Ainda gosto de ouvir
histórias. Mais me encanto quando elas narram episódios vividos com
personalidades que aprendi a ler, a ouvir, a olhar. No passado dia 12,
sentei-me no auditório da Casa Fernando Pessoa, para assistir a uma conversa de
Inês Pedrosa com Graça Morais, acerca de livros. A directora da casa anfitriã
fez uma sucinta apresentação biográfica da pintora, aludindo às exposições
patentes no espaço sobre duas obras de parceria de Graça Morais com Sophia de
Mello Breyner Andresen: Orfeu e Eurydice
e O Anjo de Timor. E foi por esta
relação com a poetisa que a artista plástica iniciou a conversa testemunhando o
deslumbre que lhe causara a escritora numa viagem que realizaram, integradas
numa comitiva presidencial, à Grécia. Os trabalhos de Graça Morais que
constituem a exposição Orfeu e Eurydice
foram realizados em papel para partitura. O papel branco não lhe é confortável,
revelou. E aquelas folhas, usadas pelo marido Pedro Caldeira Cabral para
transposição de partituras clássicas, têm desde logo as linhas das pautas.
Graça Morais enunciou alguns dos escritores com quem interpretou colaborações, na ilustração das suas obras escritas: Manuel António Pina, José Saramago,
Augustina Bessa Luís, Miguel Torga, etc. Falou das suas primeiras experiências de leitura
quando as bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian levavam a
Trás-os-Montes, livros que tinham de ser lidos em cerca de quatro dias. Leitora
especialmente de ficção, tem em A Sibila,
de Augustina, um dos livros mais memoráveis por ter reencontrado nas personagens
a vivificação das suas próprias tias. Natural de Vieiro, Graça Morais tem
ascendências rurais, por parte da família materna, e algo mais erudita, por
parte da paterna. Com conhecimento de causa, defendeu a importância do tratamento
da terra para acreditar na vida. Os que, por exemplo, cultivam uma horta,
argumentou, são estimulados pelo cíclico renascer; mesmo quando algo corre mal,
sabem que será uma fase pois a Primavera voltará a regressar. Graça Morais falou
ainda do seu fascínio por Cabo Verde e do seu interesse, enquanto leitora, por obras acerca do acto criativo. Referiu alguns livros que tem em
mãos e que deixou como sugestões de leitura: Nelson Mandela, uma lição de vida, de Jack Lang ou O Livro da Consciência, de António
Damásio. Confessou que se, hoje, tivesse possibilidade refaria as ilustrações
de O Ano de 1993, de Saramago
concedendo-lhes maior liberdade. E falou de África, da empatia que tem pelo
povo daquele continente e da forma como ele interfere em alguns dos seus trabalhos.
Para quem esteja
interessado, a Antena 1 transmite na íntegra, esta conversa, na próxima
sexta-feira, dia 15 pelas 21h00.