quarta-feira, janeiro 31, 2007

O Millennium bcp obteve 780,3 milhões de euros de lucro em 2006







O Millennium bcp obteve 780,3 milhões de euros de lucro no ano passado, uma subida de 27,9%, anunciou esta terça-feira a instituição financeira liderada por Paulo Teixeira Pinto.

Porque é que o «governo» de Sócrates, tal como os governos anteriores, recusa tributar correctamente os bancos, e não dá qualquer explicação aos portugueses?

Será que, como afirma Miguel Sousa Tavares (Expresso de 20/10/2006), os bancos estão entre as principais empresas que garantem o grosso dos financiamentos dos principais partidos (PS e PSD), e para onde os dirigentes partidários esperam retirar-se mais tarde ou que os seus deputados/advogados irão patrocinar, após cessada a sua passagem pela política?


Porque é que os BANCOS só pagam 11% de IRC, quando todas as outras empresas pagam 25%?


Porquê, Sócrates?

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Rockefeller, a Nova Ordem Mundial e o nosso Marcelo Rebelo de Sousa

David Rockefeller

"Estamos gratos ao The Washington Post, ao The New York Times, à Time Magazine e a outras publicações cujos directores estiveram presentes nas nossas reuniões e respeitaram as suas promessas de discrição durante quase quarenta anos. Ter-nos-ia sido impossível desenvolver o nosso plano para o mundo se tivéssemos estado sujeitos aos holofotes da atenção pública durante esses anos. Mas, o processo está agora muito mais sofisticado e preparado para avançar rumo a um governo mundial. A soberania supranacional de uma elite intelectual e banqueiros mundiais é certamente preferível à autodeterminação nacional praticada nos últimos séculos." - David Rockefeller num discurso de uma reunião da Comissão Trilateral em Baden-Baden, na Alemanha em Junho de 1991.


"Estamos à beira de uma transformação global. Tudo o que é necessário é a grande crise certa e as nações aceitarão a Nova Ordem Mundial." - David Rockefeller no Conselho do Comércio das Nações Unidas a 23 de Setembro de 1994.


David Rockefeller é organizador e membro do Grupo Bilderberg, do Instituto de Relações Internacionais (Council on Foreign Relations - CFR) e Presidente Honorário da Comissão Trilateral.

Quem fez parte da Comissão Trilateral, entre 1996 e 1999, foi o nosso Marcelo Rebelo de Sousa, uma figura maior entre outros nomes sonantes: George H.W. Bush, Dick Cheney, Henry Kissinger, Paul Wolfowitz, Frank Carlucci, etc. Que bom seria ouvi-lo perorar sobre os assuntos da Trilateral nas suas conversas dominicais. Seriam infinitamente menos enfadonhas.

domingo, janeiro 28, 2007

O aeroporto de Beja, o Alqueva, o Sócrates e os resorts

Sérgio Palma Brito - Diário de Notícias, 14 de Agosto de 2006

Um aeroporto em espaço rural?

No mais recente documento estratégico do Governo lemos: "Em 2008, estarão criadas as condições para dar-se início à exploração comercial do aeroporto de Beja (31 milhões de euros). O desenvolvimento do aeroporto terá justificação em função dos empreendimentos turísticos que estão a ser realizados no Alentejo a longo prazo. Adicionalmente, existem outros negócios (e. g. aeronáutica, manutenção, escola de treino...) que podem complementar a rentabilidade do aeroporto, mas que dificilmente justificam a sua viabilidade."

Sobre o plano de negócios do aeroporto de Beja, tenho lido os devaneios mais extraordinários, mas, talvez por ser alentejano, não os consigo entender.

A realidade é simples. Carga, não há. Mercado outbound (com destino ao estrangeiro), também não. Actividades aeronáuticas não se vislumbram.

Qualquer resort do litoral do Algarve está a mais de 120 km do aeroporto e, no interior, estará sempre muito mais perto de Faro.

Para servir a área de Lisboa, Beja só pode competir com a Ota em franjas de Setúbal-Sul. (...) Os resorts previstos para o Alentejo estão dispersos pela região. A maior concentração de camas vai de Tróia à Comporta e esta está a, pelo menos, 100 km. O posicionamento ambicioso dos resorts do Alentejo exclui-os do mercado charter de médio curso. Não vislumbro exemplo de um aeroporto para voos low-cost com a envolvente de Beja - alguém elaborou um benchmarking?


Comentário:

O aeroporto de Beja, orçado em 31 milhões de euros, é apenas a cereja no topo do bolo. Se já se construiu o Alqueva, o maior lago artificial da Europa, à custa do contribuinte para beneficiar os investidores turísticos, como não construir um aeroporto, igualmente à custa do contribuinte, para transportar os turistas aos resorts que vão ser construídos nas margens do lago?



Miguel Sousa Tavares – Expresso 10.06.2006:
O caso é que os contribuintes foram chamados a co-financiar o maior investimento público de sempre, porque lhes foi dito que, em obediência a um princípio de solidariedade nacional, havia que dar água e viabilidade agrícola ao Alentejo. Mas, afinal, descobre-se que não: que a melhor solução para Alqueva é continuarmos a comer alfaces espanholas e vender golfe aos ingleses. Seja. Mas enquanto que os contribuintes têm razões para sentirem que pagaram uma falsa necessidade pública, outros haverá, muito poucos, que vão fazer uma fortuna à conta do seu investimento: os proprietários de terras e os investidores turísticos. Sem Alqueva, eles não estariam minimamente interessados em investir lá, e, sem o esforço dos contribuintes, não haveria Alqueva. Isto significa, em termos práticos, que, através da mediação do Estado, o dinheiro de muitos vai ser transferido para o bolso de muito poucos. Há muitos palavrões jurídicos que me ocorrem para definir isto: desvio de poder, simulação de negócio, esbulho, fraude, enriquecimento sem causa, privatização gratuita de bem público, abuso de confiança, etc., etc. Ou, mais simplesmente, negócios à portuguesa: de um lado, o favor do Estado; do outro, a mal-chamada iniciativa privada.

sábado, janeiro 27, 2007

Miguel Monjardino do Expresso avisa-nos para as ambições espaciais chinesas

Uma surpresa estratégica chinesa

Jornal Expresso - 27 de Janeiro de 2007

«Ao longo dos últimos anos, a política externa chinesa assentou na ideia de que as surpresas raramente são uma boa opção em política externa. Então, o que é que levou Pequim a destruir um dos seus satélites com um míssil balístico no passado dia 11? Depois de um longo e embaraçoso silêncio, Liu Jianchao, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, veio a público no início da semana dizer que “o teste não foi dirigido contra nenhum país nem ameaça nenhum país”. »

«O melhor é começar por dizer o óbvio: o teste foi claramente dirigido contra Washington. O que Pequim fez no dia 11 foi mandar um forte recado estratégico aos decisores políticos e militares americanos. O espaço é absolutamente essencial para o modo americano de manter a paz e fazer a guerra.»

(...)

«O poder e as ambições militares espaciais da China não são, pois, uma novidade. O que é novo é a sua divulgação de uma forma tão pública e destrutiva, depois de anos a apelar publicamente à não-militarização do espaço. Uma preocupação e um sinal ajudam a explicar a surpresa do dia 11. A preocupação tem que ver com a construção de uma série de sistemas de defesa antimíssil pelos EUA. Do ponto de vista político, tecnológico e industrial, 2006 foi um ano extremamente importante nesta área.»

«Pequim teme que os sistemas antimíssil americanos, especialmente se forem apoiados por componentes espaciais, ponham em causa a credibilidade do seu arsenal nuclear estratégico e aumentem ainda mais o relacionamento militar de Washington com o Japão e Taiwan. No caso de ser impossível negociar um tratado que proíba o desenvolvimento e construção de sofisticados sistemas de defesa antimíssil, a China enviou a Washington sinal de que tem os meios para destruir os olhos e os ouvidos militares norte-americanos. O dia 11 de Janeiro lembra-nos que o impressionante crescimento económico chinês não deixará de ter consequências militares


Comentário:

Se bem que as preocupações de Monjardino com o poder e as ambições militares espaciais da China sejam genuínas, talvez o reputado escriba do Expresso não fizesse mal em dar uma vista de olhos às ambições militares espaciais dos Estados Unidos:

Na página 55 do documento «Reconstruindo as Defesas da América (Rebuilding America’s Defenses) de Setembro de 2000» está escrito, preto no branco, o seguinte:

«A clara supremacia no espaço de que desfruta hoje os Estados Unidos está a ficar progressivamente em risco. Para que as Forças Armadas norte-americanas continuem a expressar superioridade militar, o controlo do Espaço – definido pelo Comando Espacial como a «capacidade para assegurar o acesso ao Espaço, liberdade de operações no meio espacial, e a capacidade de negar aos outros o uso do Espaço» - deve ser um elemento essencial da nossa estratégia militar.»

