Em
outra crônica falei para vocês que "As ideias estão em todos os lugares
que passamos ou frequentamos. O que conta é a criatividade e a inspiração para
captá-las e depois desenvolvê-las."
No
entanto, nem sempre elas geram crônicas, porque às vezes são apenas um
pequeno fato a ser narrado. Então, procurei documentar algumas bizarrices que
vi esta semana para compartilhar com meus queridos leitores, ou seja vocês.
Presenciei uma mulher falando ao telefone:
– Oi querida eu quero falar com o Zé Luís ... Ah é um gordinho que usa óculos.
Eu achei muito engraçado, porque a característica física do Zé Luís foi "mega" necessário para ela descrevê-lo para outra pessoa poder encontrá-lo.
Então fiquei pensando que no meu caso poderia ser:
– Oi meu amor. Eu quero falar com o Claudinho ... Humm! É um cara forte, lindo, muito simpático, um gato ... Só tem um cara parecido com o Gianecchini? É ele mesmo, só que bem mais bonito.
Pois é – gargalhadas – nem eu me aguento.
É impressionante até aonde chegou o ser "umano". Sim "umano", porque o "h" ele já perdeu. E daqui a pouco tempo perderá todas as letras e terá outra denominação porque os bichos não merecem ser comparados com esta espécie de espertinhos que querem levar vantagem até em segundos ou em um palmo de chão.
Após eu terminar minhas compras em um supermercado que sempre frequento, e que outrora era frequentado por pessoas de melhor educação, eu me encaminhei para o carro onde guardei as sacolas. Quando engatei a ré percebi uma pessoa que vinha com o carrinho de compras. Então, como eu ainda acredito na gentiliza humana, agora sim com "h" eu esperei. Só que o filho de uma prostituta não queria passar e sim colocar as compras no carro dele que estava ao lado. O que tem isto de mais? Eu não precisava elogiar a doce mãezinha dele, que deve ser uma santa? Simples! O cara colocou o carrinho entre o carro dele e o meu e ficou junto atrapalhando minha manobra. Ele poderia ter colocado as compras no porta-malas, usar a porta do outro lado ou, mais prudente ainda, esperar eu sair. Entretanto, ele quis justamente usar a porta que estava do meu lado, mas tudo bem. Como na minha esquerda não havia carros, eu iniciei a manobra desviando do trouxa metido a esperto. Então tive que usar parte da vaga que estava livre. Ainda bem que não cheguei a completar a manobra, pois mesmo com o carro em movimento e luz de ré ligada, outro apressadinho, que desta vez devia ser um "traído pela esposa", entrou como um foguete na vaga ao lado como se fosse perdê-la para o fantasminha Pluft. Poderia ter acontecido um acidente dentro de um estacionamento de supermercado. Quer dizer três. Porque eu ia quebrar a cara deste usuário de marfim de testa e depois do cara cuja santa mãezinha estava iniciando o turno na zona.
Por que as pessoas não podem esperar um minuto para fazerem as coisas com mais segurança e conforto?
É! De repente eles estavam apressados para ver a estreia do Salve o Jorge e quase ferraram com o Claudio Jorge, que para quem não sabe é meu sobrenome do meio.
Ai eu penso:
Se em um estacionamento de super* os caras são doidões e fazem esta barbaridade, imagina nas estradas onde eles têm mais espaço. É por isto que todo dia se vê acidentes com mortes por ai.
* Super - Gíria Porto-alegrense para supermercado
Ao ir almoçar no local de sempre, uma pessoa, que chegou segundos na minha frente, entrou no restaurante impedindo outras três de saírem, gerando um pequeno desconforto para todos, que por falta de espaço se esbarram.
Eu, em vez de entrar, esperei que os saintes passassem pela porta. Não apenas para ser cortês, mas também porque acredito que quem sai tem preferência, pois libera espaço para quem entra. Os três me agradeceram gentilmente com um obrigado sorridente.
