it is xmas!
des riçures
como o meu país ajoelhado e sem sono
des riçures
como o meu país ajoelhado e sem sono
I
fronteira
1
dos mortos
sobre a
fronteira deposito o meu fruto
a minha pedra de
silêncio
entre dedo e
memória
(sei que
alteráveis só os limiares)
sei que é nos
teus olhos que o mar tem
a sua porta de
safira os seus degraus
e a lava
afundada no rosto pretérito das pedras sei
como emérito sei
o som sobe
depois do
tornozelo ao ventre mercê
(queria dizer à
vulva -e -
que nenhum
sebastiao ha-de vir nem em
dia de ne-
voeiro
mas deixemos as
ironias de fora)
do mármore
ouvido ao centro
do tímpano a mão
colhe depois
o cereal moído a
dor
do silo
aberto à dor
maturada nos
odres do verão
como o meu país
ajoelhado e sem sono
sou a areia fina
do pulso
digo como todo o
nascimento é imperfeito
digo sempre a
terceira infância do meu sangue
sei a voz ouve
isso e da voz ouço
o centro da mão
respirada o rumor
dos muros o
rosto aceso ao centro
da casa dentro
da água aberta
meu é apenas
depois o rosto os olhos dos irmãos
da hulha e do
proveito do proveito
do proveito
colhido em silos
meu ardor murado
seda cerrada letra aberta
sobre a
fronteira deposito a parte mais negra dos nomes
e dentro dos
silos do verão minha
é a parte do
sono mais escondida dos olhos de deus como
meu o movimento
da seiva por dentro da melancolia
minha a mão
assim tão ladeada (de nada) pela morte
das colheitas em
chamas pela a morte
da seiva nos
trilhos da luz
tua a morte da
luz dentro do sangue
e materno da
pedra meu é o texto assim
fundado a prumo
e os membros adscritos
(minha é a
crueldade
de todas as
metáforas)
ao movimento do
sangue em torno
de duas paredes
de sal o céu negro
e por baixo o
movimento que incide nos nomes por dentro de onde
eu digo
um rosto é a
raiz estancada do odor
por dentro do
sangue é o odor submerso
e dos nomes a
linha tensa do teu gesto
desenhando sobre
os meus
olhos e entre as
árvores em chamas por baixo
a lacre e veneno
o peso do
mármore desenhando o rosto dos mortos
desenhando
dentro dos nomes o texto o sangue
ateado na
largura das casas em silos dizendo como eu colho
o meu fruto é
(por) dentro dos olhos
dos mortos que
sinto tudo e sei
sou eu os olhos
dos cegos sobre os mapas
como a agulha
negra por dentro da carne por dentro
do nome eu seu
como
sou irmão da
plaina da uva acesa
nas ladeiras sou
o filho do sol
inclinado nas
planícies
e a lentíssima
justiça dos incêndios
ou o grande
tímpano das catedrais aberto
à infâmia e ao
vexame sou a boca
de um deus sem
gestos sou
a imobilidade do
sangue
dentro da madeira
o olhar dos surdos ouvindo
sobre a página
sou
todo o gesto que
desloca
o mundo de lugar
sou o rosto dos irmãos
dentro das casas
eu faço o que os homens fazem
do rosto dos
filhos
dentro das casas
os nomes dizem o
rosto o coração
mal
wieder verloren e por dentro eu digo a pedra
lavrada
nas ladeiras a
verdade
eu digo
a mão lavra por
cima
da sombra o
rosto
dos filhos a mão
aplaina
a água por
dentro a mão escolhe a mão que a escolhe
o proveito a
palavra dita em silos
em túneis
a mão corrompe
a imagem a
ausência dita no coração o nome diz o lugar
atravessado pelo
sangue pelo sal a água diz o começo
por onde as
paisagens atravessam
os nomes e são
depois uma delicadeza os mortos
eu vejo-lhes os
rostos vermelhos entre
a água e o calor
eu vejo como o nome atravessa
os séculos para
ser uma pequena coisa acesa
nas mãos para
ser o (tal) gesto tão secular de aplainar água
o debruçado
gesto
de conhecer os
corpos o nome
de atravessar e
de ir por dentro
por onde a
plaina do sol circunscreve os pomares
porque é um
milagre a luz o texto porque
faz o nome o
gesto feito o gesto que selecciona
o proveito e o
pavor a viagem
porque
entre pupila e
pele a cegueira sempre foi um modo de ver
um modo de
desistir de ganhar as colheitas em silos
um modo de
dividir a água em ilhas
de som
um modo de dizer
os nomes dos mortos
por que
dos seus olhos
amo como se faz neles noite o modo como dizem
o som que fazem
quando nas casas
acordam os
filhos no peito quando dizem
nas ladeiras
expostas à inclemência
da luz quando
dizem a inocência por cima
da sombra quando
dizem
o que o deus
diria o nome que selecciona
por dentro do
sangue uma coisa vertical
uma estancada
coisa que atravessa os nomes quando dizem
quando dizem a
voz que diz a voz
o sangue fundo
ladeado
quando dizem
pelo nome que ladeia ouvindo
a lentíssima
floração dos campos de dizer deles que são
a profusão do
sabor dos nomes
de dizer deles
a profusão do
sabor dos nomes de dizer
deles o que a
voz diz para o nome
o proveito
colhido em meio das eiras o fruto colhido sempre
no leito das
imagens o nome sempre intempestivo
a fome que
cresce por dentro da terra
quando dizemos o
nome que tem de ser dito
aquele das
colheitas vertical dentro
do som ladeado
rente ao sangue pela raiz
do rosto do
rosto do rosto
no interior das
casas mudando a feição dos filhos
que repetem o
modo como a água entra
por séculos e
séculos na pedra pelo coração
dos mortos dizem
que repetem
que atravessam a
