A Missão Jubilar na diocese de Aveiro
1. O
plano pastoral que a Diocese de Aveiro viveu este ano chamou-se Missão Jubilar. Tratou-se de um
programa preparado e discutido atempadamente, desde as bases, fato que se
revelou fulcral para que todos sentissem esta "hora" como sendo a
sua, este projeto como sendo seu e de toda a Igreja diocesana. “Vive este hora” foi lema congregador,
grito audível em
tantos locais da diocese, palavra visível, escrita e mostrada nas
torres das igrejas, edifícios
religiosos e nas casas de milhares de pessoas espalhadas entre o mar, a serra e
a ria.
Foi
intuito deste plano pastoral fazer de toda a ação missão. Disse-o o bispo
diocesano: "Somos uma Igreja em estado de missão". Não só com iniciativas pontuais e
mensais de anúncio e
de evangelização, mas
levando cada cristão a
viver o seu "ser em Cristo", através de ações simples e concretas,
experimentadas no dia-a-dia, dentro e fora do templo, assumindo as
bem-aventuranças do
Evangelho como caminho dos discípulos
de Cristo.
Na
mensagem inicial, D. António
Francisco disse que este programa pastoral, mais do que pedagogia criativa, é a alma inspiradora do
nosso ser igreja, vivendo o nosso ser em Cristo. Porque aquele que experimenta
a doçura do
amor de Deus, realidade fundante de toda a missão, não pode senão ser anunciador da alegria
desse amor dado a todos sem exceção. Porque quem recebe de
Deus tantos dons, não os
pode enterrar e fechá-los a
sete chaves, entre as pregas de um coração egoísta egocêntrico.
Bem a
propósito
as palavras do Papa Francisco, na sua mais recente exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”: "Porque alguém acolheu este amor [de
Deus] que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o
comunicar aos outros?" (n.º8).
O ano
da Fé foi
substrato de toda a missão
pastoral vivendo e exprimindo a “força da fé e a alegria da confiança”, tal como rezamos na oração da Missão Jubilar.
2. Ao
olhar para trás, em
jeito de balanço possível (sim, eu acredito que o
mais importante que a Missão
Jubilar proporcionou é
aquilo que fica no segredo do coração de cada um e que Deus bem
conhece), sou levado a crer que se conseguiu iniciar o "choque
operativo" pretendido, mesmo sabendo que não fica acabado.
Durante
este ano fomos mais capazes de sair do templo para nos encontrarmos com o Homem
de hoje na sua situação
atual. Não
quisemos esperar na sacristia, egoisticamente sós, mas ousamos ser mais
Igreja fora da igreja. Fomos capazes de partir como missionários e mensageiros para levar
a todos os recantos e a todas as casas a feliz notícia do Evangelho das
bem-aventuranças.
Com a
abertura das portas, que tanto nos fazem entrar como sair (ou nos fazem entrar
para sair), buscamos ser uma Igreja casa de todos, mãe para todos. Com a incursão em “zonas desconhecidas”, em “periferias existenciais”, tantas vezes as nossas
seguranças são (felizmente!) abaladas e
corremos o risco de sofrer acidentes. Mas, diz o Papa Francisco, é preferível uma Igreja acidentada,
ferida e enlameada por sair do que uma Igreja doente por se fechar comodamente.
Durante
a Missão
Jubilar, foi possível
desinstalar muitos, talvez adormecidos e anestesiados numa prática ritualista, fechada no
templo, como “ovelhas
gordas” e
instaladas confortavelmente nos bancos da igreja. E chegou-se a tantos outros
ociosos, tal como os trabalhadores da parábola do Evangelho sentados
sem trabalho.
Foi
possível
chamar para a ação e
para a missão,
talvez daqueles que hoje, como Zaqueu, estão a espreitar, curiosos, ou
daqueles que estão ainda
nos "átrios"
e que ainda não
conseguem ou não
querem dar o passo de entrada.
A Missão Jubilar permitiu
aproximarmos mais uns dos outros. Conhecemo-nos mais e melhor, somos mais família, cuidamos mais da
fragilidade uns dos outros, sentimo-nos mais solidários e mais simpáticos com todos, gostamos
mais de trabalhar juntos...
3. A
Missão
Jubilar teve a graça de não criar novas estruturas.
Potenciamos as que temos (e já são tantas!) para que vivam
com entusiasmo a missão.
Creio que todos os que se dispuseram docilmente a viver cada pequena ação proposta tomaram consciência de que Deus conta com
cada um para ser rosto de esperança, alegria e transparência do amor de Deus.
Creio
que fomos capazes de nos mostrarmos como Igreja de Deus peregrina no meio da
peregrinação dos
homens deste tempo. Não
causamos indiferença. Saímos à rua e às praças e às periferias. Mostramos
alegria, mesmo entre as depressões de
tristeza e desespero do tempo presente. Mostramos a luz da fé, que arde nos nossos corações, luz pequena, ténue e frágil, mas que ilumina e
alumia a escuridão da
noite. Mostramos que a fé se
exprime e experimenta em obras de caridade, de partilha e de atenção aos mais fracos.
4.
Claro que nem tudo foi como sonhamos... Mas os sonhos de Deus para a Diocese de
Aveiro atravessam os sonhos que persistimos e ainda acalentamos. A hora é de missão, agora, como sempre. Vive
esta hora!
Vigário paroquial de Nossa Senhora da Glória-Sé de Aveiro
Comissão Coordenadora da Missão Jubilar