Dunquerque. As fragmentadas forças britânicas e francesas recuaram para este porto.
Os agressivos generais alemães queriam perseguir os seus derrotados adversários até Dunquerque, e capturá-los a todos. Mas, para sua grande frustração, Hitler deu ordens para deter o avanço. Ao princípio, alguns comandantes alemães tentaram ignorar as ordens, mas Hitler repetiu a ordem e as vitoriosas forças panzer pararam durante três dias, permitindo aos britânicos e aos franceses escapar por mar, não obstante o assédio da Luftwaffe (Força Aérea Alemã).
Wikipédia - Uma pausa na intensidade dos combates permitiu inesperadamente a evacuação de um grande número de soldados franceses e britânicos para Inglaterra. Mais de 300.000 homens foram evacuados apesar do bombardeamento constante ("o milagre de Dunquerque", nas palavras de Winston Churchill)
Porque é que foi dada a absurda ordem para parar, quando o inimigo estava batido e sem capacidade para travar o poderosos exército alemão? Mais tarde, Hitler deu várias desculpas para este erro crasso. Hitler disse ao Marechal de Campo von Kleist, "Não quis enviar os tanques para os pântanos da Flandres – e os britânicos já não regressariam nesta guerra". A outros, explicou que estava preocupado com possíveis problemas mecânicos de muitos dos tanques, e que queria ter tanques suficientes para derrotar definitivamente a França.
Mas a 24 de Maio de 1940, enquanto a campanha estava ainda em desenvolvimento, Hitler expressou um motivo mais profundo, mais político, aos membros do estado-maior do marechal de campo von Rundstedt. Isto foi relatado pelo General Blumentritt a Liddell Hart:
"Hitler estava de excelente humor, admitiu que o curso da campanha tinha sido 'um verdadeiro milagre', e deu-nos a sua opinião de que a guerra estaria acabada em seis semanas. Que ele desejava concluir uma paz razoável com a França, e que então o caminho estaria livre para um acordo com a Grã-Bretanha."
"Depois Hitler deixou-nos estupefactos ao falar com admiração do Império Britânico, da necessidade da sua existência, e da civilização que a Grã-Bretanha trouxe ao mundo. Salientou, com um encolher de ombros, que a criação do Império tinha sido alcançado por meios que tinham sido muitas vezes duros, mas que 'não se podem fazer omeletas sem partir ovos'. Comparou o Império Britânico à Igreja Católica, afirmando que ambos eram elementos essenciais para a estabilidade do mundo. Hitler disse que tudo o que ele queria da Grã-Bretanha era que esta reconhecesse a posição da Alemanha no continente europeu. O regresso das colónias que a Alemanha perdera seria desejável mas não essencial, e até se oferecia para apoiar a Grã-Bretanha com tropas se esta estivesse em dificuldades onde quer que fosse. Frisou que as colónias eram sobretudo uma questão de prestígio, já que não podiam ser mantidas durante a guerra, e poucos alemães teriam capacidade de se estabelecer nos trópicos."
"Hitler concluiu dizendo que o seu objectivo era fazer a paz com a Grã-Bretanha em termos que esta considerasse serem compatíveis de aceitar com honra."
B.H. Liddell Hart concluiu a sua abordagem sobre Dunquerque com estas frases fascinantes: "Terá esta atitude de Hitler em relação à Inglaterra sido motivada apenas pela ideia política, que ele vinha acalentando há muito, de fazer uma aliança com ela? Ou terá sido inspirada por um sentimento mais profundo que se declarou neste momento crucial? Existem vários elementos complexos nesta questão que sugerem que ele tinha uma mistura de sentimentos de amor-ódio em relação à Inglaterra semelhantes às do Kaiser. Qualquer que seja a verdadeira explicação, podemos, no mínimo, ficar contentes com o resultado. Porque as suas hesitações permitiram a salvação da Grã-Bretanha no momento mais crítico da sua história".
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Na sequência da vitória sobre a Polónia em 1939, Hitler defendeu um ataque imediato à França pelo oeste, desconhecendo que os franceses, que estiveram relutantes em entrar na Guerra, não tinham intenções de efectuar nenhuma ofensiva contra a Alemanha, tendo, pelo contrário, planeado uma campanha defensiva, provavelmente com o objectivo final de ganhar outra guerra de atrito.
Os planos iniciais de Hitler e do Comando Geral Militar encaixavam nesta estratégia, e, na realidade, não incluíam outros objectivos que a captura de certos pontos de valores estratégicos, o que lhes permitiria prosseguir o combate aéreo e naval contra a Grã-Bretanha. Inicialmente, Hitler não antevia nenhuma vitória integral, como a que tinha sido obtida na Polónia. Mas depois de numerosos adiamentos da ofensiva, devido a uma combinação de circunstâncias, Hitler acabou por adoptar o plano ambicioso do brilhante oficial Erich von Manstein. A "Operation Sickle-cut" (Operação Corte de Foice) foi a obra-prima que neutralizou a França numa questão de semanas.
