Pequeno salto em frente
O recente ataque de Ana Gomes aos médicos, ao que parece "reaccionários" quando invocam o Código deontológico na aplicação da lei do aborto, já foi aqui zurzido pelo Jorge Lima. E pelo próprio Bastonário da Ordem na comunicação social, de resto. Não acrescento nada: as palavras da eurodeputada socialista falam por si.
Recordo, porém, que não é a primeira vez que altas figuras do PS nos revelam um peculiar conceito de democracia em tal matéria. Há algumas semanas, também o ministro Correia de Campos convidava os médicos portugueses a serem "mais progressistas e democratas". O convite é tanto mais extraordinário quanto Correia de Campos ocupa a pasta da Saúde, ou seja, tutela politicamente os mesmos profissionais que, na sua "progressista e democrata" opinião, não serão suficientemente "progressistas e democratas" .
Na China do camarada Mao, chamava-se a isto reeducação dos intelectuais.
"RECONCEPTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL EMANCIPATÓRIA"
Quando tudo se torna claro...
Os militantes do Sim tentaram, tentaram, mas não conseguiram.
Eles disseram que o aborto era um mal e que apenas pretendiam evitar que as mulheres fossem estigmatizadas.
Por diversas vezes, tentámos contraditá-los, evidenciando o erro da chamada à colação da ideia de liberdade – cujo exercício já se tinha esgotado a montante –, e procurando que nos explicassem como se posicionariam diante de uma mulher que, porque descobre tardiamente a gravidez, aborta depois das 10 semanas. Nunca quiseram responder. Quantas vezes preferiram o ataque rasteiro ao ensaio do esclarecimento.
Até hoje. Em que, sem pejo ou pudor, mostram abertamente o que lhes vai na alma. Vêem o aborto como um direito e, alicerçando-se nele, procuram a transformação social das relações de poder.
É grave. Muito grave que assim seja.
Grave porque se percebe claramente o intuito ilusório do politicamente correcto com que nos têm inundado e com o qual procuram enganar o eleitorado.
Grave porque não é o escopo humanitário que os ilumina, mas, outrossim, a procura sub-reptícia do aniquilamento, não só dos embriões, mas da estrutura civilizacional de que somos herdeiros directos.
O aborto é um meio para alcançar um fim maior. Não sou eu que o digo, mas uma militante do BE.
E, nessa quimera, a instrumentalização da pessoa humana não conhece limites.
Seja a pessoa humana o embrião, relegado ao papel de simples coisa, sobre a qual podemos pôr e dispor.
Seja a pessoa humana a mulher que, (mal) convencida do reconhecimento da sua liberdade, é transmutada em objecto para ficar refém da perda de dignidade em que mergulha. Sim, perda de dignidade, porque esta só existe na assunção plena da responsabilidade inerente a qualquer acto livre. E se a mulher, livremente, se autodetermina sexualmente, o escape pretendido para aquela só pode ser encarado como uma menorização da sua pessoalidade. Se a acção da mulher deve ser reconhecida como acção responsável, nas palavras de Andreia Peniche, isso significa que ela terá de levar a sua gravidez até ao fim, pelo que, quando instados a responder à questão levada a referendo, devemos estar conscientes que não se opõe ao elementar direito do embrião à vida qualquer direito da mulher, mas apenas um dever dela.
Seja a pessoa humana o homem-pai que, arredado de qualquer decisão, segundo este entendimento tão progressistamente primário, é confinado ao papel de macho-cobridor o que, a um tempo, o impede de salvar uma vida para cuja gestação contribuiu e legitima o abandono das mulheres que, emancipadas (?), se transformam em puros objectos de prazer diante dele.
Tudo isto é grave.
E porque conheço muitos votantes do sim cujas intenções são as melhores, pedia-lhes que ponderassem em tudo isto. O engodo não pode triunfar.
É em nome da dignidade da mãe, do filho e do pai que todos devemos votar NÃO.
Escalada da demência
Ana Gomes ataca Hipócrates
Vemos, ouvimos e lemos, e só podemos não acreditar. A Dra. Ana Gomes (não confundir com aquela embaixadora heróica que tanto fez pela independência de Timor), lança-se aos médicos como gato a bofe. Segundo ela, o seu (deles) código deontológico está errado, pode ser inconstitucional, e tem de ser alterado. Até me parece que chamou hipócrita ao Hipócrates, mas isso já devo ser eu a sonhar. É melhor não comentar mais. Leiam. Especialmente vós, os homens e mulheres de boa vontade que ainda não decidiram, mas não se sentem totalmente bem com a forma como nos querem obrigar a comungar das suas teses supostamente vanguardistas, mas afinal profundamente conservadoras, estes iluminados maoísto-trotsquistas da N-ésima Internacional.
