segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Barcos na cidade grande
Não havia areia branca por aquelas paragens. Só um fio de luz ténue que lhes embalava o corpo desvairado em marés negras das fábricas e dos turnos.
Uns após outros, os turnos, carregavam-nos de inconstâncias, muitas vezes amarradas à amurada e a medo.
No fim do dia, pousavam de costas para a cidade grande. E , a balouçar, de maré em maré, adormeciam...
Fotografia do fotógrafo Pedro Soares de Mello
terça-feira, 11 de novembro de 2014
Estudo
O estudo visa detectar as necessidades de estágios profissionais, trabalhos temporários, carreiras profissionais, quer em Portugal quer no estrangeiro, dos alunos portugueses. As suas expectativas e necessidades.
Trata-se de um estudo Universitário e está a ser feito numa Universidade inglesa, por uma aluna portuguesa.
Podem responder alunos, pais, professores. Aqui
https://pt.surveymonkey.com/s/GQSDJ9L
Obrigada
Trata-se de um estudo Universitário e está a ser feito numa Universidade inglesa, por uma aluna portuguesa.
Podem responder alunos, pais, professores. Aqui
https://pt.surveymonkey.com/s/GQSDJ9L
Obrigada
sábado, 8 de novembro de 2014
Quiosque amarelo
Desceu a par e passo, até ao largo, inundado de luz e pespontado a quiosque amarelo.
Comprou o jornal dessa manha e embrulhou meticulosamente, com ele, o olhar. Depois, dirigiu-se às margens, que lhe sulcavam devagarinho o espanto. E só aí, se desaguou em foz.
A Fotografia é do fotógrafo Pedro Soares de Mello
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Assombração
Saltou do seu nicho, ao primeiro olhar do sol.
Se teria sido anjo, nunca o saberia...tornar-se-ia assim, pela força das circunstâncias, a sua própria assombração.
A fotografia é do fotógrafo Luís Leal
sábado, 11 de outubro de 2014
Penas e pássaros
(…)De repente a mulher que todos os dias me vendia o pão,
era uma garça. E por todo o lado só se viam penas e pássaros, penas e pássaros,
penas e pássaros.Uma infinidade de penas e de pássaros, numa cidade, que
amanhecia a voar.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
CaSO4 + 1/2 H2O
Anunciou ao mundo, que iria escrever a eternidade. Imortaliza-la para sempre. Ou pelo menos, por todo o tempo que se lembrasse.
Ficaria ali, em lugar de destaque Absolutamente, repleta de si.
Susteve a respiração e escreveu:
CaSO4 + 1/2 H2O.
domingo, 31 de agosto de 2014
Brevíssima viagem
Ainda há pouco te dizia...não tem preço esse meu horizonte. Traçado assim, longitudinalmente, à tua brevíssima viagem.
(quadro: "Onemt VI" de Barnett Newman )
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
S. Martinho do Porto
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Beatriz e os cabelos de céu.
Vivem assim, na brevidade do tempo. Curto, para nós que temos tempo. Longo, para eles que sabem da existência e do infinito.
Vivem assim, entre esta terra tão agreste, e a possibilidade de estenderem os dedos e puxarem devagarinho os cabelos ao céu.
Assim que estendem as mãos pequeninas, o céu baixa-se, de repente. Depois divertem-se a puxar-lhe os cabelos.
Julgo que passam muito tempo, a enrolá-los com as pontas dos dedos. Nos dias piores. Sobretudo, nos dias piores.
Ás vezes damos com eles, entretidos a pregar os olhos brilhantes, ao fundo da nossa alma.
Não estão ali. Ali, estão só de passagem.
Os olhos é que estão ali, pregados momentaneamente, ao fundo das nossas almas.
Quando partem, é como se nos dissessem tudo aquilo que já adivinhávamos...somos anjos. Sempre o fomos. Nem por um minuto, alguma vez, deixámos de o ser.
-Viste? Bastava-me estender as mãos para brincar com os cabelos de céu.
