terça-feira, 31 de maio de 2011

Berlenga

© João Costa

Intrometendo-se
no horizonte do farol,
o olhar entra
mar afora,
espelho do sol
na despedida pra ocidente.

domingo, 29 de maio de 2011

Conjugação


Sou vagabundo
num verbo
aberto em mim
para nele me perder,
escrevo-me
sem predicado
causativo
de razões em que vagueio
sendo verbo
errante
à procura de conjugação.

sábado, 28 de maio de 2011

Silêncios

© kregon


O silêncio que mais distancia e gela
é aquele onde não se reflectem as palavras
que se precisam ouvir
e chamar nossas!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Segredos de boca


Oculto, o sal
torna-se túmulo na boca,
água que seca
na garganta deserta,
passa pelos lábios
em sabor a sede,
demora-se interminável
até à doce debilidade dum beijo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Amor

imagem recolhida aqui

O amor em doses certas é um 'tratamento' que escasseia...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Rendição


Da noite
sobra um hálito húmido
que golpeia a manhã,
ofereces-te boca-túnel
para meu regresso.
Provo gota a gota
o elixir da volúpia,
teu ventre é meu cárcere,
algemo-me na vontade
e…
rendo-me!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Fala-me!


Fala-me do tempo
em que o poema descia
degraus de estrofes nascidas
em vulcões ignotos de alvoroço.
Fala-me do tempo
em que rasgados silêncios,
as palavras antecipavam
a batalha das línguas.
Fala-me do tempo
em que as horas se pediam
rotação de eixo único
num centro alheio do mundo.
Fala-me do tempo
em que os corpos não se gastavam
e a noite era uma travessia
a que nos ancorávamos.
Fala-me do tempo
para que não me esqueça
desse tempo que nos esquece!

sábado, 21 de maio de 2011

Ilusão olhada


Soubessem teus olhos
que neles os meus se fixam,
na ilusão de serem mar
onde os teus fundearam…

quinta-feira, 19 de maio de 2011

... do lado esquerdo?!?!


Lá em cima [do lado esquerdo]
não há telhado
e o tecto é uma bruma
que se dissipa no céu,
os degraus
ora são sucessão interminável,
ora se galgam num simples fechar d’olhos.
Lá em cima [do lado esquerdo]
há quadros de paredes sem espaço,
há mobílias sem lugar no solo,
há livros de histórias sem fim,
há um vazio imenso
preenchendo um parágrafo secreto.
Lá em cima [do lado esquerdo]
grita de pasmo o medo,
encolhe-se de vergonha o sentimento,
recua indeciso o passo da vontade.
Lá em cima
abrem-se janelas
por onde saio
ao encontro de mim,
ou perdendo-me
quando me aproximo
e do lado esquerdo
cresce uma força
que incendeia o pedaço de mim
lá em cima!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Regresso


Regresso
num verso
debruçado
sob asa
em abraço
fumegante,
talvez bruma,
provável ardor,
de estrela
que não se sabe acesa,
sopro dispersante,
poeira de palavras
em que retorno
qual verso
procurando melodia
no sorriso dum olhar.

domingo, 15 de maio de 2011

Em dúvida


Quero ter a certeza das estrelas,
a bonança em que o céu se anuncia
e a eclosão da transparência
quando a dúvida alaga de trevas, o dia.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Assim... para todos vós



"acordes de solidão"
elevam-se
num feixe de luz,
estrada
por onde a melodia
se dissona
rumo ao escuro,
palco esconderijo do corpo
em movimento
mudo,
o olhar
prende-se ao som
recusando a partitura
vazia
como murmúrio
do último vocabulário
antes do esquecimento,
pausa,
lágrima,
a nota vibra
assim,
como uma coisa que se ama,
como um chão que se chama
enquanto a alma dança.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Vento emigrante



Perdi num vento emigrante
versos de marinheiro embruxado,
lágrimas de sal militante
em mares de trabalho forçado.

Asas de silêncio em fuga
prenderam o delírio admoestado,
âncora onde a coragem madruga
na tradução de novel fado.

Lancei remos de socorro
num verbo alvo sem passado
enredei-me em velas onde morro
no idioma inquieto que desfraldo.

Trazei-me de volta o céu dourado
num pôr-de-tarde sem chão
e as aves refaçam meu voo ideado
no poema-vontade, exílio de meu coração!


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Esquecer

© Robert

Os acordes
mantêm o tempo das badaladas
neste vazio
que se preenche de ausência;
Esqueço-me num espaço
sem tempo
onde te esqueces
que um acorde último
esbater-se-á no silêncio,
esquecendo-te…

sábado, 7 de maio de 2011

Água [de ti]

© João Costa

solto em palavras
a algema da água
libertando-se em expressão
o desejo
de apartar-te os lábios
para sentir tua fonte
transformar-se em mar.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cegueira doce



Quererei ver para além do que os meus olhos vêem?
Quererei saber mais do que os meus olhos sabem?
Se ao fechá-los, um sorriso se abrir na minha boca?...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Aos poucos...

© Margherita Vitagliano

Aos poucos
roubas-me o fôlego
das pulsações que fiz tuas…
hoje, não sei
se as margens ganharam distância,
se me falta alento para ancorar em ti…

domingo, 1 de maio de 2011

2 . 1


Na palma da mão
múltiplas linhas
vontade
de tornar rastos
voos por abraçar…
na imensidão do céu
uma lua
foco
de dois olhares
sedosos dum só lugar…
no tampo da mesa
duas cerejas
tentação
dum beijo
nas nossas duas bocas.

Sede


Lembrar-se-á de mim a água
se não lhe mostrar a minha sede?...