domingo, 6 de outubro de 2024

Sob escombros

nas circunvizinhanças 
nos equidistantes
nas adjacências 
nos derredores 
nas lonjuras 
nos longínquos 
nós distantes 
nós díspares 
tu no rio
eu no mar 
bombardeios entre 
sob escombros
soterrado
nosso amor 
perece.   

Dane-se!

o que eu denomino? 
o que eu domino?
 
quem eu demonizo?
quem eu domestico? 
 
queres deletar quem?
queres delatar quando? 
 
o que te detona?
o que te deprava? 
 
quem determina o quê? 
quem eu?
quem tu?
         dentro 
         deste vazio? 
         dane-se!

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Olhos que não ouso olhar em sonhos

                 olhos ocultos 

                 olhos em segredos

vozes dentro dos olhos ecoam

                 olhos solenes

                 olhos silentes

 sobre a mobília olhos míopes 

                 olhos na vigília, ensangüentos 

  nas ruínas dos olhos vagueiam recordações

 pupilas dilatam olhos mudos

             nos olhos as órbitas transcendem

                 olhos ocos, oco cérebro

     vales entre olhos outrem e eu

                 olhos sem sintonia

             dos olhos sinais transversais

    tremulam nos olhos sinfonias

    delírios nos olhos meus

        nos teus olhos faíscas fulminantes

      na luz dos olhos meus, amanhecer

   na neblina os olhos teus, crepúsculo

        obscuros olhos trevas trazem

                 olhos revelando a frialdade

  embriaguez, os olhos soluçam

     sóbrios, os olhos perdem-se

            teus olhos num acalanto

            meus olhos suspensos em susto

          nossos olhos frios não

                       fosforescem mais as

                       fugidias almas nossas

 

teus olhos

 nos olhos meus

 não       mais.

domingo, 30 de junho de 2024

O espavorido

 

o espavorido

  esperava com

  espanto e sentia

  espasmos e via

  espectros e suava

  espumas e diluia

o espirito que, enfim

  esvoaçava.

domingo, 23 de junho de 2024

Expelindo suposições

uma
lufada para  
expelir má sorte que você
       secretamente me desejou.
 
uma
baforada para
expor as mudanças que você
      inutilmente tentou impor.
 
uma
rajada para
exumar tudo aquilo que você
        insisti, mas jamais prometi.
 
uma
cafungada para   
excomungar o espectro que você
            cegamente crê ser o meu.    

domingo, 9 de junho de 2024

Correnteza

 Elegias escorrem 
na correnteza,
das margens buscam
o que se esconde 
nas profundas,
e perdem 
no fastio cortante
o ululante que lento
trespassa.  
 
          corre na 
          correnteza 
             a certeza 
                cega da 
                besta 
              que finda
                sozinha. 
 
na correnteza 
um sonho 
um coração 
na curva
o transbordo 
o esquecimento. 

 

terça-feira, 30 de abril de 2024

5 pequenos

      alarido lindo
     e o sacripanta
     calado, lastimou 
 
na vaga lucidez
o vazio amplia o 
silêncio e a escuridão 
 
  da fresta resvalava
  a manhã 
  uma reminiscência ressoava 
 
          cacarecos descartados
          retratos e missivas 
          no enlevo do desleixo 
 
fuzarca no subsolo 
a rastejante morte* 
tira o sono do basbaque 
 
*Creeping death, música do Metallica.  



 
  
  
  

domingo, 31 de março de 2024

Ocaso pra nós

 

Nossa,
isso foi um
elogio ou um
insulto,
tantas miudezas
nas entrelinhas,
tangente
pra esquerda,
subterfúgio
pra direita,
o enxofre destilado
nos detalhes,
credo
cruzes,
ninguém segura
sua mão
ela proclama:
ele que
naufrague 
que afunde;
estive perto
o fim fez-se,
depois de
ondas gigantes
agora respiro,
minha alba
brilha,
os rumos
se divergem
acaso refute o
ainda possível, o
ocaso será
pra todos.