Serenamente, continuarão a fazê-lo.
Só não voltam a pregar os olhos, ao fundo da nossa alma.
Mas basta uma única vez...para perceber porque o fizeram.
domingo, 3 de agosto de 2014
Se o mar se voltar...
Dizem-me que o barco está lá fora, no lago, à espera que o
mar não se parta. Que o mar não se volte. Que o traçado de luz lhe indique a estreiteza do caminho por entre as pedras e
os baixios, Até ao noutro lado, feito
espelho de prata.
Se o mar se voltar, só o mar restará. Se o mar se voltar…
Fotografia: Pedro Soares de Mello
Se o mar se voltar, só o mar restará. Se o mar se voltar…
Fotografia: Pedro Soares de Mello
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Em fissura de infinito
Desmembrei-me
de todas as curvas da minha vida. Menos de uma: aquela que me pareceu revelar,
lá bem no fundo, uma pequeníssima fissura de infinito…
Estreita, é certo. “Entre calada” de muito antes e de tanto porém. Mesmo assim, uma curva com uma pequeníssima fissura de infinito. Aconchegada ao canto supremo do olhar.
Sinfonia com a largura do tempo, pensei eu.
De todo o tempo, que um dia passará a correr, por dentro de mim.
De resto, nada mais haveria nessa paisagem. Feita de rectas. Absolutamente semibreves
Estreita, é certo. “Entre calada” de muito antes e de tanto porém. Mesmo assim, uma curva com uma pequeníssima fissura de infinito. Aconchegada ao canto supremo do olhar.
Sinfonia com a largura do tempo, pensei eu.
De todo o tempo, que um dia passará a correr, por dentro de mim.
De resto, nada mais haveria nessa paisagem. Feita de rectas. Absolutamente semibreves
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Sem lugar de mim
Deixei os soluços, as lágrimas e o vento que me abraçava a garganta, atrás da porta.
Para dentro, trouxe apenas uma brisa ténue, sem nenhum rasto de mim...
Depois, simplesmente, adormeci.
(o quadro é do pintor Eduardo Naranjo)
segunda-feira, 30 de junho de 2014
Destino comprado
Compra-se um destino, então.
Um destino grande e transparente.
Viscoso, de corpo inteiro.
Um destino pesado,
De contornos indefinidos.
Que se vira e revira
Rebola, reflecte, transpira.
Um destino de encontro ao vento.
Compra-se um destino então...
Desatado do infinito e levado,
Para sempre,
desde aqui...até á lonjura.
sábado, 28 de junho de 2014
Sussurros na ombreira da porta
As palavras não entravam pela ombreira larga da porta. Apenas os sussurros chegavam, aos pares, encostados ao desencanto desse dia.
-Hoje, não há nada para dizer!
O tempo, nasceu sereno. De sol, de arrepio, de brancura pincelada a azul. Ou de azul, matizado com laivos de ausência…pouco importa.
O rio correu para lugar algum, durante o espaço que lhe foi permitido. Até alguém se lembrar de o rebocar, envolto numa espécie de neblina, desencontrada das margens e agrafada à força.
A noite, essa, far-se-á apenas na espera, como todas as noites.
E os sussurros que se acotovelam cada vez em maior número na soleira, a lembrar outros tempos. Tempos de fazer redemoinhar palavras de um lado para o outro.
-Hoje não há nada para dizer!
Esvai-se apenas, o que resta deste aparo de existência, no que outrora podia parecer o leito de um rio…sílaba a sílaba.
domingo, 22 de junho de 2014
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Desvanecia-se
Primeiro puxou um a um, pelos ombros, os pedaços de pele enrodilhada.
A seguir, dos calcanhares para cima, descarnou-se. Os ossos a bambolear no vazio, à procura dos restos das veias, que tombavam, em molhos, ensarilhadas no chão.
Por fim, sem dó, nem si, cravou as unhas com toda a força no rosto. Os olhos rolaram como berlindes, pelas cavidades abertas.
Desvanecia-se…
(…) E os restos da alma, que nem o tutano, jamais lhe alcançaria.
