Foi a 28 de março de 1931, na vila raiana alentejana de Campo Maior, que uma família humilde celebrava o nascimento de mais um filho.
À data, certamente poucos acreditariam que este viesse a ser uma pessoa que viesse a marcar a face de Campo Maior e do Alentejo do modo que veio fazer.
Rui Azinhais Nabeiro, uma força do Alentejo e um nome incontornável na sua História, celebra hoje o seu 89ª aniversário.
O seu nome e marca que criou, a Delta, são nomes incontornáveis do Alentejo e do país, e muito se deveu ao sacrifício e esforço deste exemplo português de “self-made man” que nunca esqueceu as raízes e que cresceu e fez crescer sempre fundado num humanismo exemplar. E que, em 1995, levou a que fosse pelo Presidente da República de então, Mário Soares, com o grau de Comendador da Ordem do Mérito Empresarial e que, em 2006, receberia de Jorge Sampaio a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Referiu um dia Rui Nabeiro que "Deus deu-me o suficiente para poder partilhar. Mas o que ele me deu não me pertence, tenho de continuar a trabalhar para dar aos outros. A minha responsabilidade social é enorme". E para quem tudo começou cedo, na escola: “A escola deu-me uma certa vivacidade e um certo querer pela vida.” – disse à revista das Selecções do “Readers Digest”, em 2002.
Como dizia o poeta espanhol António Machado, “el camino se hace caminhando” e assim Rui Nabeiro e o jovem Rui foi trabalhando onde havia trabalho, e ter trabalho era já um privilégio que poucos tinham neste recanto do país. Ainda assim, vendeu peixe, foi pregoeiro entre outras coisas, e na sua mente tinha um só objectivo: ajudar em casa com o que podia.
Aos treze anos, após deixar de trabalhar na mercearia da sua mãe, juntou-se ao pai e ao tio no negócio do café, no entanto, revelou que “Nasci, cresci e vivo para o comércio (…) Hoje tenho a certeza que foi a mercearia da minha mãe que ditou a minha vocação de empresário”.
Tinha 19 anos quando o seu pai faleceu e o levou assumir a direcção da empresa Torrefação Camelo, Lda., à época com instalada em 50 metros quadrados.
Com “passos curtos, mas certos” – apanágio da gestão empresarial de Rui Nabeiro - a empresa sofreu alterações e evoluções na empresa, na década de 70 a nascia a Delta, não sem a existência de dificuldades: “Os primeiros tempos foram difíceis” (…) “A falta de meios próprios para assegurar a cobertura do mercado exigiu muito trabalho, método, disciplina e grandes doses de sentido de oportunidade. Houve momentos decisivos. Momentos em que foi necessário manter a frieza e o sentido prático para garantir o crescimento da Delta”.
Certo é que a marca se consolidou. Onde há um português a marca e o desejo de um café Delta acaba por estar também. A Delta é uma referência em Portugal e Espanha e está presente em mais 35 países. Aliás, e um pouco por onde quer que haja portugueses.
Mesmo em tempo de crise, a Delta continuou a crescer com base na transparência, na gestão de proximidade, na equipa de colaboradores motivada e na rede internacional que se constrói com confiança e que os tornou líderes de mercado na venda de café.
Nas empresas do grupo Delta, trabalham milhares de pessoas, cerca de metade das quais em Campo Maior, ainda hoje a sede do grupo. Rui Nabeiro já explicou parte deste sucesso: “Eu não trabalho para mim, nem quem trabalha para mim trabalha para eles próprios, nós trabalhamos uns para os outros.” O grupo empresarial já vai muito além dos cafés, marcando a diferença também na agricultura, distribuição alimentar e bebidas, ramo imobiliário ou a hotelaria. É já bastante conhecida a marca de vinhos “Adega Mayor”, bem como o seu enoturismo ou o Centro de Ciência do Café.
Há uns anos, em declarações à revista Exame, disse: "Deus deu-me o suficiente para poder partilhar. Mas o que ele me deu não me pertence, tenho de continuar a trabalhar para dar aos outros. A minha responsabilidade social é enorme".
O comendador já revelou por várias vezes outro “segredo” do negócio: “fazer de cada cliente um amigo e de cada amigo um cliente”. Nos negócios como na vida, Rui Nabeiro defende que as pessoas devem saber acarinhar, ser humildes e cultivar a simplicidade.
Esta sua vertente humana é também imagem do Grupo Delta; as suas empresas fazem questão de apoiar associações, colectividades, projectos e outras manifestações sociais que a eles se dirijam em busca de patrocínios e auxílios quer monetários, quer materiais.
Raras empresas se relacionam deste modo com o meio social envolvente. São pequenos gestos e a tentativa de ajudar a todos que fazem da marca Delta e do nome Nabeiro factores distintivos e por quem o povo alentejano nutre um profundo respeito e carinho.
Rui Nabeiro – pela sua personalidade activista e sentido do serviço público - passou também pela política, ainda em pleno Estado Novo, em 1972, assumiu a presidência da Câmara Municipal de Campo Maior, fazendo-o novamente em 1977 – e até 1986 - pela via eleitoral.
Bem no centro de Campo Maior, em 2008, a população campomaiorense e alentejana homenageou-o com uma estátua em bronze.
Rui Nabeiro disse então que essa estátua, erguida pelo povo, era mais significativa que a comenda que lhe havia sido entregue por Mário Soares em 1995.
Na Universidade de Évora foi criada a Cátedra Rui Nabeiro para apoiar a pesquisa, ensino e divulgação na área da Biodiversidade. Esta foi a primeira cátedra em Portugal financiada por privados.
Perante a realidade que construiu e a as homenagens que vem sendo alvo, Rui Nabeiro mantém a simplicidade e humildade, afinal, “Uma pessoa não pode desviar-se de uma conduta equilibrada.” Mantém também a vontade de continuar a fazer "O homem sempre que sonha nunca atinge aquilo que realmente sonhou. Ainda tenho sonhos, sonhos de criar mais. Não fiz tudo o que sonhei."
Para ajudar a este dia de celebração, este ano um pouco diferente em virtude da pandemia Covid-19, em Campo Maior, também o Centro de Ciência do Café (CCC) celebra 6 anos e o Centro Educativo Alice Nabeiro o seu 13º aniversário.
Em nome do Alentejo: obrigado e muitos Parabéns, Comendador Nabeiro!