terra aberta e permanecem
(quando dizem
que são sós como uma melodia
ou uma paisagem
sem lábios)
erguidos sobre
as plainas prontos para a faina
e para o
proveito prontos para o levíssimo estremecimento
do sangue nos
aquíferos nos ataúdes submersos entre
as raízes das
casas prontos para o florescimento
dentro do
mármore erguidos semeados
no pó gerados
pela inocência escarlate
pelo sangue pela
terra sem nome
a ser o sol
movimentando a linfa nos cestos
e os nomes
desses filhos
erguidos do pó
ditos como se fossem
nas eiras em
silos trespassados
pela força única
das paisagens trespassados
pelo mundo sem
nome pelo mundo sem ordem pelo
crime sem dom
pela letra
sem origem ditos
dentro do calor sem margem
no arco dos
portais que o suor dos guerreiros abriu
que perante a
invocação dos salmos permaneceram
fechados selados
a pulso e lacre
porque
o sabor o sal
esse sempre
foi coisa antiga
sempre foi
o que os que se
amam fazem dentro das casas o destino
sem proveito é
isso também que a mão faz quando toca nas coisas
mexe no/em deus
por dentro e faz o modo
como se altera o
rosto de uma mulher que ama
como o daquela
que toco aquela com quem
partilho as
sementes sob o aguaceiro aquela que me dá
depois o lacre a
cânfora o lençol onde germina a água
se lhe toco com
o dedo sobrenatural que toca
a água
e que mexe por
dentro do texto como se fosse
deus no início
como se os portões nunca
se houvessem
fechado como se os frutos não soubessem
que também
lentamente o rosto dos filhos
envelhece sem
idade como se meu fosse
o nome que se dá
a tudo
a lacre e letra
e cânfora lenta selando tudo com a voz
adagado pela
cintura em pátios em lugares
de rios
atravessado tão-só de respirar nas planícies
a letra aberta a
palavra que abre as casas à conjuração
dos nomes e à
sentença
da saudade à
coragem da distância
como se vivesses
quando deposito a água de novo
dividida em
ilhas de som na lavoura
por debaixo das
casas como por dentro
do fogo o sangue
atravessando pilares
erguidos por
cima do chão sob onde
os mortos falam
o nome
de que o sangue
abdica porque dentro
do sangue a
cegueira lunar
do sal a cal faz
depois as paisagens
como se não
houvesse nada por detrás do mundo como se
a cegueira fosse
a neve
tão fria entre
os dedos
e o nome fosse
o sal que
purifica o caminho aquele gesto
de circunscrever
as casas como as florestas
circunscrevem o
fogo porque dentro das casas
o sal purifica o
odor em redor do peito porque tenho
estas duas mãos
que traçam
a altura dos
dilúvios que
desenham depois
sobre a seda o lastro do som
estas que nas
clareiras entendem o fio-de-prumo
em redor do
texto estas que conhecem os homens
estas que
conhecem dos homens o nome mais oculto
estas que nunca
podem tocar o sal
e o mundo
porque depois
sepultados nas salinas os mortos
sorriem melhor e
eu vou por dentro
do seu arbusto
de safira da pele lenta
colho os sinais
não-hermenêuticos depois
ouço a água
correr sobre a pálpebra e é com se
me acendessem as
mãos no coração é como se
dissessem
candeias séculos soterrados
nas praças dentro
do mármore e eu ouvisse
tudo o que não
se pode ouvir é como se eu ouvisse
as imagens a
inocência o fogo o mundo trasladado de lugar
toda a ausência
que entra funda nas coisas
de se querer
como um morto dizer tudo o que os nomes
dizem só para si
mesmos
ou o que os
homens fazem nas casas
rodeadas coisas
lentas abruptas coisas por dentro onde
o odor no
interior cresce do mel
por dentro de
onde o som é mais lento
rente à pele
onde na ampola das mãos as mulheres
fazem o elogio à
violência à cor escarlate do coração
das crianças que
ainda não aprenderam os nomes
que ainda não
sabem que é dentro das casas
como se fosse
nos nomes
que os homens
constroem os lugares que medem
a altura
cardíaca da água que sentem
na seda o amor
que são adagados pela cintura e sonham
as viagens mais
loucas países só conhecidos por odor e nome
países
construídos dentro da pedra países
da cor púrpura
dos olhos
dos profetas
porque desses digo a pureza e o descalabro
o vexame de ter
como eu
entre duas mãos
tenho o sal e mundo
por que
em odres em
silos guardo o que soçobra de uma criança
que aprendeu dos
nomes tão-só
um levíssimo
odor de olhos em delírio
que por letra e
imagem vêem sem lugar no mundo por exemplo
os olhos de
penélope
aquela a quem
toco nos joelhos que beijo aquela
por que vou por
dentro da pedra por dentro do sal
rumo a um
entendimento estritamente mineral
do mundo
amo só (como
quem ama) o gesto
o gesto que
aplaina o som que encontra
a água dentro da
pedra
aquele que te
toca a madeixa semi-rubra vermelha
ao centro do dia
no centro da saia
aquele que
acorda os mortos do seu sono
dentro dos odres
de sal aquele que repete
os nomes como se
fossem uma coisa
pura de dizer no
poema aquela mão que te põe vermelha
dentro da noite
como se não tivesses nome
como se não
tivesse nome o gesto
de te tocar
durante séculos e séculos
o nome de areia
de toda a tua pele o nome
e a lentíssima
pedra de prata
dos teus olhos
sou nada mais que um lugar que beija os teus joelhos