30 de dezembro de 2014

Amanhã é o último dia desse ano. Depois de amanhã muda o mês e o ano e as coisas e pessoas permanecem do mesmo jeito, ou não.
Não é o que fazemos entre os dias 31 de dezembro e 01 de janeiro que muda nossas vidas é o que fazemos entre os dias 01 de janeiro e 31 de dezembro. Não é o que desejamos e prometemos é o que fazemos a cada dia, cada escolha, renúncia, o que fazemos com o que não fizemos, com o que o destino faz.
Dieta pesada, perder tantos quilos, academia como tábua de salvação ou só cortar pão da alimentação,só não beber mais cervejae nada alcoólico, só não tomar mais refrigerante para começar.
Andar na orla e aproveitar para conversar sem digitar.
Ser mais gentil, fazer alguma ação social ou várias, mudar o status de relacionamento, experimentar novos sabores, ir a lugares diferentes do mundo ou da sua cidade.
Tudo ao alcance e o que as vezes só depende de nós para estar ao alcance todo dia, a cada mês do ano. Mais um dia é o dia que um ano acaba e o dia que um novo ano começa. Todo ano tem 365 dias e cada um bem podia dividir toda a energia, simpatias, euforia por eles. Por que a vida por mais longa que seja, é rápida.

22 de dezembro de 2014

Ho Ho Ho

Não vou ficar aqui pregando no deserto, embora eu esteja em Salvador, neva por aqui, neva em todo o mundo e não quero ficar resfriada com nariz de rena. Gosto de palco, desde pequena, escrever para ficar aqui no relento meus escritinhos não é comigo não.
A época não é de leituras pausadas, nem de visitas virtuais, o mundo real natalino é cheio de demandas caseiras, fraternais, sociais. Tem quem esteja organizando e indo a shows e bares em plena noite de Natal, prefiro não dar cartaz. Tem quem viria aqui ler e tal, mas vou fazer que nem um canal infantil da tv paga fez certa vez no dia das crianças, suspendeu a programação e colocou a mensagem na tela por todo o dia: vá brincar!
Vou brincar, relembrar Natais passados, ver fotos, planejar futuros, ver a decoração da cidade mais um pouquinho (marido outro dia me levou de carro pelas ruas só para isso, como fazíamos antes quando novos, como fizemos com nosso filho e esse ano fizemos romanticamente sozinhos e adorei). Vou ficar atenta e entrar no clima, ver filmes, comer coisinhas típicas, preparar os enfeites e ingredientes da ceia, contemplar minha árvore, papear com os personagens do presépio, passar uma semana mais calma e reflexiva, ficar atenta ao som dos guizos, deixar o leite com biscoitos para o Noel e semana que vem eu posto. Feliz Natal! Sem ilustração e de coração.

19 de dezembro de 2014

Para realizar

Imagem da web
Vi na tv dia desses uma senhora que desejava ver o mar. Cem anos e o desejo realizado com direito a pisar na areia e ondas nos pés. Quem realizou o sonho dela é o que mais gostei da história, foi uma organização sem fins lucrativos que realiza sonhos de idosos. Super!
Sexta-feira, dia de todos os santos, de vestir branco, dia de fé e tradições na Bahia. Dezembro mês de magia, de vermelho paixão, amor, de verde esperança em um mundo melhor, de partilha, de fazer o bem, de realizar sonhos. Divulgando meu desejo colorido de mais grupos, pessoas, de ser viral, tradição realizar sonhos de pessoas idosas, valorizar as pessoas mais velhas, pessoas com limitações físicas, financeiras, de dar carinho, afeto, lições de partilha e simplicidades a pobres crianças e adultos ricos. De fazer o bem, pouco que para muitos é muito. Muito que para muitos é quase nada.
Que fazer o bem seja circular como guirlandas, que esteja na nossa porta de entrada de todos os dias, independente do Natal, de datas pontuais, que seja feita de retalhos de nossas vidas e vidas comuns as nossa ou não, próximas ou distantes. A cada instante podemos fazer alguém feliz, juntos podemos sempre mais, sempre podemos sempre mais.

18 de dezembro de 2014

Doces registros

Chupar cana e assoviar não é para qualquer um, ditado antigo, como antiga é a visão de moços com cestos de vime e buquês de cana cortadinha em rodelas dentro, certo era ter um nas imediações da filial da Padaria de meus tios e dindo, onde meus pais também já tiveram padaria, onde eu ia na infância passear nos finais de semana, catar folhinhas e fazer comidinha na praça, sem medo de violência, de bactérias, sem pressa, sem preço.
Na minha ida a Mucugê fiz o clássico lanche de feira: pastel com caldo de cana, aproveitei e experimentei o caldo com limão, gostei tanto que tomei dois copos. Tomava com meu marido, namorado na época, perto do bar onde ele trabalhou para o tio por muito tempo, quando íamos na praia, caldo de cana com suco de abacaxi. Delícia! Por aqui não há mais muitos carrinhos ou bancas pelas ruas. A cana em rodelas e buquê, não vejo em lugar nenhum, talvez por conta da tal doença do barbeiro, falta de cuidado dos governos e da população de manter as tradições e culturas populares vivas e circulantes, excesso de frescuras ou sei lá mais o que.
Um brinde de caldo de cana a preservação das tradições culinárias, populares, sotaques, artesanato e a adaptação a novos gostos, tradições!
Um brinde extra a criatividade! Essa vasilhinha da fotografia circulava pela barraca, era saladinha para colocar dentro do pastel. Nunca tinha visto! Preciso dizer que achei muito legal? 
Legal e pontual também era o cumprimento do moço da barraca, acompanhando de sua filha que recebia o pagamento e passava o troco, pequena ela. Trabalho infantil? Não! Não vejo assim, não vi assim. Proseei com ela, menina que brinca, estuda e que ajuda o pai, por gosto, por necessidade, por amor. A todos que chegavam, ele cumprimentava, conversava, sem parar um instante de fritar, servir, perguntar o que cada um queria, receptivo e cortês e a todos sem distinção, dava o recado ao entregar o pastel: cuidado que está quente. Quantos comem sempre o pastel ali naquela banquinha e ele sempre tem o cuidado de avisar. Gentileza! Profissionalismo de feirante, de gente educada, gente que muda o mundo, mudaria se fosse colocado nos holofotes essas pequenezas. E que não mudem, fazem o dia-a-dia de quem os cerca um mundo melhor.