De relembrar que no mesmo documento (de 2000), um ano antes do 11 de Setembro, era feito um apelo a "algum evento catastrófico e catalisador, como um novo Pearl Harbor", o qual serviria para galvanizar a opinião pública americana em apoio a uma agenda de guerra" (pág. 51). E foi o que todos nós sabemos!

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Donald Rumsfeld? Puta que o pariu!

Jon Stewart, do Daily Show, descreve a despedida do ministro da Defesa, Donald Rumsfeld, e irrita-se com as interjeições caninas do ex-ministro sobre a guerra do Iraque do tipo "ora bolas", "chiça penico" e "cum camandro". E Stewart grita-lhe - "seus br*ches incompetentes, puta que os pariu".


Vídeo - 4:08m

DS - Rumsfeld p. que os pariu

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quinta-feira, janeiro 25, 2007

Os BANCOS portugueses controlam a política do Governo?


Reginald McKenna, presidente do Banco de Midland em Londres (18631943), foi Ministro do Tesouro Britânico e presidente do Banco de Midland em Londres (um dos maiores cinco bancos de Inglaterra), afirmou num discurso anual de accionistas, a 25 de Janeiro de 1924 (como registado no seu livro, Post-War Banking):

"I am afraid that ordinary citizens will not like to be told that the banks can, and do, create and destroy money. And they who control the credit of the nation direct the policy of governments, and hold in the hollow of their hands the destiny of the people."

"Receio que os cidadãos comuns não vão gostar de saber que os bancos podem, e fazem-no, gerar e destruir dinheiro. E que aqueles que controlam o crédito da nação, controlam a política dos governos e têm nas suas mãos o destino das pessoas".


Comentário:

Porque é que os BANCOS portugueses só pagam 11% de IRC, quando todas as outras empresas pagam 25%? Será que, como sugeriu Reginald McKenna, também os BANCOS portugueses controlam a política dos governos portugueses?

quarta-feira, janeiro 24, 2007

O terrorismo de Blair



The Guardian – 24 de Janeiro de 2007

Não há nenhuma guerra ao terrorismo

O acusador público, Sir Ken Macdonald, colocou-se ontem à noite contra o Ministro da Administração Interna e o Governo Inglês, negando que a Grã-Bretanha esteja no meio de uma "guerra ao terrorismo" e chamou a atenção para uma "cultura de repressão legislativa" ao aprovar leis para lidar com o terrorismo.

O senhor Ken advertiu para o risco pernicioso que uma resposta "dirigida ao medo e inapropriada" à ameaça poderia conduzir a Grã-Bretanha a abandonar o respeito por julgamentos justos no devido respeito da lei.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A OTA, o TGV, o Sócrates, as construtoras e os bancos

Porque é que os BANCOS que estes cavalheiros dirigem, têm garantidos desde já negócios milionários para a próxima década?








Porquê, Sr. Sócrates?




Miguel Sousa Tavares - Jornal Público - 9 de Dezembro de 2005

Delírios de rico em terra de pobres

Depois da Ota, o TGV. A febre dos "grandes projectos" tomou definitivamente conta do país e traz numa roda-viva de entusiasmo sem limites o Governo, as construtoras e os bancos: o primeiro apresenta "obra" e os outros têm garantidos desde já negócios milionários para a próxima década - desde que, como foram adiantando os nossos empresários, o Governo não se esqueça de, sem violar a legislação concorrencial comunitária, apresentar "regras flexíveis" que permitam às nossas empresas ser parte determinante do negócio.

Primeiro que tudo, o que impressiona nisto são os custos. A Ota vai custar, segundo as estimativas do Governo, 3,1 mil milhões de euros, e o TGV Lisboa-Porto e Lisboa-Madrid 7,6 mil milhões. Se, porém, considerarmos as inevitáveis derrapagens que qualquer, qualquer empreitada pública sempre tem por definição, se considerarmos que o custo público da Ota vai ser sob a forma de venda da ANA ou de abdicação das receitas aeroportuárias por várias décadas, e se levarmos em conta os juros do financiamento bancário, estaremos mais perto da verdade provável se falarmos num custo conjunto nunca inferior a 12 mil milhões de euros. É simplesmente astronómico.

Depois, impressiona esta largueza de vistas, sobretudo quando comparada com outros países, bem mais ricos e desenvolvidos, onde não existem estes cíclicos impulsos faraónicos. Pergunto-me como é que um país que tem como dois hospitais centrais principais, nas duas maiores cidades, o S. João no Porto e o S. José em Lisboa - onde parece não haver sequer dinheiro para tampas de retrete nas casas de banho - já fez coisas como Sines, Cabora Bassa, Alqueva, Euro 2004. Tudo investimentos megalómanos, "desígnios nacionais" como lhes chamaram, e "elefantes brancos", como merecem ser chamados. Por que é que a Holanda e a Bélgica, bem mais prósperos que Portugal, organizaram em conjunto o Euro 2000 e apenas precisaram de sete estádios, dos quais dois novos, e nós, organizando sozinhos, precisámos de dez estádios, dos quais oito novos? Por que é que, em vez do grande Alqueva, gigante adormecido e majestático, não se fizeram antes uma série de médias e pequenas barragens que cobrissem todo o Alentejo e Algarve e retivessem toda a água que inutilmente escorre para o mar? Por que é que Málaga tem um aeroporto que actualmente movimenta o mesmo número de passageiros que a Portela mas que cresce o dobro desta anualmente, com apenas uma pista contra as duas da Portela e ocupando 320 hectares contra os 520 da Portela, e só espera rever as suas condições no ano 2020? Por que é que nenhum país do Norte da Europa, e países tão extensos e tão ricos como a Suécia, a Noruega, a Finlândia, sentiu até hoje a necessidade imperiosa de se dotar de um TGV?

Cinquenta anos depois do mítico "Foguete", equipado com velhas locomotivas Fiat, os moderníssimos Alfa-Pendular demoram somente dez minutos a menos a fazer o Porto-Lisboa. Entretanto, gastaram-se décadas a desmantelar linhas interiores transformando o transporte rodoviário num próspero negócio privado com tremendos custos públicos. Entretanto, gastaram-se 600 milhões de euros para fazer apenas 30 quilómetros de linha compatível com o comboio pomposamente baptizado de pendular, antes de desistir e abandonar o projecto. Entretanto, nada se fez para começar a substituir a linha de bitola ibérica pela de bitola europeia nos percursos internacionais, constituindo, esta sim, a verdadeira causa de marginalidade de Portugal no domínio dos transportes e, uma vez mais, uma excelente oportunidade de negócio para o transporte TIR. Entretanto, dezenas de administrações, raramente nomeadas pela sua competência e antes pela sua dedicação partidária, acumularam prejuízos autenticamente escabrosos na CP, sem que jamais alguém fosse responsabilizado. E agora dizem-nos que tudo se resolve com um TGV para o Porto e outro para Madrid.

Sem dúvida que é urgente uma ligação ferroviária Lisboa-Porto em tempo compatível com os dias de hoje, quanto mais não seja para pôr fim à situação de oligopólio concertado que faz da ligação aérea entre estas duas cidades talvez a milha aérea mais cara do mundo. A questão está em saber se, em lugar da Alta Velocidade (AV), cuja construção tem custos assustadores, incluindo até a construção de duas novas pontes sobre o Tejo, não seria suficiente e mais à medida das nossas necessidades e possibilidades a construção de uma linha de Velocidade Elevada (EV), que tem custos incomparavelmente mais baixos e que, no final, gastaria apenas cerca de 25-35 minutos a mais do que os 75 minutos previstos na ligação em AV. Será mesmo imperioso passarmos directamente do oito para o oitenta?

Já quanto ao TGV para Madrid, façam por esquecer toda a propaganda associada: trata-se simplesmente de uma imposição de Madrid, que assim, tal como já sucedeu com a A6, coloca cá, mais depressa e mais baratos, os produtos que esmagam a nossa insípida concorrência. É um TGV para servir Madrid e a única boa notícia, entre os planos divulgados pelo Governo, é que ao menos houve o bom senso de congelar, espera-se que definitivamente, os projectos liquidatários de levar a nossa submissão ao ponto de construir também as linhas Porto-Vigo, Aveiro-Salamanca e Faro-Huelva, que, num acesso de diplomacia "construtiva", Durão Barroso se tinha comprometido com Aznar a levar por diante.

O esquema do Governo é este: a UE pagará entre 20 a 30 por cento dos custos de construção do TGV - os tais 7,6 mil milhões, com a nova ponte Chelas-Barreiro. O resto ficará por conta dos contribuintes portugueses e representa um custo não amortizável em vida das próximas gerações. Aliás, nem há, tecnicamente, forma de o amortizar, visto que os lucros da exploração das linhas ficarão para os privados, em troca da aquisição dos próprios comboios. O Lisboa-Porto é um negócio de lucro garantido à partida: com uma duração de 75 minutos entre as duas cidades, só um idiota é que se lembrará de ir de avião ou de carro. Mais incerto é o negócio Lisboa-Madrid. Para atrair os privados, o Governo estima que haja anualmente cinco milhões de passageiros a circular no TGV de e para Madrid. O número parece, desde logo, absurdo: haverá mesmo 13.700 passageiros por dia a viajar entre Madrid e Lisboa de comboio? Se considerarmos que as estatísticas europeias revelam que o TGV entre duas cidades absorve em média metade de todo o tráfego de passageiros existente no total dos meios de transporte, isso implica a existência de mais de 27 mil pessoas a viajar diariamente entre as duas cidades. Alguém acredita?

