interactividade, não é assim que se diz?
ficou óptimo!
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fevereiro - americanos no seu melhor. no melhor ipj. às 21h30.
CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR, Michael Moore
EUA, 2009, 120’, M/12
Depois da presidência Bush, das armas, do 11 de Setembro, do serviço de saúde, MICHAEL Moore atira-se em "Capitalismo - uma História de Amor" à crise económica, desenhando o sistema capitalista como um monstro que cresceu desregradamente e, no processo, traiu as boas intenções originais em nome da ganância e do regresso a um sistema aristocrata onde os ricos concentram o poder e o dinheiro. "Capitalismo - uma História de Amor" é o filme de alguém que admitiu que a América em que vive já não é (ou talvez nunca tenha sido) a América em que julgava viver, e que compreende, ao mesmo tempo, a força e a limitação do que a sua câmara pode fazer. E aí, ganha-se como, provavelmente, o mais sincero dos filmes de Moore - e, provavelmente, o mais interessante, mesmo que por inerência à sua centragem na experiência americana, o mais "difícil" para o espectador internacional.
Jorge Mourinha, Público
Dia 8
TETRO, Francis Ford Coppola EUA/ITÁLIA/ESPANHA/ARGENTINA, 2009, 127’, M/12
"Tudo neste filme é um risco! Um filme pessoal, de autor, rodado a preto e branco, falado parcialmente em espanhol e, pior, em espanhol argentino... Não conseguiria arranjar pior maneira de ganhar dinheiro!" Mas quem diz que Francis Ford Coppola quer ganhar dinheiro com o seu novo filme, "Tetro"?
À pequena multidão de jornalistas e fotógrafos que o recebe na "sala de encontros" do Centro de Congressos do Estoril o cineasta americano diz que "nenhum dos meus filmes preferidos ganhou dinheiro à altura da estreia", e evoca alguns dos seus filmes mais conhecidos e aclamados como "O Vigilante" (1974) e "Rumble Fish - Juventude Inquieta" (1983). E mesmo "Apocalypse Now" (1979) foi perseguido durante anos pela aura de filme maldito.
A verdade é que Francis Ford Coppola, 70 anos completados em Abril, em Portugal para apresentar no Estoril Film Festival "Tetro", história de uma família separada por um segredo dilacerante, não é exactamente o mesmo que fez os três Padrinhos (1972/74/90) ou "Drácula de Bram Stoker" (1992). Este Coppola virou costas a uma Hollywood enterrada numa modorra criativa "que o 3D não vai salvar", esteve dez anos sem rodar e apenas voltou ao cinema (em 2007, com "Uma Segunda Juventude") nos seus próprios termos. E diz a quem o quiser ouvir que se sente de novo "cheio de ideias", como um estudante de cinema que experimenta e explora, "sempre a aprender". Em absoluta liberdade criativa.
Jorge Mourinha, Público
Dia 22
Sinédoque, Nova Iorque, Charlie Kaufman
EUA, 2008, 124’, M/16
Para o espectador ou cinéfilo distraído ou quem não esteja na disposição de ir consultar um dicionário, um esclarecimento: sinédoque é uma figura de estilo literária em que se toma a parte pelo todo, ou vice-versa, o género pela espécie, etc. Com esta informação poderão compreender e decifrar aquele que, à partida, aparece como o mais estranho e bizarro filme do ano e que marca a estreia na realização de Charlie Kaufman, um dos argumentistas mais originais que surgiu em Hollywood na última década. Aliás, quem conhece os filmes que ele escreveu para outros realizadores ("Queres Ser John Malkovich?" e "Inadaptado", de Spike Jonze, "Confissões de Uma Mente Perigosa", de George Clooney, e "O Despertar da Mente", de Michel Gondry) tem meio caminho andado para entrar no singular e complexo mundo mental de Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman), personagem central de "Sinédoque, Nova Iorque". Em todos estes filmes estamos face a uma mente que vai construindo um mundo muito próprio, que reproduz (ou quer reproduzir) o real a uma escala pessoal. De certo modo, todos eles representam desafios ao espectador, forçado, também ele, a fazer a sua própria construção mental com os elementos que o autor lhe dá. E o 'autor', neste caso, é tanto Kaufman como Cotard, que, no fim de contas, poderão ser uma e a mesma pessoa (jogo em que os seus argumentos são férteis), dado que "Sinédoque, Nova Iorque" parece ser o mais autobiográfico dos textos de Kaufman.
