29/12/2009

O CANSAÇO DO CORPO

Pamela Creevey

O cansaço do corpo no dia sofrido
com as mãos que lhe tocam fundo
fazendo jorrar água de seus poros
um a um, intumescidos de lascívia
tocados por mil línguas lambendo
o mais fundo dos seus escondidos
segredos, feitos de curvas abertas
na montanha da carne em erecção
que se percorre devagar, qual luar
de carícias abraçadas na escuridão

29/12/2009

27/12/2009

Luís de Camões – Sonnets and others poems


Uma prenda, em livro, do meu filho Manuel, por este Natal, sabendo do meu gosto: “Luís de CamõesSonnets and others poems”, edição bilingue, tradução e introdução de Richard Zenith.


Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n´alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e doi não sei porquê.
__________________________________________


Let Love devise new ways, new wiles
to kill me, and new forms of disdain;
he´ll take away no hope of mine,
since he can´t take what I don´t have.

Look at the hopes that hold me up!
See how precarious my defenses!
For I, not fearing reverses or changes,
am tossed by the sea, having lost my ship.

Though disappointment can´t exist
where there´s no hope, there Love has hidden
a bane that kills and remains unseen,

for he placed in my soul some time ago
I don´t know what, nor where it was born,
nor how it got there, nor why it aches.

22/12/2009

O DIA


O dia alegre-se e entristece ao ritmo
Do tempo adulto que cresce em mim
Interrogo-me: o que fizeste? Silêncio
E as memórias por fim já esquecidas

22/12/2009


13/12/2009

CALIGRAFIA DE TRAÇOS E PALAVRAS

Não há termos. Certezas tão pouco. Linhas bem definidas
que esfumo   interiormente.
Prefiro as minhas.Inventadas
ao sabor do tempo. Fora das
possibilidades e de todas as
probabilidades.

Incongruentes. Mas com o sal
do mar e das lágrimas.   Mais
puras. Sobreviventes. Cientes
de que a vida se constrói em
cada margem.  No parapeito
da ponte. Rente ao silêncio e
a todos os gestos.


Militante de incertezas vagueio entre mar e terra apurando o sentido no infinito - meu eterno ponto de fuga.

Setembro 2009

Maria Helena Faria Monteiro


A Helena deu-me de oferta o livro “Caligrafia de Traços e Palavras”, com dedicatória, que espero, em breve, retribuir. É composto de Palavras, Escritos, Anoitecidos, Diurnos, Contos e Poesia, Aguarelas, Desenhos... Acabei de o ler e o mais que digo é: obrigada, é lindo.

[Também aqui.]

10/12/2009

DE MANHÃ CEDO O SOL


Eric Fredine

De manhã cedo o sol
Quebra a monotonia
Esculpindo na sombra
Do silêncio doloroso
A solidão do regresso

10/12/2009

02/12/2009

TEIXEIRA DE PASCOAIS E A POESIA EM JORGE DE SENA


Teixeira de Pascoais foi, para mim, muito menos e muito mais do que um mestre. Devo-lhe o pior que me podia ter acontecido – e do melhor que a vida me dá. Com efeito a leitura, no limiar da adolescência, da sua Terra Proibida – e, mais ainda talvez, a impressiva descoberta, por um poema desse livro, de que havíamos nascido ambos no mesmo dia, o Dia de Finados – é que é responsável pelo facto de eu ter principiado a escrever poesia. (…)

Lisboa, 19 de Dezembro de 1952

Jorge de Sena - Excerto In NÚMERO DEDICADO A TEIXEIRA DE PASCOAIS – Cadernos de Poesia, III Série* Lisboa * 1953 * Fasc.14


24/11/2009

Talvez aqui não esteja presente






















Jessica Todd Harper

Talvez aqui não esteja presente
Para ouvir o teu vozear eufórico
Num dia qualquer de felicidade
Que te invade por um pequeno
Detalhe que não sei identificar
Lá ao longe fica a memória fria
E o vazio de um esquecimento
Que antevemos nos olhos crus
Dos amantes que abandonamos
Ao largo sem um adeus sequer
Um dia quando tu regressares
Talvez aqui não esteja presente

6/10/2009

23/11/2009

EXERCÍCIO













Fotografia daqui


O ritmo que se esconde por entre
A palavra escrita, um espaço livre
No silêncio que se respira ardente
O silvo que, de súbito, surpreende

16/11/2009

O POEMA QUE TE MANDEI



















Ou se queres um poema mais sincero
O que mais me prende é a tua imagem
Com palavras dentro escorrendo água
Salgada como se teu corpo se erguesse
Do oceano correndo pela praia quente
Pisando a areia fina com o meu corpo
Deste lado ansioso na espera paciente

24/3/2009

06/11/2009

AS EVIDÊNCIAS - XXI






















Este é o último soneto de "As Evidências” [1955]. Nos “Diários” de Jorge de Sena, livro publicado por Mécia, surgem referências explícitas ao estado de espírito do autor aquando da escrita dos últimos sonetos datadas de 17 de Abril de 1954.

