Livros em Cadeia - ÚLTIMA APRESENTAÇÃO! Hoje às 18 na sede...

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Tornar a nossa Biblioteca ainda mais viva. Todos os meses, um convidado apresenta um livro da nossa colecção. Que, como todos, está disponível para requisição – por qualquer um.


6ªf, 28 de Setembro, Sede do Cineclube de Faro, 18h, Entrada Livre

ANABELA MOUTINHO – “ Cine-Filosofia ou Cine-Filosofices?
Apresentação sinóptica dos 18 livros sobre Cinema e Filosofia da Biblioteca do Cineclube de Faro




LIVROS EM CADEIA CONTA COM O APOIO DE
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"Quaresma" - José Álvaro Morais... haverá epílogo mais bonito para esta homenagem a Bernardo Sassetti? Quinta, 27 de Setembro na Sede, 21:30

27 de Setembro

QUARESMA, José Álvaro Morais, Portugal, 2003, 95'


FICHA TÉCNICA
Realização: José Álvaro de Morais
Argumento: Jeanne Waltz e José Álvaro Morais
Música: Bernardo Sassetti
Imagem: Acácio de Almeida
Interpretação: Beatriz Batarda, Filipe Cary, Rita Durão, Ricardo Aibéo, Laura Soveral
Origem: Portugal
Ano: 2003
Duração: 95'




SINOPSE
David é casado, tem uma filha pequena, e está a poucos dias de partir para o estrangeiro com a família.
Mas com a morte do avô, ele tem ainda que regressar à terra, e ao seio de uma família com quem há muito não convivia.
E uma viagem que era para durar o tempo de um funeral, acaba por transformar-se numa estadia de vários dias.
Porque aí David conhece a mulher do seu primo, e vai-se deixando enredar no seu sortilégio de mulher perturbada mas encantadora... 
 