Toda esta riqueza de significantes não será, evidentemente, benéfica para a carreira comercial do filme, num tempo em que a maioria das películas são de uma indigência intelectual confrangedora. Mas vale a pena aceitar o desafio que ele representa, com a profusão de pistas que oferece.
Manuel Cintra Ferreira, Expresso
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Clarividência ou coincidência
Lady Eve (1941)
Wild Bunch (1941)
CCF representado no Seminário da Agecal em Lagos - e muito bem!
É nesse sentido que tem promovido Seminários para encontro de especialistas e reflexão comum e alargada.
Desta vez, a 27, 28 e 29 de Janeiro, no Centro Cultural de Lagos, organiza o Seminário SERVIÇOS EDUCATIVOS EM ESPAÇOS CULTURAIS, nos quais o Cineclube de Faro estará presente, pela intervenção da nossa Vice-Presidente GRAÇA LOBO no tema "Concepção e organização de serviços educativos – experiências no Algarve". A Graça intervirá às 14h30 de dia 29, falando sobre
PROJECTAR COM FUTURO – Uma experiência de colaboração entre a Direcção Regional de Educação do Algarve e o Cineclube de Faro
O Cineclube de Faro nasceu em 1956 e desde essa data que tem tido actividade ininterrupta. Tal como os princípios programáticos do Movimento Cineclubista, pretende ser um espaço onde projectar filmes é simultaneamente uma estratégia de divulgação de várias cinematografias, correntes e história do cinema, numa perspectiva de formação de um público crítico. É nesse sentido que tem vindo a organizar cursos e seminários e promovido sessões de cinema para associados, escolas e público em geral.
Como corolário desta acção de cariz formativo, passará, a partir do ano de 1997, a ser parceiro da Direcção Regional de Educação do Algarve no Programa JCE Juventude/Cinema/Escola. Este Programa sequencial, tem vindo a formar uma rede de dezenas de escolas, centenas de professores e milhares de alunos com o intuito de promover a literacia visual e a expressão artística.
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O som e a fúria
Kinatay de Brillante Mendonza (2009)
Apesar da obra de Mendonza ser inédita, foi editado em Portugal o DVD de Serbis/Serviços (2008) que custa 9.99€ na FNAC. Existem ainda edições de Tirador (2007) e John John (2007) na Amazon France e de Masahista (2005) na Amazon UK. A Associação Zero em Comportamento levou a cabo uma integral de Brillante Mendonza que teve lugar na Culturgest a semana passada.
Dia 25: "Não existe vitória na vingança" ou Histórias de Caçadeira segundo Jeff Nichols.
Esta é a ideia que escolhi explorar com Shotgun Stories (…). Tantas vezes na literatura, nos filmes, na política e na sociedade, a vingança, e, principalmente, a execução da vingança, é considerada um sucesso. Quer seja no preenchimento do seu voto em arruinar Danglar por parte de Edmund Dantes em O Conto de Monte Cristo ou na queda para a morte de Hans Gruhber em Die Hard, a euforia que sentimos enquanto espectadores a assistir ao vilão receber a sua destinada é inegável. Com Shotgun Stories eu queria trabalhar contra esta noção. Eu queria que a vingança fosse uma coisa estranha de precisar e uma causa não necessariamente defendida pelo espectador. A violência é uma tarefa pouco habitual para estas personagens, assim como o é para a maior parte das pessoas. A sua raiva e emoções são válidas, mas as suas reacções a essas emoções não são precisas. A minha esperança é que Shotgun Stories dê um retrato honesto de pessoas normais e trabalhadoras a responderem à dor e ao desgosto de coração que encontram, e que por vezes criam, nas suas próprias vidas.
Antes da produção eu tinha um argumento que achava bastante honesto.
O truque era fazer com que o filme também se parecesse com o argumento. Gary Hawkins, um professor que tive e amigo que me ajudou em Shotgun Stories, disse que o trabalho dos realizadores de documentários era estruturar os seus filmes o mais aproximadamente dos filmes narrativos possível, mas que era o trabalho dos realizadores narrativos aportarem tanta realidade para os seus filmes como a encontrada nos documentários. Parece simples, mas a produção de filme narrativo não é particularmente dada ao realismo (especialmente quando feita em película).