“Dias de abatimento incrível, ao fim dos quais lutei com os sonetos dos deuses. Repentinamente, ontem surgiu o soneto do mal. E, hoje, suave e sem rima, completei, ou antes, escrevi todo, o soneto dos deuses (XIX). (…) Mas o que eu tenho sofrido vivendo, para depois me “purgar” no sofrimento de escrever abstracto, essencial, de uma vez para sempre!

Chegando a casa, li à Mécia o soneto. Depois, fui copiá-lo para o escritório. Foi escurecendo. E, de súbito, num transe medonho que não me permitiu acender a luz, saiu inteiro o que suponho ser o último soneto da série.”

XXI
Cendrada luz enegrecendo o dia,
tão pálida nos longes dos telhados!
Para escrever mal vejo, e todavia
a dor libérrima que a mão me guia
essa me vê, conforta meus cuidados.


Ao fim terrível que me espera extenso,
nenhum conforto poderei pedir.
Da liberdade o desdobrado lenço
meu rosto cobrirá. Nem sei se penso
ou pensarei quando de mim fugir.


Perdem-se as letras. Noite, meu amor,
ó minha vida, eu nunca disse nada.
Por nós, por ti, por mim, falou a dor.
E a dor é evidente – libertada.

16-4-1954

Jorge de Sena


AS EVIDÊNCIAS - XX


Douglas Prince

XX
Erguem-se as tríades: são mais que deuses,
e menos que verdade de os haver.
De Deus a dupla face em face à vida
é só por elas que a evitamos ser,


quando a não vemos senão dupla, triste
daquele humano gesto de que existe
a sempre imagem trina de O perder,
cindido o amor, no espelho reflectida.


E ao espelho se engrisalham os cabelos
e as rugas cavam-se das eras idas
sobre a vidraça como gotas de água.


Ouvem-se os ecos de outros ecos belos.
E Deus, reflexo silencioso, os deuses
guardam liberto de ser dupla mágoa.

28-4-1954 [curiosamente no dia do meu aniversário.]

Jorge de Sena


02/11/2009

A JORGE DE SENA (no dia do seu 90º aniversário.)











Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978. É hoje considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura do nosso século XX.


XIX
Perdidas uma a uma as coisas todas,
os corpos a as estrelas, flores e rios
na construção do espírito sonhado,
humanamente vos haveis unido,


para de além de tudo ainda regerdes
apenas pó a ser cindido um dia,
que o que ficava, dissoluto o mundo,
a morte humana assim éreis num só,



ó deuses, formas de existir, presença,
tão sempre jovens e dourados mortos
de morte que é sol-posto ou madrugada,


ó deuses do universo! – a tarde cai,
e, em vagas vozes de crianças rindo,
cindido tudo, ó deuses, regressai.


16-4-1954

Jorge de Sena

01/11/2009

AS EVIDÊNCIAS - XVIII


XVIII

Deixai que a vida sobre nós repouse
qual como só de vós é consentida
enquanto em vós o que não sois não ouse
.
erguê-la ao nada a que regressa a vida.
Que única seja, e uma vez mais aquela
que nunca veio e nunca foi perdida.
.
Deixai-a ser a que se não revela

senão no ardor de não supor iguais
seus olhos de pensá-la outra mais bela.
.
Deixai-a ser a que não volta mais,
a ansiosa, inadiável, insegura,
a que se esquece dos sinais fatais,
.
a que é do tempo a ideia da formosura,
a que se encontra se se não procura.

26-3-1954

Jorge de Sena


30/10/2009

AS EVIDÊNCIAS - XVII


Ronald Cowie

Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978.

Pelos noventa anos do seu nascimento divulgo, por estes dias, também no Absorto, os últimos 5 poemas de “As Evidências” [1955], uma das suas primeiras e maiores obras poéticas. Neste soneto XVII, dos 21 que compõem “As Evidências”, aquando da minha leitura inicial, logo após a sua morte, sublinhei, a lápis, um verso que sempre me tem acompanhado: “É pequena a margem pura onde só há tristeza”.