Por outro lado, é interessante comparar aqui os números da propaganda do Governo ao TGV com as da propaganda à Ota. Porque a ideia que fica é que estamos perante o clássico dilema do cobertor que ou destapa a cabeça ou destapa os pés. Se, na propaganda do TGV, se sustenta que haverá anualmente cinco milhões de utentes da linha Lisboa-Madrid, é forçoso concluir que o Governo, e logicamente, está a prever que essa ligação "seque" por completo as alternativas aérea e rodoviária. Ou seja, a esmagadora maioria dos passageiros entre as duas cidades optará pelo TGV. Logo, esses cinco milhões devem ser abatidos ao "congestionamento" imaginado para a Portela. E aos cinco milhões devemos acrescentar os 555 mil que actualmente voam entre o Porto e Lisboa. Somando uns e outros, temos que metade do actual trânsito da Portela (dez milhões e meio por ano) desapareceria automaticamente assim que o TGV entrasse ao serviço nas duas ligações. Conclusão: ou o TGV para Madrid assenta em previsões delirantes, que o tornam inútil, ou a Portela não está em vias de ficar saturada e inútil é a Ota.

sábado, janeiro 20, 2007

O ser humano começa na concepção?


Na foto um ser humano com 16 horas de vida.

No processo de clonagem, pega-se numa célula adulta diferenciada e retira-se o núcleo que é introduzido num óvulo sem núcleo. A nova célula é reprogramada ao estágio inicial (revertendo-se a diferenciação e tornando a célula totipotente e capaz de se tornar em qualquer tipo de tecido), e esta vai-se multiplicar até dar origem a um indivíduo adulto.

Por outras palavras, muitas das as células de um corpo adulto podem tornar-se indiferenciadas e tal como a célula–ovo, que é a primeira célula resultante da fusão do óvulo e do espermatozóide, podem vir a dar indivíduos completos.

Para os que defendem que o ser humano começa com a fusão do óvulo e do espermatozóide, então um número astronómico de células do nosso corpo devem, também elas, ser consideradas seres humanos, porque devidamente tratadas vão-se dividir e dar origem a indivíduos, tal como acontece com a célula–ovo.

Um indivíduo, não deve ser portanto considerado apenas um indivíduo, mas uma sociedade de milhares de milhões de indivíduos, porque muitas das suas células podem ser revertidas, tornadas totipotentes e dar origem a outros indivíduos adultos.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez?

Artigo 66º do actual Código Civil Português, aprovado em 25 de Novembro de 1966 e assinado por Américo Deus Rodrigues Thomaz e António de Oliveira Salazar:nº1: «A personalidade (jurídica) adquire-se no momento do nascimento completo e com vida».nº2: «Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento».

Catecismo da Igreja Católica aprovado por João Paulo II em 11 de Outubro de 1992:«Preservar o bem comum da sociedade pode exigir que se coloque o agressor em estado de não poder fazer mal. A este título, reconheceu-se aos detentores da autoridade pública o direito e a obrigação de castigar com penas proporcionadas à gravidade do delito, incluindo a pena de morte...»

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Banqueiros enriquecem com a revolução de Chávez

Heitor De Paola - 15 de setembro de 2006

Por que Lula e Chávez quase certamente serão re-eleitos, respectivamente em outubro e dezembro, com votações esmagadoras? Por que os governos castro-comunistas tendem a se expandir cada vez mais na América Latina (depois de Lula, Tabaré Vasquez, Evo Morales e Kirchner virão certamente Daniel Ortega na Nicarágua e talvez Marcelo Larrea no Equador)? Peru e México escaparam por pouco mas no último, a criação de um “governo paralelo” de López Obrador pode desestabilizar por completo as instituições nacionais.

Num artigo intitulado "Banqueiros enriquecem com a revolução de Chávez" de 26 de agosto último, Andy Webb, do Finanacial Times nos diz que “os banqueiros, tradicionalmente os primeiros candidatos ao paredón, estão fazendo a festa na Venezuela”. Apesar da retórica anti-capitalista, ao invés de nacionalizar e estatizar os bancos, a distribuição "revolucionária" do rendimento do petróleo vem aumentando o número de ricos, o que está tornando Caracas um ímã para banqueiros suíços e de outras paragens. Quando o preço do petróleo estava baixo e a economia em recessão Chávez emitiu bilhões de dólares em débitos com empréstimo bancários, com grandes margens de juros, enriquecendo enormemente os bancos venezuelanos. Com o aumento vertiginoso dos preços do petróleo os gastos governamentais cresceram 70% e a economia cresceu 17.9% em 2004 e 9.3% em 2005, expandindo a liquidez e a demanda por crédito. Em 2005 os lucros dos bancos cresceram de 29.3 para 39.8 bilhões de dólares e a carteira de crédito aumentou em 200%!

Dirán Sarkissián, presidente da subsidiária venezuelana do Stanford Bank, que opera na ilha caribenha de Antígua declarou ao repórter que "no que toca ao crescimento, estamos muito felizes. Os depósitos cresceram 600%, para 106 milhões de dólares". O Stanford passou a ser o maior emissor de cartões MASTERCARD da Venezuela.

Mais AQUI...

quarta-feira, janeiro 17, 2007

A Economia devia servir o Homem e não o contrário

No Quintus

Agostinho da Silva: "Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira"

Agostinho critica aqui as Economias modernas em que o Lucro substituiu o objectivo inicial da actividade económica humana e que era o de suprir as necessidades básicas… Bem pelo contrário, a Economia hoje vive das necessidades supérfluas, já que no Mundo Desenvolvido as Básicas estão já satisfeitas, e que o Mundo em Desenvolvimento não interessa ao mundo da Nova Economia, a não ser na medida em que lhe possa providenciar mão-de-obra muito barata ou consumidores passivos e não-produtores.

Para Agostinho, a Economia devia servir o Homem e não servir-se deste. O tempo do Homem é demasiado precioso para ser gasto a “Trabalhar” em actividades repetitivas, cansativas e intelectualmente desestimulantes… Para quebrar essas cadeias, o Homem têm que se libertar das prisões de produção (fábricas, escritórios e campos) e deixar estas tarefas às máquinas e permitir que a cibernética e a robotização ocupem todos os lugares mecânicos e entediantes… Mas para que isso suceda sem criar espantosos e impossíveis de suster níveis de Desemprego Estrutural, há-que mudar o próprio tecido da Economia

terça-feira, janeiro 16, 2007

Uma sociedade de escravos

Viviane Forrester

No mundo actual – das multinacionais, do liberalismo absoluto, da globalização, da mundialização, da virtualidade –, o "trabalho", concebido como o conjunto de emprego mais assalariados, é um conceito obsoleto, um parasita sem utilidade. A mudança dá-se na verdadeira natureza do capital: que já não é aquele que expunha as garantias do capitalismo de ordem imobiliária; que já não é aquele em que o conjunto dos homens era indispensável para produzir lucro.

No actual modelo económico que se instala no mundo – sob o signo da cibernética, da automação, das tecnologias revolucionárias –, o trabalhador é supérfluo e está condenado a passar da exclusão social à eliminação total.

Viviane Forrester num tom de sagrada indignação, denuncia a globalização como a implacável geradora da exclusão social da nova era, aquela representada pela multidão crescente dos desempregados. O silêncio reinante no mundo intelectual diante do que está acontecendo levou a romancista, ensaísta e crítica literária a sair da sua rotina para vir dizer a todos os iludidos que as promessas paradisíacas da tecnologia e do consumo estão, na verdade, conduzindo a um pesadelo do qual ninguém sabe como sairemos.

Viviane Forrester não se deixa enganar pelo discurso do "pensamento único", segundo o qual as maravilhas do capitalismo pós-moderno estão a inaugurar a grande nação planetária, preconizada na Carta das Nações Unidas e no pensamento dos utopistas.

O trabalho morreu, só nos falta a coragem para enterrá-lo. No mesmo túmulo, é preciso acomodar seu sósia e seu irmão gémeo, igualmente defuntos: o emprego e o desemprego. A morte foi causada pelo distanciamento desastroso entre o território do trabalho e o da economia. No mundo actual – das multinacionais, do liberalismo absoluto, da globalização, da mundialização, da virtualidade –, o "trabalho", concebido como o conjunto de emprego mais assalariados, é conceito obsoleto, um parasita sem utilidade.

As multidões que diariamente batem às portas das fábricas em busca de um emprego continuarão a praticar em vão esse humilhante exercício até o fim dos seus dias. Empregos extintos não serão recriados, porquanto substituídos pela automação inteligente, pela informatização prodigiosa.