O Sudeste do Arkansas é um lugar de combustão lenta. As pessoas deslocam-se em passos seguros num fundo de quintas vastas. Isto para mim significava um formato de 2:35. Significava filmar em quadro em vez de usar imensa câmara à mão. Significa pausas grávidas nos diálogos e não deixar pôr muita maquilhagem nas minhas actrizes. Significava que a câmara não se mexia, a não ser que fosse absolutamente necessário. Isto não é um filme que pudesse ser feito noutro sítio qualquer (…). O Arkansas é o filme.
Jeff Nichols
O Lugar é o Arkansas, uma pequena cidade rural em terra de fim do mundo, com paisagens largas e tédio a condizer, filmada em formato scope por dentro do qual o tempo se derrama e a sufocação cresce. Houve um tipo, anos atrás, alcoólico, que fez três filhos numa mulher com quem vivia, mas nem sequer se preocupou em lhes dar nomes de gente. A um chamou simplesmente Son, a outro Kid e, ao mais novo, Boy - e, depois, foi-se embora, deixando-os entregues a uma mulher odiosa (é Son quem o diz) que, por sinal, era a mãe. Entretanto fez uma cura, encontrou Jesus, reabilitou-se, pelo menos aos olhos da sociedade. Arranjou outra mulher, fez outros filhos, levou uma vida de homem crente e temente a Deus, assim o garante o oficiante religioso do seu funeral a que vão, sem serem convidados, Son, Kid e Boy. Son acaba a cuspir no caixão do pai desencadeando uma guerra fratricida com os seus meios-irmãos. A tragédia instala-se.
"Histórias de Caçadeira" é um filme feito de violências viscerais que raramente se tornam explícitas no ecrã. Há as marcas, as consequências, os actos não. A começar pelo passado dos três irmãos, Son, Kid e Boy, que presumimos feito de abandono afectivo e cuidados precários. Ainda agora eles vivem uma existência ao deus-dará. Son tem uma profissão rude na aquacultura local, mas dissipa quase tudo o que ganha num sistema com o qual julga poder ganhar infalivelmente no casino: no início do filme, a mulher deixou-o e levou o filho com ela. Kid sonha em casar com uma rapariga, mas vive numa tenda, não tem sequer uma carrinha, uma profissão, um lugar onde morar – e tem medo das responsabilidades de adulto. Boy vive num furgão, derrete-se com o calor que lá faz, transporta um aparelho de ar condicionado que quer pôr a funcionar ligando-o ao isqueiro do carro e sonha ser treinador de basquetebol. Ao contrário, os irmãos do segundo casamento do pai estão a tentar levar por diante uma exploração agrícola, parecem encarreirados na vida. Só que, quer uns, quer outros, ficam igualmente primitivos e cegos pelo ódio quando chega o momento de se defrontarem.
A lógica do filme, em que a violência entre os dois grupos vai crescendo, parece conduzir a uma situação de last man standing, ou seja, de eliminação sucessiva de contendores até que só um subsista. E isto vai acontecendo movido pelo combustível da fatalidade, como se o motor, uma vez posto em marcha não mais se pudesse deter. Há qualquer coisa no ar - ou na terra, nos mosquitos ou, então, é o calor, a poeira que se desenha no sol posto - que alimenta a febre de não mais a paz ser possível. Não estou a fazer poesia barata, o que é relevante em "Histórias de Caçadeira" é precisamente a instalação desse clima que se cola à pele do espectador, como um visco que não sai, e que tanto provém dos planos fixos sobre a cidade desgostante, como da secura dos diálogos - veja-se a cena em que a mãe vai bater à porta dos filhos e dizer-lhes que o pai morreu - como se aquela gente pouco articulasse ou soubesse dizer. O filme não deixa, no entanto, que o manto negro da desesperança se cerre sobre os personagens, encontra uma porta de saída para eles, não digo uma via para a felicidade, essa estar-lhes-á sempre negada - mas que sabemos nós sobre a felicidade dos outros? Tomar umas cervejas no alpendre da casa, em silêncio, ao fim do dia, poderá ser uma aproximação?
"Histórias de Caçadeira" é um daqueles filmes independentes que poderiam ter ficado perdidos no limbo para onde vai a maior parte das produções que não encontram uma grande distribuidora para os fazer encontrar o caminho das salas. Esta fita onde Jeff Nichols se estreou com habilidade de autor completo (argumento e realização) acabou por encontrar o seu caminho através dos festivais (esteve em Berlim, em 2007) e chega-nos agora, um pouco atrasada, mas ainda a tempo de verificarmos que o outro cinema americano continua a ter motivos de interesse.