XVII
Na noite funda em que das nuvens corre
interceptado o luar prateando a vida,
de tudo a forma é sombra desmedida
como do corpo a contrição qual morre.


Últimas fezes do estertor, na espuma
que aos lábios sobe envidraçando o olhar,
crispam-se os dedos, quanto devagar
memórias se desatam uma a uma.


De súbito explodido, ou na serena
e distendida muscular dureza,
o espírito se quebra nas miríades

que o foram sucessivas. É pequena
a margem pura onde só há tristeza.
Da podridão logo renascem tríades.


25-3-1954

Jorge de Sena


AS EVIDÊNCIAS - XVI


Rania Matar

XVI

Livres de ser o que os acasos tecem
na teia de eras que aumentando os muda,
não sendo vamos contrição desnuda,
e como nós as coisas acontecem.


E porque acontecidas logo cessem
de ser a liberdade ponteaguda
que de entre teias como gota exsuda,
mudam-se em nós as que a mudança esquecem.


E um sentimento, a máquina, um abraço,
um filho, a estátua, as dimensões do espaço
- pensado ou não, sentido ou não, talhado
ou não – fado serão do próprio fado,
qual como em fios luminosos vemos
o gecto igual com que outra fronte erguemos.

15-3-1954

Jorge de Sena


24/10/2009

HÁ COISAS DA VIDA QUE NUNCA HAVEMOS DE SABER

Há coisas da vida que nunca havemos de saber
Nomes que nunca entenderemos o significado
Vozes sábias de que nunca ouviremos palavra

É o mundo desconhecido do qual somos feitos
É a razão de ser desta crença que nos mantém
Curiosos mesmo que nada saibamos do futuro

29/11/2008

22/10/2009

AS EVIDÊNCIAS - XV


XV

Manhã de glória! – ó deuses, ó imagens,
palavras, gestos, silenciosa crença,
ó plácida ternura das paisagens,
brincar das crianças na convalescença,

lembrado vento das remotas viagens,
saber perpétuo das ciências novas,
sereno deslisar de astrais paragens,
mentiras, crimes, proclamadas provas

de tudo contra tudo: universal
visão que sois, só porque sois tão mal

a mão que toca e que a si própria sente;
nessa mentira veramente ouvida,
nessa verdade que, de o ser, já mente,
o mal que sois é o bem de haver só vida.

9-3-1954

Jorge de Sena

16/10/2009

AS EVIDÊNCIAS - XIV


XIV

Nenhuma voz me atinge por destino
dela, e nenhuma me procura ansiosa.
Se o espaço cruzam num murmúrio fino
ou gritam seu destino, a mais formosa

é sempre aquela que eu encontro agora,
apenas porque a encontro e por mais nada.
E para ouvi-las não existo, embora
as ouça claramente, na humilhada,

ténue, profunda, vasta e dolorosa,
conquanto doce, humanidade alheia,
que em mim se alberga tímida e receosa.

Assim se escutam vozes. Delicada,
sopra no espírito a formosa ideia,
e encrespam-se as palavras na alvorada.

9-3-1954

Jorge de Sena

12/10/2009

AS EVIDÊNCIAS - XIII


XIII

Quando me encontro sempre sem poesia
do ritmo ouvindo o cadenciar perfeito
em que as palavras passam como um dia
que é fluído e pálido, gelado e estreito,

sempre uma voz, que eu antes não ouvia,
me preenche o espaço entre o destino e o leito
de fogo e de cristal em que me deito
na música sem dor nem alegria.

Alguém que eu fui ou não cheguei a ser,
que alguém não teve tempo de viver
na ondulação do transitório acaso,

é por acaso que em mim próprio escuto,
qual do vazio ocasional refuto
a vacuidade inane do seu vaso.

9-3-1954

Jorge de Sena

04/10/2009

CAMINHAR ASSUMIR O CANSAÇO E DORMIR

Caminhar assumir o cansaço e dormir
sobre um braço, não resistir à dor
de finalmente desistir, usar frases
banais, fugir por dentro prisioneiro
do lugar, crer num sonho milenar:
a libertação, um homem íntegro
com fé no futuro, o passado feito
a caminhar assumindo o cansaço,
dormir, sonhar sem medo, resistir
à dor sem saber nada dos outros,
o silêncio do abandono, a palavra
rara lida, o eco longínquo, corpo
desenhado na memória salvífica:
o que fica é o que se deixa atrás
no filho que nos olha e na carne
que vai perdurar no seu caminho
feito a caminhar sobre os corpos
de gerações esquecidas, os sacos
cheios de ossos e nem um sorriso