O vento... No cinema, sabemos desde Fugiu Um Condenado à Morte (Robert Bresson, 1956) que ele "sopra onde quer", do mesmo modo que com Histoire de Vent (Joris Ivens, 1989) aprendemos que é possível buscar a visibilidade do invisível. Agora, com o novo filme de José Álvaro Morais, Quaresma, o vento é outro que não essa Fé que nos religa aos deuses ou nos faz demandar a Terra. Porque este vento é anima, sopro interior, instinto vital, algo, enfim, que permite ao homem ou à mulher irem além de si ou a tal aspirarem. Zé Álvaro consegue isso com um filme assombroso (e assombrado...), Quaresma, do qual, antes de mais, urge destacar a prodigiosa interpretação da protagonista, Beatriz Batarda, melhor ainda "que a sua em Peixe Lua (2000), do mesmo cineasta. Beatriz (n. Londres, 1974) iniciou-se no cinema aos 14 anos (Tempos Difíceis, João Botelho, 1988), aos 19 fazia de filha da sua prima Leonor Silveira (Vale Abraão, Manoel de Oliveira, 1993), para ter o seu primeiro grande papel aos 20 (A Caixa, Manoel de Oliveira, 1994). Entretanto subiu ao palco da Cornucópia e rumou até Londres, onde estuda (e faz) teatro, por lá se fixando, com intermezzos de cinema entre nós, mostrando, filme após filme, que é hoje em qualquer parte do mundo uma excepcional actriz.
Esta sua interpretação em Quaresma comprova-o à saciedade. Na acepção mais genuína do verbo ser, ela é o filme. E é-o porque a sua alegada semi-loucura é tal qual a desrazão desse elemento primordial do filme: o vento. E, tal como ele, livre, insubmissa, irreverente, inesperadamente quietude e inquietude, brisa e tufão. Sempre, porém, autêntica e sempre também excessiva de mais para o acanhado dos habitat onde é forçada a conter-se. Mesmo se, qual visionária, a aura da tragédia que transporta lhe permite dizer "isto não existe", revelando assim que o "isto" onde vive é um não-lugar, não já passado, nem presente, nem futuro, donde se impõe sair. Ao que todos, aliás, aspiram, submetendo-se, todavia, à rotina, ao bom senso, às convenções, ao acomodado modo de vida, à memória... Ela não: pássaro na gaiola que seja, não se resigna; desafia tudo e todos até acabar por...
Não conto, um filme destes - belíssimo e pungente - não se conta, o que não impede que acrescente que José Álvaro Morais (n. Coimbra, 1945) logra aqui a sua melhor obra. E melhor nem tanto pelo retraio de um certo Portugal e de um certo modo de ser português, quanto pela subtileza do olhar. O seu: sensível e crítico, espécie de cântico do desencanto, suspenso ainda assim por um ténue fio de esperança. Um olhar estruturado na multiplicidade de personagens símbolo com que povoa o filme, simbólico ele próprio, logo pelo título - Quaresma.
Um filme de contrastes, a começar pelos locais da acção, primeiro em Portugal, depois na Dinamarca, e o Portugal é a Serra da Estrela e a Dinamarca é uma cidadezinha costeira postada na planura do país. Dois espaços batidos pelo vento, que sopra no alto da serra, como sopra no mar. Vento que (não por acaso) é o motivo do estudo científico do protagonista masculino do filme, incapaz porém de abrir os braços a esse outro vento libertário que a seu lado sopra, o fascina e amedronta, e é uma mulher: Ana/Beatriz Batarda. Uma personagem digna de Agustina, mas na realidade criada por José Álvaro Morais e Jeanne Waltz, co-autores do argumento - excelente. Como a frieza da luz dada pela fotografia de Acácio de Almeida e a partitura original de Bernardo Sassetti que, sem se lhe impor, discretissimamente pontua o filme, em consonância com o ritmo narrativo das imagens, plenas de silêncios. E não apenas os da protagonista - criança, adolescente, mulher - sem chão em que pousar. Filha do dono de um pequeno hotel, casada com o filho de um industrial de lanifícios, ela é o rosto que sobressai de uma nova geração: a que descende de uma mediana burguesia de província, saudosa de uma antiga abastança feita de proteccionismos e cumplicidades salazarentas. Uma nova geração que - confusa, sem norte que se lhe veja - como que vive a penitência dos erros e desperdícios de outrora, herdeira de um tempo sem regresso. O que se intui desde logo pela sequência inicial de Quaresma: o velório de um avô, figura tutelar de uma casa em desagregação.
José Álvaro Morais sabe captar tudo isto, quer gerindo o tempo e o espaço das personagens quando conflituam nos lugares concêntricos dos seus pequenos quotidianos, quer quando, em magníficos planos gerais de uma singular durée, as enquadra na austeridade grandiosa da paisagem. De um e de outro modo dando, assim, a ver a sua dupla dependência: da História e da Natureza. Agrestes ambas. Pelo que delas todos querem fugir, sentindo-se, no entanto, a elas ligados e... presos. Na ânsia de qualquer coisa de indizível, para o que lhes falta, contudo, um golpe de asa. Por enquanto? As últimas sequências de Quaresma, até pelo seu contraste, mais do que permitir adivinhar o destino das personagens, admitem todas as respostas. Ou à penitência não sucedesse a ressurreição...

Rodrigues da Silva, Jornal de Letras



  


Despojos I - 25 de Setembro, 21:30, Auditório do IPDJ

E Agora, Onde Vamos?

Título original: Et Maintenant, On Va Où?
Realização: Nadine Labaki
Interpretação: Claude Baz Moussawbaa, Leyla Hakim, Nadine Labaki
Argumento: Rodney Al Haddid, Thomas Bidegain, Jihad Hojeily, Nadine Labaki, Sam Mounier
Fotografia: Christophe Offenstein
Música: Khaled Mouzannar 
Montagem: Véronique Lange
Classificação: M/12
Outros dados: FRA/EGI/Líbano/ITA, 2011, Cores, 110 min.
  