A alucinante velocidade do capital não corresponde à mobilidade do trabalhador. O capital desloca-se à velocidade da luz, pela fibra óptica das comunicações internacionais, em busca de melhor remuneração. As fábricas podem mudar de país com igual facilidade, instalando-se onde a mão-de-obra é menos exigente, mas o trabalhador está amarrado às suas contingências, às suas restrições físicas; assim, vai aceitando condições contratuais cada vez piores, tentando escapar ao desespero do desemprego e à dependência da assistência pública.

Os fervorosos da globalização procuram dourar a pílula, afirmando que as exclusões de hoje são transitórias, que oportunamente brilhará o sol da plena distribuição dos frutos do progresso. Viviane considera tudo isso pseudoverdades e aponta perspectivas sombrias para o género humano, a perdurar a actual tendência.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

As chinesices de Cavaco Silva

Cavaco apoia avanço da flexisegurança

Jornal de Notícias - 15 de Janeiro de 2007

Cavaco Silva afirmou-se ontem claramente favorável à flexisegurança. O presidente da República, que se encontra de visita oficial à Índia, sustentou que os governos "devem adoptar políticas que protejam os trabalhadores e promovam a mobilidade, investindo mais na qualificação dos recursos humanos".

Cavaco explicou que a sua observação corresponde às "ideias modernas", que fazem curso na Europa. A saber "Flexisegurança - ser flexível e ao mesmo tempo assegurar a segurança, criando redes de protecção social àqueles que são afectados pela globalização". Os efeitos, positivos e negativos, do processo de globalização, constituíram precisamente o tema da alocução.


A posição vanguardista de Cavaco é oposta à de outro economista:

Jeremy Rifkin - auto do livro: O Fim do Emprego (1995):

"Estamos a entrar numa nova era de mercados globais e de produção automatizada. O caminho para uma economia quase sem trabalhadores está à vista. Se este caminho conduz a um porto seguro ou a um terrível abismo, dependerá da forma como a civilização se preparar para a era pós-mercado que virá logo após a terceira revolução industrial. O fim do trabalho poderá significar a sentença de morte para a civilização, tal como a conhecemos. O fim do trabalho poderá também assinalar uma grande transformação social, um renascimento do espírito humano. O futuro está nas nossas mãos".

Numa entrevista em Outubro de 2006 o economista Jeremy Rifkins referiu que deveria ter sido mais pessimista. "Fui muito conservador", afirma. Na altura em que a primeira versão saiu, Rifkin não calculava que hoje o mundo teria mil milhões de desempregados e subempregados. Agora a editora M. Books relança o livro em cuja introdução Rifkin esmiúça o desemprego no mundo. Fala da produção com menos emprego e da queda dos salários. Com mais de 17 livros publicados, Rifkin é considerado um dos 150 pensadores que mais influenciam a política dos Estados Unidos.


Comentário:

Falta a Cavaco Silva explicar donde virão as verbas para a rede de segurança da multidão de desempregados que se avoluma diariamente no nosso país. Quanto à flexibilidade, num mundo cada vez mais globalizado e competitivo, será do tipo oriental: 30 cêntimos à hora, 14 horas por dia, 7 dias por semana, 125 Euros por mês. Isto, evidentemente, para os felizardos que conseguirem trabalho.

sábado, janeiro 13, 2007

2007 - o ano em que a aviação israelita irá tratar do Irão


Não há milagres



João Pereira Coutinho - Jornal Expresso – 13 de Janeiro de 2007

«Nunca na sua história Israel enfrentou um paradoxo igual: saber que tem de atacar; saber que não pode atacar»

«Uma pessoa desejava começar 2007 com algum optimismo. Mas o optimismo não resiste ao estado do mundo. Soube-se agora, pelo ‘Sunday Times’ e pela ‘Spectator’ que 2007 será, muito provavelmente, o ano em que a aviação israelita irá tratar do Irão. Que o mesmo é dizer: apagar do mapa três centrais - em Natanz, Isfahan e Arak - utilizando, se preciso for, armamento nuclear (coisa nunca vista desde 1945 mas o único capaz de penetrar em instalações subterrâneas). Não vale a pena relembrar como se chegou até aqui: o labirinto percorrido na última década pela ‘diplomacia internacional’, a começar pela europeia, foi provavelmente uma das maiores comédias da história presente. Mais importante é talvez imaginar as consequências da acção, e da inacção, de Israel perante a ameaça

«As da inacção são óbvias e, se me permitem, a ideia de um ‘segundo Holocausto’ não é uma fantasia improvável para quem nega o primeiro. Não, obviamente, porque Teerão seria demasiado ingénuo, ou até lunático, para ‘riscar Israel do mapa’ em acção declarada e soberana. O problema está, como sempre esteve, em organizações terroristas controladas por Teerão que, do Líbano a Israel, e de Israel à Europa, não hesitariam em cometer o impensável. Acreditar no contrário é um acto de fé que pode acabar sem o milagre esperado.»

«Mas existe também um preço pela acção, e não houve especialista que o não lembrasse: atacar o Irão com armamento nuclear é conferir o pretexto para uma resposta igualmente demolidora e, atendendo às dimensões do estado judaico, terminal. Não é de excluir que o regime iraniano já possua armamento capaz, comprado por baixo da mesa nos últimos anos. E a própria retórica genocida do Presidente, mais do que uma ameaça, soa sobretudo como um convite. Um convite desejado.»

«Nunca na sua história Israel enfrentou um paradoxo igual: saber que tem de atacar; saber que não pode atacar. E a Europa? A Europa acredita que não é nada com ela e, segundo parece, anda por aí muito contente a discutir a sua ‘constituição’. Como alguém diria, a tragédia é aquilo que acontece quando andamos ocupados com outros planos.»


Comentário:

Caramba, Coutinho! Você coloca Israel num dilema terrível: acção ou inacção? Bombardear o Irão com armas atómicas ou esperar que, fatalmente, organizações terroristas controladas por Teerão (que, do Líbano a Israel, e de Israel à Europa), cometam o impensável, ou seja, empreendam um atentado nuclear em Israel com armamento nuclear (comprado por baixo da mesa nos últimos anos).

Mas se Israel se encher de brios e decidir atacar primeiro, não se poderá ficar apenas pelo bombardeamento nuclear das centrais iranianas de Natanz, Isfahan e Arak. Ahmadinejad não seria tão estúpido ao ponto de esconder o seu arsenal nuclear (comprado por baixo da mesa), nas catacumbas das centrais de enriquecimento de urânio - o primeiro alvo óbvio de um ataque americano ou israelita.

Não! Israel, para acautelar um atentado terrorista atómico, vai ter de obliterar todo o Irão. E não apenas o Irão. Também a Síria, o Líbano e vários outros países limítrofes. E poderá não ser o suficiente: Jesus Cristo nos valha, mas já alguém percebeu como seria simples aos terroristas de Ahmadinejad esconder umas quantas bombas atómicas em solo europeu?

E, entretanto, mesmo ali ao lado, as enormes reservas de gás e petróleo do Cáspio suplicam lancinantes pelos braços fraternos do Ocidente.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Guantanamo - um mal menor?

Correio da manhã - 12 de Janeiro de 2007

Manifestações contra Guantanamo

«A data que assinala o 5.º aniversário do centro de detenção de Guantanamo está a ser marcada por várias manifestações um pouco por todo o Mundo, nomeadamente em Nova Iorque (EUA), Londres (Reino Unido) e Sidney (Austrália), bem como à frente da base militar norte-americana, em Cuba, com os manifestantes a exigirem o seu encerramento.»

«De acordo com a organização internacional, no final de 2006, continuavam em cativeiro 430 pessoas, de mais de 35 nacionalidades. Entre as torturas denunciadas, destacam-se o isolamento dos detidos, a humilhação sexual, a privação do sono, a submissão a temperaturas extremas e alimentação forçada.»


Existem, contudo, sinais de que grande parte das denúncias são totalmente infundadas, e que o tratamento dado aos terroristas é, apesar de tudo, bastante mais humano que o prestado aos presos de delito comum, na generalidade das prisões norte-americanas:

Vídeo - 4:44m

DS - Guantanamo

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quarta-feira, janeiro 10, 2007

O Dólar e o Euro - duas moedas da mesma face monopolista financeira mundial

Esmagados sob as botas dos Bancos Centrais

Enquanto absolutamente antidemocrático, o Banco Central Europeu, actua com um mandato que fornece a esta instituição demasiadas e injustificadas liberdades. Na webpage do Banco Central Europeu, a afirmação clara de independência é defendida como sendo importante, mas é completa e perigosamente enganadora. Embora mencione «análises teóricas e evidências empíricas» ilustrativas da sua autonomia, sabemos agora que, tal como a Reserva Federal Americana, estas afirmações não têm qualquer valor.