12 de dezembro de 2014

Pouso

  





Pousando aqui em plena sexta-feira
Após já ter chegado a alguns dias
E estar colocando ordem na casa, nas coisas
Descansado do cansaço das férias
De subir o Cruzeirão
Esse morro de pedras das fotos acima
De fazer trilha
Com saudade de escrever
De plantar e colher por aqui

4 de dezembro de 2014

Vôo e pausa

Imagem de Less is More by Pinterest

Vou ali, em Andaraí
Espairecer, em Mucugê
Com rima e colo da Tia Nélia
Não, não vou de avião
É de ônibus mesmo ida e vinda
Mas linda achei essa imagem
Me lembrou o avião do Pequeno Príncipe
Vai ser vôo de passarinha
De passarinhices
Venho aqui se sobrar tempo
Se não me perder sentindo com o vento
Tirando fotos a toa
Tomando banho de rio
Comendo fruta do pé
Eita pausa boa!
Prometo resenho depois
Poetizo e cronicalizo
Recheada sei que vou ficar
E agradecida por quem por aqui passar
Por hábito, gosto
Para como de costume ou de primeira vez prozear
Mas carece muito esperar não, volto rapidinho
É só um pulinho
Um banhinho de cachoeira pela primeira vez
Coisa pouca e muita

1 de dezembro de 2014

Nós pessoas

 
Ilustração de Dawanda
Recortes de palavras do Padre Fábio de Melo, a quem sempre ouço, leio e que me faz refletir, semeiam, adubam, me arejam em momentos bons e ruins. Que falam as vezes de mim, para mim e por mim.
“Pessoa, no contexto grego, significa a máscara que o ator usava para interpretar no teatro. Eu tenho que ser eu. Uma pessoa só pode ser pessoa, se ela é dona de si. Nós temos que tomar posse do que somos. Quantas coisas você possui e ainda não tomou posse?
O amor é a capacidade de descobrir no outro o que ele ainda não viu que tem. É como se você tivesse uma grande propriedade e não tivesse a capacidade de andar por ela para demarcá-la, e não a conhece na totalidade. Mas aos poucos vai sendo dono daquilo que já é seu.
Ser pessoa é ser dono de você mesmo, e saber lidar com seu jeito de ser, de amar, de sentir, de pensar, de ter suas limitações e saber o que você pode. Quantas vezes você se dispôs a ser o que não era, dizendo 'sim' onde era para dizer 'não'? Você não teve consciência do que não podia. 
As pessoas que vivem preocupadas com as novelas da vida se desgastam com pessoas que nem conhecem. Não é fácil compreender o território humano. Se investigar e conhecer o 'porquê' de algumas reações, o 'porquê' aquela raiva foi tão grande naquela hora, o 'porquê' eu explodi com aquela pessoa...Deveríamos estar com placas dizendo: 'Estamos em obra, cuidado!"
Desbravemos dezembro, com descobertas nossas e a nossa volta, obras, reformas, mudanças, cuidemos dos jardins, arrancando ervas daninhas, contemplando as borboletas, assobiando para os passarinhos, convivendo com as imperfeições alheias e as nossas, como parte do que somos, do que os outros são e não são, amando o outro com suas limitações e sendo assim amado também. Com o suporte da fé e as bênçãos do menino Jesus. Amém!

29 de novembro de 2014

Um dia em Paris

Não que um dia baste, pois desejo ver a torre não só de longe, nem só de perto, sentar e tomar café com doçuras de onde possa ficar contemplando e quem sabe me ocorra uma poesia. Parentese para que, comer faz parte de muitos dos meus planos mundo a fora, os doces e pratos famosinhos e prosaicos, muitos itens que um dia só, nem comendo de três em três horas eu conseguiria em muitos lugares. Na Itália e em Portugal por exemplo eu teria que passar um mês...risos.
Quero além do momento Torre Eiffel, andar por lá de noite e de dia, andar de bicicleta, ir nos pontos turísticos e nos locais que andam os locais, andarilhar, fotografar. Conhecer e consumir o glam e o cult do lugar. 
Tenho dito em momentos de crise e nuvens negras uma frase que li por ai e adorei: Ainda vou rir disso tudo em Paris. E eis que na programação da tv aberta, nos idos de uma madrugada sem sono e sem companhia, o filme da vez foi: Meia noite em Paris.
Amei é o que posso dizer em uma palavra e sorri daqui como se lá estivesse. O ator principal, ser o mesmo de Marley e Eu ajudou, sou fã dele e quando gosto de um ator ele pode até fazer papel de malvadão que acho o máximo. Na mesma linha, quando não gosto, pode ser um príncipe que não rola sentimento.
Recomendo o filme e inclui a meus desejos num só dia que pise na Cidade luz ou em muitos que venha a passar por lá: na chuva caminhar. Me identifiquei com o papel de escritor e com a certeza de não ser dessa época, década, de estar no filme ou no livro errado, mas: é onde estou, é o que temos para hoje, ce est la vie.

28 de novembro de 2014

Parabéns atrasado

Imagem da web

Atrasada não como o coelho de Alice, para nada, atrasada mesmo e avisada ontem em tempo, mas sem tempo, pela amiga Ana Paula, que era o aniversário de uma amiga em comum entre nós duas e  entre muitas das pessoas que seguem meu blog e muitas pessoas blogosfera afora e adentro. Até aqui em casa ela é conhecida, chamada pelo nome, íntima.
Vou pegar as palavras cheias de sentimentos e sentidos de Ana Jácomo, que seguem entre aspas, para dizer o tipo de pessoa que a aniversariante de ontem é, dessas raras, que “ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.”
Lugar comum na idade avançada, que não é o meu caso (cof cof) nem o da aniversariante, datas de aniversários e de compromissos passarem não por desleixo ou desamor, mas por diversos desalinhos. A tal da agenda de papel ainda é  usada por mim, mas sem anotar os aniversários sei lá por que (na verdade sei, preguiça de anotar tudo igual todo ano, se o fizesse de tanto passar a limpo já teria memorizado). Os aniversários de amigos e familiares (muitos sei de cabeça) e outros não e juntos estavam aos dos muitos amigos blogueiros que entraram para o clube,  em uma tabelinha que fiz no Word. E eis que o arquivo tomou a pouco tempo chá de sumiço. Agora é mandar mensagem, olhar em homenagens aqui e ali, perguntar a um e outro e refazer a lista de novo, que esse ano vai para agenda (primeira promessa para 2015) que preciso começar a procurar (amo o momento escolha da nova agenda, sempre com desejo que tenha uma capa linda, elástico, saquinho e uma página por dia, para muitas colagens e rabiscos). E não, não tenho Facebook para me avisar das datas de aniversários, além do que Tia tal, amigo tal e muitas tals pessoas que faço questão saber a data de aniversário também não tem.
Depois de todo esse blá blá blá, sendo esse o segundo post do dia, uma vez que o outro estava na programação, o parabéns atrasado vai para Chica. Sempre presente aqui, geralmente a primeira a comentar, presença no meu e-mail, na minha caixa de correio e em tudo que vejo que tenha joaninhas. Além, de ser pura inspiração seus poetares e as histórias e fotos em família, que faço questão de acompanhar e tenho especial carinho pela Oma, pelo Neno, o Gui e a Cuca, além do participativo e modelo fotográfico Seu Kiko.
Uma pessoinha miúda em tamanho e enorme em carinho, atenção, simpatia, interatividade e multitarefas. Quando crescer quero ser igual a ela. E para ela é essa pequena homenagem. Um dia em Poa ou por cá, espero a gente ainda vai se abraçar e vou postar, resenhar e me alegrar tridemais, porque ela, tenho certeza, ao vivo é tuuuuuuuudo de bom como é virtualmente.

