Já que em relação às arbitragens não temos qualquer capacidade de impor respeito e ainda por cima apoiámos, apoiamos e, muito provavelmente, apoiaremos ad nauseam Fernando Gomes e Vítor Pereira (e aqui alguns dirão: "apoiamos porque se não o fizermos é muito pior". Pior do que isto? Por favor...) devemos concentrar-nos naquilo que podemos controlar.
Recuemos à jornada 17, em final de Janeiro, onde fizemos um jogo muito fraquinho em Santa Maria da Feira, mas lá acabámos por garantir os três pontos. Seguiu-se o Nacional, que foi trucidado na Luz. A seguir veio a sempre difícil deslocação a Guimarães, onde Jesus decidiu dar azo à sua loucura e jogar com Matic perdido no meio-campo enquanto forçava um Rodrigo ainda com a entrada de Bruno Alves bem fresca na memória a 90 minutos pavorosos, algo que resultou numa derrota. Nova deslocação, desta vez a Coimbra, num daqueles jogos irritantes em que a bola simplesmente não quer entrar mas que Jesus emperra ainda mais retirando Aimar do campo com 20 minutos ainda para jogar; as ideias do Benfica nesse jogo acabaram aí. Chegou por fim o duelo que poderia resolver as contas do título e, depois de o Benfica ter conseguido dar a volta ao marcador, Jesus retira Aimar e coloca Rodrigo, destruindo o meio-campo e entregando o controlo do jogo ao foculporto. Seguiu-se viagem a Paços de Ferreira e mais um jogo fraco, onde o Paços só não acabou com o jogo por manifesta falta de competência dos seus avançados; mais três pontos conquistados com sorte. De seguida, recepção ao Beira-Mar, que se traduziu num calmo passeio durante 90 minutos. Depois, rumo a Olhão, num jogo em que Aimar é expulso aos 62 minutos mas que até então o Benfica nada tinha feito para vencer; a única oportunidade clara de golo surgiu nos descontos, por intermédio de Saviola. Depois, novo jogo importantíssimo, desta vez contra o Braga, que dispôs de vários contra-ataques para abrir o marcador e deixou a nu as fragilidades do Benfica no centro do terreno. Ontem foi o zbordin, que conseguiu o que o Braga tentou.
Olhando para todos estes jogos, recordamos facilmente vários erros de arbitragem. Penso que isto é claro e que não admite grande discussão. Mas penso também que se consegue perceber que a equipa do Benfica vive permanentemente no limiar do risco, principalmente pela forma como o meio-campo está construído, e que o treinador, apesar de não o admitir publicamente, desvaloriza claramente os opositores. Julgo que é evidente que Jesus joga muito com o facto de no campeonato português escassearem os bons finalizadores. As equipas são, regra geral, bem organizadas do ponto de vista defensivo, sabem sair em contra-ataques rápidos mas pecam imenso na altura de rematar à baliza; o campeonato português é assim. Ora isto aliado à ideia de o Benfica marcar dois ou três golos em cada jogo é o espelho da táctica do Benfica: uma vertigem louca pelo ataque que descura em demasia a defesa. Basta reparar que em todos os jogos do campeonato, exceptuando a primeira jornada em Barcelos, só o foculporto conseguiu marcar mais do que um golo ao Benfica. O problema é que nesta recta final começam a faltar as pernas e as ideias e o Benfica não marcou golos em Guimarães, Coimbra, Olhão e Alvalade. Só aqui foram 10 pontos ao ar. Talvez com outro tipo de abordagem táctica e rotação do plantel os jogadores não chegassem a esta parte decisiva do campeonato todos rotos, algo que evidencia ainda mais o tal limiar de risco em que o Benfica joga. Em cada jogo, a equipa parece querer atravessar um precipício em cima de uma corda, ainda por cima a correr, quando se calhar convinha efectuar um reconhecimento do terreno em busca de um ponto de travessia mais acessível. Chegar ao outro lado em cima de uma simples corda tem um efeito espectacular, é verdade; demonstra audácia e uma total ausência de medo. Por outro lado, procurar outro caminho demora mais tempo e seguramente não é tão viril, mas se calhar não se acaba com os miolos esborrachados lá em baixo tanta vez.