PS: é claro que a senhora levou sopa do Bastonário...
Palavras para quê?
TODOS DIFERENTES ... A MESMA RESPOSTA!
1 TO 1?
É como quem diz (aliás, o Daniel Oliveira disse-o mesmo, no debate da Rádio Europa e em comentários aqui no BdN): uma lei mais permissiva sobre o aborto conduzirá a um menor número de abortos.
É como quem estabelece uma relação causa-consequência: liberalização, logo, menos abortos.
Isto de reduzir o assunto a uma relação de “1para1”, é um bocado de menos...
Assim de repente, lembro-me de mais de uma dúzia de factores de enquadramento que, efectivamente, levam aqueles países a apresentarem menos abortos. E, olhem que surpresa, a extensão da lei sobre o aborto não é um deles!
Será que nos tais países não há uma relação “muitos para 1”?
Do tipo: mais apoio social e económico, mais acesso a informação sobre contracepção, mais planeamento familiar, menos cultura do imediatismo, da desresponsabilização e da mediocridade (...), logo, menos abortos.
EXTRAORDINÁRIO
DÚVIDA
Sem Palavras
A queda das falácias do sim...
Ora, explique-nos, então, caro Daniel, por que razão não defende? Admite que em causa está um ser humano diferente da mãe, portador de uma ineliminável dignidade que urge tutelar? E se sim, porque permitir que até às 10 semanas ele fique totalmente desprotegido? E já que lhe causa estranheza a liberalização do aborto depois das 10 semanas, por que razão, por diversas vezes, o partido em que milita hasteou bandeiras e cartazes a dizer “Na minha barriga mando eu” à porta de tribunais onde estavam a ser julgadas mulheres que tinham praticado abortos muito depois das dez semanas?
E acrescenta, dirigindo-se, novamente ao Rui, “Disse que não me verá defender a prisão de mulheres depois das dez semanas. Sendo advogado, sabe que não se trata da mesma coisa”. Pois, o Rui sabe, nós sabemos e o Daniel também sabe. Consegue, então, explicar-me porque é que os defensores do sim não conseguem ver essa mesma diferença até às 10 semanas e continuam a difundir a falácia do instinto persecutório dos defensores do não?
Impressão minha ou a fragilidade dos argumentos do sim começa a dar sinais de vida?
Justiça?
Para além da presença de Norma McCorvey (aka Jane Roe do famoso caso Roe vs Wade), tivemos oportunidade de ouvir o testemunho de diversas mulheres americanas que após a liberalização decidiram abortar, em certos casos várias vezes, e que depois se arrependeram amargamente dessa decisão. Tivemos também oportunidade de ouvir as conclusões que se retiram de 33 anos de liberalização nos Estados Unidos com 47 milhões de abortos e dos testemunhos recolhidos de mais de 2000 mulheres que abortaram. Resumindo, podemos dizer que a mensagem principal foi "Não comentam o mesmo erro que os Estados Unidos cometeram. A liberalização é uma caixa de Pandora que uma vez aberta é muito difícil de fechar e traz consequências muito graves".
Houve diversos testemunhos e dados muito interessantes mas para já iria apenas destacar os seguintes:
- As mulheres que testemunharam disseram claramente que, no seu caso, se não fosse legal nem sequer tinham equacionado o aborto, mas que sendo legal acharam que devia ser natural. O pensamento foi "se é legal é porque deve ser absolutamente seguro e não deve ter nada de moralmente errado". Mais tarde perceberam que tinham morto o seu próprio filho e tiveram imensa dificuldade em viver com essa realidade. O aborto transformou-se num pesadelo que mudou completamente as suas vidas. Aperceberam-se também que o facto de ser legal não torna o aborto um processo mais seguro (e estamos a falar do sistema de saúde dos Estados Unidos - vamos ver em Portugal...). É por estas razões que o aborto aumenta significativamente nos países que legalizam o aborto. Passa-se a assumir que já alguém pensou no assunto e não deve ter nada de errado. O aborto deixa de ser uma situação de excepção para se tornar efectivamente um método contraceptivo com custos muito mais elevados do que qualquer outro método e com consequências psicológicas graves.
- O facto de ser legal leva também a uma muito maior pressão da sociedade para abortar. O namorado que não quer ter chatices; a mãe que não quer passar a vergonha ou o patrão que não está para ter custos acrescidos facilmente pressionam a grávida a que aborte, numa situação em que está particularmente vulnerável. 60% dos milhares de testemunhos recolhidos pela Justice Foundation mostram que houve pressão externa para realizar o aborto.
