Recomendo para quem não leu: "A irmã do Fredão", e "A irmã do Fredão II", é só clicar nos títulos.
Eduardo chega em casa, serve uma dose
de uísque, vai até cozinha, coloca duas pedras de gelo, volta à sala e senta no
sofá. Ele fica horas pensando na Micheli e como poderia ter sido se ele tivesse
impedido a sua partida quando ela esteve em Porto Alegre.
– Como eu poderia saber que sentiria
tanta falta? Como ela mexeu comigo deste jeito?
A sexta-feira chega e Eduardo mais
conformado se arruma para ir à balada com seu grande amigo Fredão, que passa
para pegá-lo, pois é o motorista da rodada.
Enquanto Fredão se diverte entre uma
paquera e outra, Eduardo fica no balcão bebendo. Então, ele avista uma morena,
que estava de costas, vai até ela e a toca no ombro.
– Micheli!
– Oi – responde meloso – Não! É Lucia,
mas eu perdoo o erro, sente-se.
– Não obrigado, estou com um amigo.
– Não tem problema, diga pra ele vir
também.
– Valeu, mas fica pra próxima.
Ao voltar para o balcão, Fredão já o
esperava.
– Pô Edu! Nunca vi tu rejeitares um
avião daqueles. Tá doente mesmo, véio.
– Não tenho nada, não. É coisa minha.
Alfredo leva a mão à boca como quem
quer abafar o som, força uma tosse e diz:
– A coisa tua tá vindo aí.
– O que tu falaste?
– Ela tá vindo aí – disse, desta vez
gritando.
– E só agora que me falas?
– Bom. Tu mesmo pediste pra não falar
dela. Eu cumpri minha parte. Fiques sabendo que quem quebrou o combinado foi
tu.
– Certo. Cara, vou embora. Não te
aguento.
– Mas já? Agora que tá ficando bom.
– Fique de boa, eu vou de táxi. Não
quero estragar tua noite.
E Eduardo foi para casa. Em outras épocas ele já teria xavecado a
morena e ganho o fim de semana, mas ele não era mais o mesmo. Só pensava na
Micheli.
– Ela está vindo aí. – resmungou –
Deve vir com o namorado. Certamente vai apresentar pra família. Eu nem vou
aparecer. Não vou pagar um mico destes. Bom! Pelo menos desta vez o Fredão não
vai viajar antes. Não tem perigo de o carro quebrar e eu ter que assumir a
broca. – risos – E eu ainda consigo achar graça.
Alguns dias passam....
– Edu. Tem uma coisa que eu queria te
dizer, – gargalhadas – mas não sei se tu queres saber.
– Se não quero saber, não me diz.
– Caraca! Que grosso.
– Para Fredão. É sobre a Mi, eu não
quero saber, cara. Então, me poupe.
– Ok! Não vou dizer que ela chega hoje
e que a mãe te convidou pra almoçar lá amanhã. Tá bom? Não vou te dizer. – mais
gargalhadas.
– Sinto muito, mas já tenho
compromisso. Não poderei ir – fala Eduardo, e enquanto o amigo se afasta ele
pensa: – Compromisso de fugir disto. Eu quero que ela seja feliz, mas não
preciso me envolver.
A noite passa...
No dia seguinte, Eduardo vai até a
locadora e retira alguns filmes, depois vai ao supermercado e compra alguns
congelados. Isto é uma coisa inédita para ele. Jamais planejou ficar um fim de
semana inteiro em casa sozinho.
Algumas horas passam e todos os DVDs
que Eduardo colocou para ver, passaram em vão, pois ele não prestou a mínima
atenção. Desgastado com a situação ele cochilou, mas foi acordado pela
campainha do seu apartamento.
– Ué! Que vizinho será? Gente de fora
o porteiro não deixaria subir sem avisar.
Ele vai até a porta e abre sem olhar
no visor.
– Micheli?
– Se a Maomé não vai a montanha –
risos – não vai me dar um abraço.
Eles se abraçam e ela entra.
– Como conseguiste subir?
– Esqueceu que o Alfredo tem cadeira
cativa aqui? Ele conhece o porteiro.
– E cadê aquele peste? Por que não
quis subir?
– Bom. Ele me disse que a gente
precisava conversar. Não me disse mais nada, mas deu pra perceber que ele sabe
mais do que deveria, né seu Edu?
– Desculpa Mi, mas estava difícil de
segurar. Nem dava para disfarçar.
– Não esquenta! Eu sempre fui a
irmãzinha preferida dele, mesmo quando era a mais feia – gargalhadas.
– É! E agora é a mais linda, quer
dizer, a única, quer dizer ah deixa pra lá. Tu sabes que tuas irmãs estão meio
largadas mesmo.
– Meio? Que bonzinho. Eu quero saber
por que o senhor foi no almoço lá em casa?
– Mi. Deixa para lá. Como está
Brasília?
– Não desvia. Eu só vim porque o mano
disse que não estavas bem. Eu disse que não ficaria no teu pé, mas fiquei
preocupada.
– Eu sou assim mesmo.
– Não eras quando ficamos juntos
naquele fim de semana. Passar uma noite comigo foi tão devastador assim? Ainda
está com dor de consciência? Edu, eu estou bem. Eu quis. Pra mim foi ótimo. E
eu disse que quero ser tua amiga sem cobranças.
– Eu sei que estás bem, e eu que não
quero, não devo, nem posso cobrar.
– Como assim? Quem está falando que
estás cobrando?
– Tá certo, Mi. Eu vou te falar. –
respirou fundo – Eu fui a Brasília há poucas semanas atrás – e ela interrompe.
– E não me procuraste? Por que Edu?