Cardápio com tradutor por favor

Momento desejo de macarrons

No cardápio de muitos restaurantes, plaquinhas e declamação dos garçons, ando precisando de tradução. Não! Não estou viajando por fora do Brasil e não estou indo em restaurantes estrangeiros. É que andam por aqui (e por todo canto imagino) falando outra língua, na verdade é um tal de dialeto com as palavras: proteína, carboidrato, oleoginosas e toda uma nova nomenclatura dada a carnes, massas e comestíveis em geral. Entendo que calça boca de sino já foi pantalona e hoje é flare, que modinhas são isso mesmo, mas é precisos se falar todas as línguas, afinal vivemos num mundo globalizado. Põe lá proteína e para quem não é da modinha, dos regimes, academias e afins, para crianças, idosos e para mim, põe o nome tradicional da tal.
A parte porém, de última dessa nova mania é a mania que as pessoas tem de se meter na vida do alheio e também a de fixar num assunto tipo chiclete. Sair para almoçar em grupo hoje é ter que ouvir recitas, recomendações, descrições sobre o que  se pôs no prato e sobre o que pomos. Eu que como de tudo, adoro uma caloria, sou tolerante e amante de glúten e nunca me interessei por exemplo em saber o que era a carninha torrada e suculenta que vende no tabuleiro da baiana, chamada: passarinha, me reservo ao direito de comer sem querer saber. Fui informada ainda assim que a tal passarinha é o baço do boi, com uma cara pausada após a informação, que imaginava eu não riria mais consumir a iguaria. Só que não né! Em nada mudou minha vida saber essa informação. 
Gosto de curiosidades, acho importante comermos coisas saudáveis, creio que somos o que comemos e que muita gente tem uma relação complicada com a comida. Eu gosto de folhas, saladas, grãos, pão, leite, carnes, verduras, enlatados. Gosto de experimentar sabores, gosto das memórias e prazeres de coisas que gosto e posso, graças aos Deuses da saúde e do meu cuidado com ela, sem excessos e não tendo quilinhos a mais. Me benzendo após essa declaração, como recomendação amiga, de uma criatura que por vezes sai comigo para escolha de figurinos e que disse certa vez: - Não abre o bocão e diz que veste 36 ou precisa de uma peça PP, dá raiva nas pessoas, boas e más, pensa que você precisa tá bem protegida contra as pragas. Passei a dizer baixinho....risos.

27 de novembro de 2014

Das afirmações

Temos que ouvir cada coisa, sempre digo essa expressão e exclamei ela ao ouvir uma personalidade que admiro, sempre leio suas colocações, textos, já vi vídeos de explanações suas sobre temas sociais e humanos, dizer que nunca o passado é melhor que o presente. Esse nunca matou tudo, eu na hora cochichei comigo mesma. Bem podia ela dizer isso se antecedesse a premissa do eu acho, eu penso, eu defendo, ou trocasse o nunca por geralmente, enfim! Eu acho que o passado pode ser melhor que o presente, que saudosismo, nostalgia, reminiscências são saudáveis quando são aceitas como raízes, como que porque não ser o melhor que tivemos e que viremos a ter, ou algo sem igual.
Se rebobinar faz bem para alguém, vale rebobinar, passear no passado, se alimentar dele, acho que não vale é ficar preso, viver totalmente fora do tempo presente. Penso é que tem que ter um pouco de tudo, tem que ter olhos no futuro, olhadelas no passado, pés e asas no presente, ser à moda antiga e das modernices. Nada com medida ou receita igual para todos mundo, porque cada cabeça é um mundo e coração é terra que ninguém passeia reza o dito. Cada um a seu modo, na sua velocidade, com seus gostos, dentro de suas necessidades.
Afirmações genéricas, rótulos, verdades incontestáveis é de última, proferir sendo um formador de opinião, educador, estudioso ou profissional dos comportamentos, sintomas e patologias humanas é irresponsável, arbitrário. E tenho dito! E tenhamos nossas opiniões formadas e quiçá reformuladas.

24 de novembro de 2014


São quatro pares de sapatos que moram nessa caixa. Minha mãe guarda um de cada filho, dos tempos dos primeiros passos. Eu, provavelmente gosto de sapatos vermelhos por continuidade ou não.
Os dois sapatinhos de ponta cabeça nessa foto, que dizem não pode, tipo faz mal, que nem bolsa no chão, segundo várias recomendações, por vários motivos descabidos, são de meus e de meu irmão. Revirei eles pois estávamos no quarto de nossa mãe num momento remexer nas coisas e reparei nos solados.
Os dos meus, sujinhos gastos, com a região do dedão mais gasta que o restante desde os primeiros passos até hoje e os dele branquinhos, limpos, quase sem uso tipo pneu novo. Pensei no ato: coitado do pobre, carregado o tempo todo, ninguém pousava ele no chão. Tudo na vida tem uma explicação e eu cá com meus botões pensei não queria ser ele pássaro preso, não gosta dos tais mimos, por isso hoje não para quieto, não tem pouso certo.
Olhinho de canto para o piso da casa de minha mãe, de madeira, que denuncia ao rangir qualquer ir ou vir. Imagens e histórias por mais valorização, memórias, narrativas. Por passos, caminhos e também colinhos.

21 de novembro de 2014

De por ai para cá

Imagem da web

Recortei dia desses comentários meus em postagens alheias para trazer vez em quando para cá, na íntegra ou com correções, edições, bordas e recheios a mais, para desenrolar e cronicalizar histórias paralelas e perpendiculares. Hoje trouxe o primeiro da série (sempre quis dizer isso). 
Anteontem, por coincidência, ocorreu de eu publicar aqui o que havia comentado dias antes em um post do blog vizinho de onde veio o comentário fruto da publicação de hoje. Um emaranhado contato para dizer que adoro essas histórias, esses alinhavos, retalhos, remendos, essas interligações, por acasos ou não.
Pular elástico e minha infância são sinônimos, objetos diretos, companheiros inseparáveis e como modéstia não vem no pacote ser ariana, eu arrasava. Do tornozelo ao pescoço, não tinha pra ninguém e quando não havia quem segurasse o elástico para mim, eu, como milhares de garotas, colocava duas cadeiras de costas uma para outra, na distância ideal, passava o elástico e cantarolava: "Ono um, ono dois, ono três, zig zag, zig zag" ou "Seu marido morreu e deixou você carregada de filhos, foi um, foi dois (e eu acabava com a pobre da mulher enchendo ela de filhos). 
Os elásticos lá em casa, pedíamos geralmente, com beicinho e cara de netas adoráveis a minha vô que pegava uma peça retangular na sua máquina de costura, cortava um pedaço e amarrava na ponta, em tamanhos menores fazia o mesmo para amarrarmos os cabelos e irmos para escola nos achando. 
Quando o tempo era de vacas magras, remendávamos os elásticos folengados retirados dos cós das roupas já alaçadas, que ganhariam um elástico novo. Lá em casa as roupa passavam entre irmãs e também vinham de primas, assim como iam para os pobrinhos depois.
Se hoje tivesse por aqui meninas brincando eu me convidaria, desconsideraria minhas 38 primaveras. Para fechar com a estima toda trabalhada no dourado, me ocorreu que minha professora de yoga queria saber como eu tinha tanta elasticidade, tão óbvio, tão sinônima a resposta e só descobri escrevendo esse post: pular elástico, elasticidade, tudo a ver.
Então, bora essa vidinha parada rever Fase bebês, adolescentes e em qualquer idade, praticar a elasticidade, o movimento faz bem de imediato, a curto, médio e longo prazo. Hoje é sexta-feira dia de esticar no sentido boêmio e na vibe do corpo são, mente sã, fica a dica de no final de semana se mexer e a cabeça espairecer.