- A experiência dos Estados Unidos mostra ainda que uma vez legalizado o aborto, não há qualquer argumento que justifique que se tem que parar às 10 semanas. Não há qualquer diferença entre as 10 semanas e as 20 ou as 40. É por isso que se chegou à situação de milhares de abortos legais nos Estados Unidos a serem realizados pelo método de "Aborto com Nascimento Parcial", que pode ser realizado até com 8 ou 9 meses de gravidez e consiste em fazer nascer parcialmente o bebé, esmagar-lhe o crâneo e depois terminar o nascimento já com o bebé morto. Alguém acha isto normal?!
Vale a pena olhar para esta experiência dos supostos "países avançados" e ser capaz de ter uma atitude diferente.
Uma segunda tentativa para obter o resultado "correcto"
There is little doubt that the Portuguese should be prepared for the same sort of brainwashing that other countries experienced before the referendums on joining the EU or the referendums on the EU constitution. Portugal’s own government and all sorts of EU institutions are subsidizing the pro-abortion campaign in order to obtain the desired result. Government officials tell the people that they have to fall in line with the rest of Europe.(via O Insurgente)
But worst of all, if the people again vote the wrong way, one can be sure that their answer will not be accepted and in a few years’ time they will have to vote again. Just as the Danes had to vote over and over again until they approved the Maastricht Treaty, just as the Irish had to vote over and over again until they voted “yes” to the Nice Treaty, just as the Dutch and French will have to vote again on the EU Constitution until they vote the way the politicians want, so will the Portuguese have to vote until they approve abortion. Once they do this, however, the voting is over and the people will not be allowed to change their minds. European democracy in the beginning of the 21st century can be summed up as follows: if for some reason the voters do not vote the way they are expected to vote, the results are simply dismissed. Never before have democracy and tyranny looked so alike.
MÁ FÉ
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"O caso é revelador de uma agenda secreta dos movimentos que em Portugal também defendem a prisão das mulheres que abortaram. Para estes movimentos, a lei actual - que admite a excepção para a mulher que tenha sido violada, entre outras situações - deve ser alterada e também neste caso a mulher deve ser sujeita à pena de 3 anos de prisão. Estes movimentos não admitem o aborto em qualquer caso, a coberto do argumento da "vida". E foi isso que os seus aliados extremistas vieram repetir, como o fazem nos Estados Unidos. Por isso, o voto "não" é, para quem defende a prisão das mulheres, um voto que procura igualmente acabar com as excepções que a lei actual já permite."
Ora, além de profundamente doentio, este texto revela bem a seriedade com que o BE e, pelos vistos, o Daniel Oliveira pretende debater o tema do aborto. Com efeito, a afirmação de que há uma agenda secreta dos movimentos que em Portugal defendem o NÃO e de que estes pretendem acabar com as excepções que a actual lei já permite, para além de falsa, coloca o debate ao nível de um radicalismo bloquista insuportável, pouco consentâneo com as mais elementares regras de discussão democrática.
CRIME E CASTIGO
O grande desafio que se coloca aos defensores do "Não"
Estes dados divulgados pela plataforma Não Obrigada evidenciam claramente que a grande batalha dos defensores do "Não" no referendo de 11 de Fevereiro é esclarecer a opinião pública sobre o que está realmente em causa: a liberalização total e subsidiação do aborto até às 10 semanas.
Uma tarefa árdua dada a intoxicação sistemática da opinião pública que vem sendo levada a cabo meticulosamente a vários níveis ao longo dos últimos anos, mas não uma missão impossível. Uma vez esclarecidas e confrontadas com a realidade do que se propõe no referendo, estou convicto que a esmagadora maioria das pessoas votará "Não". O grande desafio é mesmo esse esclarecimento num ambiente mediático (e não só) claramente enviesado a favor do "Sim".
Independentemente de qual venha a ser o resultado do referendo (no qual mantenho a esperança de que o "Não" e o direito à vida prevaleçam), um ensinamento que deve ser retirado é que processos de intensa propaganda e intoxicação da opinião pública como o que sustenta em boa parte (salvo honrosas excepções) a causa do "Sim" têm de ser energicamente combatidos em todas as suas manifestações e de forma permanente e não apenas quando os seus frutos envenenados nos caem em cima.
NÃO OBRIGADA (3)
NÃO OBRIGADA (2)
NÃO OBRIGADA
O Aborto Dá Votos?
Não sou eu quem o diz: parece evidente a muitos que um referendo sobre o aborto caiu que nem ginjas para lançar uma cortina de fumo sobre medidas impopulares (e provavelmente mal articuladas, mas isso são outros quinhentos mérreis) deste governo. Especialmente quando as sondagens parecem animadoras para o Sim, federar a esquerda parece ser politicamente rendível. Or is it?