Como é que é possível que a Comissão Europeia permita a esta corporação 'independente' (privada, de facto), tomar conta de todos os assuntos financeiros da UE, sem que esta preserve qualquer influência prática e directa sobre os mesmos? Estamos aqui a falar de assuntos que afectam seriamente as posições individuais de cidadãos europeus e que têm graves consequências no bem-estar económico de todos os Estados membros. Os argumentos que o Banco Central Europeu utiliza para justificar este sistema de «Banco Central Independente», são inconsistentes e vergonhosamente falaciosos e nunca deveriam ser tornados lei (atenção à Constituição Europeia a este respeito).

Transparência, credibilidade, auto-disciplina, previsibilidade e responsabilidade, tal como são prometidas pelo Banco Central Europeu, não passam de amigáveis palmadas nas costas para nos sossegar. Tudo é pensado de forma a manter-nos excluídos, enquanto nos fazem sentir envolvidos. Não devemos deixar os destinos das nossas economias nas mãos manipuladoras de banqueiros privados. A estabilidade e a paz nunca trouxeram grandes lucros a estes mágicos da alta finança internacional. Muito pelo contrário.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Porquê apenas 13% de IRC para os bancos?

Napoleão Bonaparte:
«Quando um governo está financeiramente dependente dos banqueiros, estes e não os chefes do governo controlam a situação, porque a mão que dá, está acima da mão que recebe. O dinheiro não tem pátria; os financistas não têm patriotismo nem decência; o seu único objectivo é o lucro

Joaquim Fidalgo - Jornal Público - 13 de Dezembro de 2006:
«Eu não percebo muito bem estas coisas dos bancos. Mas, por mais voltas que dê à cabeça e por mais informação que recolha, acabo por bater sempre em dois pontos: os lucros que eles conseguem são enormes (e cada vez mais enormes, apesar da chamada "crise"...), e os impostos que pagam são proporcionalmente muito baixos (com a ajuda da própria lei...).»

Porque é que os BANCOS que estes cavalheiros dirigem só pagam 13% de IRC, quando todas as outras empresas pagam 25%?








Porquê, Sr. Sócrates?

domingo, janeiro 07, 2007

Quero toda a Terra e mais 5%

Fabian estava entusiasmado enquanto ensaiava mais uma vez o seu discurso que ia apresentar pela manhã para a multidão. Ele sempre desejou prestígio e poder, e agora seus sonhos iam se tornar realidade. Ele era um artesão que trabalhava com prata e ouro, fabricando jóias e ornamentos, mas não estava contente por ter que trabalhar para viver. Ele precisava de entusiasmo, um desafio, e agora o seu plano estava pronto para começar.

Geração após geração as pessoas utilizaram o sistema de troca directa. Um homem mantinha sua família suprindo-a do necessário para viver ou especializava-se em algum tipo de comércio particular. Os bens excedentes de sua própria produção eram trocados pelos excedentes de outras pessoas.

Um dia no mercado era sempre ruidoso e poeirento; no entanto, as pessoas desejavam os gritos e as saudações, assim como o companheirismo. Costumava ser um lugar feliz, mas agora tinha gente demais, discussões demais. Não havia tempo para uma boa conversa. Precisava-se um sistema melhor.

Normalmente, as pessoas eram felizes e desfrutavam os frutos do seu trabalho.

Em cada comunidade, um governo simples tinha sido formado para garantir que as liberdades e os direitos das pessoas fossem protegidos, e que nenhum homem fosse forçado por nenhum outro homem ou grupo de homens a fazer qualquer coisa contra a própria vontade.

Este era o único propósito do governo e cada governador era apoiado voluntariamente pela comunidade local que o havia eleito.

No entanto, o dia de mercado era um problema que não podiam solucionar. Uma faca valia uma ou duas cestas de milho? Uma vaca valia mais do que um carroça?... etc. Ninguém havia pensado num sistema melhor.

Fabian anunciou: "Tenho a solução para nossos problemas de troca directa, e convido todos para uma reunião pública amanhã".

No dia seguinte houve uma reunião na praça da cidade e Fabian explicou para todos o novo sistema que ele chamou de "dinheiro". A idéia parecia boa. "Como vamos começar?" perguntaram as pessoas.

"O ouro que eu uso em ornamentos e jóias é um metal excelente. Não perde o brilho nem enferruja e vai durar muitos anos. Fundirei um pouco do meu ouro em moedas e vamos chamar cada moeda de "um dólar".

Ele explicou como esses valores iam funcionar, e que esse "dinheiro" seria realmente um meio para o intercâmbio - um sistema muito melhor do que o troca directa.

Um dos governadores questionou, "Algumas pessoas podem achar ouro e fazer moedas para si mesmas", disse ele.

"Isso seria muito injusto", Fabian tinha pronta a resposta. "Só as moedas aprovadas pelo governo podem ser utilizadas, e estas vão ter uma marca especial gravada nelas". Isso parecia razoável e foi proposto que se dê a cada homem um número igual de moedas. "Só eu mereço a maioria," disse o fabricante de velas, "Todos utilizam minhas velas". "Não", disse o fazendeiro, "sem alimento não há vida, com certeza nós temos que ter a maior quantidade de moedas". E a discussão continuou.

Fabian deixou eles discutirem durante algum tempo e finalmente disse, "Posto que nenhum de vocês pode chegar a um acordo, sugiro que cada um obtenha de mim a quantidade de que necessitam. Não haverá limite, excepto pela sua capacidade de devolvê-las. Quanto mais dinheiro cada um obtiver, mais deve devolver no final do ano. "E qual é o seu pagamento?" as pessoas perguntaram a Fabian.

"Posto que estou lhes oferecendo um serviço, ou seja, o suprimento de dinheiro, vocês me dão direito a receber pagamento pelo meu trabalho. Vamos dizer que para cada 100 moedas que vocês obtêm, devolvem-me 105 por cada ano que vocês mantêm a dívida. As 5 vão ser meu pagamento, e vou chamar esse pagamento de "juros".

Não parecia existir outra maneira, e aliás, 5% parecia pouco para um ano. "Voltem próxima sexta-feira e vamos começar".

Fabian não perdeu tempo. Fez moedas noite e dia, e no final de semana já estava pronto. As pessoas fizeram fila para entrar na sua loja, e depois das moedas terem sido examinadas e aprovadas pelos governadores, o sistema passou a vigorar. Algumas pessoas pediram só umas poucas moedas e saíram para experimentar o novo sistema.

Acharam o dinheiro maravilhoso, e rapidamente valoraram tudo em moedas de ouro ou dólares. O valor que puseram em cada coisa foi chamado de "preço" e o preço dependia principalmente da quantidade de trabalho requerida para produzir o bem. Se levava muito trabalho o preço era alto mas se o bem era produzido com pouco esforço o preço era baixo.


Numa cidade morava Alan, que era o único relojoeiro. Seus preços eram altos porque os clientes estavam ansiosos por pagarem para obter um dos seus relógios.

Depois outro homem começou a fazer os relógios e os ofereceu com um preço mais baixo para conseguir vendas. Alan foi forçado a baixar seus preços e depois todos os preços caíram, assim os dois homens se esforçaram para dar a melhor qualidade com o menor preço. Essa era a genuína livre competição.

A mesma coisa aconteceu com os construtores, operadores de transportes, contadores, fazendeiros; na verdade, em cada empreendimento. Os clientes escolhiam sempre o que sentiam que era o melhor negócio, tinham liberdade de escolha. Não havia protecção artificial tal como licenças ou tarifas que evitassem que outras pessoas entrassem num determinado negócio. O padrão de vida elevou-se e depois de pouco tempo as pessoas perguntaram-se como podiam ter vivido antes sem dinheiro.

No final do ano, Fabian saiu da sua loja e visitou todas as pessoas que lhe deviam dinheiro. Algumas possuíam mais do que tinham pedido emprestado, mas isso significava que outras pessoas tinham menos, posto que inicialmente tinha sido distribuída só uma quantidade limitada de moedas. Os que possuíam mais do que tinham pedido emprestado, devolveram o empréstimo e mais 5 adicionais para cada 100, mas tiveram que pedir emprestado novamente para poder continuar.

Os demais descobriram pela primeira vez, que tinham uma dívida. Antes de lhes emprestar mais dinheiro, Fabian tomou-lhes em hipoteca alguns de seus activos e assim, cada um saiu mais uma vez para tentar conseguir essas 5 moedas extras que pareciam sempre tão difíceis de encontrar.

Ninguém se deu conta de que o país como um todo jamais poderia sair da dívida até que todas as moedas fossem devolvidas, mas mesmo que isso fosse feito haviam ainda aquelas 5 adicionais para cada 100 que nunca tinham sido postas em circulação. Ninguém além de Fabian podia ver que era impossível pagar os juros - o dinheiro extra nunca tinha sido posto em circulação, e portanto sempre faltaria para alguém.

Era verdade que Fabian gastava algumas moedas, mas ele sozinho não podia gastar tanto como os 5% da economia total do país. Havia milhares de pessoas e Fabian era só um. Além do mais, ele ainda era um ourives vivendo uma vida confortável.

