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A CCC participou neste evento realizando a parte gráfica (cartaz de Jucifer), a edição do jornal Cascais Submerso (imagem da direita) - uma publicação oficial do evento -, e com uma Feira de zines e edições independentes no "Mercado Verde" do evento que decorreu no Sábado e no Domingo entre as 15h e as 21h.
O jornal é totalmente ilustrado pelos nossos associados Ana Ribeiro, José Feitor, Jucifer, Rita Braga, Pedro Brito, Rui Cardoso, André Lemos, Lucas Almeida e unDJ GoldenShower. Afonso Cortez assina também um interessante texto sobre a "pirataria na música".
A distribuição foi gratuita durante a Mostra Jovem 2007. Ainda temos alguns exemplares, se estiver interessado contacte-nos. Uma versão PDF está disponível para download no sitío oficial do evento. Entretanto deixamos aqui o nosso "editorial":
Publish or Perish
Há uma estranha tradição de edição alternativa em Cascais. Essa tradição tem tanta história como a de Lisboa, Porto ou Caldas da Rainha e, diga-se de passagem, é ignorada por quase todos, burocratas ou não. Só para começar o título deste texto era de um zine produzido em Cascais. O que é um zine? Para explicar tenho de explicar o que é um fanzine…
Os fanzines são publicações amadoras feitas pela equação “liberdade total versus restrições económicas”. Circulam à margem da distribuição normal das publicações oficiais, ou seja, longe do quiosque e das livrarias. Geralmente quanto melhores condições económicas um editor tiver (por exemplo, através da publicidade) menos liberdade ele terá - uma empresa ou uma instituição não gosta de ficar associada a uma publicação que tenha uma BD de vexo e siolência à discrição. Também se considera que os fanzines são publicações especializadas em temas, daí a conjunção das palavras: “fan” (fã) e “magazine” (revista). Assim são os primeiros fanzines, nos anos 30, que versam sobre ficção científica. Desde os anos 70, que o “fã” tem sido abandonado do "fanzine". O aparecimento da estética “Do It Yourself” do movimento Punk aliado ao acesso às fotocopiadoras, fez com que as pessoas começassem a tratar de assuntos mais pessoais e que não poderiam ser associados à ideia de ser “fã” de seja o que for, por isso à palavra "fanzine" caiu o "fan" ficando simplesmente "zine". Existe ainda outra designação na terminologia do mundo dos zines. Trata-se de "prozine" que é um zine que, como o prefixo "pro" indica, é de qualidade gráfica superior. É um zine que se aproxima mais, como objecto editorial, do livro e/ou da revista. Todos nós somos potenciais “editores” como se provou recentemente com a explosão dos blogues.
Agora que já sabem isto, aqui vai uma lista de títulos feitos em Cascais desde os anos 90 – não que isso vá contribuir para a vossa alegria mas apeteceu-me mencioná-los: "Revolta", "Ezequiel", "1984", "Anatopia", "Ah!zine", "Betray", "DNA", "Global Riot", "Hrih", "Nuclear Mosh Zine", "Outrage", "Trips a Moda do Porto", quase todos estes ligados à cena Punk / Hardcore / Vegan / Okupa; "Outgrow", "Safety Zone", "Reflections", "Vindos do Inferno", vários títulos editados por Afonso Cortez em desajuste crítico com os anteriores; "Hieróglifos" e "alguns slides", ligados à literatura e ao escritor Rafael Dionísio; o "Resina" dedicado às questões da Arte; "Vardogr", "Aqui no canto" (de João Rubim); "Tralha Perdida" (onde participou Crizzze); e "JP Comix", ligados à BD e ilustração (os dois últimos, infectados dos vários zines feitos nos cursos de "Iniciação à Linguagem da BD" ministrados em Cascais); e ainda, alguns números de "Dead Doll House" (Arte) e "Carneiro Mal Morto" (BD) ambos de Rafael Gouveia que também tiveram morada neste concelho.
Ligações editoriais à BD há muitas! Cascais é residência da única publicação sobre BD em Portugal ("Jornal da BD"), foi também dos "Cadernos de Banda Desenhada" (prozine dedicado aos clássicos da bd) e claro do "Mesinha de Cabeceira" (e títulos vizinhos: "Meseira de Cabecinha", "Mercantologia", "My Precious Things") que para o mês que vem faz 15 anos de existência. Foi também aqui que a Associação Chili Com Carne foi criada, a única associação dedicada à BD alternativa em Portugal, que editou projectos inéditos como a antologia internacional "Mutate & Survive" e que actualmente acolhe nas suas fileiras as melhores editoras do género: MMMNNNRRRG (com o lema “só para gente bruta” também de Cascais), El Pep (editora vizinha, de Oeiras), Opuntia Books (de André Lemos) e a Imprensa Canalha (de José Feitor).
Por falar em Oeiras, de lá pode-se ainda apontar os zines "Vermental", "Gritante" (ambos de João Cunha), "Bactéria" e "Killer Season Fanzaíne" (que veio dar na El Pep)... mas não me quero esticar. Este texto serve como um primeiro testemunho de História da Edição Alternativa do concelho e para validar este jornal enquanto objecto editorial num espaço próprio. O jornal foi feito de sinergias entre várias associações juvenis do concelho e pretende ser mais do que um mero espelho da programação da Mostra Jovem e do tema escolhido para a edição deste ano, "Cascais Submerso". Para além de reflectir temas ecológicos – uma preocupação que esperamos não seja apenas uma moda – este jornal também trata de questões de cultura que passam pela paisagem suburbana, o Graffiti, “pirataria” (palavra feia atribuída pela desesperada indústria fonográfica), consumismo, novos desportos, ficção científica… tudo devidamente ilustrado pelos nossos sócios. - Marcos Farrajota