Em Espanha, onde (também não sou só eu que o digo...) Zapatero deve a sua vitória à inépcia de Aznar a gerir o 11 de Março, as sondagens parece estarem a correr mal ao Partido Zapatista, perdão Zapaterista. Mas alguém pensava que Zapatero foi lá posto pelo povo das questões fracturantes, os Louzanas de lá? Ou apesar deles? E como reagirá o eleitorado espanhol aos desmandos abortivos, que têm ocorrido, e ultrapassado até as leis «progressistas» que o PSOE tem aprovado (como se tem documentado amplamente neste blogue). Quanto a mim, até os Holandeses vão acordar um dia e cansar-se de estarem tão à frente em questões que fazem o ser humano andar para trás. Quanto mais os Espanhóis. Quanto mais os Portugueses. Não me espantava nada que nuestros hermanos, da próxima vez que forem às urnas, tenham em conta, ao votar, o ataque à vida que tem sido empreendido pelo PSOE. E que nós, dia 11 de Fevereiro, façamos o mesmo em relação ao ataque à vida que o PS anuncia.
P.S.: Não sendo eu bispo católico, espero que não levem a mal este meu subreptício, moralista e reaccionário apelo ao voto...
Cabem todos num quarto
LAMENTOS
CERTEZAS (3)
O Aborto É Um Espectáculo
Não sendo masoquista, não vejo muita televisão ultimamente. Mas dada a mediocridade pimbalhística extrema dos nossos canais, e a sua uniformização infra, basta fazer um rápido zapping para ter a noção do todo. E uma noção que se tem de imediato é que os seus actores, lactu sensu, isto é, actores de telepornovelas, cantores, apresentadores, modelos, escritores light, patetopsicólogos, astrólogos e bruxos, futebolistas e futebolólogos, são, como se diz agora, todos unânimes em escarrapachar na opinião pública a sua generosa e intelectualmente avançada posição de pró-abortistas, para que não haja «nem mais uma mulher julgada, bla bla bla». Assim de repente, só me lembro vagamente de dois jovens actores que, julgo, e mesmo assim não tenho a certeza, se manifestaram contra o aborto. E nem do nome deles me lembro.
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Cada um é que sabe, direis vós. Unanimidade estranha, direi eu. A última vez que vi tamanha concordância foi na tropa. E não consigo deixar de pensar nas outras unanimidades do mundo do espectáculo, originadas, dizem os próprios em raros ataques de candura, pela exiguidade do mercado, e consequente dificuldade em arranjar emprego quando não se segue os cânones.
Antes de me cairem em cima, vejam 5 minutos, vá lá, 4, pronto, 3 chegam perfeitamente, ou até 2, 1 minuto e não se fala mais nisso, dos 4 canais. E desculpem qualquer coisinha. É que, no tempo em que via televisão, e apanhava com o Reverendo Louçã e o Acólito Sousa Pinto a perorar a cada novo «caso», fiquei viciado em questões fracturantes.
CERTEZAS (2)
CERTEZAS
PLATAFORMA DO NÃO
BLOGUE DO SIM
A bem da justa transparência
CONTOS DA LOUCURA NORMAL
Vida de cão
Há dias, no intervalo entre dois desenhos animados, vi na televisão uma campanha contra o abandono de animais de estimação. Uma causa nobre, acrescento. Parece que os portugueses têm o hábito de deixar os seus cães e gatos na rua quando vão de férias. A campanha, simples mas eficaz, alertava para essa curiosa mania através de várias entrevistas indignadas, sobretudo a jovens. Um rapaz dizia que "as pessoas que abandonam os seus animais mereciam ser também abandonadas, para ver se gostam". Outro limitava-se a sugerir que "se não querem ficar com eles, não os comprem". Outro ainda acrescentava "os animais não são humanos, mas têm vida".
Foi esta frase que me fez levantar a cabeça das mil e uma peças do action-man do meu filho. Esqueci o action-man. Havia ali qualquer coisa que não batia certo, apesar da absoluta correcção científica e gramatical. Repeti a frase interiormente. De repente, fez-se-me luz. Miguel Oliveira e Silva, no já distante Prós e Contras sobre a matéria, usara um raciocínio muito semelhante para justificar o aborto até às dez semanas: poder-se-ia abortar porque há vida humana, mas não há pessoa humana.
Dei por mim a pensar na ironia de tudo isto... O mesmo tipo de lógica que serve para condenar o abandono de animais (não são humanos mas têm vida, logo têm direitos), serve para defender o aborto de seres humanos (têm vida mas não são pessoas, logo não têm direitos). Porquê? Terá uma vida não humana mais direito a ser acolhida do que uma vida humana que não é ainda uma pessoa, seja lá o que isso for?
A campanha dos bichanos acabou por me meter medo. Medo de uma sociedade onde a vida de um cão vale mais do que a de um homem.