20 de novembro de 2014

Para passar

Todo mundo com as palmas das mãos juntas, como que rezando, que vou passar minhas mãos assim por entre cada par de mãos. Entre um dos pares, que tem que disfarçar, vou deixar um anel. Quantas vezes brinquei disso e de lagarta pintada beliscando as mãos alheias e depois segurando em pontas de orelhas. Porque a velhinha pintou a lagarta? De que cor? Não sei! Também não sei a origem dessas brincadeiras e não me pus a procurar. Sei que muito da nossa cultura popular, brincadeiras, danças, cantigas, muito do nosso vocabulário, da culinária é de origem africana e indígena também.
Querer bem além da cor, viver, para ver não ser preciso um dia para celebrar a consciência negra, mais sim a cultura negra, as raízes negras, personalidades e pessoas simples que fizeram e fazem a diferença e que sejam homenageadas e valorizadas no cotidiano, misturadas a tudo e todos.
Que a consciência seja multi-racial, multi-étnica, que a essência seja o respeito e a mistura excelência. Que passemos de mãos em mãos, de geração em geração, de coração para coração, circular com um anel, os valores que não tem cor, dígitos, localização geográfica, religião. Axé odô!

19 de novembro de 2014

Só 10% será verdade

Fiz curso de Letras Vernáculas e nunca ouvi falar em Manoel de Barros. Não! Eu não ficava conversando, nem me perdia com o bater de asas de uma borboleta. Sempre fui muito ativa e também muito atenta. Nada sobre ele, nem uma linha de seus escritos. Muitas pessoas nunca tinham ouvido falar dele até ontem, mas precisamente até o dia que ele se foi. E ele não fazia questão de ser falado, mas de ser lido, não por volume ou extensão, mas de coração.
Ele não fazia questão de ser visto, mas sentido e para ser melhor conhecido, foi reprisado na GNT o documentário sobre sua vida e obra, que recomendei certa vez aqui, clica para ler e clica lá para ver:  Só dez por cento é mentira.
Soube que seus livros serão relançados por nova editora, de maneira bem comercial na segunda metade de 2015. Ele não fez parecerias muitas vezes oferecidas, quase sempre monetariamente intencionadas. Mas! Eu, em particular e intransferível, tenho um projeto na gaveta que muito tem dele e pensei com pesar, agora arrumarei quem faça gosto em participar.
Lembro que fui numa das maiores livrarias aqui de Salvador ano passado e nem no sistema havia seu nome. Na outra um título na prateleira e outros poucos no sistema, sem nenhum conhecimento do atendente sobre de quem se tratava. Não era comercial, #fato e nessa vai ir do 8 ao 80.
Não era conhecido, divulgado e acho que isso era exatamente o que ele queria, era o que ele era e que hão de reconfigurar, a um ponto talvez de só dez porcento ser verdade. Primeiro passo ao preço no ócio que ele afirmava que comprou, manteve, poetou e preservou foi no mesmo dia em que ele voou para além das nuvens, notícias comerciais além das homenagens e toda uma descrição material de sua pessoa e obra imateriais, fervilharem nos meios de comunicação.
Seus escritos valiam para quem tocavam, para quem os descobria por acaso, como tesouro escondido, por indicação ou por quem por refino buscava algo além das prateleiras dos mais vendidos. Pensar que mais pessoas terão acesso, dessas a quem irá tocar e fazer germinar é coisa boa de se pensar e se alegrar por isso. Mas também chegará por atacado, será rotulado, lido por obrigação, por modinha e afins. Educadores e deseducadores, com e sem noções vão querer traduzir, explicar, sistematizar e com isso o encantamento desencantar. Sobre os poetas para não usar uma de suas muitas desexplicações, Rita Apoena explica: “O mágico nunca conta os seus segredos. O poeta nunca explica uma entrelinha.”
Eu cá com meus exemplares de antes da fama e o endereço que recebi para lhe mandar uma cartinha, desenhos, recortes, que nunca mandei porque tudo era tão pouco, penso que agora ele tá on line e não ter mandado nada também é uma história, é um fazedor de imaginares, um desperdício guardado com alargador de horizontes.

17 de novembro de 2014

Conto de uma margem e um marcador

Contam-se muitas histórias com muitas palavras, frases, linhas, pontos e contrapontos. E esse conto é sobre uma parte de todo conto, história, crônica, poema ou qualquer outro estilo de escrita: as margens. Seja no papel ou nos equipamentos digitais elas estão presentes. Tem quem faça rabiscos nelas na escrita manual e devem elas se sentir nessas ocasiões, parentas bem próximas das entrelinhas, que são margeadas de palavras.
Certa vez uma margem larga e soberana da página de um livro que vivia na extremidade do miolo acompanhada de um marcador de páginas, começou a amarelar, não de medo, mas pelo avanço da idade. E o marcador que ali ficou tanto tempo, marcando aquela parte do livro onde o último leitor o repousou por gosto, para alguma recordação ou por ser onde parou a leitura, se pôs a refletir sobre a utilidade da vizinha.
Não houvesse as margens, as letras amarelar-se-iam de súbito e tão logo comprometeriam a leitura, a medida que os livros envelhecessem. Tão livres, puras, tão reveladoras dos miolos são as margens! Como molduras de retratos, divagou o marcador. 
A margem de um conto parece expressão de renegação, tanto quanto tantas outras expressões e palavras que subjugam o valor contido e além do que é visível ou formal. Como a areia está a margem do mar e nem por isso é menos importante, vista, querida, põe-se o poeta marcador, para sua amiga margem recitar. 
E na amarelidão, como no esbranquiçamento dos cabelos, como parceiros e admiradores um do outro, puseram-se os dois a namorar, torcendo não mais para alguém abrir o livro em asas e pôr o marcador a andar, mas para ali juntinhos na estante ficarem, margem e marcador, como amantes e um para o outro, importantes.
Dos meus escritos, para uma segunda poética, romântica, literária e uma semana de leituras, reflexões, bem quereres, paz e bem.

14 de novembro de 2014

Ar, voltar, amar

"A reta é uma curva que não sonha"
Fez a curva o poeta encantado e encantador
A imagem meu irmão mandou para mim por e-mail
A frase uma de muitas das suas pérolas
Idas, finitudes e infinitos sentimentos
Infinitas presenças
Tomei um ar para voltar
Por Manoel Barros tanto amar
Seus escritos e as entrelinhas
As iluminuras
Seu sorriso alumiado
E até sua ranzinzice
O gostar de escrever com lápis
Candura por papéis, cadernos
Os amarradinhos que fazia nos blocos
A simplicidade
O olhar fontano
Caracol que virou borboleta
E passarinho sempre será