13/7/2009

17/09/2009

JORGE DE SENA

Assisti, no passado dia 11 de Setembro à homenagem prestada a Jorge de Sena. Foi comovente e fez-se justiça. Só hoje escrevo, de forma breve, acerca da cerimónia pois só hoje posso, sem quaisquer dúvidas, afirmar que, ao contrário do que possa parecer, esta homenagem, com todo o seu significado, simbólico e material, foi uma iniciativa do Ministro da Cultura, ou seja do governo, que obteve a aquiescência de Mécia de Sena e da restante família de Jorge de Sena. Era uma iniciativa, desde há muito reclamada, mas que nunca ninguém tinha alcançado concretizar. Compreendo, assim, o significado da presença, embora discreta, do 1º ministro na homenagem.

15/09/2009

QUERO ESCREVER


Drex Brooks

Quero escrever para o futuro
Que cresce devagar e não se sente
Quero deixar umas palavras
Alinhavadas mesmo sem leitores
Dessas que são minhas todas

Quero escrever sabendo que nada
E ninguém quebrará
O silêncio que os oficiantes ditam
Às palavras insurrectas
Que não obedecem às leis do ofício

Quero escrever o tamanho do futuro
Sem a cor do teu rosto
Nem dia certo para o encontro
Com a noite escura
Mas com palavras dentro

18/5/2009

09/09/2009

HARTZ

GRAÇA, EDUARDO. Há um momento en que a juventude se perde..., concepção gráfica de Isabel Espinheira, Lisboa, edição de autor, 2008.

Conjunto, precedido de un prólogo del autor, de poemas inspirados en breves fragmentos de los Carnés de Albert Camus que constituyen el título, primer verso o línea de cada poema. Lástima que no sea edición comercial: corre el riesgo de pasar totalmente indavertida.

[Reparei agora nesta referência ao meu livro "Há um momento em que a juventude se perde ..." na revista espanhola digital de poesia HARTZ. Obrigada. Pelos finais de Outubro/inícios de Novembro, deste ano, haverá novidades.]

JORGE DE SENA: CERIMÓNIA DE HOMENAGEM E TRASLADAÇÃO NA PRÓXIMA SEXTA FEIRA

«O Ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, estará presente na cerimónia de homenagem a Jorge de Sena, em presença dos seus restos mortais, que se efectuará em Lisboa no dia 11 de Setembro de 2009, sexta-feira, pelas 10h00, na Basílica da Estrela, seguida de trasladação para o Cemitério dos Prazeres.A cerimónia, acompanhada de uma celebração musical executada pela soprano Raquel Alão e pelo organista Nuno Lopes, do Teatro Nacional de São Carlos, contará ainda com a declamação de um poema do autor, por Eunice Muñoz.Jorge de Sena será evocado através de breves intervenções de um representante da família, do ensaísta Eduardo Lourenço, do Ministro da Cultura e do ex-presidente da República, General Ramalho Eanes.»

Comunicado de imprensa do Ministério da Cultura

07/09/2009

JORGE DE SENA REGRESSA PORTUGAL

Na próxima 5ª feira (10 de Setembro de 2009) Jorge de Sena regressa a Portugal. A cerimónia de homenagem, em presença dos seus restos mortais, decorre na Basílica da Estrela, a partir das 10 horas, a que se seguirá a trasladação para o Cemitério dos Prazeres.
.
Este é um acontecimento do maior significado, de justiça e reconciliação, em benefício da cultura nacional honrando a memória de um seus maiores vultos.

Tal acontecimento só é possível, certamente, pelo empenho de D. Mécia de Sena, e família, a que o governo correspondeu. Um dia lembrei-me, na circunstância da abertura de uma nova sede para a delegação do INATEL, no Porto, de prestar homenagem a Jorge de Sena. Foi assim que essa mesma sede se designa por “Casa de Jorge de Sena”.

A Dr.ª Manuela Espírito Santo, à época, vice-presidente da Direcção do INATEL, a cuja direcção eu presidia, acolheu a ideia e estabeleceu os contactos com D. Mécia de Sena que deu o seu consentimento. A partir dessa data estabeleceu-me uma corrente de contactos pessoais que mais me estimularam ao conhecimento da obra e da vida de Sena.

Na próxima quinta feira chegará ao fim, 31 após a morte física de Jorge de Sena, uma separação que não era justa. A terra portuguesa acolherá no seu seio um dos seus maiores. Fico feliz por isso.