Jorge Leitão Ramos, Expresso
IPJ_2ª F_25 JANEIRO _21H30
sinais dos tempos...
Resistir pelo Silêncio
Filme de monólogos, era Jean-Pierre Melville em 1949, com Le Silence de La Mer.
Duarte Infante - uma entrevista; razões de uma gratidão
«Ainda no contexto das actividades políticas, ocorreu-lhe fundar, em Faro, um cineclube, para através do cinema também lutar contra o regime. E é disso que dá conta ao seu grande amigo João de Brito Vargas.
«Um dia saio da loja e encontro o meu amigo Vargas. Já andava com aquilo metido na cabeça há algum tempo e sugeri-lhe a fundação de um cineclube a exemplo do que sucedia noutros pontos do país. Ele aceitou a ideia de imediato, tendo sido um dos seus principais impulsionadores. Eu estava muito preso na loja, e ele como tinha mais vagar começou logo a mexer os cordelinhos. A possibilidade de aquilo ir avante era meter gente que não fosse mal vista pelos poderes e então meteu-se o Dr. Cassiano, o Baptista da farmácia, um professor do liceu e umas pessoas assim para dar um aspecto de seriedade às coisas. E então com muitas dificuldades lá se conseguiu. De tal maneira que no dia em que era para ser inaugurado não foi. Lá arranjaram um pretexto, que não me recordo qual foi, para adiarem aquilo para o outro dia, mas conseguiu-se e o Cineclube de Faro funciona ininterruptamente desde 1956, o que sob este aspecto o torna o único do país.»
Duarte Infante, livreiro, antifascista, democrata. Cineclubista. Honra à sua memória.
Classico e Moderno
Dois dos melhores filmes de 2009. Tempos de Verão (L'heure d'été) de Olivier Assayas e Ne change rien de Pedro Costa.
Faleceu Duarte Infante, sócio fundador do Cineclube de Faro
Duarte Infante:
Fundou, com outros jovens como ele, à época, o nosso Cineclube.
Permaneceu, ao longo destas mais de 5 décadas, como um dos sócios mais activos, interessados e participativos em todas as nossas actividades.
Disse sempre presente, nas alturas de maiores dificuldades e desânimo.
Foi invariavelmente de uma imensa correcção, cordialidade e respeito.
Esteve sempre connosco.
Esteve sempre.
Corpo presente na Igreja do Largo Pé da Cruz a partir de amanhã, dia 20, pelas 14h.
Funeral e cremação no Cemitério do Alto de São João na 5ªf, dia 21.
Deixou escrita uma sugestão:
que se tencionassem ofertar flores em sua memória, que fosse, singela mas significativamente, um cravo vermelho.
Não houve, não há, muitos Homens desta têmpera.
(com a esposa, Dª Domitília Infante, e Manoel de Oliveira, quando do Doutoramento Honoris Causa outorgado pela UAlg ao realizador, Janeiro de 2008)
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A Direcção do Cineclube de Faro, em seu nome e no de todos os nossos sócios desde 1956, apresenta o seu último agradecimento a tão ímpar figura e apresenta as mais sinceras e sentidas condolências à respectiva Família.
até sempre, Duarte Infante.
acompanhar as praias de agnès com cafezinho e bolinhos... hum!
bar do IPJ fechado e contra isso nada a fazer?
não! uma aldeia de irredutíveis cineclubistas combate hoje e sempre a força d.. as contrariedades!
e lá vamos de cafezinho e bolinhos para o nosso público!
até logo :-)
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praias para todo o ano, para toda a vida. as de agnès.
Morte que conhece bem e também sabe filmar: a do seu marido, o grande Jacques Demy, o homem das "Donzelas de Rochefort", que Varda celebra em "Jacquot de Nantes" e recorda em planos desse filme inscritos neste e imagens que são como que recriações do seu imaginário.
