O dia acordou lindo, radiante, vestido de domingo, mas meus olhos amanheceram úmidos de lágrimas, o coração com necessidade urgente de dizer "eu te amo", porque o amanhã talvez se esqueça de acontecer. O porquê dessa melancolia não é único, mas tem a ver com o tempo, que implacavelmente vai fazendo estragos em nossa memória.
Ontem visitei minha mãe, ainda bela, apesar de seus 84 anos de alegrias e dores. Em certo momento, olhava fixamente para meu marido e disse para minha irmã que não conseguia mais lembrar com quem ele era casado. Precisei recontar minha história e vieram muitas perguntas: quantos filhos eu tenho, como se chamam, se estão crescidos, onde moram, o que fazem. Mas as perguntas se repetiam, como se em questão de segundos, a memória deletasse tudo. Também ficou admirada e orgulhosa quando disse que sou professora, quis saber detalhes. Onde estarão suas lembranças daqueles dias em que rezava silenciosamente, com o coração apertado, enquanto longe de casa eu estudava e me preparava para ser uma educadora? Até quando eu a terei ou ela me terá, eu não sei. Mas sei que enquanto ainda é possível, é preciso dizer "eu te amo, mãe, e sou grata pelo maior presente que ganhei de ti: a vida. Quando a memória te trair de vez, guarda esse meu amor no teu coração".
Muitos de nós, que temos sã consciência, também parece que perdemos a memória de fatos recentes e continuamos agindo sempre da mesma maneira, sem aprender com os erros que cometemos. Quando vejo as imagens dos horrores ocorrendo no Japão, penso que a humanidade está perigosamente se acostumando com as tragédias naturais. Até quando estaremos a salvo, até quando isso só acontece com os outros? Até quando esperaremos para mudar os nossos pequenos hábitos consumistas? Jaques Delors, definiu os quatro princípios para a educação no século XXI e um deles, em especial, eu destaco. "Saber fazer"! Ou seja, "saber e fazer". Não adianta nada o primeiro, sem o segundo. Até quando nas escolas se desvinculará a teoria da prática?
É urgente! É pra hoje! É preciso dar-se conta de que o amanhã é incerto. Só hoje podemos dizer eu te amo às pessoas que estão do nosso lado, ao nosso bicho de estimação, às flores do nosso jardim, ao rio que agoniza. CARPE DIEM !