MEMÓRIA (I)



Desço a vereda a caminho da estrada

Pedras soltam pó na terra endurecida

Sobrevoo o poço, fonte de água pura

Soterrado em silvas e flores apetecida

A lembrança do bebedouro, as gentes

E os animais sôfregos uma sede brava

Como brava é a lembrança do passado

27/8/2009

04/09/2009

POEMA DE ANIVERSÁRIO
























A terra revolvida a mãos delicadas

A fala incessante cheia de palavras

O mundo em revolta e indiferente

Lá fora aquietado com vida dentro

Dias de sono sereno e que sonhos?

Não sei à distância medir o tempo

Restam lembranças aqui por perto

Ardem a fogo no meu pensamento

4/9/2009

01/09/2009

TRÊS POEMAS


Jarrett Murphy

Três poemas de aniversário escritos em guardanapos de papel, transcritos para postais ilustrados, à beira da Doca de Faro em 3 de Março de 2007.


Telhados

Para a Alexandra

Todas as cidades
Têm telhados

Os telhados das cidades
Olhados

Por qualquer dos lados
São o fim da construção

Todos nós temos telhados
Olhados

Por todos os lados
São a nossa formação!

---------

O jerico

Para a Bel

O jerico atento
Olha-nos de frente

Será que ele se sente
Em vias de extinção?

O teu canudo não mente
Doutoralmente.

Será que ele não sente
O jerico atento

À tua aflição?

----------

A idade

Para a D. Elvira

A idade é uma janela
Grande
Para olhar a cidade

A idade não tem idade
Como a janela
Da cidade

Olha-se para a idade
Que é feito dela
A idade?

[variantes]

31/08/2009

AO LONGE AS MÃOS

Ao longe as mãos de todos os afectos
Tocam-me e não as sinto na memória,
Ao longe o tempo escarnece do corpo
Que trago dentro de mim estremeço,
Ao longe o eco dos passos longínquos
Alinhados numa corrente de gerações,
Ao longe a árvore frondosa da frente
Ensombrando a tragédia da ausência,
Ao longe hei-de ser visto pelos meus
Sob o silêncio de seus olhares ternos.

8/3/2009

27/08/2009

UMA SOMBRA



Uma sombra clara transparente

Desenhada a lances de olhar só

Mais nada, casual, livre e sente

A volúpia, meu olhar carnívoro

Sua sombra deitada e paciente

Adivinho-a sombreada a vozes

Ciciadas, vejo dobras no corpo

Sinais e apelos, o fim do tempo

27/8/2009

26/08/2009

EPIGRAMAS

Na esquina da tela vislumbro um corpo. no cimo do corpo um olhar. pousada no colo uma mão. a fascinante arte da sedução.

*
Nada nos distingue a não ser tudo o que a nossa mão não alcança.

*
O caminho circula em tua volta, percorro-o ao longo dos dias e vejo-te acenar do outro lado. Não sei que penas levas no coração, as minhas sei que não podem ser tuas.

*
Quem espera sempre alcança, quem ri por fim ri melhor, o corpo dela balança, suspiro, agarro-me à esperança e, enquanto o corpo avança, espero o pior.

*
Sonhei que a liberdade é azul a cor dos mares do sul. À sombra dela vislumbrei um corpo livre que me procurava e, súbito, acordei.

*
Em busca da palavra no caminho me perdi e encontrei teu rosto inclinado no espelho no qual me revi em memórias e esperas.

*
O ângulo de teu corpo na esquadria do ecrã faz de ti uma maçã.

*
O sorriso ao cimo da escada, um dorso, uma fala: olá és tu? Sou eu, tudo e nada.

*
Sábias as palavras não ditas, espessas como a ansiedade que nos sobressalta.

*
Subindo a encosta se conhece o vento e se encurta a distância para o cume.

24/08/2009

ENTER


criada por Heloisa Buarque de Hollanda,
a partir daqui.

23/08/2009

GOSTO

Ferdinando Scianna

Gosto que me tomes
me abras
me invadas

Me voltes e tornes
me envolvas
e faças

Gosto que me entornes
me abraces
me lavres

Me beijes e bebas
me enlaces
e largues

Gosto que me voltes
me pegues
me mates

Me dês um nó
cego
e depois me desates

In Inquietude – Poesia Reunida

15/08/2009

"AS EVIDÊNCIAS" - XII

Sophie Thouvenin

XII

Uma outra vida espera em vosso peito.
Dentro do meu que em gestos se condensa
a carne fala e vibra, a carne pensa
por vós como por mim, que não aceito

mais que a linguagem de ter sido eleito
igual aos outros: tão igual, que sou
a identidade vária com que vou
sendo a diferença dolorosa – o jeito

de uma pura perda celebrar o amor,
sagrando-vos humanos e lembrados
na plena luz a que viveis os fados.