"As Praias de Agnès" é uma espécie de 'visita guiada', conduzida pela própria realizadora, num comentário simples e singelo, pela sua vida e obra, por amigos, conhecidos amigos e amantes, por lugares estranhos que visitou ao longo dos anos, por Cuba com um Fidel que fotografa em pose de vedeta de cinema, aproximando-se de outros 'daguerreótipos' (que foi título de um dos seus filmes mais pessoais), por Hollywood e um inesperado encontro com um Harrison Ford de quem poderia ter sido a madrinha de estreia, evocação de um tempo de lutas (insólita, com um ar de pequena traquina nos seus 80 anos de vida, em 'manifs' feministas), reencontros no tempo com as imagens de Gérard Philipe, Catherine Deneuve, Philippe Noiret, Corinne Marchand e tantos outros ("como eram jovens e belos", comenta Agnès).
Digressão ao longo da sua obra a que não faltam pitorescos pormenores, no que se refere ao seu filme de estreia, "La Pointe Courte", com a realizadora revisitando os lugares de filmagens e reencontrando os jovens que filmou, agora com os rostos feitos mapas do tempo e da vida. O encontro com Demy, o amor da sua vida, e que acompanha a Hollywood quando Hollywood chamou Demy. Varda aproveita a visita para fazer os seus documentários mais polémicos, entre eles um sobre os Black Panthers. E o filme que a deu a conhecer e fez dela uma das figuras mais importantes do que se chamou Nouvelle Vague: "Cléo de 5 à 7/Duas Horas da Vida de Uma Mulher". Tanto mais! Tanto mar!
História de uma vida e história do cinema, "As Praias de Agnès" é também uma lição de fazer cinema, que a realizadora expõe sem pudor e com traços de fantasia (a entrevista com Godard, entre outras cenas quase surrealistas). Um daqueles objectos insólitos tão raros que quando surgem nos ofuscam com o seu brilho. Uma pura jóia do cinema.
Manuel Cintra Ferreira, Expresso
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2ª FEIRA - 18 DE JANEIRO - IPJ - 21H30
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como já reparou (está em autoplay! :D
Convite - I JORNADAS CIAC
I Jornadas de Investigação em Artes e Comunicação do CIAC
COMPLEXO PEDAGÓGICO DA PENHA
Anfiteatro 0.5.
Programa
Sábado – 16 de Janeiro
09h – Recepção e Inscrições
09h30 – Sessão de Abertura
10h - 12h - Doutoramentos em curso
10h – 10h20 – Sandra Moreira
10h25 – 10h45 - The immortalisation of/through the Image: Elizabeth I of England in Biographical Literature, Painting and Screen.
Liliana Lopes Dias
10h50 – 11h10 - 1953-1965: O Declinio do Paradigma Clássico e a Emergência do Maneirismo de Hollywood
Jorge Carrega
11h10 – 11h20 – Coffee Break
11h20 – 11h40 – A Representação cinematográfica da alteridade nos filmes portugueses de ficção sobre o Oriente (Macau e Japão) – o Espaço e os Heróis
Emília Piedade
11h45 – 12h00 – As Cidades Encantadas de Pfitz – O Espaço na Narrativa e a Narrativa como Visão e um Determinado Espaço
Lúcia Ramos
12h05– 12h15 - Promoção da Saúde depois dos 65 anos: Elementos para uma política integrada de envelhecimento
Mariana Almeida
12h15 – 13h30 - Almoço
13h30 – 15h30 - Reunião da Comissão Científica do CIAC
15h45 – 18h30 - Projectos Teatro e Estudos da Performance
15h45 – 16h15 – Estratégia e Literacia de Actores Amadores
16h20 – 16h50 – História do Conservatório Nacional
16h55 – 17h25 – O Actor Permanente: o personagem como um fluxo de mudanças (com UE)
17h30 – 18h – Cena & Texto
18h05 – 18h35 – Linguagens de Encenação e Interpretação
Domingo – 17 de Janeiro
9h30 – 11h40 - Pós-Doutoramentos
9h30 – 9h50 – Poesia e documentário no cinema português (Manoel de Oliveira - António Reis - Pedro Sena Nunes) – Ana Isabel Soares (UL/FCT)
9h55 – 10h15 – Kant, Ortega y Gasset, María Zambrano. Estética e Pensamento Musical - Maria João Neves (FCT)
10h20 – 10h40 – A 2: em Cena: Estudo de Parâmetros de Qualidade para a Análise de Programas - Gabriela Borges (UAlg/FCT)