12 de novembro de 2014

Ao meu padrinho

Ilustração de Maria Lamar
Segunda-feira a minha noite ficou sem rima, cinza, fria, triste e o dia amanheceu do mesmo jeito na terça-feira, me senti sem pernas, sem chão, sem cores e cercada de dor. Aqui no blog estava agendada uma viagem ao mundo de Alice e hoje como não havia nada na programação, ainda com muito pesar resolvi dividir esse momento pessoal como forma de homenagem.
Levado pela violência, numa fração de segundos, se foi um dos melhores abraços que eu ganhava e dava desde pequena, falei do dono grande, sempre perfumado e aconchegante desses braços que tanto me abraçaram e me deram colo, várias vezes por aqui, tantas que nem eu mesma lembrava de todas. Só na busca com a palavra: padrinho, apareceu uma lista, seguem alguns links para leitura: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Amo as minhas fotos de batismo ao lado dele e da minha madrinha. Ainda em fase de colinho minha mãe conta que ele é que ficava comigo nas missas dos eventos festivos do calendário religioso ou familiar. Ficava conversando, andando de lá pra cá, me enchendo de dengo, de elogios como fez a vida toda. Eu peralta elevava o volume da voz e ele dizia baixinho no meu ouvido: - Não pode falar alto aqui! Já sabendo o que eu faria, nada menos que falar bem alto: - Porque não posso falar alto? Ele saia para o lado de fora rindo e minha mãe brigando com nós dois. Sabia também o que sempre eu fazia a cada vez que resolvia ir dormir na casa dele que cheirava a pão fresco com manteiga e minha tia Amparo sempre tinha um pano de pratos nos ombros, nascidas no mesmo dia, eu e ela. A casa antiga, com escadas de madeira que rangiam está em minhas lembranças, o terraço nas lembranças e em fotos. Hoje (a um bom tempo já) no lugar é um Shopping center grande aqui da cidade, mas para mim é um lugar familiar e era a padaria da família, que se mudou para perto. Eu ia, jurava que daquela vez dormiria lá, mas ele sempre tinha que me trazer de volta.
O maior fã dos meus maus feitos, se divertia e sempre advertia aos garotos a minha volta, que na escola eu quebrava capas, elásticos e classificadores inteiros batendo na cabeça dos meninos que ousassem me perturbar, entenda-se por perturbar por exemplo, tocar em um fio que fosse de meu cabelo.
Nossa única discórdia era pelo time de futebol, não há ser humano perfeito e o defeito dele era ser torcedor do Bahia e esse não era um assunto proibido ou polêmico, era sempre motivo de risos e pertubações. Detesto o Bahia e lá entre as estrelas do mês de agosto que ficaram para sempre sem o mesmo brilho para mim, Dindo que amo e sempre vou amar você sabe que pensei em vestir a camisa do Bahia como última homenagem enquanto processava que era verdade tudo que aconteceu e que eu iria te ver pela última vez. Prova da porra (usando nosso linguajar) de meu imenso amor por você, mas ai pensei melhor e achei que você ia ficar decepcionado comigo, minha teimosia sempre foi sua alegria e é de você alegre, amigo, carinhoso, disponível, doce como os açucarados sonhos da Piedade, grande no tamanho e no coração que vou lembrar sempre e ser teimosa mesmo e brigona mesmo, sempre fui e agora com meu dindão no camarote celestial olhando por mim, com poderes de anjo, ninguém me segura. Vamos sentir muito sua falta! Muito! Muito! Muito!

10 de novembro de 2014

Únicos e múltiplos

Imagem da web

"Você não é a mesma de antes 
Você era muito mais muitais
Você perdeu sua muitesa" 
Chapeleiro Maluco para Alice
Trouxe essa pérola de tirar o chapéu, do Instagram de uma amiga que fez um boneco do Chapeleiro, por quem estamos apaixonadas e resolvi emendar numa história que ouvi a atriz Denise Fraga contar, que vou subscrever comigo em primeira pessoa e a meu modo e é segundo ela uma reflexão que uma pessoa lhe ensinou.
Sou Tina e Tina com Ana, com Júlia, com Paulo, com Amara, com Pedrinho. No meu caso, de não ser adepta do uso de máscaras, sou a mesma com qualquer pessoa, mas ainda assim sou outra pessoa com cada uma pessoa que me relaciono pois com cada uma delas até o mesmo assunto ou ir ao mesmo lugar por exemplo, é diferente.
E essa nossa mistura com cada pessoa faz o nosso individual se renovar, se adornar, por vezes se amargurar e assim a cada dia somos os mesmos e novos e isso é fantástico se administrarmos as nossas muitezas. Achou isso muito louco? Vou pedir ao Chapeleiro para falar o que ele acha e eu acho igualzinho: "Chapeleiro, você me acha louca? Chapeleiro: Louca, louquinha! Mas vou te contar um segredo: as melhores pessoas são".
Uma semana única e múltipla a todos, de loucuras puras, identidade, honestidade, com mão no queixo e viagem nos pensamentos e sonhos, mãos as obras, boas ações, valores individuais e coletivos.
Como tem algum borogodó nesse Chapeleiro e magia nessa história que amo, amanhã ela vai tá aqui mais uma de muitas vezes, como vão estar minhas histórias e minhas crenças, dentre muitas, em um mundo melhor e que os bons são maioria.

8 de novembro de 2014

Denúncia



Que decepção com o ser humano te conhecer 
Esse é meu sentinento e recado 
Por denúncia anônima fui parar nesse perfil oficial e fake
Não só foram publicadados textos meus 
Nos comentários apropriação
Agradecimento aos elogios
Autorização para que sejam compartilhados os textos 
Está até pensando em publicar um livro 
Eu vou ficar esperando a exclusão de todos os meus textos e comentários do perfil
Contando com a repercussão dessa denúncia
Com que as pessoas que leram os textos saibam da farsa
E com todo prazer passem a ler meus textos aqui
Registro por fim minha gratidão a quem denunciou

7 de novembro de 2014

Eu gosto do absurdo divino das imagens
Manoel de Barros
Descascada, despintada
E esses lindos azulejos, não são a original numeração
Casa de meus pais
Fotografei dia deses e achei numa faxina de fotos
Sempre minha
Não sei se sempre nossa
Sei será sempre parte de mim
Imagens, histórias, memórias
Cotidianas, absurdas, divinas
Uma sexta de divindades
De belas, simbólicas e queridas imagens

4 de novembro de 2014

Dos refinos

Não saiba a sua mão direita o que fez a esquerda diz a sabedoria popular e é um refinamento praticar, por isso resolvi não contar na ocasião (dia das crianças) da ação que fiz junto com meu marido, colegas de trabalho e amigos nossos, fonte de fotos que não coloquei para ilustrar o post, por não ter pedido licença as pessoas fotografadas, que não é porque estão na rua que podem ser exibidas por ai, como não podem e não devem as com endereço fixo, anônimas ou populares. Respeitar e zelar pelo direito da imagem dos outros e nossas, da palavra e da privacidade anda meio em falta no mercado.
O que fez nossas mãos veio para cá por causa de um projeto sobre a invisibilidade dos moradores de rua que vi na tv (clica aqui para ver) e daí resolvi dividir alguns sentimentos e histórias dessa vivência de distribuição de brinquedos arrecadados e comprados por nós e outras histórias minhas e de pessoas que vi e vejo na rua. Não para exibir, para contagiar.
Uma moça grávida de uma das fotos, que pousou sorridente, esperou paciente, cheia de modos, simpatia e educação pela doação em meio a uma muvuca, uma outra com uma criança no colo em outro local, antes de me passar ela, que pedi para carregar para tirar uma foto, me avisou: Ele fez xixi nesse short, tá seco, mas tá de xixi! Pensei que ela podia não ter dito nada, que ao carregar e colocar no colo muitas delas eu sabia e percebia não estarem limpas, mas isso fazia parte quando pensei em ir dar aquelas coisas e me propus e propus ao grupo de antemão distribuirmos além dos objetos, sorrisos, gestos de carinho, papos e assim foi e quando estendi os braços e disse que não tinha problema, o sorriso dela foi largo. um olhar de gratidão mais pelo gesto que pelo brinquedo, recompensador.
Muitos moradores de rua atendi no portão na casa de meus pais e não levava comida só, tagarela que sempre fui e ainda sou, sempre conversei, dei apelidos a alguns na coxia, tipo identidade para falar deles, porque eles faziam parte do nosso dia a dia. Muitos ainda andarilham por lá e me cumprimentam nas ruas e acho isso o máximo. Lembro de vários, tinha um que gritava e batia palmas ao invés de tocar, tinha uma que colocava o dedo na campainha e só tirava quando alguém aparecia, uns que não falavam nada com nada, os que não falavam e não falávamos e rolava comunicação. Tinha um senhorzinho miúdo e franzino que dormia num papelão embaixo do muro de um dos hospitais que ficam na rua que meus pais moram. De dia ele dobrava o papelão, ajeitava num canto caprichosamente, se penteava, mudava de roupa quando em vez, camisa arrumada para dentro da calça ou bermuda, cinto, sapatos. Todos os dias ele varria a calçada, cumprimentava as pessoas, passava lá pra tomar seu café, simpático e sorridente. Algumas vezes levei o café in loco, ia para o mercado ou na barraca  e pensava que nada me custava tão miúda gentileza. Ele lia noticias nos jornais que largavam por ai e as vezes davam a ele e conversava sobre assuntos diversos. O que fazia ali na rua não perguntei nunca, fosse hoje eu perguntava. Sumiu um dia e nunca mais o vimos. E assim tratei todos os pedintes do portão, exceto os abusados e violentos, coloca eles em seus lugares, ou seja longe dali, com toda minha brabeza diretamente proporcional a minha doçura.
Tratei e trato as pessoas de rua com suas diferenças e até gostos. Porque quem precisa também tem gostos que as vezes não custa serem atendidos. Tinha um senhor que não queria pão nunca, era só café, nem adiantava insistir e as vezes ele pedia mais açúcar e lá ia eu pegar, já que ajoelhei, rezava. Sou também da idéia e prática de dar um pacote de bolachas recheadas, chocolate e supérfluos a mendigos, porque não? Novidade para eles, doçura para vida amarga que levam. Até os que não são pedintes gostam e cabe darmos uma doçura um dia ou muitos. Tem uma senhorinha franzina e bem pobrinha que vende prendedores de cabelo sentada em um banquinho debaixo do sol a anos, perto do ponto de um ponto de ônibus, a quem levei outro dia um iogurte bem geladinho, sem discurso, explicação ou perguntação, dei, sorri e ela retribui o sorriso e disse o que diz sempre que compro prendedores por precisão ou não: Deus lhe pague. Ele paga eu creio, pois creio na máxima de que quem dá aos pobres empresta a Deus, creio que gestos assim mudam o mundo e se não mudarem mudam o dia de uma pessoa.
Dar quando batem a nossa porta é opcional, água, aprendi que não dar é pecado e ir dar algo a quem está na rua é diferente, aprendi nas aulas de religião do colégio, com professor Josemar. Você costuma doar? Cumprimentar as pessoas que moram na rua, por quem você passa as vezes diariamente, com um olhar que seja?