Beijemo-nos então. Língua na língua,
essa outra vida que trazeis, distingo-a,
e como liberdade aceito a dor.

Jorge de Sena

6-3-1954

12/08/2009

Restos mortais de Jorge de Sena trasladados "na primeira quinzena de Setembro" para cemitério dos Prazeres

Lisboa, 12 Ago (Lusa) - Os restos mortais do escritor Jorge de Sena serão trasladados "na primeira quinzena de Setembro" de Santa Barbara, na Califórnia, para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa, informou hoje à Lusa fonte do Ministério da Cultura.

A trasladação tinha sido anunciada em meados de Junho, sem mais pormenores, pelo ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, durante a cerimónia de doação do espólio do poeta de "Arte de Música" à Biblioteca Nacional.

Poeta, ficcionista, dramaturgo, crítico e ensaísta, um dos vultos maiores da cultura portuguesa do século XX, Jorge de Sena nasceu em Lisboa em 1919 e faleceu em 1978 nos Estados Unidos, onde viveu exilado desde 1965 e leccionou, como catedrático, Literaturas Portuguesa e Brasileira e Literatura Comparada.

Antes de se fixar nos Estados Unidos viveu no Brasil, aí exercendo as cátedras de Teoria da Literatura e de Literatura Portugal.

A sua vasta obra literária inclui títulos como "Perseguição", o seu livro de livro de estreia em 1942, "Fidelidade", "Metamorfoses" e "Arte de Música" (Poesia), "O indesejado" e "Ulisseia adúltera" (Teatro), "Andanças do demónio", "O físico prodigioso", "Os grão-capitães" (Contos), "Sinais de fogo" (Romance, o único que escreveu), "A poesia de Camões", "O reino da estupidez" (em vários volumes), "Os sonetos de Camões e o sonete quinhentista peninsular", "O poeta é um fingidor", "A estrutura de 'Os Lusíadas'" (em vários volumes), "Fernando Pessoa & C.ª Heterónima", "Maneirismo e barroquismo na poesia portuguesa dos séculos XVI e XVII" (ensaio).

Da sua poesia, Sena disse um dia que ela representava "um desejo de independência partidária da poesia social, um desejo de comprometimento humano da poesia pura, um desejo de expressão lapidar, clássica, da libertação surrealista, um desejo de destruir pelo tumulto insólito das imagens qualquer disciplina ultrapassada e sobretudo um desejo de exprimir o que entende ser a dignidade humana - uma fidelidade integral à responsabilidade de estarmos no mundo".

RMM.

05/08/2009

ESCREVO NO MOMENTO EM QUE ME APETECE

Escrevo no momento em que me apetece
Os ruídos na minha cabeça são os mesmos
Do tempo em que a minha cabeça tinha
Trinta ou quarenta anos menos e nela cabia
Um mundo de ilusões como se diz amiúde

Escrevia uma banalidade se me apetecia
Para espairecer do tempo que me sobrava
Do tempo em que me esquecia do tempo
E olhava para dentro do meu corpo sempre
Como quem apreciava uma memória actual
Que se esgotava no acto de viver o momento

Escrevia sem olhar à geometria dos versos
Se versos eram as palavras alinhadas atrás
Umas das outras qual ilusão criando espaços
Para o meu corpo respirar dentro da cabeça
Que volteava sobre si própria como um moinho
De vento que empurra uma vela desfraldada
Ao luar da primavera que diziam iria acabar
Pois tudo acabaria e havia de se transfigurar

Escrevo com a imagem da geometria dos versos
De ferreira gullar na minha cabeça cantando a
Apetecida vontade de escrever sem medo de ser
Dominado pelo automatismo da escrita, um medo
Antigo, que se não conjuga com a liberdade
Que me manda escrever sempre no momento
Que me apetece com os ruídos nela presentes

7/5/2009

01/08/2009

CORPO INTEIRO

Gaylen Morgan

Para mim o
amor
fica-me justo

Eu só visto
a paixão
de corpo inteiro

Maria Teresa Horta

24/07/2009

TEXTO-AL

O Texto-Al, Grupo Literário do Algarve, é um grupo informal de pessoas unidas pelo interesse e paixão pela literatura.

20/07/2009

"AS EVIDÊNCIAS" - XI


4

Um 11º soneto.

