Desde ontem
a noite estamos em providencias com um a almoço para as filhas. O motivo é um prosaico
encontro de família e alegria de compartilhar. Há quem, de língua mais ferina,
diga que é uma forçada de barra ou um encontro provocado.
O fato é que
nos ocupamos ontem e hoje. Nem imagine que estou a chefiar a cozinha, sou reles
auxiliar, apoio e leva e traz. Paulinho
está cozinhando e eu às providencias!
Cozinhar
neste momento não se resume a alimento, mas envolve um processo amoroso de
escolha, cheiros, sabores e combinações. Infelizmente, como a vida é dual,
também de exclusão. Cozinhar é uma ato dele, com seu vinho, seu fone de ouvido
e raras intervenções para situar-se onde fica algum dos apetrechos que precisa.
Resumo-me a
minha insignificância subordinada, mas prazerosa, de assistir o prazer dele com
o que faz. Coloco uma musica, faço um café e venho para cá conversar com quem
me ouve ( força de expressão!).
Hoje pelos
recantos deste nordeste a bola da vez é o forró, afinal estamos às vésperas de
S.João, tem jogo do Brasil, etc; entretanto, este festejo é diferente e com
pessoas ruas levando a sério o momento e cantando o Hino Nacional com mantra para lembrar
a sua cidadania vilipendiada.
Ouvimos
bombas ecoarem por todo Brasil, mas não rojões juninos e, quando o são ,estão na
mão do povo que recebe de volta bombas de gás, bombas efeito moral e saraivadas
de balões de borracha, que não machucam menos que balas, apenas minimizam a
pena de quem as atira.
O povo tá na
rua e não diz “ dai-me de beber senão em vou embora” ou “olha pro céu meu amor,
veja como ele está lindo”, musicas tipicamente juninas. Só olham para ver onde irão caíras bombas que são atiradas contra
eles.
Como em toda
festa, muitas vezes, há excessos e fica-se embriagado. Desta vez, a embriaguez é
de cidadania, entretanto ainda que justificada no motivo, já começa a ameaçar o próprio movimento e a
soberania. Preocupa-me o espaço que está se dando a nossa “ Direita reacionária”
. Já correm manifestações de impecahement.
Se faltasse
todo café no Brasil, se tivéssemos perdido
a lucidez total e absoluta, mesmo assim não poderíamos comparar este tempo
ao que já passamos. Há erros,
despreparo, omissões, desvios mas o Senado Federal, O Itamarati ainda são
símbolos fortes e depreda-lo cheira a porre coletivo e para isto só café com
sal.
Ando descontente,
para dizer pouco, com o partido que ajudei a construir e também me identifico
na maioria das palavras de ordem do moivmento. Me arrepia e alegra ver o povo
na rua ocupando seus espaços, no entanto temos que ser lúcidos e cautelosos.
Estamos expondo as nossas vitórias duramente conquistadas.
Vou mandar
fazer carros pipa de café forte e chá de lucidez com gotas de tolerancia para
uma policia despreparada e condena-los a assistir dia e noite, sem cafezinho no bar da esquina, os
atos de terror que vivemos nos anos 70 e a cada cochilo moral, gritar: - Acordem!
O papo tá ficando
muito sério e sou invadida pelo cheiro que vem da cozinha e volto ao meu
umbigo. Jorge Aragão canto os últimos versos de “encontro das águas” e fica
ecoando na minha cabeça:
Qual de nós
Foi
buscar o que já viu partir,
Quis
gritar, mas segurou a voz,
Quis
chorar, mas conseguiu sorrir ?
Quem
eu sou
Pra
querer
Entender
O amor?
O amor pelo país, pelo amado, pelos filhos, pelas lutas
, pela possibilidade da sanidade e cidadania.
Me senti traído e traidor
Fui
cruel sem saber que entre o bem e o mal
Deus
criou um laço forte, um nó
E quem
viverá um lado só ?
A música segue e conclui por mim e aponta para o rumo das
coisas:
Hoje vai pra nunca mais voltar
Como
faz o velho pescador
Quando
sabe que é a vez do mar.
“Entrei pelo pé do pinto e acabei saindo no pato”. Não
importa, disse o que queria.
Resta-nos a pergunta, que está fazendo as vezes do mar?
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