Nos fundos da sua loja, Fabian tinha um cofre e as pessoas acharam conveniente deixar algumas de suas moedas com ele por segurança. Fabian cobrava uma pequena quantia, dependendo da quantidade e do tempo que o dinheiro permanecia com ele e dava ao dono das moedas um recibo por cada depósito.

Quando uma pessoa fazia compras, normalmente não levava muitas moedas de ouro. Essa pessoa dava ao mercador um dos recibos de Fabian segundo o valor das mercadorias que desejava comprar.

Os mercadores reconheciam o recibo como verdadeiro e aceitavam-no com a idéia de levá-lo depois a Fabian para retirar uma quantidade equivalente em moedas. Os recibos passaram de mão em mão ao invés do próprio ouro. As pessoas confiavam totalmente nos recibos - elas os aceitavam como se fossem tão bons quanto as moedas de ouro.

Em pouco tempo, Fabian notou que era muito pouco frequente que uma pessoa pedisse de volta suas moedas de ouro.

Ele pensou: "Aqui estou eu, na posse de todo este ouro e continuo tendo que trabalhar duro como artesão. Não faz sentido. Há muitas pessoas que ficariam contentes de me pagar juros pelo uso deste ouro que está guardado aqui e cujos donos raramente pedem de volta.

É verdade que o ouro não é meu, mas está em meu poder e é o que interessa. Praticamente não preciso nem mais fazer moedas, posso utilizar algumas das que estão guardadas no cofre."

No início ele era muito precavido, emprestando umas poucas moedas de cada vez e somente quando tinha certeza da sua devolução. Mas aos poucos adquiriu confiança e emprestou quantidades cada vez maiores.

Um dia, pediram um empréstimo bastante grande. Fabian sugeriu, "Em vez de você levar todas estas moedas podemos fazer um depósito em seu nome e então eu lhe dou vários recibos com o valor das moedas". A pessoa que pediu o empréstimo concordou e saiu com um maço de recibos. Ela tinha obtido um empréstimo, no entanto o ouro continuava no cofre de Fabian. Depois que o cliente se foi, Fabian sorriu. Ele podia ter seu bolo e ainda por cima comê-lo. Ele podia "emprestar" o ouro e ainda mantê-lo no seu poder.

Os amigos, os estrangeiros e até os inimigos necessitavam de fundos para continuarem os seus negócios e desde que pudessem garantir a devolução, podiam pedir emprestado tanto quanto necessitassem. Simplesmente escrevendo recibos Fabian podia "emprestar" várias vezes o valor do ouro que havia em seu cofre, e ele nem sequer era o dono do dinheiro. Tudo era seguro, desde que os donos verdadeiros não pedissem a devolução do seu ouro e a confiança das pessoas fosse mantida.

Ele tinha um livro onde registrava os débitos e os créditos de cada pessoa. De fato, o negócio de empréstimos estava se mostrando muito lucrativo.

Sua posição social na comunidade aumentava quase tão rapidamente quanto sua riqueza. Ele estava se tornando um homem importante e requeria respeito. Em matéria de finanças, sua palavra era como uma declaração sagrada.

Os ourives de outras cidades ficaram curiosos sobre suas actividades e um dia chamaram-no para ter uma audiência com ele. Fabian disse-lhes o que estava fazendo, mas ressaltou cuidadosamente a necessidade de manter o segredo.

Se o plano deles fosse exposto, o esquema falharia, assim todos concordaram em formar sua própria aliança secreta.

Cada um voltou à sua cidade e começou a trabalhar como Fabian tinha-lhes ensinado.

As pessoas agora aceitavam os recibos como se fossem tão bons quanto o ouro e muitos recibos foram depositados para mantê-los em segurança da mesma maneira que as moedas. Quando um mercador desejava comprar mercadorias de um outro, ele simplesmente redigia uma nota curta dirigida a Fabian na qual o autorizava a transferir o dinheiro da sua conta para a do segundo mercador. Fabian gastava apenas alguns minutos para ajustar os números no livro.

Esse novo sistema se tornou muito popular e as notas com a instrução de transferência foram chamadas de "cheques".

Mais tarde, numa noite, os ourives tiveram uma outra reunião secreta e Fabian revelou-lhes um novo plano. No dia seguinte, eles convocaram uma reunião com todos os governadores e Fabian começou: "Os recibos que nós emitimos se tornaram muito populares. Sem dúvida, a maioria de vocês, os governadores, estão usando-os e acham que são muito convenientes". Os governadores concordaram, embora se perguntassem qual era o problema. "Bem", continuou Fabian, "alguns recibos estão sendo copiados por falsificadores. Esta prática deve parar".

Os governadores se alarmaram: "O que podemos fazer?" perguntaram. Fabian respondeu, "Minha proposta é: primeiro de tudo, vamos fazer com que seja o trabalho do governo a impressão de novas notas num papel especial com desenhos muito intricados. Cada nota será assinada pelo principal governador. Nós ourives ficaremos felizes de pagar os custos da impressão, por que vai nos poupar o tempo que passamos redigindo nossos recibos". Os governadores pensaram, "Bem, o nosso trabalho é proteger as pessoas contra falsificadores e este conselho de vocês parece certamente uma boa idéia". Concordaram então em imprimir as notas.

"Em segundo lugar," disse Fabian, "algumas pessoas têm feito escavações e estão fazendo suas próprias moedas de ouro. Sugiro que vocês aprovem uma lei, para que qualquer pessoa que encontre pepitas de ouro, deva entregá-las. É claro que essas pessoas vão ser pagas com notas e moedas".

A idéia parecia boa, e sem pensar muito nisso, imprimiram uma grande quantidade de notas novinhas em folha. Cada nota tinha um valor impresso nela de $1, $2, $5, $10 etc. Os pequenos custos de impressão foram pagos pelos ourives.

As notas eram muito mais fáceis de transportar e rapidamente foram aceitas pelas pessoas. Apesar da sua popularidade, essas notas e moedas eram usadas somente em 10% das transacções. Os registros mostraram que o sistema de cheques era utilizado em 90% de todos os negócios.

A etapa seguinte do plano dele começou. Até agora, as pessoas estavam pagando a Fabian para guardar o dinheiro delas. Para atrair mais dinheiro ao seu cofre, Fabian ofereceu pagar aos depositantes 3% de juros sobre seus depósitos.

A maioria das pessoas acreditava que ele estava re-emprestando o dinheiro delas a quem pedisse um empréstimo, com 5% de juros, e que seu ganho era a diferença de 2%. Aliás, as pessoas não lhe perguntaram muito, porque obter 3% era muito melhor do que pagar para depositar o dinheiro num lugar seguro.

A quantidade das poupanças cresceu e com o dinheiro adicional nos cofres, Fabian podia emprestar $200, $300, $400 e as vezes até $900 para cada $100 em notas e moedas que ele mantinha em depósito. Ele teve que ter cuidado para não ultrapassar esta relação de 9 a 1, uma vez que uma pessoa de cada dez queria retirar suas notas e moedas para utilizá-las.

Se não houvesse dinheiro suficiente quando requerido, as pessoas ficariam desconfiadas já que os livros de depósito mostravam o quanto elas tinham depositado. Ainda assim, sobre os $900 que os livros de contabilidade demonstravam que Fabian tinha emprestado redigindo cheques, ele podia cobrar até $45 de juros, ou seja, 5% de 900. Quando o empréstimo mais os juros eram devolvidos ($945), os $900 eram cancelados no livro de débitos e Fabian ficava com os $45 de juros. Portanto, ele estava mais que contente de pagar $3 de juros sobre os $100 depositados originalmente, os quais nunca tinham saído do seu cofre. Isto significava que, para cada $100 que mantinha em depósito, era possível obter um lucro de 42%, enquanto a maioria das pessoas pensava que ele só ganhava 2%. Os outros ourives estavam fazendo a mesma coisa. Criavam dinheiro do nada, apenas com suas assinaturas num cheque, e ainda por cima cobravam juros sobre ele.

É verdade que eles não estavam fabricando dinheiro, o governo imprimia as notas e as entregava aos ourives para serem distribuídas. O único gasto de Fabian era o pequeno custo de impressão. No entanto, eles estavam criando dinheiro de crédito que vinha do nada e sobre o qual faziam incidir juros. A maioria das pessoas acreditava que a provisão de dinheiro era uma operação do governo. Acreditavam também que Fabian estava lhes emprestando o dinheiro que alguém mais tinha depositado, mas era estranho que nenhum depósito decrescia quando Fabian emprestava dinheiro. Se todos tivessem tentado retirar seus depósitos ao mesmo tempo, a fraude teria sido descoberta.

Não havia problemas quando alguém pedia um empréstimo em moedas ou notas. Fabian simplesmente explicava ao governo que o aumento da população e da produção requeria mais notas, e ele as obtinha por pequeno custo de impressão.

Um dia, um homem muito pensativo foi ver Fabian. "Esta cobrança de juros está errada", disse ele. "Para cada $100 que você empresta, você está pedindo $105 em retorno. Os $5 extras não podem ser pagos nunca, já que não existem.