10h40 – 11h – Coffee Break
11h – 12h35 - Projectos Comunicação
11h – 11h30 – Euromeduc
11h35 – 12h05 - Qualidade e Identidade: um estudo comparativo dos canais públicos europeus
12h05 – 12h35 – AAQUA (com a UCP e UBI)
12h35 – 14h - Almoço Cantina Campus Penha
14h – 15h – Projectos Artes Visuais
14h – 14h30 – Plataforma Internacional de Divulgação Científica
14h30 – 15h – ALGARTE
15h05 – 18h15 – Projectos Estudos Fílmicos
15h05 – 15h35 - Jornais Cinematográficos Portugueses
15h40 – 16h10 - Transcriações: literatura e meios audiovisuais
16h10 – 16h40 – Principais tendências do cinema português contemporâneo
16h45 - 17h15 – Os ensinos de escrita para o ecrã (métodos e experiências comparados) 17h15 – 17h30 – Coffee Break
17h30 – 18h20 – Projectos Interdisciplinares do Centro
17h30 - 17h50 - Thesaurus de Narrativas Ficcionais do Mediterrâneo 17h50 – 18h10 - Cross Media, Mixed Media em Novas Tecnologias da Informação e Artes Performativas
18h15 – 18h30 – Encerramento
Inscrições:
Gabinete de Eventos da FCHS
Sra. Isabel Afonso
Email: gefchs@ualg.pt / Telefone: 289800900 ext.: 7914
Responsável pela organização:
Profa. Doutora Gabriela Borges
FCHS – Campus Gambela
Tel: 289800900 ext. 7817
Tel.: 962643749
Email: gaborges@ualg.pt
Capturing Reality: The Art of Documentary
(dica de catarina alves costa no facebook)
Capturing Reality: The Art of Documentary, de Pipeta Ferrari, consiste nas respostas de 30 realizadores a questões como "Can film capture reality? What ethical issues arise when portraying real lives? How does editing or music condition our emotional response to film?".
O dvd custa os olhinhos da cara. mas... como resistir?
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(resposta fácil: olhando para a conta bancária do cineclube)
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capitalismo - uma história de amor
Este alerta é devido porque a distribuidora nos informou que ele vai entrar no SBC na próxima 5ªf, dia 14.
É só aguardar 15 dias... :-)
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morreu eric rohmer.
morreu eric rohmer.
morreu eric rohmer, o que demos a ver: pesquisar http://www.cineclubefaro.com/ / filmes / filmes exibidos / realizador
morreu eric rohmer, o que temos: pesquisar http://www.cineclubefaro.com/ / video/dvd / catálogo online / realizador
morreu eric rohmer, o que lemos: pesquisa http://www.cineclubefaro.com/ / livros / catálogo online / realizador.
e tanto eric rohmer ainda a descobrir. para sempre.
(isto nem é tributo, é mera comoção, mesmo)
(ainda há pouco saiu a caixa dvd com a série 'contos das 4 estações'. era nossa intenção adquiri-la. que pena termos de o fazer postumamente.)
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e a crise económica mundial? hein? II
jóia de inscrição para novos sócios.
assim:
estudantes - em lugar de 15€, fica 10€
restantes casos - em lugar de 25€, fica 15€
em ambos os casos, oferta de um caderno com 5 senhas de entrada nas sessões, no valor de 5€.
gostaríamos, e muito, de ver renovado o nosso caderno de sócios. somos 359, mas que tal se fossemos 500?
pertencer ao cineclube é pertencer a uma associação cultural sem fins lucrativos que, por acção desinteressada (não paga) dos seus directores e colaboradores, desde 1956 teima em afirmar a diferença nesta cidade: bons filmes, sempre. muitas outras actividades complementares, incluindo estreias e ante-estreias (já as houve, sim!!). edições, e não só de livros - já tem o nosso cd A Jazzar no Cinema Português? workshops, congressos, debates. espectáculos. colaborações com todos os que se nos dirigem pedindo ciclos de cinema. enfim: um mundo!
tem a certeza de que não quer pertencer a um clube assim? :-)
(já agora, sócio nosso: bute convencer amigos seus a inscreverem-se? temos uma surpresa para si!)