1 de novembro de 2014

Nove que é onze

Ilustração de André da Loba
Clica aqui para ver lá no Felicidário outras ilustrações

Tem uma para cada dia do ano
Com meu gostar de café
E a história de ter tudo a ver novembro ser o nome do mês nove e não ser
Porque o primeiro calendário da história começava em março 
E novembro, era o nono mês
Ai, na antiga Roma mudaram o início do ano para Janeiro
Em homenagem a Jano, Deus dos portões
Esse tal de Janos para quem não sabe, já que puxei essa proza
Tem duas faces em sentidos apostos 
Para os antigos romano, símbolo de transição
Olha uma estampa legal para uma camisa
Para decoração do ano novo, para sair do lugar comum
Enfim, Jano, com seu que de passado e futuro e de mudanças
Foi o responsável pelo começo do ano ser mudado
E a ele dado o nome de janeiro em sua homenagem
Alguém ai aceita um café?
Quer emendar algum assunto?
depois vale dar uma volta de onze por ai
Por aqui uma onze é uma paleta, que aprendi ser uma lapada em Maceió
A boa, conhecida e saudável caminhada

29 de outubro de 2014

Felicidade sim

Ilustração do calendário Felicidário do dia de hoje

Penso, logo desisto
Esse é o lema de vida de muitos idosos
Digo isso por obervação
Por reflexão do quanto é difícil mesmo
Pela falta de acesso
De acolhimento
E muitas vezes por questões pessoais além das sociais
Por tabus culturais
E por isso trouxe um vídeo de um projeto
Clica aqui para assistir
Eu, que tenho candor por sotaques, amei além da história
O contar aportuguesado
Para mim o portuga tem um que de Saramago
Cheiro de padaria
E todo um parentesco com nossa língua
Sobre o projeto, mais um que devia ser viral
Sigo na vibe de ontem, com esperança de contagiar
Posts em blogs vizinhos
Compartilhamento em redes sociais
Projetos locais iguais
Em prol da felicidade não ter idade, cor, rótulo
Do ser e fazer feliz
Felicidário: um calendário, um movimento, um site, vídeos e vida
Criado com o propósito de motivar os maiores de 65 anos
Muitas vezes colocados e resignados a margem da nossa sociedade 
Uma proposta para que sejam realizadores e felizes 
E essa senhora do vídeo que linkei dá um testemunho de envelhecimento ativo
É uma de muitas histórias de pequenas e grandiosas felicidades

28 de outubro de 2014

Sobre ser diferente ser legal

"Todo mundo tem seu jeito singular
De ser feliz, de viver e enxergar
Se os olhos são maiores ou são orientais
E daí, que diferença faz?

Todo mundo tem que ser especial
Em oportunidades, em direitos, coisa e tal
Seja branco, preto, verde, azul ou lilás
E daí, que diferença faz?

Todo mundo tem seu jeito singular
De crescer, aparecer e se manifestar
Se o peso na balança é de uns quilinhos a mais
E daí, que diferença faz?

Todo mundo tem que ser especial
Em seu sorriso, sua fé e no seu visual
Se curte tatuagens ou pinturas naturais
E daí, que diferença faz?"

Vi dias desses uma campanha, dessas que deviam ser mais divulgadas e apoiadas em detrimento de outras ou paralelamente e resolvi trazer para cá, fazer minha parte, trabalho de formiguinha.
A campanha se chama: Ser Diferente é Normal, uma iniciativa do Instituto Metasocial para promover a conscientização sobre a igualdade, com colaboração musical de Lenine. Clica aqui para ouvir a canção de onde recortei os trechinhos da introdução.

27 de outubro de 2014

Que

Alegre e linda ilustração que ganhei

Que as facilidades
Felicidades
E fé que nos guia 
Sejam maiores e mais fortes 
Que as dificuldades, faltas e falhas que nos cercam 