Os fazendeiros produzem comida, os industriais produzem bens e assim fazem todos os demais, mas somente você produz dinheiro. Suponha que existam somente dois empresários em todo o pais, e que nós empregamos o resto da população. Pedimos-lhe emprestado $100 cada um, pagamos $90 em salários e gastos e ficamos com $10 de lucro (nosso salário). Isso significa que o poder aquisitivo total de toda a população é $90 + $10 multiplicado por dois, isto é $200. Mas, para lhe pagar, nós devemos vender toda a nossa produção por $210. Se um de nós tiver sucesso e vender toda a produção por $105, o outro homem só pode esperar obter $95. Além disso, parte dos seus bens não pode ser vendida, já que não restaria mais dinheiro para comprá-los.

Tendo obtido só $95, o segundo empresário ainda deveria a você $10 e só poderia lhe pagar pedindo mais emprestado. Este sistema é impossível".

O homem continuou, "Certamente você deveria emitir $105, ou seja 100 para mim e 5 para seus próprios gastos. Assim, haveria $105 em circulação e a dívida poderia ser paga".

Fabian escutou em silêncio e finalmente disse: "A economia financeira é um assunto muito profundo meu amigo, requer anos de estudo. Deixe que eu me preocupo com estes assuntos e você se preocupa com os seus. Você deve se tornar mais eficiente, aumente sua produção, reduza seus gastos e torne-se um melhor empresário. Sempre vou estar disposto a ajudá-lo nesses assuntos".

O homem se foi sem se dar por convencido. Havia alguma coisa errada com as operações de Fabian e ele sentiu que suas perguntas tinha sido evitadas.

No entanto, a maioria das pessoas respeitava a palavra de Fabian -"Ele é o perito, os demais devem estar errados. Olhem só como é que o pais desenvolveu-se, como a nossa produção aumentou. É melhor nós deixarmos que ele tome conta destas coisas".

Para pagar os juros sobre os empréstimos que haviam pedido, os mercadores tiveram que elevar seus preços. Os assalariados queixaram-se de que os salários eram muito baixos. Os empresários negaram-se a pagar maiores salários, dizendo que quebrariam. Os fazendeiros não podiam obter preços justos pela sua produção. As donas de casa queixavam-se de que os alimentos estavam muito caros.

E finalmente, algumas pessoas declararam-se "em greve", algo do qual nunca se tinha ouvido falar antes. Outros haviam sido afectados pela pobreza, e seus amigos e parentes não tinham dinheiro para ajudá-los. A maioria tinha esquecido a verdadeira riqueza ao seu redor: as terras férteis, os grandes bosques, os minerais e o gado. Só podiam pensar no dinheiro, que sempre parecia faltar. Mas nunca questionaram o sistema. Eles acreditavam que o governo o estava controlando.

Alguns poucos tinham juntado seu dinheiro em excesso e formaram companhias de empréstimos ou "companhias financeiras". Podiam obter 6% ou mais, desta maneira, o que era melhor do que os 3% que Fabian pagava, mas só podiam emprestar o dinheiro que possuíam - não tinham o estranho poder de criar dinheiro do nada simplesmente registrando números num livro.

Estas companhias financeiras de alguma maneira preocupavam Fabian e seus amigos, então eles logo formaram as suas próprias companhias. Na maioria dos casos, compraram as outras companhias antes de que começassem suas operações. Em pouco tempo, todas as companhias financeiras ou pertenciam a eles ou estavam sobre o controle deles.

A situação económica piorou. Os assalariados tinham certeza de que os patrões estavam tendo muito lucro. Os patrões diziam que os trabalhadores eram muito preguiçosos e não estavam cumprindo honestamente seu dia de trabalho e todos culpavam a todos. Os governantes não podiam achar uma resposta, e além disso, o problema imediato parecia ser combater a crescente pobreza.

O Governo empreendeu então esquemas de previdência e fizeram leis forçando as pessoas a contribuírem com eles. Isto fez com que muitas pessoas ficassem irritadas - elas acreditavam na velha idéia de ajudar o vizinho voluntariamente.

"Estas leis não são mais do que um roubo legalizado. Tirar uma coisa de uma pessoa contra sua vontade, independente do propósito para o qual vai ser usado, não é diferente de roubar."

Mas cada homem sentia-se indefeso e temia a ameaça de ir para a cadeia se falhasse em pagar. No inicio, estes esquemas de previdência deram algum alívio, mas com o tempo o problema da pobreza agravou-se novamente e então era preciso mais dinheiro para a previdência. O custo destes esquemas elevou-se mais e mais e o tamanho do governo aumentou.

A maioria dos governantes eram homens sinceros tentando fazer o melhor possível. Eles não gostavam de pedir mais dinheiro ao seu povo e finalmente, não tiveram outra opção a não ser pedir dinheiro emprestado a Fabian e seus amigos. Eles não tinham idéia de como fariam para pagar esse empréstimo. A situação piorou, os pais já não podiam pagar professores para seus filhos. Não podiam pagar médicos e as empresas de transporte estavam falindo.

O governo foi forçado a assumir o controle desses serviços um por um. Professores, médicos e muitos outros tornaram-se servidores públicos.

Poucas pessoas estavam satisfeitas com os seus empregos. Recebiam um salário razoável mas perderam sua identidade. Converteram-se em pequenas engrenagens de uma maquinaria gigante.

Não havia espaço para a iniciativa pessoal, muito pouco reconhecimento para o esforço, sua renda era fixa e somente podia-se ascender quando um superior se aposentava ou morria.

Desesperados, os governantes decidiram pedir o conselho de Fabian. Consideravam-no muito sábio e parecia saber como resolver assuntos de dinheiro. Fabian os escutou explicarem todos os seus problemas, e finalmente respondeu, "Muitas pessoas não podem resolver seus próprios problemas - eles precisam de alguém que o faça por eles. Com certeza, vocês vão concordar que a maioria das pessoas tem direito a ser feliz e a ter o básico para viver. Um de nossos grandes ditados populares é "Todos os homens são iguais" - Não é verdade?

Bem, a única maneira de equilibrar as coisas é tomar o excesso de riqueza dos ricos e dá-lo aos pobres. Organizem um sistema de impostos. Quanto mais um homem tem, mais deve pagar. Arrecadem os impostos de cada pessoa segundo sua capacidade e dêem a cada um segundo sua necessidade. As escolas e os hospitais devem ser gratuitos para aqueles que não puderem pagá-los."

Ele lhes deu uma longa palestra sobre grandes ideais e concluiu dizendo: "Ah, a propósito, não se esqueçam de que me devem dinheiro. Estiveram me pedindo emprestado por muito tempo. O mínimo que posso fazer para ajudar, é que vocês só me paguem os juros. Nós deixaremos o capital como dívida, apenas me paguem os juros".

Saíram, e sem pensar muito sobre as filosofias de Fabian, introduziram o imposto gradativo sobre a renda: quanto mais você ganha, mais alta é a sua dívida fiscal. Ninguém gostou disso, mas ou pagavam os impostos ou iam para a cadeia.

Os novos impostos forçaram os comerciantes novamente a subirem os seus preços. Os assalariados exigiram salários mais altos o que causou que muitas empresas falissem, ou que substituíssem homens por maquinaria. Isso resultou em mais desemprego e forçou o governo a introduzir mais esquemas de previdência e mais seguros de desemprego.

Foram introduzidas tarifas e outros mecanismos de protecção para resguardar algumas indústrias, de maneira que mantivessem suas ofertas de emprego. Algumas pessoas perguntaram-se se o propósito da produção era produzir mercadorias ou simplesmente proporcionar empregos.

No entanto, as coisas ficavam cada vez piores. Tentaram o controle de salário, o controle dos preços, e toda classe de controles. O governo tentou conseguir mais dinheiro com impostos sobre as vendas, os salários, etc. Alguém observou que no caminho desde a colheita do trigo até a mesa nos lares, havia cerca de 50 impostos sobre o pão.

Muitos "peritos" se apresentaram e alguns deles foram escolhidos para governar, mas depois de cada reunião anual voltavam sem ter alcançado quase nada, excepto pela notícia de que os impostos deviam ser "reestruturados", mas sempre a quantidade total de impostos aumentava.

Fabian começou a exigir seus pagamentos de juros, e uma porção cada vez maior do dinheiro dos impostos era necessária para pagá-lo.

Então veio a política partidária - as pessoas discutiam sobre que grupo de governadores poderia solucionar da melhor maneira seus problemas. Discutiram sobre as personalidades, idealismo, os slogans... Sobre tudo excepto o problema real. Os Conselhos estavam com problemas.

Numa cidade os juros da dívida excederam a quantidade de impostos que foram arrecadados num ano. Em todo o pais os juros que não foram pagos continuaram aumentando - juros foi cobrado sobre os juros não-pagos.

