Liza Minelli no filme Cabaré
E tem dias que ela acorda com cara de cortesã. Daquelas que já passaram da validade, vestida de négligé preto mal escondendo as dobras das carnes de um corpo outrora curvilíneo. Maquiagem borrada, um leve suor nas têmporas, olhos espertos carregados de cajal marroquino. Olhar cheio de bagagem de uma vida bandida. Perfume Guerlain, doce.Uma piteira descansando no canto esquerdo dos lábios finos borrados de batom vermelho carmim. Espirais de um cigarro Gauloises. Traços de ironia fina naqueles lábios de antigos prazeres. Voz rouca, risada misteriosa impregnada de segredos envelhecidos, entesourados em caixas de cetim de poás preto e branco.
A senhora gorda aguarda, plácida num canapé de brocado gasto, o jovem cliente sob uma camada de tranqüilidade disfarçada.
A fome lateja dentro dela. Fome do banquete que a espera.
E o frescor e o viço servindo como sobremesa.