A págs. 268
das Memórias para o Ano 2000, José-Augusto França dá conta dos
encontros realizados no Grémio Literário, e lembra que por lá passaram Sophia Mello Breyner Andresen. Lídia Jorge.
José Blanc de Portugal, José Cardoso Pires, o David Morão Ferreira, que ia
morrem em breve – e o Saramago, antes do Nobel que tanto gosto deu a ambos.
Como e porquê ele sabe.
Sublinhei o como e porquê ele sabe.
Nas Memórias para Após 2000, página 67,
fiquei a saber do tal como e do tal porquê.
Augusto França escreve:
… ou, por interesse próprio, no livro de
José Prudêncio sobre Um Céu Dois Caminhos, que é o meu e o do meu coevo amigo José Saramago, com carta
astrológica quase comum, a meia hora de intervalo.
O papel
ficou algures perdido, e como a memória, tida como de elefante, foi chão que já
deu uvas, nunca mais me lembrei do livro.
O livro
nasceu porque José Prudêncio leu, numa entrevista de José-Augusto França na revista
Visão, em que este referia o seu
nascimento quase em simultâneo com o de José Saramago e a partir deste instigante
pormenor, entendeu que seria um bom tema o aprofundar dos muitos caminhos,
alguns diversos, mas muitos coincidentes, destas figuras gradas da cultura
portuguesa.
Se assim pensou, melhor o fez.
Numa dessas súbitas iluminações a que os
escritores são atreitos e a que alguns preferem chamar inspiração, ocorreu-me a
peregrina ideia de que o último refúgio do romantismo é a astrologia. O
problema deste tipo de frases, vindas não se sabe donde e muito menos para quê,
é que depois será necessário encontrar-lhes uma explicação tanto quanto
possível racional para que o achado não fique limitado a um fulgurante fogo de
palha que em três minutos não será mais que um punhado de cinzas negras. Uma
razão, ainda que menos convincente do que eu desejaria, é que, tal como está
organizado o pátio da modernidade, não sabemos onde meter o romantismo, e
portanto a astrologia, tão misteriosa, tão sibilina, tão arcânica, seria um bom
lugar onde diluir, no geometrismo implacável de um mapa astral, a violência às
vezes extrema dos sentimentos românticos. O tocaio meu que me está fazendo o
favor de ler estas mal alinhavadas regras, o quase irmão e quase gémeo
José-Augusto França, autor do notável livro que é Le romantisme au Portugal, poderá, querendo, graças ao seu minucioso
conhecimento das matérias, confirmar ou infirmar o que aqui se sugere. Embora a
astrologia se ocupe mais de planetas do que estrelas, não há nenhuma dúvida
sobre o seu campo de trabalho: o espaço celeste, tão responsável por inúmeros
suspiros soltados do peito dos jovens e menos jovens tocados pelo anhelo, pela
melancolia, pelo mal de vivre que, em
última análise, caracteriza o romantismo. Que temos o nosso destino escrito no
céu, dizem-nos. Talvez seja verdade, mas é na terra que pagamos as favas.
José-Augusto
França entendeu responder:
Caro Zé Saramago, desolados por sua ausência
e certos que a nova crise será em breve vencida para que, dentro de um ano,
tenhamos ganho 150% da esperança de vida havida ao nascermos nacionalmente, nos
idos de 1922.
A sua ideia do romantismo (que coisa ele
será? pergunta-se o doutorado nele na Sorbonne) pode ser… Passagem da tragédia
dos deuses e dos seus destinos, ao drama dos homens e dos seus caminhos
(condicionados socialmente tanto quanto individualmente responsabilizados) a
quem vão restando “montes e maravilhas” de poesia que os astros – quê?
simbolizam analogicamente. Que, para o Fernando Pessoa (que aqui vejo
obscenamente sentado de bronze no terraço da Brasileira donde escrevo), tudo é
necessariamente símbolo e analogia. E fica V. sabendo, com este abraço, que
estou histórica e minuciosamente trabalhando sobre 1936 – o seu Ano da Morte de
Ricardo Reis e dos Sinais de Fogo de Jorge de Sena. Ou seja, do “Ano X” da
revolução que o Salazar confiscou – raios nos partiram a todos, tínhamos nós 14
anos…
José
Prudêncio, nas primeiras páginas do livro, esclarece:
Quando se fala de astrologia ocorre de imediato,
para a maioria das pessoas, os Signos do Zodíaco e as respectivas previsões dos
jornais e das revistas, escreve José Prudência nas primeiras páginas do livro.
Encontro-me
neste número, mas saí da leitura do livro com uma ideia diferente da que tinha
sobre tal matéria.
O assunto é
bem mais sério do que imaginara,
Certo que o
livro apresenta muitos mapas das vidas de Saramago e Augusto França, bem como
das respectivas famílias (elementos, signos, áreas, planetas, algo mais) a
necessitarem leitura especializada, mas o resto é deveras interessante, muito
por via da transcrição das conversas que o autor manteve com ambos e que
oferecem o desnovelar do mistério de duas vidas quase pararelas.
Ou como escreveu
Luís Resina na contracapa:
Um livro apaixonante.