Neste estabelecimento, a gente se serve de imediato e depois vai para mesa. Então ao me servir, reparei melhor na pessoa que tinha gerado a pequena confusão. Conforme dei a entender lá em cima, não gosto muito de falar de caraterísticas físicas das pessoas, até porque tenho as minhas que podem ser consideradas esquisitas por muitos. Porém, esta pessoa é especial. Ela tem cabelos brancos acinzentados e armados de tão secos e um nariz pontudo. Usava um sobretudo preto a uma temperatura de 26º em Porto Alegre e óculos escuros, que não tirou por um segundo. Não dava para saber se era homem ou mulher. Não usava anéis ou pulseiras. Não consegui ver se estava com brincos por causa do cabelo. Ao julgar pelas rugas, que lhe marcam, ela é de muita idade. Não sei se, com esta descrição que dei, vocês terão a mesma impressão que eu tive. Pois é! A grande verdade é que não creio nas bruxas, mas que elas existem, existem.
Para eu ficar ainda mais impressionado, ela sentou na mesma ala que eu e ao alcance dos meus olhos. E meu espanto ainda não tinha acabado, pois, na mulher que sentou atrás da suposta bruxa, que antes tinha passado despercebida, notei tamanha feiura jamais vista. E seu acompanhante não ficava atrás. “Talvez eles tenham pisado na sombra dela”, eu pensei. Fiquei preocupado: "Será que ela fez isto comigo?" Tá certo que estou bem longe de "um Gianechini", mas gosto de como sou.
Enquanto eu imaginava como descrever tal situação para vocês, dei uma mordida no bolinho de arroz que adoro. Eca! Que susto. Eu tive que cuspir no guardanapo de tão ruim que estava. Não consegui engolir um pedacinho sequer. Foi um gosto tão ruim que não lembro ter provado algo parecido. Aí me apavorei: “Ela lê pensamentos e mandou um aviso”. E o que é pior, de vez em quando ela olhava para mim. Eu estava até esperando o momento que ela tiraria a varinha de condão do bolso e dissesse:
– Qual é? Vai encarar? – E eu viraria um sapo.
Então comecei a pensar em tudo que era coisa para confundir a bruxa, na copa do mundo de 1970, na Shakira, até nas notas ruins que tirei na faculdade.
Assim eu achava que ela não conseguiria invadir meu cérebro e se invadisse não saberia nada de mais.
Terminei o almoço e nem olhei para trás, mas ao pagar peguei duas balinhas brinde de menta e reparei que a moça tinha digitado R$ 0,20 a mais. Não é pela quantia irrisória, mas sim para entender que eu perguntei o motivo.
– É R$ 0,10 cada balinha – disse ela.
Putz! Sempre foi brinde. E logo hoje resolvem cobrar. Isto só pode ser obra da bruxa.
Então pensei: “Bom! Vou embora antes que ela resolva sair junto e me obrigue a dar uma volta de vassoura e me jogue lá de cima sem paraquedas”.
Ao sair do restaurante, cheguei a dar um passo em direção ao caminho habitual, mas mudei de ideia naquele momento. “Vai que a bruxa conseguiu captar o meu caminho e armou alguma coisa como um cofre caindo de um prédio ou um chihuahua nervoso morder meu calcanhar”.
Ao fazer um caminho mais comprido, porém mais seguro, tal como Zé Rodrix em latino americano, pelo menos eu pensava que sim, levei uma baforada de cigarro na cara.
“Eta bruxa poderosa tchê. Será que vou ter que arrumar um contrafeitiço? ”
Ai bateu o desespero. Eu fiquei preocupado até achar um espelho. Não sou narcisista e sempre ignoro quando esbarro com um. Porém, justamente desta vez que eu precisava muito mais do que uma mulher querendo retocar a maquiagem, não aparecia nem poça d´água.
Até que finalmente encontrei um. “Ufa! Continuo o mesmo feinho de sempre”.