Corria,
numa subida vertiginosa, ao cume da duna mais alta da ilha. Sentava-se na
expectativa de avistar o mastro e as velas desfraldadas sopradas pelo vento da
vontade. O coração batia-lhe mais depressa, talvez pelo ritmo da subida, mas
também pela ansiedade do momento esperado. Depois voava, numa descida desmedida,
pontapeando areia, levantando um tufão de felicidade. Não ficavam pegadas do
seu caminho, pois quase não pousava os pés para chegar até à beira-mar, onde
tudo se consumava. Quis os dias assim, repetidos, preenchidos, infinitos,
eternos.
Mas… nem
sempre as marés são cheias. Há dias em que as ondas não chegam à praia. E
surgiram os dias em que o sonho não saiu das suas fronteiras. E nesses dias as
descidas tornaram-se pesarosas. Sulcos densos fundearam-se como se pretendessem
abanar o alicerce da duna. Um vento começou a soprar e a dificultar as subidas.
Para que elas não se tornassem penosas, começou a olhar em volta, a apreciar
pormenores em redor. O seu coração esperava. Mas quando o mastro arrastava o
branco das velas até ao seu horizonte, sentia um sorriso rasgar-se no peito e a
esperança voltava a ser o acordar do amanhã.
As marés-cheias
começaram a espaçar-se. A água demorava cada vez mais a tocar-lhe nos pés, a
apagar as pegadas que no dia seguinte tinha a certeza de novo cunhar. Deixou de
se sentar no cume da duna. Subia, olhava e descia, passava pela praia e
escrevia o seu vestígio. Ocasionalmente regressava para perceber se fora deixado algum sinal. Os dias distanciaram-se em desencontros sucessivamente mais
frequentes. O coração parecia bater mais lentamente, arrastando um ritmo
sobrevivente, restavam marcas de gotas no areal cada vez mais vazio de sinais
de pés. Distanciaram-se os rumos e as cinzas do que ardera espalharam-se, com o
vento, dispersas como sementes de histórias incógnitas que pareciam nunca se
terem tocado.
O fascínio
do encontro-surpresa ficou esquecido num vale cavado pela distância. No seu
caderno de confidências escreveu: ‘Preciso que me enchas o copo para te beber! Preciso
que te faças sede para não me secar!’