Poxa, eu ia amar te ver, mesmo como amigos.
– Espera. Eu fui te procurar, mas não
como amigos, mas te vi com outro cara e vocês se beijaram. Então, voltei para o
hotel e no dia seguinte vim embora.
– E o Alfredo não me disse nada.
– Eu pedi a ele pra não falar.
– Se tu tivesses me ligado, tudo isto
poderia ter sido evitado.
– Evitado? Mas se tu estás envolvida
com outra pessoa, evitar o que? Saíste daqui dizendo que me amava.
– Calma, Edu. Aquele cara não é nada.
– E o beijo? Eu vi. Não me contaram.
– Edu. Olhe no fundo dos meus olhos e
deixa eu te falar tudo. Não tires conclusões precipitadas. O beijo aconteceu
sim. O Jairo me convidou pra sair. Eu precisava de um amigo e dar uma
espairecida. Eu fui pra casa me arrumar, mas ele chegou mais cedo. Ele me pegou
de surpresa e me beijou. Eu confesso, correspondi naquele momento, pois estava
muito carente e foi muito rápido. Só que logo depois, eu desisti de sair. Eu
disse a ele que não estava preparada pra me envolver e também não queria nada
pontual. Então, subi sozinha para o meu apartamento e nunca mais o vi.
– Quer dizer que se eu tivesse chegado
um pouco mais cedo ou mais tarde, eu não teria voltado correndo pra Porto
Alegre?
– Ou se tivesses me ligado, né seu
tonto? Eu nunca que teria aceitado sair com ele, se eu soubesse que estavas lá.
– O Fredão tem razão mesmo.
– No que?
– Eu sou um mané.
– É mesmo, – risos – mas o que o
senhor foi fazer em Brasília? Isto não ficou explicado, e vou puxar as orelhas
dele por não ter me avisado.
– Não entendeste ainda, agora a Mané
és tu. Eu fui pra te ver.
– Imaginei – risos.
– Convencida.
– Ah Edu! Se não fosse pra me ver não
teria se importado com o beijo e teria ido falar comigo, não é mesmo?
– É! Tem razão, mas preciso te dizer
outra coisa.
– Diga!
– Eu te amo!
– Para Edu! Vamos com calma. Até o mês
passado tu nem querias saber de mim. Digamos que esteja impressionado, até
apaixonado, mas me amar. Não brinque com isto.
– Mi, eu não te tirei da cabeça um
minuto. Fui na balada e não fiquei com ninguém. Eu me aproximei de uma guria
achando que era tu. Ela meio que me cantou e eu fui embora. Teu irmão estava
lá, pode perguntar pra ele. Fui pra Brasília atrás de ti. Tá certo, o Fredão
deu um empurrãozinho, mas fui. Eu nunca senti isto por mulher alguma. Eu te
amo, tenho certeza disto.
– Não precisa. Eu acredito em ti. Bom.
Amanhã vais almoçar lá em casa. Sem falta, ok?
– Amanhã? Tu não vais embora hoje!
Ele se aproxima e a beija. E o que vem
depois... é o que vem depois... e tempo depois...
– Não precisa avisar que vais ficar
aqui?
– Não. O Alfredo sabe que se eu não
ligar, ele não precisa vir me buscar.
– Danada. Já tinha intenção de ficar,
hein?
– Olha. Da última vez eu aproveitei
uma situação. Desta vez eu vim preparada sim.
Amanhece e eles vão para o almoço. A
situação desta vez é diferente. Eles chegam à casa da mãe de Micheli de mãos
dadas. Eduardo feliz e sem sentimento de culpa olha todo mundo com a cabeça
erguida e dá o recado:
– É isto ai pessoal. Estamos
namorando.
Apenas Alfredo e a dona Alzira não se
surpreendem, mas logo o clima de festa toma conta da casa.
– A senhora aprova meu namoro com a
Micheli, dona Alzira?
– Meu querido, apesar de eu te ter com
um filho, sempre torci pra que um dia isto acontecesse.
E a festa continua. E claro que as
irmãs enxeridas falam em casamento e Micheli é quem tenta desviar o assunto
enquanto Eduardo dá respostas afirmativas.
Quando o evento familiar acaba...
– Desta vez não vou embora na segunda.
Tenho mais um dia.
– E como a tua casa tá cheia, não tem
onde dormir – risos.
– É. Mas vou passar um tempo com o
pessoal aqui, tá? Pode me pegar mais tarde?
– Sem problemas, tenho uns DVDs para
ver – risos – me leva até o carro?
E ela o leva. No caminho ele repara em
uma árvore e para.
– O que foi Edu?
– Eu preciso fazer uma coisa, espera.
Ele procura algo nos bolsos e pelo
chão. Então levanta a cabeça e vê uma loja de artigos importados. Pede para
Micheli esperar um pouco, vai até a loja, compra um canivete e retorna. Ai ele
desenha na árvore as iniciais deles dentro de um coração.
– Pronto! Podemos ir.
– Eu não acredito, ou melhor, não
acreditaria se eu não tivesse visto – risos.
– Acredite. Eu sempre esperei o
momento certo e a pessoa certa para fazer isto.
Eles se beijam, vão até o carro, se
despedem com um sorriso apaixonado e ele vai embora para busca-la logo mais.
Poucas semanas depois Micheli arrumou
um emprego em Porto Alegre e eles começaram a morar juntos. Dois anos depois,
ao nascer o primeiro filho, eles se casaram. Alfredo continuava solteirão
convicto até conhecer a babá do segundo filho de Micheli e Eduardo. A paixão
foi mútua e ele a levou para morar na casa de sua mãe, local de onde ele nunca
saiu.