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13 março 2011

Amar; tempo: presente

O dia acordou lindo, radiante, vestido de domingo, mas meus olhos amanheceram úmidos de lágrimas, o coração com necessidade urgente de dizer "eu te amo", porque o amanhã talvez se esqueça de acontecer. O porquê dessa melancolia não é único, mas tem a ver com o tempo, que implacavelmente vai fazendo estragos em nossa memória.
Ontem visitei minha mãe, ainda bela, apesar de seus 84 anos de alegrias e dores. Em certo momento, olhava fixamente para meu marido e disse para minha irmã que não conseguia mais lembrar com quem ele era casado. Precisei recontar minha história e vieram muitas perguntas: quantos filhos eu tenho,  como se chamam, se estão crescidos, onde moram, o que fazem. Mas as perguntas se repetiam, como se em questão de segundos, a memória deletasse tudo. Também ficou admirada e orgulhosa quando disse que sou professora, quis saber detalhes. Onde estarão suas lembranças daqueles dias em que rezava silenciosamente, com o coração apertado, enquanto longe de casa eu  estudava e me preparava para ser uma educadora? Até quando eu a terei ou ela me terá, eu não sei. Mas sei que enquanto ainda é possível, é preciso dizer "eu te amo, mãe, e sou grata pelo maior presente que ganhei de ti: a vida. Quando  a memória  te trair de vez, guarda esse  meu amor no teu coração".
Muitos de nós, que temos sã consciência, também parece que perdemos a memória de fatos recentes e continuamos agindo sempre da mesma maneira, sem aprender com os erros que cometemos. Quando vejo as imagens dos horrores ocorrendo no Japão, penso que a humanidade está perigosamente se acostumando com as tragédias naturais. Até quando estaremos a salvo, até quando isso só acontece com os outros? Até quando esperaremos para mudar os nossos pequenos hábitos consumistas? Jaques Delors, definiu os quatro princípios para a educação no século XXI e um deles, em especial, eu destaco. "Saber fazer"! Ou seja, "saber e fazer". Não adianta nada o primeiro, sem o segundo. Até quando nas escolas se desvinculará a teoria da prática?
É urgente! É pra hoje! É preciso dar-se conta de que o amanhã é incerto. Só hoje podemos dizer eu te amo  às pessoas que estão do nosso lado, ao nosso bicho de estimação, às flores do nosso jardim, ao rio que agoniza. CARPE DIEM !

04 outubro 2009

Crônica

Recebi por email e reproduzo aqui, porque acho que vem a calhar essa reflexão. Ando um pouco fragilizada por alguns problemas de saúde, por outras coisitas, mas a vida é assim mesmo. Nem sempre tudo são flores e saber conviver com as incertezas "faz parte". Espero que essa crônica ajude você, que está me lendo, a viver um pouco melhor.


Os quatro fantasmas

Martha Medeiros

Leiga, totalmente leiga em psicanálise, é o que sou. Mas interessada como se dela dependesse minha sobrevivência. Para saciar essa minha curiosidade, costumo ler alguns livros sobre o assunto, e outro dia, envolvida por um texto instigante, me deparei com as quatro principais questões que assombram nossas vidas e que determinam nossa sanidade mental. São elas:
1 - Sabemos que vamos morrer.
2 - Somos livres para viver como desejamos.
3 - Nossa solidão é intrínseca.
4 - A vida não tem sentido.
Basicamente, isso. Nossas maiores angústias de dificuldades advêm da maneira como lidamos com nossa finitude, com nossa liberdade, com nossa solidão e com a gratuidade da vida. Sábio é aquele que, diante dessas quatro verdades, não se desespera.
Realmente, não são questões fáceis. A consciência de que vamos morrer talvez seja a mais desestabilizadora, mas costumamos pensar nisso apenas quando há uma ameaça concreta: o diagnóstico de uma doença ou o avanço da idade.
As outras perturbações são mais corriqueiras. Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca a responsabilidade em nossas mãos.
A solidão assusta, mas sabemos que há como conviver com ela: basta que a gente dê conteúdo à nossa existência, que tenhamos uma vontade incessante de aprender, de saber, de se autoconhecer.
Quanto à gratuidade da vida, alguns resolvem com religião, outros com bom humor e humildade. O que estamos fazendo aqui? Estamos todos de passagem. Por tanto, não aborreça os outro e nem a sim próprio, trate de fazer o bem e de se divertir, que já é um grande projeto pessoal.
Volto a destacar: bom humor e humildade são essenciais para ficarmos em paz. Os arrogantes são os que menos conseguem conviver com a finitude, com a liberdade, com a solidão e com a falta de sentido da vida. Eles se julgam imortais, eles querem ditar as regras para os outros, eles recusam o silêncio e não vivem sem aplausos e holofotes, dos quais são patéticos dependentes. A arrogância e a falta de humor conduzem muita gente a um sofrimento que poderia ser bastante minimizado: bastaria que eles tivessem mais tolerância diante das incertezas.
Tudo é incerto, a começar pelo dia e a hora da nossa morte. Incerto é nosso destino, pois, por mais que façamos escolhas, elas só se mostrarão acertadas ou desastrosas lá adiante, na hora do balanço final. Incertos são nossos amores, e por isso é tão importante sentir-se bem mesmo estando só. Enfim, incerta á a vida e tudo que ela comporta. Somos aprendizes, somos novatos, mas beneficiários de uma dádiva: nascemos. Tivemos a chance de existir. De nos relacionar. De fazer tentativas. O sentido disso tudo? Fazer parte. Simplesmente fazer parte.