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e a crise económica mundial? hein?
eh pá qu'até parece que somos ricos!!
mas não somos. câmara falida, a ver o que se arranja dali este ano. aliás, tudo falido, vamos a ver o que se arranja dalis este ano.
incluindo de nós e dos nossos associados: 50 cêntimos a mais por mês, ok? a assembleia geral decidiu e... bem, parece-nos!
como de costume, manteremos a boa prática: sócio que liquide o ano todo durante este mês, oferecemos duas quotas. conclusão: ser sócio do CCF ficará a 30€ anuais.
esperemos que não seja muito para os nossos associados, pois contabilisticamente justifica-se (é só pensar que cada sessão fica, para nós, à volta de 300 euros!!!)
formas de pagamento:
- na sede;
- nas sessões;
- por via postal, cheque endereçado a Cineclube de Faro;
- por transferência bancária ou via multibanco - NIB 0045 7210 4000 3931 253 22
da nossa parte, damos a certeza de teimar e teimar e teimar, como desde há quase 53 anos, para que o CCF continue as suas actividades com regularidade e qualidade. combinados?
*senha de entrada manter-se-à a 1€/sessão.
algo de familiar
Dia 11
HOME – LAR DOCE LAR, Ursula Meier
Suíça/ França/ Bélgica, 2008, 95’
Primeira longa-metragem para cinema de Ursula Meier. "Home - Lar Doce Lar" é um dos mais insólitos e provocantes filmes franceses dos últimos anos. As primeiras imagens provocam logo uma sensação de estranheza: pai e filho jogam sobre o asfalto do que a seguir percebemos ser uma auto-estrada. Mas não circula um único carro por ali, excepto o dessa família. Por inconformismo ou por outras razões, aquela família afastou-se do mundo, vivendo numa casa que se ergue no fim dessa auto-estrada que foi deixada incompleta. Os três filhos do casal adaptam-se de forma diferente à situação. Mas, se eles procuraram fugir do mundo, este acaba por apanhá-los. Ao fim de algum anos, a auto-estrada é reaberta acabando por formar barreiras intransponíveis, e a vida de todos transforma-se radicalmente. O pode ser visto como um espécie de metáfora do mundo de hoje. Uma obra estranha, fortemente dramática, com um grupo de actores soberbos.
Manuel Cintra Ferreira, Expresso
A pequena casa da pradaria contra a estrada vilã, barulhenta e poluidora: a metáfora é transparente e os confrontos estão bem enredados, mas o melhor de Home está noutro lugar. Como o combate livre por um jovem atleta em Dês Épaules Solides, aqui joga-se primeiro com o interior. Porque o fluxo de carros vai perturbar o equilíbrio desta família. Incapaz de renunciar a sua própria ilha, a família Robinson agarra-se de tal forma ao asfalto, que chega a perder a razão. A mise en scéne conjuga maravilhosamente com a actividade inexorável da narração, a câmara ao ombro e a montagem contrastante nas primeiras sequências criam espaço a uma realização mais estática e comedida. A escala de planos como composição de imagens (uma paisagem, depois uma janela que desenha um quadro dentro de um quadro) a significar o isolamento mortífero das personagens. E a soberba fotografia assinada por Agnés Godard, uma fiel directora de fotografia de Claire Denis, cristalizando a descida até ao inferno: as paisagens iluminadas e as cores fortes ao início sucumbem à negrura insondável da escuridão. Urusula Meier dá uma grande atenção à banda sonora. Barulho de motor e o crepitar não são mais do que ecos de um mundo exterior ruidoso, que se opõe à tranquilidade do ambiente que envolve esta casa.
E a música – de clássica a heavy metal, passando por Django Reinhardt e Dean Martin – assumem um papel dramático essencial neste ecletismo jubiloso. Encontra-se de novo o gosto pela mistura de tons neste filme, do drama ao cómico ou poético, que é feito livrando-se das marcas como as referências cinematográficas – que não impede de pensar em Week-end de Jean-Luc Godard ou o Septième de Michael Haneke. Com este belíssimo filme de autor, com perfeita mestria que é radical sem ser austera, Ursula Meier traz um cunho precioso ao espaço do cinema!
Mathieu Lower, Le Courrier
Dia 18
AS PRAIAS DE AGNÈS, Agnès Varda
França, 2008, 110’
Ei-la, a autobiografia de Agnès Varda, relato da sua vida, em seu nome e feita pelo seu próprio punho. Varda, que se estreou como realizadora há cinquenta e cinco anos, tem agora oitenta e um anos cheios de energia e de memórias. A primeira coisa maravilhosa de "As Praias de Agnès" é a maneira como ela põe a energia ao serviço das memórias, a maneira como o filme mergulha na evocação e na nostalgia sem ficar cativo delas, permanecendo sempre vitalista.