24 de outubro de 2014

Um dia de muitos

Amanhã para mim é um dia de muitos com meu parceiro de jornada, mais anos já temos juntos de vida, que sozinhos. Para mim, o dia do aniversário dele é também meu, um dia que marca a minha vida, uma vez que as nossas vidas são misturadas. Tenho lembrança dos presentes, das comemorações, fotos, daria para escrever um livro selecionando só essa data e suas histórias e eu acho isso muito legal.
Adoro contar histórias, adoro ser coautora da história dele e tê-lo como coautor da minha, para lembrar o que as vezes esqueço, para abonar, para completar, para reviver junto, para ver com os olhos de agora o que já vimos e vivemos e para ver com os olhos de ontem e eternamente o que se passa hoje e se passará diante de nós.
Juntos, passamos pelas fases do segundo grau, vestibular, faculdade, primeiro emprego e todos os seguintes, por essa janela da foto que ilustra o post, vi ele chegar e sair várias vezes para ir estudar e trabalhar e ele a mim, vimos nosso pequeno infante andar, ouvimos ele brincar, ir e vir da escola. Dessa e de tantas outras janelas, tantos lugares, com tantas pessoas, tantos acontecimentos, histórias nossas, de família, de amigos, da história, modinhas, tv, marcas, lugares. Dizem que a gente tem que se casar com alguém que goste de conversar porque um dia será basicamente essa a rotina, assunto sei, não irá nos faltar.
Minha felicitação pública, com essa pequena declaração de parceria e amor e a seguir, finalizando. um texto que peguei emprestado da amável, poética e adorável Ana Jácomo, pois aprendi não sei onde nem com quem, mas pratico e ensino, que em eventos tipo dia do casamento, virada de ano, ou em comemoração de algo importante, tem que ter algo nosso, algo emprestado, algo novo e algo usado. Usei então um pouco de tudo e fica aqui no mural por todo final de semana esse post, com o axé das sextas-feiras.
"Tomara que os olhos de inverno das circunstâncias mais doídas não sejam capazes de encobrir por muito tempo os nossos olhos de sol. Que toda vez que o nosso coração se resfriar à beça, e a respiração se fizer áspera demais, a gente possa descobrir maneiras para cuidar dele com o carinho todo que ele merece. Que lá no fundo mais fundo do mais fundo abismo nos reste sempre uma brecha qualquer, ínfima, tímida, para ver também um bocadinho de céu.
Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem de sentir confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.
Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito"...que a gente continue tendo valentia e amor suficientes para não abrir mão de se sentir e fazer feliz". Tomara!

23 de outubro de 2014

Dica

Imagem da web

"Quando eu deixei de olhar tão ansiosamente para o que me faltava 
E passei a olhar com gentileza para o que eu tinha
Descobri que, de verdade, há muito mais a agradecer do que a pedir"

Ana Jácomo fez isso
Faça também
Eu passei a fazer a um tempo já
A agradecer e a dar o devido valor ao muito que tenho
Seja a maravilha de poder enxergar, ouvir, falar, andar
Seja o companheiro que tenho
O filho que tenho
Que são cheios de defeitos que se perdem no montão de qualidades
O tanto de roupas, acessórios, maquiagens
Que para muitos é nada
Que para outros é muito
Ter uma casa para morar, comida nos armários e na geladeira
Com o gostar e valorizar das coisas básicas e dos supérfluos
Das frescuras e luxos
Que tem seu lugar
Feliz por tudo e por nada

22 de outubro de 2014

Poesia como reino

Janelas, varandas, terraços
Cercas, portas, portões
Sótãos e porões
Almas e corações
Estejam abertos
Para vermos tudo que nossos olhos possam enxergar
Na natureza, no nosso dia-a-dia
Em nosso lar
E também além de onde os olhos e compreensão possam alcançar
Na simplicidade ou em complicada engenharia
No silêncio, barulho 
Ou ao som de uma bela sinfonia
Através do olhar, cheiro, som, sabor, tato
Na espera, descanso, calmaria
E também na agitação e euforia
Nas partidas e chegadas
Que a poesia entre, desabroche, adorne
Se acomode e em nós faça morada

21 de outubro de 2014

Por todo tipo de cultura e arte

Vários representantes indígenas, acadêmicos, educadores e admiradores da cultura e do papel histórico dos índios, tem pedido mais atenção para a cultura e a literatura dos povos nativos no sistema educacional do Brasil. "Ainda há uma mentalidade retrógrada, que o índio só existe como elemento de folclore. Têm que perceber que os índios estão aí ganhando prêmios literários e de cinema. Isso é a realidade, temos que acabar com o romantismo, com a mentalidade do bom selvagem" (Daniel Munduruku, em uma matéria da Revista Exame).
É urgente parar com essa rotulação de tudo. Com esse papel secundário e coadjuvante do índio na sociedade moderna e nessa via, desvincular o rótulo de arte sere erudita ou popular. Arte é muito mais que estética, tem valor cultural, histórico e terapêutico. Todo artesanato, canto, toda dança ou qualquer manifestação artística tem variadas funções sociais, são sementes que viram flores que adornam e frutos que alimentam e transformam vidas.
Pela arte os homens podem expressar suas angústias, alegrias, podem contar, resgatar, perpetuar histórias, como fizeram e fazem os índios, como devemos fazer com essa cultura nas escolas, na tv, nas notícias, nos bate papos, não folcloricamente ou misticamente. Assim como a cultura africana a arte e cultura indígena já passou da hora de ser mais explorada, valorizada, estudada, desde o ensino fundamental as faculdades. Em canais fechados, programas da tv aberta, nas novelas, revistas, livros.
Para muitos pais, crianças e até educadores e gestores de centros educacionais, as aulas de artes plásticas, desenho e até mesmo de literatura são supérfluas, aulas de distrair, sem que se faça a devida relação e pontuação do trabalho da criatividade, da sensibilidade, das destrezas e o muito que há por trás, entre e além do trabalho manual, do lúdico. Vale referenciar por exemplo os desenhos das cavernas, onde homens primitivos pintaram na parede como forma de expressão e comunicação ou as danças em torno de fogueiras. como expressão de religiosidade, prática de astrologia, astronomia. O bordado como outro exemplo é uma arte que fala da mulher, da sociedade, do trabalho informal, de economia. E por ai lá vai.
A definição de arte é muitas vezes elitizada, limitada, por vezes ridicularizada e pouco refletida, verbalizada, contudo é presente ao passo que mexe com o sentimento de cada um ou de um grupo. A beleza de uma pintura, de um artesanato, o som de um instrumento musical. E nesse mesmo lugar comum estão os filmes, programas de tv e também as novelas, tão queridinhas no Brasil, tão vistas e resenhadas, que são contação de história, são literatura, encenação, cenários, são arte.
A arte é subjetiva e sempre discutível e que assim seja, cada vez mais e cada vez mais múltipla. Que seja mais presente a arte e a cultura indígenas e africanas em nossas vidas, menos colocar a margem o que não é modinha, não é vendido como pop, é secionado como nordestino ou sulista, pobre ou rico. Por menos achar e tratar a arte como parte de galerias e afins. E tenho dito!

17 de outubro de 2014

Do saber ver

Foto web

"É necessário abrir os olhos
E perceber que as coisas boas estão dentro de nós
Onde os sentimentos não precisam de motivos
Nem os desejos de razão
O importante é aproveitar o momento
E aprender a sua duração
Pois a vida está nos olhos de quem sabe ver
Se não houverem frutos, valeu a beleza das flores
Se não houverem flores, valeu a sombra das folhas
Se não houve folhas, valeu a intenção da semente"
Henfil
Por sabermos ver
Por uma sexta de boas visões
Coroada de conchas, flores, louros
Com cheiro de mar, de chuva, de bolo ou do que queremos bem
E um avistar de final de semana agradável
Animado ou parado
Com os olhos, a alma e o coração arejados
Energias boas e lições do vai e vem das ondas do mar
Odoiá!

