As paredes erguem-se
em torres escritas por sombras. Raças distintas povoam o mapa do palco caotizando
a expressão em diferentes línguas. A percussão uniformiza os gestos, ensurdece
as palavras que divergem. Delimitam-se barreiras imaginárias, fronteiras de
identidades a preservar. Estruturas metálicas suportam vidros invisíveis,
confins de movimentos gritados. Movem-se, mudam de centro, derrubam-se, levantam-se,
concêntricas transformam-se em torre, monumento indevido. A comunicação
corporal ensaia uníssonos controlados, mecanicamente dirigidos. A razão conduzindo
o movimento-emoção. Limita-se a geografia dos pensamentos, das reacções, das análises.
Criam-se territórios para a privacidade, refúgios para o eu. Sobrevive-se numa
luta generalizada, em câmara lenta cega-se na defesa do individualismo, da
crença, da comunidade. Isolando-se, trancando as portas já fechadas. São diversas as
torres enraizadas, crescendo em direcção a um cume desconhecido, tido como o
supremo, o sublime. Quem sabe se desconhecendo que no extremo mais ermo será,
porventura, possível olhar para o solo e perceber que existem caminhos partilhados,
fés comuns, destinos únicos que os prendem como movimento unido, na necessidade
de compreensão, no abandono pela sobrevivência, na busca pelo entendimento… e
quando as palavras faltarem, recorrer-se-á à pele que se toca e explica o que a
verbalização não compreende.
* Babel de Sidi Larbie Cherkaoui e Damien Jalet [no CCB]