Evidentemente, preservando o direito à emoção - o equilíbrio do filme também se joga assim, naqueles "buracos" por onde subitamente Varda se parece afundar (como numa sequência numa exposição de fotografias em que a realizadora parece ficar esmagada pelas imagens de tantos amigos mortos) para logo a seguir reemergir nalgum "sketch" burlesco (a cena com os escritórios da sua produtora, a Cine-Tamariz, "transplantados" para o meio da rua, por exemplo). Ao mesmo tempo, e se é de "emoção" que se trata, o centramento de "As Praias" na primeira pessoa não impede que o filme - e que "a primeira pessoa" - esteja permanentemente voltada para os outros, numa saudação, melancólica, algumas vezes elegíaca, aos lugares que lhe foram caros, aos amigos e aos amores (especialmente tocante, por todas as razões, o segmento que evoca e, para todos os efeitos, visita Jacques Demy).
Filmar uma vida é filmar um património, não é outro o credo de Agnès Varda. Um património onde cabem, quase num mesmo plano, memórias, objectos, lugares, e ainda "memórias de memórias" ou memórias transformadas em "objectos" - todas as fotografias, todos os excertos dos seus próprios filmes antigos que Varda que vai incluindo. Mais do que o filme de "bricoleuse" que obviamente é, pegando em múltiplos registos e em múltiplos materiais de natureza diferente, "As Praias de Agnès" é um filme de "coleccionadora". O filme em que ela abre as portas do seu museu privado conduzindo o espectador numa visita guiada, por entre peças que valem tanto por si mesmas como pelos fios que as ligam a outras peças. De vez em quando, um "intermezzo" ligeiro, anódino, gratuito, vem pontuar a visita - sem momentos destes, parece dizer Varda, a vida não tinha graça nenhuma. E é preciso guardá-los, talvez porque nunca se saiba quando chega o "corte" derradeiro: o abrupto final de "As Praias" é uma espécie de prenúncio, de despedida discreta, majestosa e enxuta. Mas enquanto não chega o fim da história, celebrem-se as alegrias e as tristezas, os amores perdidos e os amores eternos. Chamem-lhe uma "lição de vida".
Luís Miguel Oliveira, Público
Dia 25
HISTÓRIAS DE CAÇADEIRA, Jeff Nichols
EUA, 2007, 92’
Boa notícia! O jovem cinema independente ainda mexe. Aqui está Shotgun Stories de Jeff Nichols, um jovem do Arkansas que acaba de sair da Universidade de Cinema. Mas para um novato do ano, Nichols já possui um sentido muito seguro do quadro, da narrativa, dos mitos fundadores do seu país e, sobretudo, uma paciência e calma de velho sábio do cinema: este espectacular Shotgun Stories poderia estar assinado por John Ford, um Ford amanhecido do espírito lo-fi dos novos cantadores americanos da country desencantada, tipo Mark Linkous ou Will Oldham (que, lá está, entrava em Old Joy).
Uma banda de White Trash volta a tocar a eterna tragédia dos Atridas, com a imensidão desertada pela justiça, a lei, a civilização, onde os conflitos ainda se retratam a tiros de espingarda. Nichols filma esta história de western com precisão e sobriedade, evitando os efeitos espectaculares, preservando-se tanto da heroificação como da estigmatização das suas personagens, respeitando as razões de cada um e dando o necessário de tempo a tempo.
Um dos irmãos, por exemplo, que rejeita a engrenagem da violência, ocupa a vida a treinar os miúdos no basket ou a arranjar o rádio do carro. Para pegar numa metáfora pictórica, há neste filme um excelente equilíbrio entre o traço (do argumento, da dramaturgia conflitual) e a matéria (a vida que decorre, a relação intensa com o tempo, com a paisagem, com os locais).
Há sobretudo em Nichols uma ausência de ego autorístico, de rapto das personagens ou dos espectadores, uma colocação dele mesmo à disposição do serviço da história, das personagens e dos locais filmados que denota uma espantosa inteligência de cinema, uma confiança renovada nos meios mais despojados desta arte agora velha. Criança do Texas, Nichols escolheu a câmara em vez da carabina e serve-se dela judiciosamente, disparando sobretudo menos rápido que a sua sombra. O seu filme é a primeira e maravilhosa salva de cinema do ano novo. Yeepee, isto recomeça bem.
Serge Kaganski, Les Inrockuptibles