Gradualmente, muita da riqueza real do pais foi comprada ou controlada por Fabian e seus amigos e com isso veio um maior controle sobre as pessoas. No entanto, o controle ainda não estava completo. Eles sabiam que a situação não estaria segura até que cada pessoa fosse controlada.

A maioria das pessoas que se opunha ao sistema era silenciada por pressão financeira, ou sofria o ridículo público. Para atingir isto, Fabian e seus amigos compraram a maioria dos jornais, televisão e estações de rádio. E escolheram cuidadosamente as pessoas que iam operá-las. Muitas destas pessoas tinham um desejo sincero de melhorar o mundo, mas nunca se deram conta de como eram usadas. Suas soluções sempre lidavam com os efeitos do problema, nunca com a causa.

Havia vários jornais diferentes - um para a ala direita, um para a ala esquerda, um para os trabalhadores, um para os patrões, e assim por diante. Não importava muito em qual você acreditasse desde que você não pensasse no problema real.

O plano de Fabian estava quase no final - o pais inteiro devia-lhe dinheiro. Através da educação e dos Media, ele tinha o controle da mente das pessoas. Podiam pensar e crer apenas no que ele queria que pensassem.

Uma vez que um homem tem muito mais dinheiro do que ele pode gastar para seus prazeres, que desafio resta para excitá-lo?. Para aqueles que têm uma mentalidade dominante, a resposta é o poder - poder puro e completo sobre outros seres humanos. Colocaram idealistas nos meios de comunicação e no governo, mas os controladores reais que Fabian procurava eram os que tinham mentalidade de classe dominante.

A maioria dos ourives seguiram este caminho. Conheciam a sensação de grande abundância mas já não os satisfazia. Precisavam de desafios e emoção e o poder sobre as massas converteu-se num grande jogo.

Acreditaram que eram superiores a todos os demais. "É o nosso direito e nosso dever governar. As massas não sabem o que é bom para elas. Precisam serem dirigidos e organizados. Governar é o nosso direito de nascimento".

Por todo o pais Fabian e seus amigos possuíam muitos companhias de empréstimos. Na verdade, eram de propriedade privada e de diferentes donos. Na teoria competiam umas com outras mas na verdade trabalhavam juntas. Depois de convencer alguns dos governadores, instalaram uma instituição que chamaram de Reserva Central de Dinheiro. Nem sequer usaram seu próprio dinheiro para fazer isto -criaram crédito contra uma parte dos depósitos das pessoas.

Esta instituição tinha a aparência de regular a fonte do dinheiro e ser uma instituição pertencente ao governo, mas estranhamente não se permitiu a nenhum governador ou servidor público ingressar na Junta Directiva.

O governo deixou de pedir emprestado directamente de Fabian, mas começou a usar um sistema de Bónus contra a Reserva Central de Dinheiro. A garantia oferecida era a renda estimada dos impostos do ano seguinte. Isto ajustava-se com o plano de Fabian - afastar as suspeitas de sua pessoa e desviar a atenção para uma aparente instituição do governo. Por baixo do pano, ele ainda tinha o controle.

Indirectamente, Fabian tinha tal controle sobre o governo que este era obrigado a seguir suas instruções. Fabian costumava gabar-se: "Deixem-me controlar o dinheiro de uma nação e não me importo com quem faz suas leis". Não interessava muito que partido era eleito para governar. Fabian tinha o controle do dinheiro, o sangue vital da nação.

O governo obtinha o dinheiro, mas o juros foram se acrescentado sempre em cada empréstimo. Cada vez mais se gastava dinheiro em esquemas de previdência e em seguros de desemprego, e não muito tempo depois, o governo se viu com dificuldades até para pagar os juros, sem falar do capital.

No entanto, havia mais pessoas que se perguntaram: "O dinheiro é um sistema feito pelo homem. Com certeza pode-se ajustar o sistema para pô-lo a serviço das pessoas, e não que as pessoas estejam a serviço do dinheiro". Mas cada vez havia menos pessoas que se faziam essa pergunta e suas vozes se perderam na louca procura do dinheiro inexistente para pagar os juros.

Os governos mudaram, os partidos políticos mudaram, mas as políticas de base continuavam. Sem importar que governo estava no "poder", o objectivo final de Fabian aproximava-se mais e mais cada ano. As políticas das pessoas não significavam nada. As pessoas pagavam com esforço os impostos, não podiam pagar mais. Amadurecia o momento para o movimento final de Fabian.

Dez por cento do dinheiro ainda estava sob a forma de notas e moedas. Isto tinha de ser eliminado de tal maneira que não despertasse suspeitas. Enquanto, as pessoas utilizassem dinheiro de contado, seriam livres de comprar e vender como quisessem -as pessoas ainda tinham algum controle sobre suas próprias vidas.

Mas não era sempre seguro carregar notas e moedas. Os cheques não eram aceitos fora da comunidade local, e portanto, procurou-se um sistema mais conveniente. Fabian tinha a resposta outra vez. Sua organização deu um pequeno cartão plástico a cada um onde mostrava-se o nome da pessoa, a foto e um número de identificação.

Em qualquer lugar onde esse cartão fosse apresentado, o comerciante telefonaria para o computador central para controlar o crédito. Se tinha crédito, a pessoa poderia comprar o que desejasse; até certa quantidade.

No início, permitira-se que as pessoas gastassem uma quantidade pequena em crédito, e se ele era pago dentro do mesmo mês, não incidia juro nenhum. Isto estava bem para os assalariados, mas o quê aconteceria com os empresários?. Eles tinham que instalar máquinas, fabricar as mercadorias, pagar os salários etc. e vender todas suas mercadorias e logo depois pagar o crédito. Se excediam a um mês, eram taxados em 1,5% por cada mês que a dívida era acumulada. Isto chegava a 18% ao ano.

Os empresários não tinham nenhuma opção aliás de acrescentar 18% sobre o preço de venda. Mas todo esse dinheiro ou crédito adicional (18%) não tinha sido emprestado a ninguém. Em todo o pais os empresários tinham a impossível tarefa de pagar $118 por cada $100 que pediram emprestados -mas os $18 adicionais nunca tinham sido criados no sistema. Não existiam.

Fabian e seus amigos elevaram ainda mais sua posição social. Eram considerados pilares de respeitabilidade. Suas declarações em finanças e economia eram aceitas com convicção quase religiosa.

Sob a carga de impostos cada vez maiores, muitas pequenas empresas derrubaram-se. Licenças especiais eram necessárias para várias operações, de maneira tal que para as empresas restantes fosse muito difícil participar. Fabian possuía e controlava todas as grandes companhias que tinham centenas de subsidiárias. Estes pareciam competir entre si, no entanto Fabian controlava todas elas. Eventualmente, todos os outros competidores foram forçados a fechar suas portas. Os canalizadores, os carpinteiros, os electricistas e a maioria das indústrias pequenas sofreram igual destino -foram tragados pelas companhias gigantes de Fabian que tinham protecção do governo.

Fabian queria que os cartões plásticos substituíssem as notas e as moedas. Seu plano era que quando todas as notas fossem retiradas, somente os negócios que utilizassem o sistema de cartões ligados ao computador central poderiam funcionar.

Ele planejou que se alguém eventualmente perdesse seu cartão, estaria impossibilitado de comprar ou vender qualquer coisa até que se demonstrasse sua identidade. Ele queria impor uma lei, que lhe desse um controle total -uma lei que obrigasse a todas as pessoas a terem seu número de identificação tatuado na mão. O número seria visível somente sob uma luz especial, ligada a um computador. Cada um desses computadores estaria conectado ao computador central gigante e assim Fabian poderia saber tudo sobre todos.

A propósito, a terminologia usada no mundo financeiro para este sistema é "Reservas bancárias" (Fractional Reserve Banking). (É um sistema onde os bancos privados e o banco central têm o monopólio do poder para gerar moeda corrente. O valor total dos depósitos num banco, e portanto a quantia total de moeda que pode ser gerada por um banco, está limitado por um múltiplo das suas reservas. O banco central supervisiona os bancos privados para garantir que as reservas serão mantidas no nível requerido ou por cima dele.



A história que você acaba de ler, evidentemente, é ficção.

Mas, se você achar que é preocupantemente real e quer saber quem é Fabian na vida real, um bom começo seria um estudo das actividades dos ourives ingleses nos séculos XVI e XVII.

Por exemplo, o Banco da Inglaterra começou em 1694. O rei Guilherme de Orange estava em dificuldades financeiras como resultado de uma guerra com a França. Os ourives "emprestaram-lhe" 1,2 milhões de libras (uma quantidade impressionante naqueles dias) sob determinadas condições:

Os juros seriam 8%. Lembre-se que a Carta Magna indicava que cobrar juros era crime passível de morte. O Rei devia conceder aos ourives uma carta para o Banco que lhes dava o direito de emitir crédito.

Antes disso, suas operações de emitir recibos por mais dinheiro do que tinham depositado eram totalmente ilegais. A carta do rei tornou-as legais.

Em 1694 William Patterson obteve a carta para o Banco da Inglaterra.

© Larry Hannigan, Australia