XI

Marinha pousa a névoa iluminada,
e dentro dela os pássaros cantando
são crepitar das ondas doce e brando
na fímbria oculta e só adivinhada.

Verdes ao longe os montes na dourada
encosta pelos tempos deslisando,
suspensos pairam no frescor de quando
eram da sombra a forma congelada.

Ao pé de mim respiras. No teu seio,
como nas grutas fundas e sombrias
os animais pintados adormecem,

sereno seca um amoroso veio.
Um após outro hão-de secar-se os dias
na teia ténue que das eras tecem.

Jorge de Sena

1-3-1954 [Confirma-se o desfasamento devendo a referência feita, no dia 4 de Março de 1954, ao 11º soneto ser destinada aquele que na Poesia 1 surgirá a seguir com o nº 12.]

16/07/2009

"AS EVIDÊNCIAS" - X


1 de Março

Esta manhã, um 10º soneto. Suponho que apenas faltam mais dois.
Fui ao aeroporto despedir-me do Couvreur, que ia na viagem que seria para mim. Como o avião vinha atrasado, aproveitei para procurar o Zé que há tanto tempo não via. E li-lhe os dez sonetos, de que ele gostou, achando que a “coisa” ainda vai a meio.(…)

X

Rígidos seios de redondas, brancas,
frágeis e frescas inserções macias,
cinturas, coxas rodeando as ancas
em que se esconde o corredor dos dias;

torsos de finas, penugentas, frias,
enxutas linhas que nos rins se prendem,
sexos, testículos, que inertes pendem,
de hirsutas liras, longas e vazias

da crepitante música tangida,
húmida e tersa, na sangrenta lida
que a inflada ponta penetrante trila;

dedos e nádegas, e pernas, dentes.
Assim, no jeito infiel de adolescentes,
a carne espera, incerta, mas tranquila.

Jorge de Sena

27-2-54 [O soneto a que se refere Sena no “Diário” deve ser, na verdade, o 11º publicado em “Poesia I”].

12/07/2009

"AS EVIDÊNCIAS" - IX


27

Esta manhã, um 9º soneto, obsceníssimo, mas demasiado formal, por demasiado “descritivo”. No entanto, é de certo modo o que eu queria fazer no sentido da violência. O Casais, a quem no café (a nossa “tertúlia” é este “tête-à-tête”, em que ele se torna muito mais o delicado que não quer, prudentemente, ser) o mostrei e ao de ontem, sentiu isso mesmo, porque disse: “Não gosto que se fale cerebralmente dessas coisas” (tomando cerebral pelo impressionismo descritivo). Vai proferir uma conferência sobre o Pessoa no Inst. Britânico; e ao Estorninho disse que para as influências inglesas era eu e não ele. Gostou muito do outro soneto. E achou, como eu acho, notável o artigo que o Lemos me mandou, e que vou rever para enviar ao C. Barreto.

IX

Com a mão brincando sem virtude ou vício,
o sexo antes do sexo pressentido,
conhecem-se as crianças, que, dormindo,
irão morrendo em sexo e juventude.

Da vã cidade o pálido bulício
em sonhos se dilui. Sombras sorrindo
afastam-se, crianças conduzindo
à virgindade ansiosa, austera e rude.

Pelas esquinas, no limiar da terra,
lá onde os sóis os prados ainda rasam
e as ervas vibram num tremor obscuro,

nocturno o espaço os milhares de olhos cerra,
sombras serão as crianças que se atrasam,
e a Graça, alheada, é o gesto ainda futuro.

Jorge de Sena

26-2-1954

10/07/2009

TORGA VISTO POR SENA (um episódio)


A propósito desta magnífica posta do Pedro Rolo Duarte ficou a bailar-me na memória uma leitura recente, muito interessante, e pouco simpática, na qual Jorge de Sena se refere a Torga. Pode ser lida nos “Diários” de Sena, no dia 24 de Fevereiro de 1954. Reza assim:

“Encontrei-me com o Guilherme Filipe, para ele me pagar a palestra de ontem. Conversámos um pouco com o Casais que depois saiu. Perguntei-lhe então pela mulher, que sei pior do juízo. Abriu-se então. A última crise começou nas vésperas da partida para o “Cruzeiro dos três continentes” (aquele cruzeiro em que certos excursionistas, segundo me contou o Bordalo, julgaram que as ruínas da Acrópole eram dos terramotos recentes … das ilhas gregas …). Numa crise de dinheiro o Guilherme vendeu uns quadros de que gostava muito, sem que ela, desgostosa por essa solução quando ele não tinha outra, dissesse uma palavra. Chega o Torga, o grande raiano dos arrabaldes de Vila Real de Trás-os-Montes, com um amigo. Também ia ao cruzeiro. E, com um gesto indicativo da memória aquilina que se “deve” supor que ele tem, pergunta: - Falta ali um quadro. Onde está aquele quadro de que eu gosto tanto? - Olhe, respondera o Filipe, precisei de dinheiro e vendi-o. – E por quanto? – Por 3 contos. – E a senhora consentiu? – perguntou o Torga à mulher do Filipe. E este, logo: - Não só consentiu, como não me disse ainda uma palavra a esse respeito. E o Torga, magnífico e magnânimo, abraçando o Filipe: - Ah que você ainda é mais desgraçado do que eu supunha. – E levantou-se para sair, depois de lamentar o mau agouro com que iniciara o “seu” cruzeiro e o não poder dar ele, em vez de ir na viagem, o dinheiro que o Filipe precisara … agora … - Então não janta? – perguntava triste. – Não, minha Senhora, não, que o que acontece aos meus amigos é como se me acontecesse a mim. – E durante a viagem fez sentir à senhora quanto era indigna esposa do pintor (coitado!) G. Filipe. Que grandecíssimo filho … ainda por cima sem sombra de delicadeza moral." (…)

09/07/2009

MARINA CEDRO

Amar sin embargo amar

amar
el amor
sabe
madura
se encuentra
la mujer
como tus curvas
masculinas
mis piernas
acariciar
me dejo
las mías
para encontrar
echar tus manos
me dejo
sin tu presencia
el silencio
cruje
sentada
tu llegada
espero
te une a mi
la historia
sin embargo
la historia
te une a mi
espero
tu llegada
sentada
cruje
el silencio
sin tu presencia
me dejo
echar tus manos
para encontrar
las mías
me dejo
acariciar
mis piernas
masculinas
como tus curvas
la mujer
se encuentra
madura
sabe
el amor
amar
.
Poemario Todas las que soy, 2003

08/07/2009

"AS EVIDÊNCIAS" - VIII


26

Um 8º soneto (que deverá ocupar o lugar do 7º), um dos mais belos senão o mais belo – e que me emocionou tanto, que julguei que ia escrever logo outro. Mas era só emoção dele.

VIII

Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa …
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena

22-2-1954

06/07/2009

O QUE ME PRENDE OS SENTIDOS À BELEZA


O que me prende os sentidos à beleza
é o presente dela, fulgor que me cega
é futuro que me destrói, ter a certeza
que ao certo nela nunca ninguém pega

Resvalam-me as mãos e hesito tocá-la
a beleza impregnada dos meus medos
é memória de sofrimentos por tomá-la
ai a pura beleza cega em seus enredos

É ela que me prende à vida. O encanto
se torna desejo, espera sábia do tempo
que se revê ao espelho, o breve pranto

que ecoa sob a luz refulgente, a beleza
é um fogo que me consome por dentro
é tudo, nada, uma insustentável leveza

30 de Junho de 2009

05/07/2009

SONETO

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.

Carlos de Oliveira

In “Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa”
de Eugénio de Andrade

03/07/2009

"AS EVIDÊNCIAS" - VII


22

(…) Trabalhei no serviço o dia inteiro e, à tarde, escrevi em três horas de expectativa tenteada, um 7º soneto, que me parece o penúltimo das “evidências”.

25

Dei os sete sonetos (até agora) ao Casais (que já ouvira os 3 primeiros) a ler. Achou de “primeiríssima ordem” os 5 primeiros – com a reserva do final violento do 3º, que o choca -, menos bom o 6º, e o 7º ainda que muito bom, pareceu-lhe desviado da linha dos outros.

VII

Atentos sobre a terra ao que sem nós
connosco é o movimento em que levados
vamos criando qual somos criados
na recessão dos mundos fugitivos,

é nossa a luz que vemos, nossa a voz
com que a dizemos de astros apagados,
é nossa a carne com que estamos vivos,
e é dela a só ternura que abraçados

connosco esquece a distinção das cousas.
Humano escutarás, único vais
na numerosa multidão esquecida.

Ímpio de ti, se juras e não ousas
que teus vivos desejos se ergam tais
como em ti próprio aguarda uma outra vida.

Jorge de Sena

22-2-1954

02/07/2009

CASIMIRO DE BRITO

DO POEMA

O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas, vegetação. Nem
tão-pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes —

o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.

Canto Adolescente, 1961