15 de outubro de 2014

Das escolhas

Imagem que recebi por e-mail
Somos livres para escolher e responsáveis pelas consequências de nossas escolhas #fato. E essa segunda parte, muito desconsiderada, gera o que eu chamaria de rifa de culpas, que fazemos inconscientemente. 
Se o caminho escolhido foi o de pedra e a gente foi descalço ou de salto alto a culpa não é do fabricante de sapatos ou da criação divina das nossas sensíveis solas dos pés, nem do caminho.
Se fazemos um financiamento cientes dos juros e condições, depois não podemos nos achar no direito de entrar na justiça para rever as condições, que certas ou erradas foram aceitas por nós na aquisição do produto ou serviço. Vale pontuar que aceitar esse tipo de ação é um dever da justiça, que se enche de processos sem coerência e deixam na fila questões bem mais pertinentes a ações judiciais.
Fui da filosofia poética a vida prática, porque creio que tudo está misturado, com tudo podemos fazer pareja, com o cuidado da abertura para justificas e variações no que tange os comportamentos dos seres humanos, que de racionais tem bem pouco se formos olhar de perto, como disse Caetano, e eu assino embaixo: De perto ninguém é normal.
Há tantas variáveis em casa escolha, cada caminho. Muitos espaços cheios e vazios que cada um preenche a seu modo, com o fruto de suas escolhas e das alheias também.
E assim, no dia-a-dia, além dos fóruns e processos, além das idas e vindas que são escolhidas por nós, feliz de que a palavra além não perdeu o acento como idéia, senão seriam duas palavras a eu estar grafando errado. Meu recado, para geral  e para mim também, de não sermos vitimas de nós mesmos, de más escolhas, de plantar sementes de maçã e esperar colher morangos.

12 de outubro de 2014

De mãos dadas

"Digo às vezes 
Que não concebo nada tão magnífico e tão exemplar 
Como irmos pela vida levando pela mão a criança que fomos
Imaginar que cada um de nós teria de ser sempre dois
Que fôssemos dois pela rua
Dois tomando decisões
Dois diante das diversas circunstâncias que nos rodeiam e provocamos
Todos iríamos pela mão de um ser de sete ou oito anos
Nós mesmos
Que nos observaria o tempo todo e a quem não poderíamos defraudar
Por isso é que eu digo
Deixa-te levar pela criança que foste
Creio que indo pela vida dessa maneira 
Talvez não cometêssemos certas deslealdades ou traições
Porque a criança que nós fomos, nos puxaria pela manga e diria:
Não faças isso"
Quem disse foi José Saramago 
Eu assino embaixo
E minha criança anda sempre de mãos dadas comigo
Pegue a sua pela mão
Leve num balanço
Ouça ela
Reveja, relembre
Coma algodão doce
Lamba a tampa do iogurte
Contemple um arco-Íris como se nunca tivesse visto um
Faça perguntas
Desenhe, recorte, pinte
Feliz dia das crianças as crianças que andarilham aqui pelo meu jardim
As de pouca e as de muita idade

6 de outubro de 2014

Amizade por favor

Eu resolvi escrever esse texto para cronicalizar sobre quanto é difícil hoje em dia marcar algo simples, desde um encontro de final de semana a comemoração do nosso aniversário, um amigo secreto de Natal ou o que quer que seja.
E eis que fui revisar o que escrevi e percebi que ficou grande o texto e no automático pensei: Será que meus amigos e leitores vão ter paciência, tempo, atenção para ler? E esse é o fio da meada de onde puxar esse papo, pois esse um dos problemas modernos, as prioridades que damos a cada leitura, audição, pessoa, assunto, as prioridades da nossa presença real em meio a tantos chamados e demandas.
Cada vez mais cada um segue com o umbigo como ponto central, com o  rei na barriga sem nenhuma cerimônia, movido por seus interesses, com suas exigências, limitações e mimimis e nessa vibe, para que seu grupo de pessoas, das que você conhece a anos ou das que você convive todo dia no trabalho ou o grupo familiar tope tomar café juntos, jantar além do horário comercial e apertado do almoço, tope jogar um dominó, ir num cinema, praia ou algo assim bem prosaico, seja uma vez na vida ou algo periódico, tipo uma vez por mês para botar o assunto em dia e tal é preciso um estudo avançado de onde, o que, como. É preciso criar, fazer parte e estar 24 horas disponível num grupo no whatsapp, ou de alguém que se habilite aligar para cada um. É preciso pedir por favor, confirmação, mandar lembrete no dia anterior para ninguém esquecer e fazer sei lá mais o que para que aconteça o tal encontro. E tem mais, menos na verdade, nada de se pegar gosto, embalo, liga. Há que se fazer toda essa manobra a cada nova proposta de encontro. Com inevitáveis e variáveis furos, desculpas e desânimos individuais e coletivo.
Indo mais fundo, sinto falta dos papos nos portões das casa, na área de entrada ou corredores dos prédios, de estar neles, de jantar, tomar banho e sair para papear e quando ver já não dá mais para ver nem o jorna, nem anovela, porque papo bom é assim o tempo voa e nós ficamos ali plantados. Sinto falta de ver pessoas rindo alto, duas ou três falando ao mesmo tempo e o barulho parecer de 20, de crianças correndo, pulando, de brinquedos, de bola sem que ninguém ligue para a portaria ou para o síndico para reclamar.
Sinto receber ligações ou mensagens, já que ligar hoje é segunda opção, chamando para ir ali na Mac ou numa lanchonete do bairro onde se cresceu junto e se lanchou a muito custo um suco e misto e hoje o dinheiro dá para escolher o que quer no cardápio, com a sensação de que crescemos e ao mesmo tempo dimensionar o valor do que temos e muitas vezes não damos  o devido valor. O simples prazer de fazer um lanche em 15 minutos e passar 5 horas jogando conversa fora.
Queria ligar para as pessoa e dizer bora ali comer um acarajé, vamos caminhar na praia (só caminhar e beber água de oco, sem cachaça, sem motivo, sem nenhum assunto a tratar) e não haver mil lacunas e reticências. Queria não perceber sem muito esforço que as pessoas focam no objetivo comercial, pessoal ou logístico dos encontros (se perto, longe, o que tem, como, com quem, porque...)  que não é importante não ter nenhuma importância, que pagar para lavar o carro é super prático e vale o quanto custa, mas vale um dia lavar com um amigo, por terapia e para relembrar os tempos de pé na estopa. 
No quesito cada um na sua, já ouvi justificativas de compromisso inadiáveis que vão do futebol, academia, salão, indisponibilidade de acordar cedo porque foi dormir tarde no dia anterior até o fato preponderante de que não vai ter nada que interesse, assim, sem nenhuma elegância ou delicadeza para dizer isso.
Queria que de súbito, como que num estalo as pessoas percebessem que a quantidade de contatos que tem no face, insta ou zap, os likes, curtidas, compartilhamentos, são legais, mais não representa nem a quantidade de "amigos" que temos, a qualidade dos amigos que devíamos ter, que cada dia mais as pessoas estão inacessíveis, superficiais, individualistas, caras e rasas. Que amigos do tipo de graça, baratos, de pequenezas valiosas são artigo raro.
Tem quem tenha, eu tenho, amigos "ao alcance", dos tempos de escola, de rua, que cresceram juntos, que viveram tempos bons e ruins, histórias comuns, que poderiam fazer desses laços algo valiosos e agregadores uma base sólida, que conversassem e interagissem sempre em lugares menos barulhentos que não se ouvem uns ao outros e datas fixas. Que fosse habitual se juntar para ver fotos antigas numa tarde qualquer, sem inventar memórias ou distorcê-las, rir, chorar, lembrar, relembrar, resenhar, tirar novas fotos, saber mais uns do outros, o que mudou, como se sentem o que gostam, sonham, o que planejam.
Vivemos num mundo de muitos excesso e paralelo a isso muita carência e eu sigo aqui com paciência e pequenos gestos diários, como esse alerta, na esperança de papos no portão, mais ligações, interligações, da consciência individual e coletiva acompanhada de mudanças de atitudes, baseadas na certeza de que abraços, olho no olho, escutar além de ouvir, de que como disse o escritor e filósofo Voltarie:  "O supérfluo é coisa muito necessária".