A fotografia é do fotógrafo Michael Macku.
domingo, 1 de junho de 2014
Moçambicando, na noite de Sintra
Foi noite de Moçambique em Sintra.
Morena pele, de tranças claras, em Sintra.
Terras de lonjura e barro vermelho, em Sintra
E o cheiro da savana, sorvido sem pressas,
Sol a pino, na noite de Sintra
Com queijadas e lonjuras.
Gostei muito!
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Geração 95
A geração 95, de 1995, é a geração da minha filha.
São independentes, cidadãos globais e lutadores.
São aparentemente desligados de uma data de coisas que a nós nos dizem tanto e surpreendentemente, estão tão perto...assim, com uma escrita de quem tem 19 anos e acabou de nascer, ali ao virar da esquina, dos anos noventa...
O blogue é da minha filha Inês. Chama-se geração 95 e aqui fica.
http://bloggeracao95.blogspot.pt/
São independentes, cidadãos globais e lutadores.
São aparentemente desligados de uma data de coisas que a nós nos dizem tanto e surpreendentemente, estão tão perto...assim, com uma escrita de quem tem 19 anos e acabou de nascer, ali ao virar da esquina, dos anos noventa...
O blogue é da minha filha Inês. Chama-se geração 95 e aqui fica.
http://bloggeracao95.blogspot.pt/
sexta-feira, 25 de abril de 2014
E a noite, num flash
Dália, em passo apressado de flor, traçava-me cuidadosamente a eyeliner, o flash: certeiramente. A olho, dizia… por forma a conseguir reter melhor a luminosidade de cada um, dos tantos que me aguardavam, a escassos minutos, no palco.
Ainda a tempo de vestir a alma e abotoar a emoção, despedi-me então, de mim.
O tributo, seria de ora em diante, apenas e só, de todos eles.
Fotografia: Pedro Soares de Mello
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Pudesse eu...ser mulher
Desta vez, o desafio foi diferente. O texto foi feito, sobre a instalação da artista plástica Dulce de Macedo.
Está em exposição na Câmara Municipal de Vizela
Pudesse eu, ser mulher.
Deram-me o espaço e o tempo. E as portas abertas para lugar nenhum.
Deram-me janelas, completamente desertas.
Depois, deram-me as horas. Todas as horas, que eu quisesse, para poder pensar. E um rosto pálido, descolorido, de tanta ausência.
A espaços, cediam-me bocadinhos de vida. Creio que de alguém, não sei.
Eram retalhos coloridos, que eu encaixava, meticulosamente, entre os minutos de todas essas horas. A segundos, por vezes, das recordações.
Como se eu pudesse, ter recordações…
Alegrias limitadas e consentidas, por ora. E, permanentemente vigiadas.
Alguma vez, se assim fosse, eu começaria, lentamente, a construir-me de coisa alguma. De sabor, de calor, de barro, de cor, de acontecimentos… Ah, nesse dia, eu saberia: seria então, mulher!
As minhas janelas teriam vista de horizonte. Prados de mar e, lagos de erva-doce.
As minhas portas cheias de gente.
Um dia…pudesse eu, ser mulher!
Filipa Vera Jardim
(na fotografia acima: a instalação da autoria de Dulce de Macedo)
quinta-feira, 27 de março de 2014
Poesia- RTP África
Programa Bem-vindos, RTP África.
Com a Vera Fornelos e o Delmar Gonçalves. A propósito das palavras. Daqui e, d'além mar.
nota: a bloguer não é muito "televisiva". Assim sendo, tratou de dizer o essencial. E, sempre numa posição absolutamente estática.
http://www.rtp.pt/play/p1441/e148333/bem-vindos-2014
domingo, 23 de março de 2014
A um pequeno passo, do luar
Anoitecera cedo. Num repente, percorreram de mãos dadas toda a alameda, outrora ensolarada.
A mim, deixaram-me unicamente as sombras.
Embrulhei-me delas. E, abriguei-me… a um pequeno passo, do luar.