SINOPSE
Numa aldeia remota do Líbano vive uma comunidade dividida entre a religião cristã e islâmica. O lugar, rodeado por minas terrestres, tem apenas uma velha ponte que o liga às outras comunidades da zona. À medida que a guerra se agudiza no país, as mulheres da aldeia, fartas de fazer o luto pelos seus maridos e filhos, decidem boicotar a informação que lhes chega, destruindo o rádio e televisão comunitários. Porém, até então, e apesar das divergências religiosas, os seus habitantes vivem pacificamente a sua fé. Contudo, um evento vem contrariar aquela tranquilidade e os homens começam a disputar direitos e deveres, criando uma divisão entre os dois grupos religiosos num ambiente de tensão que cresce de dia para dia. É então que as mulheres, habituadas a conduzir os seus homens de uma maneira peculiar, de forma a desviar a sua atenção daqueles conflitos que ameaçam pôr em causa as boas relações entre todos, decidem contratar um grupo de dançarinas ocidentais e drogá-los com bolinhos de haxixe enquanto escondem todas as armas da aldeia....
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A actriz e realizadora libanesa Nadine Labaki que aos 29 anos se estreou na longa-metragem com a multipremiada comédia dramática romântica CARAMEL, filme que apenas em San Sebastián foi distinguido com o Prémio do Público, o Sebastian e o do Júri da Juventude, regressa quatro anos depois, com esta comédia dramática, centrada na vontade expressa pelas mulheres do seu país numa vida de paz entre cristãos e muçulmanos.
Se no primeiro, centrou a narrativa no quotidiano de cinco libanesas vivendo em Beirute, escolheu agora uma aldeia do seu país como cenário para este delicioso poema em que desempenha o papel de Amale, uma das mulheres envolvidas na luta pela paz.
Falada em árabe, russo e inglês, esta co-produção na cada dos 5 milhões de euros foi assegurada pela França, o Líbano, o Egipto e a Itália, e nela figuram nomes como a francesa Anne-Dominique Toussaint, o tunisino Tarak Ben Ammar e a própria Nadine Labaki.
Abrindo com imagens da aldeia perdida no deserto sob a narração duma mulher, para passar a um grupo de libanesas cantando e de imediato disparar numa sucessão de pequenos e grandes dramas, ao longo de cerca de uma hora e quarenta, assiste-se ao quotidiano destes libaneses rurais que apenas aspiram à paz e ao entendimento entre todos, para que os seus filhos cresçam saudáveis e felizes, sem sofrerem a imposição da guerra.
Como quase todos os filmes que nos chegam do médio oriente, este á duma beleza plástica impressionante, tanto pelo retrato vivo da terra, quanto pela restituição da alma dum povo mal-amado.
O cuidado posto em mais esta pérola que nos chega daquelas paragens e que por vezes nos remete para o bósnio Emir Kusturica, para o curdo iraniano Bahman Ghobadi ou para o argelino Tony Gatlif, tanto pelo apurado sentido de humor, quanto pela constante presença da música, pode ser fruto do cinema ser aqui “tirado a ferros”, mas é seguramente resultado dum à vontade com o som da vida e com a imagem em movimento, capaz de nos transportar para terras distantes e povos surreais na alegria de viver.
Desde a chegada do primeiro televisor, acompanhado da parabólica que os ligará ao mundo, até um milagre fracassado e outro bem sucedido, música e dança em fartura, discussões q.b. e belas mulheres, chegadas de fora com um propósito que irão dar nova cor às suas vidas, E AGORA, ONDE VAMOS?, de Nadine Labaki, merece a atenção de qualquer espectador disposto a descobrir que há mais e melhor do que o formatado cinema norte-americano para nos divertir, enriquecendo-nos o espírito.
Um filme que deve ser visto até às últimas imagens, uma derradeira lição de tolerância e onde se entende a razão de ser do título, imediatamente antes da dedicatória de Nadine à nos mères…”, com a sua rúbrica em árabe.