Poderosas forças blindadas alemãs iriam avançar através da supostamente intransponível Floresta das Ardenas da Bélgica e da França e, então, dirigir-se rapidamente até à costa, seccionando uma grande parte do exército francês e todo o BEF (Forças Expedicionárias Britânicas - British Expeditionary Forces). O sucesso deste plano é bem conhecido. Liderado por um dos maiores génios da guerra de carros blindados, Heinz Guderian, os alemães passaram pelas defesas francesas, repeliram alguns contra-ataques, e alcançaram o mar, isolando milhares de tropas francesas que tinham sido enviadas para a Bélgica assim como todas as Forças Expedicionárias Britânicas. Os aliados, batidos e desmoralizados, retiraram ao longo da costa, e, em pouco tempo, o único porto que possibilitava a fuga era Dunquerque. As fragmentadas forças britânicas e francesas recuaram para este porto.
Os agressivos generais alemães queriam perseguir os seus derrotados adversários até Dunquerque, e capturá-los a todos. Mas, para sua grande frustração, Hitler deu ordens para deter o avanço. Ao princípio, alguns comandantes alemães tentaram ignorar as ordens, mas Hitler repetiu a ordem e as vitoriosas forças panzer pararam durante três dias, permitindo aos britânicos e aos franceses escapar por mar, não obstante o assédio da Luftwaffe (Força Aérea Alemã).
Wikipédia - Uma pausa na intensidade dos combates permitiu inesperadamente a evacuação de um grande número de soldados franceses e britânicos para Inglaterra. Mais de 300.000 homens foram evacuados apesar do bombardeamento constante ("o milagre de Dunquerque", nas palavras de Winston Churchill)
Porque é que foi dada a absurda ordem para parar, quando o inimigo estava batido e sem capacidade para travar o poderosos exército alemão? Mais tarde, Hitler deu várias desculpas para este erro crasso. Hitler disse ao Marechal de Campo von Kleist, "Não quis enviar os tanques para os pântanos da Flandres – e os britânicos já não regressariam nesta guerra". A outros, explicou que estava preocupado com possíveis problemas mecânicos de muitos dos tanques, e que queria ter tanques suficientes para derrotar definitivamente a França.
Mas a 24 de Maio de 1940, enquanto a campanha estava ainda em desenvolvimento, Hitler expressou um motivo mais profundo, mais político, aos membros do estado-maior do marechal de campo von Rundstedt. Isto foi relatado pelo General Blumentritt a Liddell Hart:
"Hitler estava de excelente humor, admitiu que o curso da campanha tinha sido 'um verdadeiro milagre', e deu-nos a sua opinião de que a guerra estaria acabada em seis semanas. Que ele desejava concluir uma paz razoável com a França, e que então o caminho estaria livre para um acordo com a Grã-Bretanha."
"Depois Hitler deixou-nos estupefactos ao falar com admiração do Império Britânico, da necessidade da sua existência, e da civilização que a Grã-Bretanha trouxe ao mundo. Salientou, com um encolher de ombros, que a criação do Império tinha sido alcançado por meios que tinham sido muitas vezes duros, mas que 'não se podem fazer omeletas sem partir ovos'. Comparou o Império Britânico à Igreja Católica, afirmando que ambos eram elementos essenciais para a estabilidade do mundo. Hitler disse que tudo o que ele queria da Grã-Bretanha era que esta reconhecesse a posição da Alemanha no continente europeu. O regresso das colónias que a Alemanha perdera seria desejável mas não essencial, e até se oferecia para apoiar a Grã-Bretanha com tropas se esta estivesse em dificuldades onde quer que fosse. Frisou que as colónias eram sobretudo uma questão de prestígio, já que não podiam ser mantidas durante a guerra, e poucos alemães teriam capacidade de se estabelecer nos trópicos."
"Hitler concluiu dizendo que o seu objectivo era fazer a paz com a Grã-Bretanha em termos que esta considerasse serem compatíveis de aceitar com honra."
B.H. Liddell Hart concluiu a sua abordagem sobre Dunquerque com estas frases fascinantes: "Terá esta atitude de Hitler em relação à Inglaterra sido motivada apenas pela ideia política, que ele vinha acalentando há muito, de fazer uma aliança com ela? Ou terá sido inspirada por um sentimento mais profundo que se declarou neste momento crucial? Existem vários elementos complexos nesta questão que sugerem que ele tinha uma mistura de sentimentos de amor-ódio em relação à Inglaterra semelhantes às do Kaiser. Qualquer que seja a verdadeira explicação, podemos, no mínimo, ficar contentes com o resultado. Porque as suas hesitações permitiram a salvação da Grã-Bretanha no momento mais crítico da sua história".
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