Fotografia de Pedro Soares de Mello
4º Festival Internacional de Poesia Grito de Mulher
Tenho muito gosto em participar no 4º Festival Internacional de Poesia Grito de Mulher.
Será em Lisboa, no Colégio Pio XII, nos dias 29 e 30 de Março
sexta-feira, 7 de março de 2014
Horizonte
Pedem-me que alcance o horizonte. Por cima de todos os cinco mares.
Como se o horizonte, não estivesse no fundo, rotativo, do infinito.
Como se os cinco mares, não se dessem as mãos, em toda a sua lonjura. E a água, não soubesse voar...
A fotografia é do Pedro Soares de Mello
domingo, 23 de fevereiro de 2014
Despojos da noite
Os despojos da noite
Deixei-os entregues à lua,
De fim de festa,
E a lua foi-se, a dançar…
Ficou o vermelho: vivo, ardente, suspenso...
De um beijo de organza,
Entre esta terra e o ar
O amarelo de riso,
Feito na cor do limão.
Rosa, balanço esquecido,
De um corpo,
Entre a minha, a nossa alma,
E a cor branca do chão.
E de todas as cores que se fez,
Essa noite de riso azul de poente,
Ficámos para sempre
Feitos de ar,
De cor e de gente…
Fotografia: Pedro Soares de Mello
Deixei-os entregues à lua,
De fim de festa,
E a lua foi-se, a dançar…
Ficou o vermelho: vivo, ardente, suspenso...
De um beijo de organza,
Entre esta terra e o ar
O amarelo de riso,
Feito na cor do limão.
Rosa, balanço esquecido,
De um corpo,
Entre a minha, a nossa alma,
E a cor branca do chão.
E de todas as cores que se fez,
Essa noite de riso azul de poente,
Ficámos para sempre
Feitos de ar,
De cor e de gente…
Fotografia: Pedro Soares de Mello
sábado, 22 de fevereiro de 2014
Muito antes, da eternidade
Ao tempo, sucedia-se então, o tempo. Não na mesma cadência consentida, do milésimo à eternidade, que houvera, quase sempre. Mas sim, nesta nova e absurda amálgama de segundos a absorverem-lhe as horas.
Segundos, a sorverem-lhe os quartos para as horas, que são em si mesmos, os lugares apropriados, a se acontecer.
Segundos, que nunca se tornariam em sempre, porque a eles se sobrepunha, agora, essa amálgama desconhecida dos minutos des-compassados e, sem rumo.
A paz, do relógio da sala, ficara por isso, antes de um meio, de um princípio, ou de um fim.
E a tarde que se fizera manhã, em resto de anoitecer... sem lhe permitir ousar sequer, a memória.
Com medo de a perder, ajustou-a ao pulso e deixou-se ficar.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Infinito
Vou-te contar uma história:
-Não há na terra inteira, mais do que infinito...cem anos, inteiros, de infinito!
domingo, 12 de janeiro de 2014
Num suspiro
Acordámos assim, os braços submersos, debaixo de um suspiro longo e cremoso.
A noite deslizada que fora, em calda de açúcar, cobrira-nos as almas, outrora, vestidas de verde. Todas as almas, outrora vestidas de verde. E as outras, já matizadas pelos primeiros rigores do Outono, num tom amarelado, pálido e indiferente.
Não havia agora, nenhuma sombra de dúvida, que restaríamos neste abraço.
Os sonhos, amortalhados lado a lado, até ao raiar da Primavera…
Fotografia. Pedro Soares de Mello
A noite deslizada que fora, em calda de açúcar, cobrira-nos as almas, outrora, vestidas de verde. Todas as almas, outrora vestidas de verde. E as outras, já matizadas pelos primeiros rigores do Outono, num tom amarelado, pálido e indiferente.
Não havia agora, nenhuma sombra de dúvida, que restaríamos neste abraço.
Os sonhos, amortalhados lado a lado, até ao raiar da Primavera…
Fotografia. Pedro Soares de Mello
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