“Eu estou aceitando a realidade, só isso.” – ele falou pela terceira vez depois de diversas variações de um mesmo tema. Parecia que tentava convencer mais a si do que a moça quieta na sua frente. Ela não respondia porque não havia resposta por mais que quisesse rebater o monólogo. Ele buscara uma solução sem contra-argumentos, quem era ela para impedir o lúcido de voltar para sua vidinha real? Estranho como os lúcidos tendem a temer paixões furiosas e as transformam em impossibilidades. A moça, no entanto, era louca, acreditava piamente que surrealidades arrebatadoras e doces podem fazer parte do cotidiano de alguém dito normal. A moça calava enquanto ele, o lúcido, acendia um cigarro para ter o que fazer com as mãos tímidas e nervosas.
Tudo o que poderia ser dito já estava sobre a mesa antes mesmo do segundo “estou caindo na real... não tinha mesmo como dar certo.”. Para além disso só tristeza e surpresa e isso não oferecia palavras sensatas. Intercalou amargos e doces na boca, abriu a carteira para pagar a cerveja. Os olhos estouravam como ressaca e, sem querer mais lembranças, fugiram pro meio-fio.
Tudo o que poderia ser dito já estava sobre a mesa antes mesmo do segundo “estou caindo na real... não tinha mesmo como dar certo.”. Para além disso só tristeza e surpresa e isso não oferecia palavras sensatas. Intercalou amargos e doces na boca, abriu a carteira para pagar a cerveja. Os olhos estouravam como ressaca e, sem querer mais lembranças, fugiram pro meio-fio.
“Vamos ser sensatos... pôr os pés no chão... essa situação...” – ele continuou vendo que ela se preparava para levantar sem mais discussões.
“A situação nem começou a existir ainda.” - ela cortou.
“Mesmo assim... não daria certo...” - só faltava mesmo essa faceta dele - a frouxa - para ela achar que o conhecia bem. Quando tirava os pés do chão o outro decidia pelo movimento contrário. Infeliz... ele ou ela, tanto fazia. Terminou a cerveja de um gole só e a ressaca dos olhos caiu sobre ele.
“Conformismo babaca esse seu.” – ela disse.
Não tinha como dar certo mesmo. Não enquanto ele não soubesse que é no exato tempo de um salto que certas paixões acontecem. No instante cronometrado em que o corpo suspende a subida, mas ainda não iniciou a queda, em que os pés não procuram o chão porque ainda estão extasiados com a liberdade e correm o risco delicioso de ficarem por lá.
Os passos firmes não fizeram barulho quando ela sumiu do bar, nem parecia que pisava no chão.
“Conformismo babaca esse seu.” – ela disse.
Não tinha como dar certo mesmo. Não enquanto ele não soubesse que é no exato tempo de um salto que certas paixões acontecem. No instante cronometrado em que o corpo suspende a subida, mas ainda não iniciou a queda, em que os pés não procuram o chão porque ainda estão extasiados com a liberdade e correm o risco delicioso de ficarem por lá.
Os passos firmes não fizeram barulho quando ela sumiu do bar, nem parecia que pisava no chão.