PORTUGUÊS TLEBSTLEBS – Assustador, quase, este aglomerado de iniciais.
O termo vai surgindo em alguns jornais, artigo para aqui, artigo para ali e, de repente, o professor de Português vê-se a braços com a realidade de ter de a ensinar aos seus alunos do Secundário. Já o deveria, de resto, ter feito desde 2002, aquando da (actual, mas desta vez inteligente) Reforma do Ensino Secundário, nas turmas do 10º ano. Isso, no entanto, não aconteceu. Porquê? ”Mea culpa”, ou sem ela, eu também não o fiz.
Mas o exame do 9º ano de 2005 (onde se referia o predicativo do complemento directo) e as sugestões de questões de exame do 12º ano enviadas pelo ministério para as escolas (sem a respectiva matriz…), “convenceram-me” a, agora com alunos no 11º ano, abordar mais profundamente a gramática da língua materna.
E ensinei-lhes (o verbo é ensinar, porque eles não sabiam, praticamente, nada, e eu sei que as minhas colegas do unificado dão gramática a estes alunos) a mistura daquela que eu aprendi com as designações que vão surgindo nas (sempre) novas gramáticas do português que as editoras, na sua generosa preocupação com o professor e com o aluno, vão publicando. Em caso de dúvida (são tantas as excepções à regra, que o povo, com o seu uso prático, felizmente, obriga a fazer), recorria às minhas colegas e, como elas, em exemplos mais difíceis, àquele senhor que todos aceitamos como “o Senhor da Gramática” - Lindley Cintra.
Preocupados com o tom determinativo do ministério em relação à obrigatoriedade da TLEBS, para o ensino secundário, apesar de esta ter entrado em “fase de experimentação”, apenas este ano lectivo, no 7º ano, lá vamos nós, sete professores de Português da mesma escola, frequentar uma acção de formação sobre a tão polémica matéria – às 2ªs e 5ªs feiras, das 18h às 21h.
Logo no primeiro dia da sessão, 16 de Novembro, a formadora, que lecciona básico e secundário, membro da Associação de Professores de Português, quando confrontada com a nossa indignação perante o absurdo daquilo que nós, até agora, entendemos como a complexificação da gramática, foi peremptória em afirmar não ter dúvidas que a TLEBS não tinha qualquer possibilidade de não ser implementada, e sairia, de certeza, no próximo exame do 12º ano.
Na segunda sessão, no entanto, aquela já dizia não ter dúvidas de que há aspectos na TLEBS que vão, forçosamente, sofrer alterações. Isto porque, imagine-se, os nossos linguistas investigadores, que trabalharam durante nove anos para chegarem a este resultado, nunca se reuniram. Isto é, cada linguista trabalha, compartimentadamente, o seu tema, e uma delas, cujo nome eu não vou dizer, é extremamente confusa…
Nas últimas sessões, e depois de nós irmos detectando tantas fragilidades neste documento, a nossa colega formadora já não tem dúvidas que no secundário devemos continuar a dar a gramática tradicional, porque só em 2009 estarão, em relação à TLEBS, todas as questões resolvidas.
E assim vai o nosso ensino…
Alguns exemplos da mudança:
Surdo-mudoAntes-palavra composta por justa-posição
Agora -composto morfossintáctico coordenado
Luso-descendenteAntes-palavra composta por justa-posição
Agora -composto morfológico subordinado
Luso-brasileiroAntes-palavra composta por justa-posição
Agora -composto morfológico Coordenado
VinagreAntes-palavra composta por aglutinação
Agora -palavra lexicalizada
IngratidãoAntes-nome comum, abstracto
Agora -nome comum, abstracto, não contável, não animado, não massivo,
Camelo Antes-nome comum
Agora -nome comum, concreto, contável, epiceno, animado, não humano...
Tenho para mim que os nossos linguistas não devem ter muito contacto, muito menos aulas, com a nossa massa escolar. Se assim fosse, não tenho dúvidas que o seu trabalho iria mais no sentido de simplificar o ensino de uma matéria que exige, muitas vezes, um nível de abstracção que raramente os nossos alunos demonstram ter. Tê-lo-á um aluno que no décimo ano me pergunta se “cruel” é um adjectivo?
Eu aconselharia os pais a darem a sua opinião. Se o fizerem, eu também quero ser avaliada por eles.
Maria Rosa Júlio O. Sousa